Segunda-feira, 29 de Novembro de 2010

Capítulo 27 - Dar tempo ao tempo...

Apesar de já ter passado um dia, Inês não conseguia de deixar de mostrar um sorriso sempre que pensava na conversa que tinha tido com Pedro. Ela sabia que os dois eram feitos um para o outro. Mas sabia também que nem sempre duas pessoas que gostam uma da outra ficam juntas. Ainda para mais, quando a confiança entre elas tinha sido quebrada no passado.

Por isso, sentia-se culpada de ter a esperança de que as coisas voltassem a ser como dantes. Tinha de ter paciência e ver como as coisas corriam. Mas era complicado gerir estes sentimentos, pelo que decidiu que precisava da ajuda da sua melhor amiga e dos seus bem-intencionados conselhos.

 

Combinou então com a Rita passar em casa dela, para falarem um pouco ao final da tarde. A amiga, que também já não a via há algum tempo devido aos horários complicados que Inês tinha tido nos últimos tempos, insistiu que ela fosse visitá-la.

 

Inês ficava sempre com remorsos quando ia visitar a amiga, pois a sua casa parecia uma arrecadação em comparação com a casa perfeita da amiga. Nunca tinha visto uma casa assim… Estava sempre decorada com as coisas certas no lugar certo e sempre limpa e arrumada. Parecia aquelas casas que se viam nas revistas de decoração que costumava ler quando estava na sala de espera do seu dentista.

 

Mas à hora combinada, lá chegou à casa da sua amiga. E logo depois de ter deixado o seu casaco em cima da cama que estava no quarto de hóspedes, foi logo metralhada com as perguntas que Rita queria fazer desde o dia anterior.

 

- Então… Como é que correu? – disse Rita, com um tom de impaciência, bem patente na sua voz.

- Correu bem… ou melhor… correu muito bem. Pareceu que nunca tínhamos deixado de estar juntos…

- E como é que te sentes?

- Não sei bem… estou muito confusa…

- E tens motivos para estar… Não te podes esquecer do que ele te fez.

- Não… não me esqueci. Mas… - tentou justificar Rita antes de ser interrompida.

- Não pode haver mas… Já te esqueceste do que sofreste com ele?…Eu pelo menos, não me esqueci do que passaste na altura. Sei que para ti, é fácil pensar que ele mudou, pois queres a todo o custo arranjar uma desculpa para que as coisas voltem a ser como antes.

- Rita… Posso assegurar-te que não me esqueci do que passei… nem do apoio que me deste… Mas não é fácil… queria tanto voltar para ele...

- Sim, eu sei, querida. Mas ainda é cedo para isso. Tens de esperar mais um pouco, para saber se ele mudou mesmo.

- Eu sei que ele está diferente. Deu para perceber ontem. Deu para perceber no jantar de anos dele. Acho que ele percebeu que errou e que quer que eu volte para a vida dele.

- Sim, acredito nisso. Mas a pergunta que tens de te perguntar é se tu queres que ele volte já. Ainda por cima, agora encontras-te numa fase em que estás a descobrir quem és e o que queres da tua vida.

- O que hei-de fazer?

- Tu sabes no teu íntimo qual é a decisão correcta a tomar. Não é a mais fácil… mas a longo prazo, será a melhor…

- Tens razão…Tens sempre razão…

 

Rita abraçou a amiga, pois sentiu que esta precisava do seu apoio naquele momento. Viu um pequeno brilhozinho nos olhos da amiga, pois as primeiras lágrimas começavam a aparecer, quando tomou consciência do caminho que deveria seguir.

 

- Vá… vamos falar de coisas mais alegres – disse Rita, tentando distrair a amiga. – Parece que já tens um tempinho livre durante a semana para sair com as tuas amigas. 

- Pois… o trabalho vai acalmar por uns tempos. Já estava mesmo a precisar…

- Também diria que sim. Já não te via há tanto tempo. Já quase passas mais tempo com os teus novos colegas do que com os teus amigos.

-Nos últimos tempos tem sido assim. Mas também já deu para fazer novas amigas lá dentro. Senão, não teria aguentado estas semanas infernais…

- Ainda bem… mas quando é que conheço algumas dessas tuas novas amigas?

- Temos de combinar um cinema para vos apresentar… Vais gostar delas… são muito divertidas…

- Então combina… por mim, pode ser quando quiseres… Não sou eu que tenho estado sempre indisponível nos últimos tempos…

- Tens toda a razão… escusas de dar-me novamente na cabeça…

- E vou finalmente conhecer esse tal homem com quem tens passado o tempo todo?

- Quem? O Diogo? Ele é apenas um colega…- disse Inês com uma voz indignada. Não o considero que seja um amigo. Não que não tenha já tentado aproximar-me dele, pois tendo em conta o tempo todo que iríamos estar juntos a trabalhar, seria sempre mais fácil passar o tempo com alguém com quem me desse bem… mas ele é muito…. Como é que hei-de dizer? Muito fechado e muito profissional… não é daquelas pessoas com quem eu normalmente me dou bem…

- Pois…já estou a ver o tipo de pessoa que ele é… Mas é assim tão complicado trabalhar com ele? Coitada de ti…

- Não é assim tão mau. Ele não é uma pessoa antipática. Parece-me mais uma pessoa introvertida, que está no seu próprio mundo. E não me posso queixar. Ajudou-me muito… sempre que eu tinha uma dúvida, ele parava o que