Quinta-feira, 4 de Agosto de 2011

Capítulo 29 - As coisas mudam...

Inês levantou-se da cama com um sorriso nos lábios… parecia-lhe que finalmente que tudo estava a correr-lhe bem. As coisas estavam a correr muito
bem no seu emprego, não estava agora a sair muito tarde e aos poucos as coisas estavam a recompor-se com Pedro. Não, ainda era cedo demais para reatar com ele, mas o tempo tinha-a levado a pensar que ele estava mesmo mudado e que já faltava cada vez menos para que os dois se juntassem novamente…Até porque ela sentia mesmo a falta dele…Mas tinha mesmo de ter alguma paciência até porque tinha prometido à Rita e ela não era pessoa para quebrar uma promessa à sua amiga.

 

Mas depressa o sorriso desapareceu, após ter demorado quase uma hora e meiapara chegar ao escritório, devido a um acidente que apanhou no caminho. Não era muito habitual ela chegar atrasada… muito pelo contrário, mas hoje era daqueles dias em que tudo parecia estar a correr mal, pois assim que chegou, a sua colega Sónia avisou-lhe que o chefe dela, o Dr. Rui tinha perguntando por ela.
A Inês só pensava na sua sorte: no preciso e raro dia em que chegava atrasada, o chefe perguntava por ela. O que mais poderia acontecer?

 

Ela levantou-se logo da sua mesa e dirigiu-se ao gabinete do Dr. Rui, que ao contrário do habitual, encontrava-se fechado. Foi então informada pela secretária que ele se encontrava numa reunião que iria demorar toda a manhã, e que ela deveria tentar falar mais tarde com ele.

 

Inês resignou-se e sabia que não podia fazer mais nada do que esperar e continuar a trabalhar. Mas ficou interrogada sobre qual o motivo que o seu chefe teria para querer falar com ela.

 

Mas a sua curiosidade aumentou, quando o seu departamento foi convocadopara uma reunião a seguir ao almoço. Todos se interrogavam sobre o motivo pelo qual a reunião tinha sido marcada e surgiram alguns rumores de que estavam a pensar fazer cortes no pessoal, para reduzir custos. Quando estes rumores chegaram aos ouvidos de Inês, ela começou a ficar preocupada, pois era das pessoas com menos tempo de casa e com menos experiência. O dia só parecia que estava a piorar cada vez mais e a sua ansiedade aumentava a cada momento que passava.

 

Mas finalmente tinha chegado a hora da reunião. Todas as pessoas do departamento entraram silenciosamente na sala de reuniões marcada para o efeito e sentaram-se sem grande alarido, à espera que o chefe chegasse. Já não faltava muito para que as dúvidas fossem dissipadas.

Quando o Dr. Rui chegou à sala agradeceu a todos os presentes a sua presença e começou a falar das dificuldades económicas que a empresa estava a passar, com a crise a afectar a actividade da empresa. O pânico começou a assaltar o espírito das pessoas na sala, pois não imaginavam onde é que esta conversa iria terminar. Inês foi uma dessas pessoas. O seu nervosismo aumentava a cada palavra que era dita e não podia fazer nada para o impedir. Seria por isso que o seu chefe tinha querido falar com ela de manhã?

 

Mas felizmente, passado meia hora ouviu-se um suspiro de alívio conjunto na sala. O Dr. Rui comunicou que por forma a fazer face às necessidades dos outros departamentos da empresa nesta altura mais complicada, tinha sido decido pela Direcção a criação imediata de um projecto que envolvia vários departamentos para tentar responder aos desafios que se apresentavam. E que seria necessárias duas pessoas do departamento financeiro, para fora do horário normal de trabalho, participar nesse projecto, o que iria implicar um grande sacrifício pessoal dos voluntários.

 

O único a oferecer-se quase de imediato foi o Diogo, o que não surpreendeu nenhum dos presentes da sala. Era mesmo o tipo de pessoa que estava disposto a trabalhar fora de horas por forma a mostrar-se aos chefes e progredir na sua carreira. Mas seguiu-se um momento de silêncio constrangedor, em que mais ninguém se voluntariou.

 

Inês debateu-se com um dilema pessoal. Ela até achava que seria um projecto interessante e que iria enriquecer a sua carreira, mas por outro lado implicava mais uma série de noites de trabalho duro e stressante, o que iria novamente prejudicar a sua vida pessoal. E a sua relação com Pedro… ou melhor, a sua quase-relação com Pedro podia ser afectada por isso.

Mas não podia deixar que os sentimentos por alguém pudessem afectar a sua carreira. Se ele realmente gostasse dela, estaria disposto a esperar mais um pouco, até que ela tivesse mais disponibilidade para ele. Era um sinal de que ele tinha realmente crescido face ao passado.

 

Por isso, de forma muito relutante, Inês acabou por se voluntariar para integrar o projecto, sem imaginar o impacto que essa decisão acabaria por ter
na sua vida.

 

Ela e o Diogo foram então informados pelo seu chefe que o projecto iria iniciar-se já na segunda-feira seguinte, tendo este também agradecido a ambos a sua disponibilidade.

 

Inês suspirou então de alívio, pois pelo menos iria ter o fim-de-semana para se preparar para as semanas difíceis que viriam. Mas depois lembrou-se que iria passar novamente mais uma série de semanas com o Diogo e a sua impessoalidade… Mas não podia fazer nada para evitar isso…

 

Mas depressa chegou o primeiro dia do projecto. Ou mais propriamente a primeira noite… O responsável do projecto explicou a todos os membros da equipa, na qual Inês e Diogo estavam incluídos, que o projecto tinha a duração prevista de um mês, embora pudesse ser prolongado mais umas semanas, dependendo da evolução do mesmo. E formou as várias equipas de entre os presentes, tendo ela e Diogo ficado integrados na mesma equipa.

 

Inês pensou que iria ser um mês difícil, pois já estava habituada à atitude demasiado profissional e introvertida do seu colega. Mas era um sacrifício que teriam de fazer. E um mês passava num instante. Pelo menos era o que ela esperava.

 

Mas a primeira noite deu para ela ter uma amostra do que lhe estava destinado. Foi uma noite em que ambos ficaram praticamente calados o tempo todo a tentar preencher os documentos e relatórios. O silêncio era apenas interrompido quando ela tinha algumas dúvidas, que Diogo não se importava de retirar. Mas tirando isso, ele não lhe dirigia a palavra. E ela, por sua vez, mesmo sendo muito extrovertida, sentia-se algo condicionada, pois não queria estar a meter conversa com ele, quando era claro que ele não estava interessado nisso e apenas queria trabalhar. No final da noite, quando todas as equipas foram para casa, contavam-se pelos dedos as vezes em que o silêncio tinha sido quebrado entre os dois.

 

Inês quando chegou a casa, antes de se ir deitar, apenas pensou que iria ser um mês muito comprido e não tinha esperança de que as coisas melhorassem.

 

As suas previsões acabaram-se por concretizar, pois o resto da semana foi muito semelhante ao primeiro dia. Custava-lhe muito que isso acontecesse, pois ela por natureza tinha a tendência para tagarelar, mas a frieza com que o colega a tratava, tirava-lhe qualquer vontade de falar com ele. Até porque ele mostrava-se muito concentrado no que estava a fazer e demonstrava que não queria ser incomodado com coisas triviais. Ela não se podia queixar da ajuda dele, pois ele era uma pessoa muito inteligente e prática e conseguia desenrascá-los aos dois nas tarefas que eram atribuídas à equipa. Mas ela não estava a ser ela própria. E isso era algo que ela detestava.

 

Mas as coisas não mudavam. Dia após dia, a rotina era sempre a mesma. Depois do trabalho normal diário, iam os dois para a sala de reuniões com as
restantes equipas envolvidas no projecto. E ela acabava invariavelmente na mesma equipa do Diogo, onde o trabalho decorria sempre da mesma forma.

 

Até que numa noite, Inês decidiu que tinha mesmo de falar com o seu colega.
Eles até estavam a cumprir com as tarefas que lhes iam sendo atribuídas, masnão percebia o motivo pelo qual ele agia assim. E mais valia falar agora, do que aguentar mais duas semanas e meias naquela situação inconfortável. Isto se o projecto não se prolongasse.

Por isso, numa altura em que as coisas estavam mais calmas, ela decidiu arriscar.

 

- Diogo… Podemos falar?

- Claro. Tens alguma dúvida?

- Não, não era por causa de nenhuma dúvida. Precisava de esclarecer uma coisa contigo.

 

Inês reparou logo na mudança da expressão facial do seu colega quando disse essas palavras, pois tinha-se tornado ainda mais sisuda.

 

- Mas sobre o que queres falar? – Interrogou-se Diogo, mostrando um certo ar de surpresa.

- Queria falar da forma como estamos a trabalhar juntos.

- Mas achas que não estamos a trabalhar bem? Estamos a fazer tudo o que nos foi pedido e até já fomos elogiados por isso.

- Sim… eu sei… mas não é isso. É que queria falar da forma como nós os dois nos relacionamos. Não sei… parece que não gostas de mim e tentas evitar falar comigo… até pode não ser isso, mas é a impressão com que fico.

- Inês… podes estar descansada… não tenho nada contra ti… é só que estou muito concentrado no que estou fazer e quero garantir que as coisas correm bem.

- E achas que eu não quero? E que não estou empenhada no projecto? É que acho que as coisas poderiam correr melhor se nos dessemos melhor… as horas e as noites passariam mais depressa…

 

Diogo calou-se momentaneamente e reflectiu no que haveria de dizer. Sabia que ela tinha razão. Eles estavam praticamente obrigados a estar mais tempo juntos do que com as próprias famílias e amigos e não era justo para ela ter como companhia alguém que não queria falar com ela a não ser quando fosse necessário. Ele tinha sido sempre uma pessoa fechada por natureza… era mesmo próprio da sua personalidade… mas soube que tinha de fazer um esforço para ser mais sociável, pois caso contrário poderia surgir problemas com Inês, o que iria acabar por afectar o projecto.

 

- Sim… tens toda a razão… mas tens de perceber que eu sou assim por natureza… mas vou fazer um esforço para melhorar…

- É só isso que te peço. Não te vou obrigar a mudares, mas agradeço que pelo menos estejas disposto a fazer o esforço.

- Sim… vou fazer esse esforço. Eu prometo.

- E para iniciar esta nova fase, fazemos um pacto. Cada um irá contar algo que mais ninguém aqui na empresa sabe. E quero que saibas que podes confiar em mim.

- Inês…- disse Diogo, após uma breve pausa – essa questão nunca se colocou.
Nunca me deste motivos para não confiar em ti. Mas queres que eu comece?

- Não…como fui eu que tive a ideia, eu começo. Sabes quem eu descobri que andava com a Mónica da área comercial? O André da área das compras. Cá eles fingem que não se conhecem, mas um dia vi-os muito juntos num restaurante, num jantar romântico.

 

- Não… A sério? Nem fazia ideia? Mas mais alguém sabe?

- Não… eu não contei nada a ninguém… Não tem nada a ver comigo, nem com mais ninguém da empresa. É daquele tipo de coisas que diz respeito apenas a eles os dois e a mais ninguém. E só te conto a ti, pois sei que não vais contar a ninguém.

- Obrigado pela confiança. Claro que não vou contar a ninguém. Agora é a minha vez, certo?

- Sim… Estou curiosa para saber o que aí vem…

- Mas prometes que fica entre nós?

- Claro que sim…

- Bem.. A Mónica e o Jorge não são os únicos que têm um romance no escritório… - disse Diogo, aguçando a curiosidade da sua colega. - Eu tenho uma relação secreta com a Sónia já há uns meses.

 

Inês ficou completamente chocada. Nunca iria pensar que a sua amiga Sónia se pudesse envolver com alguém como o Diogo. Eram pessoas muito diferentes e com personalidades opostas. Se bem que ela tinha dito que estava a andar com alguém nos últimos tempos e estava a fazer segredo da pessoa.

 

- Não posso… Estás mesmo a falar a sério?

 

Diogo fez mais uma pausa, tendo colocado um ar muito sério antes de responder à sua colega.

 

- Achas mesmo? – disse Diogo, tentando evitar um sirriso.

- Não sei… Podia ser verdade… mas não foi isso o combinado. Era suposto contarmos um ao outro uma coisa que mais ninguém soubesse – reclamou Inês, como era seu hábito.

- E foi o que fiz. Provei-te que tenho um sentido de humor, ao contrário do que todos no escritório pensam…

 

Inês esboçou um genuíno sorriso ao seu colega e soube que as coisas iriam mudar para melhor e que ambos se iriam dar melhor no futuro…

publicado por Matt Xell às 00:34
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Terça-feira, 3 de Agosto de 2010

Capítulo 24 - O reencontro

Inês olhou para o despertador e viu que já eram horas de se levantar. Mas desta vez, ao contrário das últimas semanas, fe-lo com um sorriso nos lábios... A noite anterior tinha mudado o seu estado de espírito, pois agora tinha uma grande esperança no futuro. Para além do novo emprego, tinha dado os primeiros passos para reatar a relação com Pedro. Por isso, não parava de relembrar o que tinha ocorrido na noite passada. Lembrava-se perfeitamente que tinha acabado de jantar e que estava indecisa sobre se deveria ligar ou não ao Pedro.

 

Inês, por mais que o não quisesse, sentia-se ainda algo renitente em ligar-lhe. Algum tempo já tinha passado desde a última vez que se tinham falado e nessa altura ela tinha-lhe dito que precisavam de passar algum tempo separados... e que um dia poderiam ser amigos... A insegurança voltou ao de cima, pois ela só pensava que ao contrário do que ele lhe tinha prometido, ele já a teria esquecido por ter ficado farto de esperar por ela. E não queria saber se isso teria acontecido ou não. Preferia pensar que ele ainda poderia estar à espera dela, em vez de ter a certeza de que ele já tinha continuado com a sua vida. E por isso, não lhe queria ligar. Tinha medo de admitir que tinha cometido um erro.

 

Foi quando ouviu o seu telemóvel a tocar. Inês olhou para o ecran e viu que era Pedro. Foi uma daquelas coincidências que parecia inacreditável. Respirou fundo e atendeu a chamada.

 

- Estou? – disse ainda um pouco receosa do que iria ouvir.

- Olá Inês, sou eu... Desculpa lá estar-te a ligar, mas senti que era altura de falarmos...

- A sério? Já não era sem tempo....

- Já sentia falta das tuas provocações.... Mas já passou algum tempo desde a última vez que nós falamos... E tínhamos combinado que iríamos tentar ser amigos... Por isso queria convidar-te a ir a um jantar que estou a organizar para os meus anos daqui a uma semana... Interessada?

 

Inês pensou um pouco antes de responder... Não queria que as suas emoções afectassem a sua decisão. Ela ainda estava um pouco indecisa sobre se já era tempo de reatar as relações com Pedro ou ainda era cedo demais.

 

- Para a semana? Deixa-me ver a minha agenda. Se não tiver nada marcado, terei todo prazer em ir.

- Gostava muito de contar com a tua presença. Os meus melhores amigos vão lá estar e queria que tu também passasses a fazer parte desse grupo.

- Vou tentar ir, está descansado. Avisa-me só depois do dia e da hora.

- Fica combinado... Foi bom ouvir a tua voz outra vez...

- Também gostei de te ouvir. Beijinhos...

- Beijinhos....

 

Assim que Pedro desligou a chamada, Inês sentia-se diferente. Sentia-se mais livre e mais aliviada. O primeiro contacto com Pedro tinha corrido bem. E acima de tudo, parecia que ele estava mesmo disposto a fazer o que ela tinha pedido para que ele conseguisse reconquistar novamente a sua confiança.

Como não poderia deixar de ser, ligou na altura imediatamente à Rita para desabafar e contar o que tinha acontecido, tendo ficado quase uma hora seguida a dizer o que sentia, antes de se ir deitar, porque o dia seguinte era dia de trabalho.

 

Tudo parecia estar a entrar nos eixos. Só esperava que tudo continuasse assim.

Mas depressa saiu do estado pensativo em que se encontrava. Agora era altura de ir para o trabalho. Ainda continuava no departamento de compras e queria demonstrar aos seus superiores hierárquicos que tinha capacidades para evoluir dentro da firma e ir para outra função...

 

O trabalho estava a correr bem e com o tempo foi adquirindo confiança em si e no que estava a fazer. E acima de tudo, que os colegas a viam não como uma cara bonita que só estava lá por esse motivo, mas como alguém motivada para o trabalho e com capacidade para aprender e evoluir. Mas já estava a ficar um pouco farta de fazer as mesmas coisas dia após dia e queria algo diferente para fazer com maior complexidade, pois sentia que estava preparada para lhe serem atribuídas maiores responsabilidades.

 

Mas ela ficou preocupada, quando a sua colega Sónia, no final do dia disse-lhe que o chefe queria falar com ela. Inês inicialmente ficou algo receosa, pois já tinha ouvido demasiadas histórias de colegas (ou ex-colegas) que tinham sido repreendidas pelo Dr. Rui e saído do seu gabinete a chorar. Tentou relembrar-se mentalmente se tinha feito alguma coisa nos últimos tempos que pudesse ter motivado a sua convocatória para junto do chefe, mas não conseguiu lembrar-se de nada. Mas isso não queria dizer nada e o seu chefe poderia ter embirrado com ela por uma coisa mínima. Começou então a ficar algo nervosa, mas só lhe restava ir ter com o seu chefe a aceitar o seu destino. Mas depois de ter saído do gabinete, estava completamente desorientada. Não só tinha sido elogiada pelo seu chefe, como também lhe foi proposta a transferência para o departamento de contabilidade, onde teria um cargo de maior responsabilidade, mas que também implicaria mais horas de trabalho e também um novo esforço em termos de formação para as novas tarefas que poderia ter de executar. Ela respondeu-lhe favoravelmente ao convite e soube que a transferência iria concretizar-se no prazo de duas semanas, logo após o final do mês.

 

Inês sentia que a sua vida estava a mudar para melhor... Tinha outra coisa em que pensar, sem ser na sua vida amorosa. Mas lá no seu íntimo, só esperava pelo jantar que Pedro estava a organizar na semana seguinte para ver em que situação estavam as coisas. Os dias pareciam avançar devagar e nunca mais chegava o dia do jantar. Foi por isso com grande satisfação e nervosismo que finalmente esse dia tinha chegado.

 

Por mais que ela não o quisesse admitir, ela queria ver Pedro novamente. E tinha-se preparado para isso, pois consciente ou inconscientemente, tinha ido ao cabelereiro e à manicure no dia anterior. E decidiu levar um vestido que lhe ficava particularmente bem e que chamava a atenção de qualquer homem com dois olhos na cara.

 

Quando chegou ao restaurante, viu que Pedro já lá estava com alguns amigos. Ela consciencializou-se naquele momento que não conhecia ninguém naquele jantar. Ela dirigiu-se a Pedro e cumprimentou-o com um leve beijo na face.

 

- Oi. Muitos parabéns – disse Inês, logo após tê-lo cumprimentado.

- Ainda bem que vieste. Agradeço imenso o facto de teres vindo.

- Não podia perder esta oportunidade para estarmos juntos e para por a conversa em dia- disse Inês, não conseguindo conter o sorriso por estar a falar novamente com ele.

 

Estiveram a falar um pouco do que se tinha passado nos últimos tempos e nem parecia que tinham estado alguma vez separados. A conversa saía naturalmente, e sem aqueles inconvenientes e embaraços que podia decorrer da situção em que os dois se encontravam. Mas tiveram de interromper a conversa, pois mais alguns amigos de Pedro tinham chegado e ele também tinha de dedicar alguma atenção a eles.

 

Inês decidiu-se então a sentar... como não conhecia ninguém, decidiu ficar no lugar livre mais próximo de Pedro. Apesar de não conhecer ninguém no jantar, ela nunca tinha problemas neste tipo de situações, pois devido à sua personalidade, era uma pessoa muito cativante e que agarrava a atenção de quem estivesse a falar com ela, fosse qual fosse o tema.

 

Estava então a ter uma conversa com o desconhecido do lado sobre como há quanto tempo conheciam Pedro e a natureza da relação de cada um deles com o amigo, quando ouviu uma voz feminina a perguntar se a cadeira à frente de Inês ainda estava disponível. Instantaneamente, quase por reflexo, Inês disse que sim, sem ter olhado para quem tinha feito a pergunta. Mas depois desviou o olhar e viu que estava agora sentada à frente da amiga de Pedro que tinha sido o motivo principal para o fim da sua relação. Patrícia... era esse o nome que não tinha saído da sua cabeça nos últimos tempos. Ela sabia que Patrícia não tinha a culpa de nada e que tinha sido Pedro que lhe tinha mentido. Mas subconscientemente, ela era uma das culpadas pelo seu sofrimento nos últimos meses. E ainda por cima, ela naquela noite rivalizava com ela pelo título de rapariga mais atraente da sala... Patrícia tinha vindo com um lindo vestido rosa choque que realçava o seu corpo e o seu decote, e que muito provavelmente também atraíria a atenção de Pedro. Inês não gostava da amiga de Pedro, mas decidiu que não podia demonstar-lhe isso, pois ela não lhe tinha feito ainda nada. Um dos seus principais objectivos durante a noite passou a ser encontrar motivos reais para detestar a pessoa sentada à sua frente.

 

Mas à medida que a noite prosseguia, estava a ser-lhe complicado concretizar os seus objectivos. Duranta a conversa, Patrícia mostrou ser uma pessoa humilde, muito pacífica, muito simpática e atenciosa. E Inês não teve outro remédio do que ir mostrando um sorriso mais forçado durante a conversa e manter uma conversa cordial com ela. Findo o jantar, e antes de servirem a sobremesa, Inês pediu licença e foi ao quarto de banho. Quando estava prestes a voltar para a mesa depois de lavar as mãos, reparou que Patrícia também estava ao seu lado.

 

- O jantar está a correr bem... – disse Patrícia, para não parecer indelicada.

- Sim, também acho que sim. Nunca tinha vindo cá... mas gostei – respondeu Inês.

- Inês... – disse Patrícia, antes de fazer uma breve pausa... – Posso fazer-te uma pergunta? Pode parecer descabida, mas tenho mesmo de a fazer...

Inês hesitou um pouco, mas lá acabou por assentir com um ligeiro acenar da cabeça.

- Tens alguma coisa contra mim?

 

Inês foi apanhada desprevenida por aquela pergunta. O que iria responder? Respirou fundo e percebeu que só poderia responder a verdade... Ela percebeu que não tinha enganado Patrícia durante a noite e que ao contrário do que tinha pensado, não tinha conseguido esconder o que realmente sentia...

 

- Patrícia.. Vou ser sincera contigo... Tu nunca me fizeste nada, mas acho que nunca te vou deixar de considerar aquela rapariga que se meteu na minha relação contigo...

- Já tinha percebido isso... Sabes que o Pedro já me tinha falado muito de ti antes de vocês.... – fez uma breve pausa, pois soube que tinha falado de mais – e não foi a rapariga que esteve sentada à minha frente... Tu foste muito educada comigo e fomos tendo aquelas conversas circunstanciais... Mas percebi que não estavas a ser tu... Perguntei-me várias vezes durante a noite onde estaria a rapariga que tinha conquistado o Pedro... E cheguei à conclusão que não estavas confortável em falar comigo, embora o não quisesses demonstrar...

 

Inês sentiu a sinceridade com que Patrícia tinha dito aquelas palavras e apeteceu-lhe pedir desculpa. Mas não era o momento para isso. Quem sabe um dia teria uma nova oportunidade. Mas era altura de pelo menos se justificar.

 

- Tens toda a razão. Senti-me um pouco constrangida por tu estares cá. Eu sei que a culpa não é tua. Mas se não fosses tu, se calhar estava neste momento ao lado do Pedro a segurar a mão dele enquanto os seus amigos lhe cantavam os parabéns.

- Inês... vou-te dizer uma coisa... Acho que tu nunca tiveste motivos para ficar assim. O Pedro nunca faria algo que te pudesse magoar. Pelo menos o novo Pedro... Tu não o conheceste antes... Ele mudou muito desde que começou a andar contigo e se o conhecesses antes perceberias a diferença. Perceberias que ele estaria disposto a fazer tudo por ti e que ele não tinha olhos para mais ninguém... mesmo que alguém estivesse interessada nele, ele não estaria interessado. Tu eras a única mulher da vida dele...

 

Inês ficou sem saber o que dizer... Será que se tinha precipitado em não aceitar logo as explicações de Pedro na altura? Será que ela também tinha alguma culpa pelo fim da relação?

 

- Sabes que nos últimos tempos ele não tem sido o mesmo. No escritório, nota-se que lhe falta algo na sua vida. Mas mesmo assim, ele não voltou a ser o Pedro de antes. Tu mudaste-o e ele está disposto a esperar por ti. Por isso, não tens que estar preocupada comigo ou com outra mulher. Tu és a única pessoa que ele quer na vida dele. E espero que saibas disso.

 

Uma lágrima começou a cair do olho de Inês que tinha ficado emocionada com as palavras de Patrícia. Ainda não estava preparada para reatar as coisas com Pedro, mas pelo menos agora já se sentia mais segura dos sentimentos de Pedro para com ela. Ela continuou incapaz de dizer algo, mas sentiu que Patrícia tinha percebido o que ela sentia. Ambas voltaram para a mesa, mesmo a tempo da sobremesa.

 

Enquanto provava o seu cheesecake, Patrícia sentia-se triste por praticamente ter empurrado Inês de volta para a vida de Pedro... mas o mais importante era que ele fosse feliz... mesmo que não fosse com ela. E ela sabia no seu íntimo que ele só seria feliz junto de Inês.

 

Entretanto, Inês achava que a noite tinha corrido bem. O primeiro passo já tinha sido dado e só esperava por novos desenvolvimentos na sua nova relação de amizade. Ela foi despedir-se de Pedro que estava junto da Patrícia que também ia andando para casa.

 

- Pedro, muito obrigado por me teres convidado. Foi bom termos voltado a falar.

- Eu é que te agradeço por teres vindo. Significou muito para mim.

- Então um dia, combinamos qualquer coisa para pormos a conversa em dia.

 - Parece-me uma óptima ideia. Talvez para a semana? – disse Pedro ao dar dois beijinhos na face de Inês, que sentiu o seu coração a pulsar rapidamente e sem controlo nesse momento. Mas lá conseguiu recuperar o controlo.

- Também acho que seria uma óptima ideia- respondeu Inês, que reparou no piscar de olhos de Patrícia dirigido para ela, indicando a aprovação da atitude que Inês tinha tomado ao aceitar o convite de Pedro...

 

Ao chegar a casa, só pensava no que se tinha passado no jantar. Mas ao contrário do que imaginava quando tinha acordado nesse dia de manhã, não tinha sido o reencontro com Pedro que tinha alegrado o seu coração. Tinham sido as palavras de Patrícia que afinal não era tão má pessoa como ela pensava.

publicado por Matt Xell às 22:26
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Segunda-feira, 28 de Junho de 2010

Capitulo 23 - Vida nova

Inês olhou para o despertador e viu que já eram horas de se levantar. Apesar de ser bastante mais cedo do que a hora em que habitualmente acordava, tinha mesmo de sair da cama. Iria começar hoje o seu novo emprego.

Já há algum tempo que estava a procura de emprego, mesmo antes de ter terminado o seu curso de Psicologia, e tinha-se apercebido de que o mercado de trabalho nessa área estava em baixa, principalmente para os recém-licenciados.

E tendo terminado o último exame há cerca de um mês, tinha de arranjar algum emprego para ir suportando a renda e os gastos enquanto não arranjasse um emprego na sua área. E isso poderia demorar algum tempo, pelo que há uns meses atrás tinha recorrido a uma empresa de trabalho temporário... Após ter efectuado uma série de entrevistas e os testes psicotécnicos, ficou a aguardar novidades sobre um eventual emprego que essa empresa acharia que seria mais adequado para ela.

 

Mas estas últimas semanas tinham sido complicadas, devido ao que tinha acontecido com Pedro. Já não falava com ele há duas semanas pois eles tinham combinado dar algum tempo ao outro. Quando ela recebeu a chamada da empresa de trabalho temporário a indicar que tinha sido esolhida para trabalhar como assistente administrativa na área financeira de uma multinacional e perguntar-lhe se ela estava interessada, ela aceitou logo a proposta, uma vez que precisava de algo para esquecer o que se tinha passado nos últimos tempo e seguir em frente com a sua vida. Ainda não tinha exactamente a noção do que é uma assistente administrativa fazia, pelo que era com alguma curiosidade e nervosismo que se preparava para o primeiro dia de trabalho. A primeira grande dificuldade prendia-se com o que vestir...

 

A primeira impressão é uma coisa muito importante, pois apenas se tem hipótese de causar uma primeira impressão uma vez.  E ela queria causar um boa impressão aos seus novos colegas de emprego, ainda para mais porque sentia que tinha de provar algo, pois era apenas uma temporária. Ela não sabia se quereria apresentar-se de forma muito profissional usando um fato. Ou tinha a alternativa de se vestir de forma casual, de calças de ganga e uma blusa discreta... Ou tinha ainda a hipótese de se vestir de forma sensual com a menor minisaia que tinha e com um top muito revelador... Eram muitas as hipóteses e Inês não tinha ideia de qual seria a alternativa mais apropriada. Após vestir-se e despir-se várias vezes em frente ao espelho, decidiu-se a usar um dos seus vestidos favoritos que apesar de mostrar a sua beleza natural não era muito revelador do seu corpo. Pelo menos não iria ser alvo de comentários menos apropriados pelos seus colegas.

 

Um pouco antes das nove da manhã, chegou ao seu novo local de trabalho. Assim que chegou à recepção, foi encaminhada para a responsável dos Recursos Humanos com quem esteve a tratar de toda a papelada inicial. De seguida, fizeram-lhe uma visita guiada do escritório, que ainda era maior do que pensava, pois ocupava vários andares e tinha vários open spaces enormes cheio de secretárias com pessoas, todas à frente de um computador... Ela também se apercebeu de que grande parte das pessoas que lá trabalhavam eram mais ou menos da sua idade, pelo que ficou mais aliviada pelo facto de poder conseguir encontrar alguém com que se pudesse dar bem e que a ajudasse a integrar-se na empresa.

 

No final da visita guiada, a sua colega de recursos humanos apresentou-a ao seu chefe, o Dr. Rui. Era uma pessoa relativamente nova, entre os 35 e os 40, mas a sua primeira impressão não foi a melhor. Ele pareceu-lhe demasiado ríspido quando foram apresentados e não perdeu mais do que cinco segundos com ela. Sim, ela era apenas uma simples temporária, mas mesmo assim, achava que pelo menos o chefe quereria conhecer melhor quem trabalhava para ele.. E durante a manhã, percebeu que o seu novo chefe não tinha problemas em gritar com os seus subordinados se eles não tivessem feito algo como ele queria...

 

Nesta fase inicial, iria ser treinada por uma colega já com alguma experiência e que já estava na empresa há 3 anos, a Sónia. Pareceu-lhe uma pessoa mais acessível do que o seu chefe, até porque não só era apenas ligeiramente mais velha do que ela (pareceu-lhe que ela tinha cerca de 25 anos), mas porque era uma pessoa muito calma e com muita paciência para ensinar sempre as pessoas acabadas de entrar e que não percebiam de nada do que iam fazer... A Sónia explicou-lhe que o trabalho dela iria consistir em ajudar o departamento financeiro da empresa onde fosse necessário, consoante os picos de trabalho ou fosse necessário substituir alguém que estivesse de baixa ou de férias...

 

Inicialmente, ela iria estar alocada à area de compras, e iria essencialmente estar a lançar facturas de fornecedores no computador. Sónia passou grande parte da manhã a explicar-lhe o que tinha de fazer, a mostrar-lhe o sistema informático com que a empresa trabalhava e ainda esteve a ajudá-la a lançar as suas primeiras facturas, para se certificar de que ela tinha aprendido correctamente. Não era uma coisa assim tão complicada, pois felizmente, Inês tinha alguma experiência em trabalhar com computadores devido aos trabalhos da faculdade e por isso o Word e o Excel não eram palavras estranhas. Teve alguma dificuldade inicial nesse primeiro dia a tentar compreender o sistema informático onde tinha de lançar as facturas e que campos preencher, e por isso de vez em quando pedia a ajuda de Sónia, que tinha-a posto à vontade para a questionar sempre que ela achasse necessário. Mas esperava que passado uns dias, se sentisse mais à vontade e mais confiante no que estava a fazer...

 

Felizmente, também o seu horário de trabalho, pelo menos enquanto estivesse no departamento de compras, não era muito extendido e por volta das 18h30 foi mandada para casa. Mas foi-lhe dito para não se habituar muito a esse horário, pois existiam outros departamentos onde poderia ser alocada, onde poderia sair muito mais tarde do que isso durante vários dias. 

 

Inês ficou satisfeita por começar num sitio mais calmo, para poder adaptar-se com calma à empresa e ao trabalho, e esperava que pudesse continuar nas compras por mais algum tempo. E pelo menos sabia que podia contar com uma pessoa para ajudá-la lá dentro, pois a Sónia era de facto uma rapariga impecável. Até a tinha convidado para almoçar, pois imaginava que ela não tinha tido oportunidade de conhecer outros colegas nesse primeiro dia. E foi o que tinha acontecido, pois tinha estado em formação o dia inteiro e teve poucas oportunidades de falar com as colegas que estavam perto nela, numa mesa minúscula num open space enorme. E tinha também reparado que o ambiente de trabalho era um pouco formal, com poucas interrupções para além do café e das idas à casa de banho, muito provavelmente por causa do chefe, que não perdia qualquer hipótese de dar na cabeça de algum dos seus subordinados. E por isso, todos procuravam estar concentrados no trabalho, para evitarem cometerem erros. E uma coisa que a Sónia lhe tinha dito, é que o Dr. Rui às vezes poderia ser um pouco duro, mas que nunca tinha repreendido ninguém que não o merecesse, embora ela não concordasse com a forma como ele às vezes humilhava os colegas à frente de toda a gente.

 

No final do dia, chegou a casa e ligou à Rita para contar-lhe o seu primeiro dia de trabalho. Após ter desligado o telemóvel, Inês apercebeu-se que tinha sido a primeira vez que o principal motivo dos seus desabafos não tinha sido Pedro... Era um sinal de que o tempo tinha-a ajudado a esquecer o que se tinha passado.... O passado é o passado e abria-se uma nova página na sua vida... Novo emprego, novas amigas e quem sabe... uma nova paixão?

 

Mas o dia tinha-lhe corrido bem... A incerteza que tinha sobre o seu futuro quando acordou de manhã tinha-se atenuado... Ela estava um pouco insegura sobre o facto deste ser o primeiro emprego a sério dela e nem imaginava o seu futuro se as coisas tivessem corrido mal... Mas felizmente, os seus piores receios não se concretizaram...

 

O dia seguinte ainda correu melhor... Não só ela já estava um pouco mais habituada ao seu trabalho, como na hora do café foram-lhe apresentadas algumas colegas que também eram temporárias e também estavam lá há pouco tempo e com que se entendeu bastante bem. Tinham várias coisas em comum, como o facto de também ser este o primeiro emprego delas e também o facto de terem também tirado cursos noutras áreas, mas que estavam todas agora como assistentes na área financeira por não terem encontrado o emprego que mais gostariam... e acima de tudo, eram pessoas que estavam dispostas a apoiar-se umas às outras... E ainda por cima, Inês era daquelas pessoas muito aberta, que conquistava qualquer pessoa com a sua personalidade e a forma aberta como dizia o que pensava, o que facilitou a integração naquele grupo... A única pessoa que ainda não lhe ligava muito era o seu chefe, o que a fazia feliz, pois se ele não soubesse quem ela era, menos hipóteses existiriam de ele embirrar com ela.

 

Os primeiros dias de Inês correram bem, e cada vez menos sentia a necessidade de pedir ajuda à Sónia, pois estava mais à vontade no que fazia... E acima de tudo, estava a gostar do que fazia, embora não fosse o tipo de coisas que queria fazer para o resto da sua vida e já imaginava que daqui a uns meses já estaria farta de fazer a mesma coisa todos os dias. O que lhe valia era o facto de daqui a uns tempo, poderia ser precisa noutro departamento e iria fazer outra coisa completamente diferente...

Mas acima de tudo, tinha feito novos amigos lá dentro e estava a seguir com a sua vida. Aliás, tirando o seu chefe, apenas existia um outro colega, o Diogo, que também era um temporário e que praticamente a ignorava, que não mostravam qualquer interesse em ser seus amigos. De resto, praticamente toda a gente no seu departamento gostava dela e estavam a ajudá-la a integrar-se.... E sentia que a sua vida profissional estava a correr bem... Mas não tinha niguém com quem partilhar essa sensação... E de repente começou a pensar que aquela noite seria a noite ideal para ligar a Pedro, com que já não trocava uma palavra há quase três semanas...

publicado por Matt Xell às 22:08
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Sábado, 15 de Maio de 2010

Capítulo 22 - Seguir em frente

Por volta das oito horas da noite, Patrícia chegou ao café onde tinha combinado encontrar-se com Pedro. Sentiu um nervosinho miudinho e não fazia ideia do motivo. Ao contrário do dia anterior, não ia para um encontro. Ia apenas ter uma conversa amigável com um colega... Pelo menos era isso que ela tentava se convencer, por forma a não ficar tão nervosa. Mas não estava a resultar. Desde que tinha saído do escritório directamente para o café, não conseguia deixar de pensar que por mais que quisesse, ainda sentia algo muito forte pelo seu amigo. E não tinha sido o encontro do dia anterior que tinha mudado essa situação.

 

Respirou fundo e tentou concentrar-se, pois já não devia faltar muito para Pedro também chegar. E ela não queria mostrar-lhe que sentia algo por ele. Ainda para mais, agora que ele só tinha olhos para outra mulher... Mas acima de tudo, era amiga dele e por mais que lhe custasse, tinha de lhe dar apoio nesta fase mais difícil da vida dele... Mesmo que isso implicasse reconhecer que ela nunca iria ser a tal para ele, pois mesmo estando ele separado daquela rapariga, ele não conseguia parar de pensar nela. Quem lhe dera que ele sentisse o mesmo por ela...

 

Mas os pensamentos dela foram interrompidos, quando se apercebeu da chegada do seu amigo. Ambos sentaram-se numa mesa num cantinho onde podiam falar à vontade sem serem incomodados pelos outros clientes do café.

 

- Ainda bem que pudeste vir – disse Pedro, ao interromper o silêncio momentâneo que resultou do facto de nenhum querer ser o primeiro a iniciar a conversa. Não era normal, pois Pedro confiava na sua amiga e nunca tinha tido problemas em lhe dizer nada... Mas desta vez o motivo era diferente... Ele precisava da sua ajuda para reconquistar Inês e não sabia muito bem como começar...

- Estava mesmo a precisar de falar contigo...nem sabes como senti a tua falta nestes últimos tempos...- começou Pedro.- Estava mesmo a precisar de um ombro amigo... E não merecia que estivesses cá, pela forma como te tenho ignorado nos últimos tempos...

- Estás a fazer um bom trabalho a pedir desculpas... Continua... – interrompeu Patrícia com um sorriso.

- Mas acho que seria preciso muito mais para nos afastar e acabar com a nossa amizade.

- Fico feliz que aches isso de nós. E sabes que não consigo resistir a esses olhos, pelo que vamos esquecer a última semana e seguir em frente... Mas com que então, ela não voltou para ti da forma como querias....

- Pois... ela não me conseguir perdoar totalmente, mas pelo menos não me tirou completamente da sua vida... e que que sejamos amigos...

- Cá está a frase que normalmente indica que a relação está preste a terminar...- gracejou Patrícia.

- Pois... Mas desta vez as coisas são diferentes. Eu acho que ela está preparada para dar-me uma nova hipótese no futuro... E eu nunca iria perdoar-me se não aproveitasse esta oportunidade... Por isso precisava da tua ajuda... O que posso fazer para não a afastar?

 

Patrícia pensou bem no que iria dizer. Estava-lhe a custar muito por dentro fazer isto, mas ela queria vê-lo feliz... mesmo que não fosse com ela...

 

- Sabes... Acho que tens de continuar a ser o Pedro destas últimas semanas. Tu mudaste muito... Passaste de alguém que não se importava com o futuro e vivias como se fosses o dono de tudo... para alguém que é mais humilde e que está disposto a fazer de tudo para reconquistar a pessoa que ama... Tens de continuar a ser esse Pedro e tenho a certeza de que mais cedo ou mais tarde, ela irá aperceber-se de que não pode viver sem ti...

 

- Nem imaginas o quanto te agradeço por me dizeres isso. Mas realmente, sinto-me uma pessoa diferente... A Inês faz-me querer ser uma pessoa melhor e isso é algo que não consigo negar. Mas e se ela não conseguir confiar em mim novamente?

 

- Tem calma, Pedro. A confiança conquista-se aos poucos, acto a acto, dia a dia. Tens de ter paciência e acima de tudo, não a forçar a nada. Tens de lhe dar algum tempo e acima de tudo, fazer com que ela perceba que estás disposto a esperar o tempo que for preciso.

 

- Já não és a primeira pessoa que me diz isso. – Mas sinto um aperto sempre que penso que existe uma possibilidade dela me esquecer. Ou pior... de encontrar outra pessoa entretanto...

 

- É o risco que tens de correr. Mas acima de tudo, tens de fazer com que ela confie em ti... tudo o resto, virá depois...

 

- Não sei o que faria sem ti, Patrícia...

- Também não sei o que farias sem mim... – respondeu a amiga, com o sorriso característico dela.

- Mas chega de falar de mim... Como é que correu o teu encontro ontem?

- Sabes... correu melhor do que eu esperava... já há algum tempo que não saia com ninguém... estava um pouco enferrujada...

- Mas imagino que ele deva ter ficado encantado contigo... Ontem estavas muito bem arranjada...

 

A face de Patrícia corou ao ouvir os elogios dos seu amigo... Ela sempre tinha esperado que ele reparasse nela... mas isso só tinha acontecido quando ele tinha encontrado outra pessoa...

 

- Escusas de gozar comigo só pelo facto de ter feito um makeover...

- Mas estava a falar a sério... tu ontem estavas muito gira... o que é que ele achou?

- Sinceramente, acho que ele nem reparou muito nisso... ele esteve a noite toda mais interessada no que eu dizia...

- Já te tinha dito que tu és muito mais do que uma cara bonita... e qualquer homem seria um sortudo em estar contigo... ainda bem que entraste nesta nova fase... estava  a pensar que irias sempre continuar a dar primazia ao trabalho em vez de tentares encontrar alguém... Fico muito feliz que tenha corrido bem.... Então, achas que ele é o tal?

 

Patrícia teve de parar um pouco para não responder o que lhe veio logo à cabeça... Caso não o tivesse feito, corria o risco de dizer que ontem não tinha estado com o tal... esse, estava mesmo à sua frente... Mas Patrícia sabia que tinha de seguir em frente e não pensar mais em Pedro dessa forma... Mas custava-lhe muito e tinha de fazer um grande esforço para que ele não se apercebesse de nada.

 

- Não sei... Ainda é cedo para dizer isso... Mas acho que começámos bem... Quem sabe se ele não será a pessoa perfeita para mim?

- Espero que sim... que já não estás a ficar nova....

- Engraçadinho....

- Falando a sério, espero que tudo corra bem...

- Também eu – disse Patrícia, que não sabia ao certo se estava a ser sincera quando disse estas palavras...

 

O resto da conversa durante a noite foi menos séria e muito divertida... Ambos eram bons amigos e davam-se muito bem... Mas acima de tudo, Patrícia tentou durante a noite provar a si própria de que tinha seguido em frente com a sua vida e que Pedro era só um amigo... Mas infelizmente, sabia que estava a enganar-se a si própria... Nada faria com que ela deixasse de pensar nele... Mesmo que estivesse com outra pessoa, ele ocuparia sempre uma parte do seu pensamento... Só esperava que ainda restasse um espaço no seu coração que pudesse ser ocupado por outro homem.... Quem sabe o homem que tinha conhecido ontem? Quem sabe se ontem não se tinha dado início a um novo começo?

publicado por Matt Xell às 23:19
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Domingo, 18 de Abril de 2010

Capítulo 21 - Um novo começo?

Pedro ficou satisfeito por ter conseguido resolver as coisas com Patrícia. Ele sabia que ela não conseguia não lhe perdoar, pois eram verdadeiros amigos e seria preciso algo muito grave para os afastar a sério. Ele só podia estar verdadeiramente agradecido por ter uma amiga assim. Mas Pedro nem teve tempo de pensar mais, pois foi chamado de urgência para uma reunião que um dos maiores clientes da empresa tinha marcado.

 

Patrícia, por sua vez, não conseguia deixar de pensar na conversa que tinha tido. Sentiu-se desconsolada por ter finalmente percebido que Pedro nunca iria deixar de pensar em Inês, mesmo que ela não quisesse nada com ele. Mas lá no seu íntimo, já tinha interiorizado essa situação. Tinha de seguir em frente com a sua vida e era por esse motivo que tinha um “blind date” combinado por uma das suas amigas. Ela nunca na vida imaginava que alguma vez iria jantar com alguém que não conhecia, mas tinha decidido que a melhor forma de esquecer a paixão que tinha por Pedro, seria tentar encontrar outro homem que enchesse o vazio que existia no seu coração. E quem melhor do que uma das suas melhores amigas para a ajudar a encontrar alguém com quem ela se desse bem. E ela tinha ouvido muito bem desse homem, pelo que ela esperava não ficar desiludida. E principalmente, esperava que ele não ficasse desiludido com ela.

 

Já há algum tempo que ela não tinha um encontro com um homem... E toda a gente sabe quão difíceis são os primeiros encontros, prncipalmente com pessoas que não conhecemos muito bem. Existe sempre aquela preocupação de tentar perceber como é a pessoa que está sentada do outro lado da mesa, no meio da conversa habitual que se costuma ter nestas ocasiões. Todos tinham sempre a preocupação de não entrar em conversas muito íntimas e pessoais, pois ainda era muito cedo para isso. Mas não podiam cair no erro de ter conversas muito gerais, que não captassem o interesse da outra pessoa.  Em resumo, os primeiros encontros não eram fáceis e ela só esperava que tudo corresse bem. Mas tudo seria diferente se o encontro fosse com Pedro... Ele já a conhecia tão bem, que as coisas seriam muito diferentes. Mas já era altura de deixar de pensar nele... Era difícil, mas Patrícia sabia que era a coisa correcta a fazer.

 

E foi com estes pensamentos que Patrícia passou o resto da tarde, antes de ir para o restaurante que a sua amiga tinha escolhido para o encontro.

 

                                                                       ***

 

 

Pedro chegou ao escritório de manhã, atrasado como sempre. Não tinha nenhuma campanha urgente em curso, pelo que  podia gerir o seu horário como mais lhe conviesse. Lembrou-se que tinha de ver se Patrícia estava disponível para tomar o tal café com ele à noite. Era uma oportunidade para saber como tinha corrido o encontro dela no dia anterior e também para conversar um pouco sobre Inês.

 

Mas ele estranhou, quando reparou que ela ainda não tinha chegado ao escritório. Era estranho, uma vez que ela era sempre uma pessoa muito certinha e que era das primeiras pessoas a chegar todos os dias ao escritório e uma das últimas a sair. Realmente, não era uma situação nada habitual, o que apenas o fez ficar mais curioso sobre o que se tinha passado na noite anterior com a sua amiga. O que teria acontecido para ela não ter ainda chegado?

 

Pedro foi obrigado a concentrar-se no trabalho, pois tinha naquele momento uma reunião com os colegas por causa da nova campanha. Mas durante toda a reunião, ficou sempre intrigado por ainda não ter visto a amiga.

 

Mas ficou mais descansado ao final, quando terminada a reunião, viu que Patrícia já estava na sua mesa. E se não fosse impossível, ainda mais atraente do que no dia anterior, com um vestido vermelho com um decote que mostrava muito mais do que Pedro achava que Patrícia seria capaz de mostrar em público.

 

- Já vi que a noite de ontem correu bem... Para só teres chegado a estas horas- perguntou Pedro.

- Isso é o que tu querias saber... mas eu não sou daquelas raparigas que beija e conta...

- Já vi que aconteceu aí qualquer coisa... mas realmente, queria saber se hoje então querias tomar um café ao final do dia, para conversarmos um pouco. Claro que se tiveres um novo encontro marcado para hoje à noite eu compreendo que querias adiar...

- Por acaso, hoje tenho a minha agenda livre e posso encaixar-te...

- Só posso agradecer, pois imagino que o teu tempo livre é muito disputado.

- Tu nem imaginas... mas lá te faço um favor por seres um velho amigo... E agora deixa-me trabalhar que tenho um apresentação à tarde e estou um pouco atrasada.

- Cá está a Patrícia do costume... – disse Pedro à sua amiga, antes de ir para a sua secretária.

 

Patrícia voltou ao trabalho, mas não conseguia deixar de se lembrar da noite passada.

 

A noite tinha tudo para correr bem. Quando chegou ao restaurante, deparou-se com um homem bem parecido e muito charmoso. E acima de tudo, muito atencioso para com ela, mesmo sendo aquela a primeira vez que se estavam a encontrar. E se ela pensasse que ele era apenas um homem atraente na casa dos 30, estava muito enganada. Como veio acabar por descobrir, ele era também muito bem sucedido a nível profissional, pois era o sócio principal de uma pequena empresa de software que ele tinha criado e que tinha crescido bastante, sendo que se ele quisesse já se podia reformar. Mas ele gostava de se manter ocupado e por isso ainda continuava a fazer parte da equipa de desenvolvimento dos projectos.

Tinha sido esse um dos principais motivos para ele ainda ser solteiro naquela idade... ele, tal como ela, tinha-se dedicado de corpo e alma ao trabalho e o tempo livre era escasso e como tal nunca tinha dado a primazia à vida pessoal. Ainda por cima, o pouco tempo livre que ele tinha era também passado em algumas actividades de voluntariado, uma vez que ele achava que tinha tido a sorte de ter conseguido algum sucesso na vida que era obrigação dele partilhar e tentar ajudar outras pessoas.

 

Ou seja, o homem que esteve à sua frente era praticamente o homem perfeito para qualquer outra mulher. Mas podia acontecer que ele não tivesse nada em comum com ela. Mas mais uma vez, como a noite acabou por provar, esse pensamento acabou por se revelar falso. A noite passou num instante e ela sentia-se à vontade com ele. Ele era divertido e ela dava-se constantemente a rir das piadas ou das histórias engraçadas que ele dizia. Ela sentia-se também à vontade com ele para partilhar alguns pormenores não íntimos sobre a sua vida. Ela descobriu que ele tal como ela gostava de cães. Que ele adorava ler e que era capaz de ler um livro por horas seguidas se gostasse desse livro enquanto o não acabasse. Tal como ela. Ele gostava do mesmo genero de música e tinha também ido aos últimos concertos que ela também tinha ido. Soube também que ele adorava cozinhar, mas que nunca tinha tempo para o fazer. Essa era capaz de ser a única coisa que não tinham em comum. E o toque final do jantar ocorreu aquando da sobremesa. Ela não tinha pedido nada pois estava um pouco cheia, mas ele tinha escolhido o cheesecake de amora, que era uma das sobremesas favoritas dela e quando o empregado de mesa trouxe a sobremesa ele pediu-lhe para trazar um garfo adicional para ela também provar, mesmo ela não tendo dito nada. Ele era uma pessoa simples, muito simpática, altruista e que preocupava-se mais com os outros do que com ele.

 

Tinham-se dado muito bem e a amiga mútua que os tinha juntado tinha mesmo acertado na mouche. À saída do restaurante, trocaram o número de telemóvel e combinaram marcar qualquer coisa daqui a uns tempos. E ambos sabiam que essa promessa iria mesmo concretizar-se, pois a noite tinha corrido muito bem e ambos queriam saber aonde aquilo poderia chegar.

 

Realmente, a noite tinha tudo para correr muito bem. E tinha corrido até ela chegar a casa e ter tempo para parar um pouco e pensar sobre a agradável noite que tinha passado. Quando ia escrever no seu diário, infelizmente percebeu uma coisa. Que mesmo tendo gostado do seu encontro, ainda continuava a pensar em Pedro. Como era possível que ela tivesse encontrado um homem perfeito que estava interessado nela e com quem ela achava que poderia ter um futuro, mas ela não conseguia deixar de pensar em alguém que não estava interessado nela e que muito provavelmente nunca iria estar. Quando chegou a casa, estava preparada para escrever no seu diário o que tanto tinha gostado noite que tinha passado. Mas acabou por escrever sobre a confusão emocional que tinha e sobre o facto de, apesar do que intencionava, ainda não tinha ultrapassado a paixão que tinha por Pedro e que ainda não estava preparada para seguir em frente. E a lágrima que caiu no diário após ter escrito a última frase fez-lhe perceber mesmo isso.

publicado por Matt Xell às 17:49
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Terça-feira, 16 de Março de 2010

Capítulo 20 - Amigos?

 

Pedro acordou de manhã, com um ânimo diferente. A conversa que tinha tido no dia anterior com a Inês tinha feito com que ele tivesse alguma esperança de voltar a ter uma relação com ela. Mas agora tinha de fazer os possíveis para reconquistar a confiança dela. Mesmo que isso implicasse temporariamente ser apenas amigo dela… Seja o que fosse que isso significasse…
 
Ele nunca tinha tido uma rapariga que fosse apenas sua amiga. Durante toda a vida dele, ele nunca conseguiu manter uma relação de amizade com uma mulher, pois mais cedo ou mais tarde acontecia algo que acabava por afectar a sua amizade… Inúmeras foram as ocasiões em que ele acabava por tomar a iniciativa junto de uma amiga e acabavam por sair juntos, mas mais cedo ou mais (normalmente depois de ter dormido com essa amiga) a relação acabava por terminar e normalmente nunca mais via a antiga amiga.
 
Ou noutros casos, a amiga apaixonava-se por ele, mas ele não sentia o mesmo por ela. Juntando aos inúmeros casos que ele tinha com outras mulheres, acabavam por fazer com que essas amigas se distanciassem dele.
 
Aliás, só uma mulher fazia parte actualmente do seu círculo de amigos: Patrícia. Ela era talvez a única mulher que era imune aos seus encantos naturais e nunca tinha demonstrado qualquer interesse nele em termos amorosos. Para além disso, ela era a única mulher em quem ele podia confiar e prezava tanto a sua amizade, que seria incapaz de ter alguma relação com ela, sob medo de arriscar a companhia e o apoio que ela lhe tinha dado nos últimos anos.
 
Patrícia seria talvez a melhor pessoa para lhe aconselhar neste momento que lhe estava a ser tão difícil. Ele tinha-a afastado algum tempo depois de ter acabado a relação com Inês, e nunca lhe tinha contado o que realmente causou o fim da relação. Ela merecia que ele lhe contasse a verdade e ele tinha a certeza de que ela o iria ajudar a ser um amigo de Inês… Ela era a pessoa perfeita para isso…
 
 
Já na agência de publicidade, Pedro pensava na melhor forma de pedir desculpas a Patrícia pela frieza com que ele a tinha tratado nos últimos tempos. Ele só podia fazer uma coisa… Ajoelhar-se à frente dela e pedir-lhe sinceramente desculpas e esperar que ela o perdoasse… Ela era amiga dele e sabia que ele às vezes tinha attitudes estúpidas, e sempre o tinha perdoado e esperava que desta vez as coisas não fossem diferentes.
 
Assim que a sua manhã acalmou um pouco, Pedro deslocou-se para junto da secretária da sua amiga, mas não a encontrou por lá… Ele ficou a pensar onde poderia ela estar, mas foi interrompido por uma voz feminina.
 
- Caro colega Pedro… Não faço ideia porque está aqui, uma vez que nos últimos tempos tem passado muito despercebido cá pelo escritório…
 
Pedro reconheceu a voz de Patrícia, mesmo estando de costas para ela e sentiu o sarcasmo. Ele merecia isso, pois tinha praticamente ignorado a amiga nos últimos tempos…
 
- Já sentia a falta dessas demostrações de carinho com que tu me costumas brindar… Mas desta vez, eu mereço tudo o que me digas… Mas eu peço-te imensa…. – Pedro virou-se, pois queria pedir-lhe desculpa, olhos nos olhos, para que a Patrícia visse sinceramente que ele estava arrependido…
 
- … - mas assim que se virou Pedro ficou sem palavras por uns instantes… Pedro ficou surpreendido ao ver Patrícia, pois ela estava diferente… A começar pelo penteado… O cabelo estava arranjado como se tivesse sido tratado por um cabeleleiro famoso de Paris. A seguir, Pedro reparou nas unhas, que estavam arranjadas e reluziam com o seu verniz vermelho… A sua amiga nunca se tinha preocupado muito com o cabelo e com as unhas, pois preferia que as pessoas centrassem a sua atenção na sua maneira de ser e não na sua aparência física. Aliás, ela orgulhava-se de ter chegado onde estava na empresa pela sua competência e pelas capacidades que tinha demonstrado… Não que ela não fosse atraente, porque o era… e bastante… Mas ela procurava não chamar a atenção… Mas com o que ela estava a vestir nesse dia, ela atrairia a atenção de qualquer homem. Pedro não conseguiu desviar o olhar da combinação de blusa branca apertada (que atraía os olhares masculinos para os seios dela) com a mini saia preta que mostrava as compridas e bem torneadas pernas da sua amiga, finalizando com os sapatos de salto alto. Patrícia sempre se tinha vestido discretamente, preferindo sempre o tradicional fato de trabalho, quando se tinha apresentações a clients ou a T-shirt e calças de ganga, pois o ambiente era informal, e os colaboradores da empresa podiam vestir-se como bem entendiam…
 
 
-          Pedes imenso o quê? – disse Patrícia, quebrando o silêncio.
-          Peço muita desculpa, Patrícia.. - disse Pedro, quebrando o estado de quase catatonia em que se encontrava. - ... por não ter praticamente falado contigo nos últimos dias. Não sei se sabias, mas as coisas com a Inês não estão a correr muito bem...
-          Já imaginava que qualquer coisa tinha acontecido.. Não porque me disseste alguma coisa sobre isso, mas porque tenho visto como tens andado nos últimos tempos... Eu também não te fui pressionar, pois imaginei que precisavas de algum tempo para pôr as ideias em ordem... Mas sinto-me magoada pois pensava que era tua amiga e tu sabes que eu estava aqui para te ajudar no que precisasses.
-          Patrícia, eu sei disso. Mas é por isso mesmo que estou a pedir desculpa. Sabes que não sabia o que te dizer.. nunca estive numa situação destas...
-          Estás a referir-te ao facto de estares apaixonado por alguém e esse pessoa não querer estar contigo? Achas que és a primeira pessoa a quem isso aconteceu?
-          Tens razão... Agora quer olho para trás, vejo que fiz mal em não ter confidenciado contigo. Achas que ainda vou a tempo de corrigir a situação?
-          Sabes que não consigo resistir a esses olhos – disse Patrícia, ao mesmo tempo que não conseguia evitar um sorriso.
-          Ainda bem... Achas que hoje à noite podíamos tomar um café... Precisava mesmo de desabafar com alguém sobre o que estou a passar com a Inês... Ficava-te muito grato se aceitasses o meu convite.
-          Sabes que nunca perderia a hipótese de beber uns copos, ainda por cima sendo tu a pagar... mas já tenho um compromisso esta noite, logo depois de sair do escritório.
-          Então, é por isso que estás assim vestida. Sabes que quando te vi ainda há pouco, não acreditava que eras mesmo tu... Pode-se saber com quem vais?
-          Pedro... eu sei que somos amigos, mas não te tenho de contar tudo o que se passa com a minha vida amorosa... pelo menos, quando as coisas estão no início...
-          Sim, eu sei... mas não tinha a ideia que estavas a sair com alguém... Não tinha reparado que estavas agora à procura de uma relação...
-          Se tu te bem te lembras, nos últimos dias, não tens estado asssim muito presente na minha vida para saberes o que tem acontecido na minha vida...
-          Pois... mas no espírito de abertura que decidimos há pouco entrar, acho que tu me podias dizer alguma coisa sobre com quem vais sair.
 
Patrícia notou a curiosidade do amigo e ainda pensou que pudesse ser um sinal de ciúmes dela estar com outra pessoa. Mas rapidamente percebeu que estava iludida e que ele apenas estava preocupado com ela, pois não queria que ela estivesse envolvido com a pessoa errada.
 
- Sabes que há uns tempos, cheguei à conclusão de que tinha de mudar a forma como estava a ver a vida... Tenho estado concentradíssima no trabalho e não me tenho preocupado em encontrar alguém com quem partilhar os meus sucessos no emprego... E percebi que já não valia a pena esperar que alguém que fosse a pessoa perfeita para mim caísse nos meus braços. Decidi deixar de esperar que o destino me juntasse a alguém e tomei a decisão de ir à procura da pessoa certa. Nem que isso implicasse sair com várias pessoas até descobrir o tal...
 
Patrícia fez uma breve pausa e continuou - ... mas ainda não o descobri... por isso, vou jantar com um amigo da minha melhor amiga que já há alguns anos ela achava que seria a pessoa perfeita para mim, mas que nunca me tinha apresentado, pois ela sempre achava que a minha dedicação ao trabalho nos ia acabar por separar... Mas lá a convenci de que as coisas agora estavam diferentes...
 
- Fico feliz por ti... Já achava que era a altura certa para encontrares alguém.. Alguém que te fizesse sorrir como a Inês tinha feito comigo nestas últimas semanas.
 
Patrícia sofreu internamente ao ouvir estas palavras, mas não deixou transparecer essas emoções na sua cara. O que Pedro não imaginava é que esta mudança que ela tinha decidido trazer à sua vida tinha resultado do facto dela ter percebido, que por mais que ela fizesse, Pedro nunca iria se apaixonar por ela. Ela tinha esperado tanto tempo por ele, até um dia ter visto que ela afinal se tinha apaixonada por outra rapariga... Ela sofreu quando percebeu isso e soube que era altura de seguir em frente com a sua vida e esquecê-lo. Mas sempre que ele falava-lhe de Inês, recordava-se sempre da paixão que tinha esmorecido, mas que não tinha ainda desaparecido do seu coração.
 
- Mas acho que tu não terias problemas em encontrar alguém... Não precisas de mudar o penteado ou de vestir essas roupas mais sexy. Quem te conhecesse como eu te conheço, apaixonaria-te por ti por quem teu és, e não pela tua aparência – completou Pedro.
 
- Não te importas então de deixar o café para amanhã à noite? – questionou Patrícia
- Não há problema... Tu mereces esta noite...e amanhã, podemos falar não só de mim, mas também de como correu o teu encontro. Mas só te posso dizer que ele é um homem de sorte.
- Vamos ver se tens razão. Obrigado por teres vindo cá pedir desculpas.
- Eu é que te agradeço por me teres perdoado. Amigos outra vez? - perguntou Pedro, ao mesmo tempo que piscava o olho a Patrícia.
- O que é que tu achas? – disse Patrícia com um sorriso, o que permitu a Pedro perceber que as coisas entre eles tinham voltado ao normal...
 
publicado por Matt Xell às 00:23
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Quarta-feira, 12 de Agosto de 2009

Capítulo 13 - A Amiga...

 
Após fechar a porta da sua casa, Inês suspirou. Já há algum tempo que não se sentia assim. O seu coração não parava de bater rapidamente com a emoção do encontro que tinha tido naquela noite. Desde o beijo de despedida, que ela não conseguia deixar de pensar nele. Ela não sabia como é que ele tinha conquistado o coração dela em tão pouco tempo.
Não há muito tempo, ela tinha jurado que nunca iria deixar que outra pesssoa chegasse tão próxima dela e a magoasse novamente. Mas Pedro tinha conseguido aos poucos convencê-la de que ele era diferente dos homens com que ela tinha estado no passado.
Ela começou a recear que se ele soubesse o passado dela, os sentimentos dele iriam mudar. Por um momento passou-lhe pela cabeça a ideia de que se ele gostasse mesmo dela, o seu passado não iria importar. Mas depressa voltou à realidade e decidiu que por mais que lhe custasse esconder algo dele, caso o não fizesse, ele iria deixá-la num piscar de olhos mesmo antes da relação começar.
Era um pequeno preço a pagar pela sua felicidade. E tomou a decisão de lhe contar tudo, quando estivessem juntos há mais tempo e isso já não iria causar qualquer problema entre os dois. Mas até esse momento, iria fazer tudo para que ele nunca soubesse nada. E isso incluía esconder coisas dele.
Inês cedo tinha aprendido que a vida não era um mar de rosas. Apesar da sua tenra idade, já tinha passado por muitas coisas que possivelmente pessoas já muito mais velhas nunca iriam passar. Ela tinha muita vergonha do que tinha feito e quanto menos pessoas soubessem, melhor seria para ela.
Logo após ter tomado essa decisão, Inês começou novamente a pensar em Pedro. Era algo que não conseguia parar de fazer, mesmo se quisesse. E ela não o queria, pois sentia-se invadida por uma sensação tão estranha, que só poderia ser o amor. E tinha que partilhar o que sentia com alguém.E esse alguém, apenas podia ser a Rita.

A Rita era a sua melhor amiga. Tinha-a conhecido na secundária há cerca de seis anos. Ainda se lembrava do dia em que a tinha encontrado. Desde sempre que Inês tinha sido uma rapariga muito sociável e que era sempre a alma do grupo dela. Ela foi sempre o centro das atenções, não só por causa da sua beleza latente mas também por causa da sua personalidade. Por seu turno, a Rita era uma rapariga que primava pela descrição e parecia deslocada no meio da turma. Ela era uma rapariga nova na escola que tinha sido transferida de uma escola em Aveiro, donde se tinha mudado com os pais e a irmã para Lisboa. E por esse motivo, não conhecia ninguém na escola, e não parecia integrar-se no resto da turma ao fim de duas semanas de aulas. Ocasionalmente, alguém metia conversa com ela, mas ela parecia não querer criar laços com ninguém.
Inês lembrou-se da primeira impressão que tinha tido dela. Era uma rapariga muito tímida, que se vestia muito discretamente e que procurava não dar muito nas vistas, apesar dos seus enormes cabelos louros. Era uma rapariga que qualquer rapaz consideraria engraçada, mas nada mais do que isso. A ideia com que tinha ficado das primeiras semanas de Rita na escola, era de que ela era uma rapariga muito mimada pelos pais e que se achava superior às outras pessoas da escola. Tinham corrido rumores de que ela vinha de uma família com algumas posses e que tinha vindo de um colégio privado com elevada reputação e distinção. E o facto de não se querer integrar com o resto da turma apenas reforçava essa ideia.
Por seu turno, Inês era a rapariga mais popular do ano dela. No último ano, o seu corpo tinha-se desenvolvido muito rapidamente e tinha-se tornado o olhar de todos os rapazes da turma dela, incluindo os comprometidos. E tinha-se tornado a inveja de todas as raparigas, que se sentiam incomodadas pela enorme atenção que todos os rapazes dedicavam a ela. Mas mesmo assim, ela andava sempre rodeada do seu grupo de amigas que a acompanhavam desde a preparatória. E nunca pensaria em incluir Rita nesse grupinho.
Mas um dia, a professora de Psicologia decidou dividir a turma em grupos de dois, para fazer um trabalho sobre a influência dos genes na personalidade das pessoas. E acabou por juntar a Rita com a Inês, esperando que aquela aluna que estava sempre calada e quietinha nas aulas espevitasse um bocado ao passar algum tempo com a rapariga mais irrequieta da turma e que estava sempre a interromper as aulas, pois do início ao fim estava sempre a sussurar com a colega do lado. Inês, logo após a professora a ter juntado à Rita, pensou que com tantas pessoas naquela turma, ela tinha logo que juntá-la a uma rapariga que não tinha nada a ver com ela e que insistia em se manter afastada do resto da turma.
Após o fim da aula, a Rita foi ter com Inês, para combinar onde iriam fazer o trabalho. Ambas decidiram que o melhor seriam encontrarem-se na biblioteca à tarde para pesquisarem para o trabalho.
Quando Inês chegou ao local combinado um quarto de hora atrasada, já a Rita tinha colocado em cima da mesa de trabalho quatro ou cinco livros de Psicologia, a maioria dos quais de psicólogos com nomes impronunciáveis. Inês pensou logo que estaria na presença de uma daquelas pessoas que dava muita importância ao estudos e que não se importava com mais nada. Pediu desculpa pelo atraso e começaram as duas a percorrer os livros, à procura dos capítulos que tinham a informação necessária para o trabalho delas. Foram praticamente duas horas de quase silêncio, apenas interrompido por algumas piadas de Inês, que não obtiveram qualquer reação por parte da sua colega. A Rita praticamente não disse qualquer palavra durante a tarde toda, tirando as respostas a algumas questões que Inês ia colocando. Após terem tirado fotocópias daquilo que lhes interessava, combinaram que no dia seguinte se iriam encontrar outra vez, desta vez na casa da Rita, para redigir o trabalho.
Durante a noite, Inês telefonou a uma das amigas do seu grupinho, a dizer que nunca tinha tido uma seca tão grande e que a sua colega de trabalho era uma das pessoas mais chatas e fechadas que tinha conhecido. Não tinha ficado com uma boa impressão dela e apenas queria terminar o trabalho o mais depressa possível para não ter mais qualquer contacto com ela.

No dia seguinte, após o almoço, Inês foi para a casa da Rita. Ficava numa zona de vivendas, a mais fina da cidade. Tocou à porta e foi atendida pela empregada que a convidou a esperar um pouco na sala, enquanto ia chamar a Rita. Inês deu uma vista de olhos rápida pela sala e reparou que parecia uma daquelas fotografias que se encontravam naquelas revistas de decoração das casas de pessoas famosas. Percebeu logo que a Rita vinha de uma família com posses e que seria esse o motivo para não se querer misturar com os colegas. Entretanto a Rita chegou e sugeriu-lhe irem para o quarto dela. Quando lá chegaram, Inês surpreendeu-se imenso. Ao contrário da exuberância do resto da casa, o quarto dela pautava-se pela simplicidade. Era um quarto que primava pela arrumação, sem nada fora do sítio, com uma pequena televisão e onde se destacava um enorme poster dos Backstreet Boys. Sentaram-se na secretária dela, onde já lá estava um computador portátil e algumas folhas impressas da Internet com mais alguma informação que Rita devia ter pesquisado durante a noite passada.
De início, decidiram que seria a Rita a escrever no computador, uma vez que Inês era daquelas pessoas que nunca conseguiria um emprego como secretária, pois era impossível existir alguém que teclasse mais lentamente do que ela. Começaram ambas a falar sobre o que tinham lido no dia anterior. A tarde passou devagar, não tendo sido tocado outro tema de conversa para além do trabalho. A Inês detestava falar só de trabalho. Achava que o trabalho em conjunto correria melhor se ambas estivessem mais descontraídas e menos formais e brincassem uma com a outra. Mas qualquer tentiva de quebrar o gelo era imediatamente recusada pela Rita que dizia que elas só se deveriam preocupar em acabar o trabalho. Este até estava bastante bom e faltava apenas o capítulo em que se tinha de dar a opinião pessoal sobre o tema. Inês perguntou à Rita o que ela achava do assunto ao que Rita ficou a reflectir por uns instantes antes de lhe responder.

- Eu não acredito que os nosso genes determinem a nossa personalidade. A nossa personalidade vai-se desenvolvendo à medida que o tempo vai passando e as pessoas mudam com o tempo.
- Mas tu não achas que as pessoas têm algumas características que herdam dos pais? – retorquiu Inês.
- Eu acho que a única coisa que herdamos dos nossos pais são as nossas características físicas: a cor do nosso cabelo, os nossos olhos ou o nariz. Mas não é pelo meu pai ou a minha mãe serem pessoas calmas, que eu também o vou ser.
- Eu não penso bem assim. Há certas pessoas que nascem tímidas e que nunca vão deixar de ser tímidas. Há certas características inatas que por mais que as pessoas tentem mudar, nunca o irão conseguir. Eu por exemplo, já nasci assim expansiva e faladora. Os meus pais sempre me disseram que desde bebé que era assim, e que sempre chamava as atenções de todos desde muito cedo.
- Eu também penso que isso é verdade. Mas isso não tem a ver com o que estamos a discutir. Tu estás a dizer que há certas características com que nascemos e que irão para sempre influenciar o que nós fazemos. Eu também concordo com isso. Mas eu acho que isso não se herda dos pais.
- Ao contrário de outras coisas... – disse Inês que detestava que as pessoas não concordassem com ela e estando já a ficar farta do tratamento algo frio da Rita desde o dia anterior.
- O que queres dizer com isso? – perguntou Rita com uma entoção que indicava que ela não tinha gostado do comentário.
- Vê o teu caso. Nota-se que os teus pais são ricos. Eles devem-se achar melhor do que os outros. E tu pelos vistos estás a seguir o mesmo caminho.
- Estás completamente enganada. Vê-se que tu não me conheces mesmo nada.
- Ai não? Então porque é que estás sempre afastada do resto das pessoas da nossa turma e mal lhe diriges uma palavra? Só pode ser pelo facto de achares que ele não merecem que lhes digas alguma coisa.

A dicussão estava a ficar cada vez pior. Mas Rita decidiu por um termo ao rumo que a conversa estava a tomar. Ela era uma pessoa calma e pacífica por natureza e não estava interessada em discutir mais.

- Se tu e todos os outros acham isso, então estão no vosso direito. Cada um é livre de pensar o que quer. Mesmo que estejam completamente errados.
- Não acredito em ti. Estás agora a fazer de coitadinha. – disse Inês, que nunca foi uma pessoa que deixasse as coisas a meio. – Prova-me o contrário. Tu nunca mostraste abertura para com os outros e sempre que eu tentava falar contigo com outra coisa para além do trabalho, tu não me ligavas. Diz-me lá então como é que eu estou enganada.

Rita hesitou antes de dizer qualquer coisa. Por um momento, ela pensou no que lhe iria responder. Não queria dizer a ninguém o que realmente passava pela cabeça. Muito muito menos a alguém como a Inês, que não era minimamente amiga dela.

- Tu nunca irias compreender. – suspirou com um ar de resignação.
- Experimenta-me.
- E ainda por cima, achas que eu iria contar alguma coisa à rapariga com a maior boca da escola? Se eu te dissesse alguma coisa, amanhã já todos saberiam disso.
- Agora vê-se que és tu que não me conheces. Se soubesses como eu sou, saberias que sou alguém em que toda a gente confia. Eu sou incapaz de mentir ou de trair a confiança de alguém.
- Não é o que parece. A imagem que passa de ti é de alguém que não tem qualquer preocupações com o futuro e que está disposta a fazer tudo para ter o que quer. Nem que isso implique perder a amizade de alguém, se isso permitir que mais pessoas passem a gostar de ti. Só queres ser popular, independentemente do que os outros possam sofrer.
- Eu não sou assim. Podes perguntar a qualquer amiga minha.
- Amigas tuas? Achas que elas gostam a sério de ti? Elas só andam contigo para aproveitarem a tua popularidade. Pelo menos, são os comentários que tenho ouvido das outras pessoas.
- Ai é? Também já deves ter ouvidos os comentários muito elogiosos que toda a gente faz a ti desde o dia em que chegaste à escola – disse Inês com uma voz muito irónica.
- Não, não ouvi. Mas imagino o que devam dizer. Mas não me importo nada com isso. Nunca me preocupei com as aparências, ao contrário de muitas pessoas.
- Espero que não te estivesses a referir-te a mim. Pois eu acho que tu também estás a julgar-me pelas aparências e a imagem que construíste de mim, e não pelo que eu sou na realidade.
- Talvez estejamos as duas a cometer o mesmo erro. – reconheceu Rita, já com algumas lágrimas nos seus olhos. Ela foi sempre um pesssoa que apesar de ter sofrido muito por dentro, sempre tentou nunca demonstrar aos outros qualquer fraqueza. Mas neste momento, não estava a conseguir guardar as emoções só para ela e começou a chorar.

Inês sentiu que estava no dever de tentar confortar a sua colega, pois as lágrimas não paravam de fluir dos olhos azuis que tinham agora um brilhozinho. Mas apercebeu-se que não tinha sido só a discussão que tinham tido que tinha provocado esta situação. Deveria existir algo mais que justificasse não só a atitude de Rita nesta tarde, mas a atitude dela desde que veio de Aveiro. Passado cinco minutos, a crise de choro tinha terminado, mas os olhos de Rita demonstravam que ela ainda estava muito perturbada com a situação.
- Peço desculpa por esta cena – disse Rita aos soluços.
- Não faz mal. Eu é que peço desculpa por te ter feito chorar.
- Inês, não foi culpa tua. Eu não estava a chorar pelo que me disseste. Mas a conversa que estávamos a ter, fez-me lembrar de uma coisa no passado que me causou muita dor e que eu estou a tentar esquecer há algum tempo. Mas de repente voltou e eu não consegui evitar chorar.
- Rita, eu sei que nós não somos amigas, mas parece-me que estás a precisar de desabafar com alguém. Parece que estás a carregar o peso do mundo nos teus ombros. Eu sei que tu já tens uma imagem de mim que se calhar não vais conseguir mudar, mas eu posso garantir-te que podes confiar em mim. Tens todo o direito de não o fazer, mas se não queres que os outros te julguem pelas aparências, eu peço-te que não faças o mesmo a meu respeito.
- Não é por ti, mas por mim. Eu não sei se te consigo contar. Eu já percebi que provavelmente fiz uma imagem de ti que não corresponde à realidade. Mas eu não sei se....

Inês interrompeu-a a meio e pôs a sua mão no ombro da sua colega.

- Tu não tens de me contar nada se o não quiseres. Todos temos os nossos segredos, muitos dos quais não revelamos aos nossos melhores amigos. Eu também já passei por muita coisa, mas cheguei à conclusão que há coisas que temos de guardar para nós.

Rita ficou em silêncio uns minutos, antes de decidir revelar o que tinha acontecido com ela no passado. Inês ouviu a história e começou também a chorar, pois sentiu uma grande empatia com a sua colega. Inês soube que a família da Rita tinha vindo de Aveiro de Lisboa apenas por causa dela, para se afastarem do local onde tudo se tinha passado.
Ela começou a perceber por que motivo Rita tinha manter-se afastada dos seus colegas desde que tinha chegado. Também ela achava que seria difícil para alguém que tivesse passado por aquela situação, que conseguisse confiar novamente nos outros. Mas decidiu que iria fazer todos os esforços para ajudar Rita a superar aquela fase em que se encontrava. Antes de lhe contar qualquer coisa, Rita apenas pediu a Inês que não tivesse pena dela. Mas no final, não era pena que Inês sentia pela sua nova amiga. Era um grande orgulho pelo esforço que Rita tinha feito para ultrapassar a tragédia que a tinha afectado no passado e pela força interior que ela tinha demonstrado, pois muitas outras raparigas na situação dela teriam caído numa depressão da qual seria difícil saír.
Foi nessa noite que surgiram os laços de confiança entre as duas que permaneceram até hoje. E Inês pensou que teria sido muito difícil ultrapassar as dificuldades que tinha tido ainda há pouco tempo, sem o apoio da sua amiga...
Mas pelo menos hoje tinha boas notícias para partilhar...
publicado por Matt Xell às 22:09
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Uma história sobre um rapaz (Pedro) e uma rapariga (Inês) que o destino acaba por juntar e que origina uma relação com altos e baixos...

Pedro é um rapaz que nunca foi capaz de se comprometer e que encontra em Inês a primeira rapariga por quem verdadeiramente sente algo... Mas ele desconhece por completo o passado de Inês e que irá trazer grandes repercurssões na sua relação.

Nem tudo corre como eles gostariam nesta história de amor, e por maior que seja o amor que os une, o destino parece querer que a sua história não tenha um final feliz...

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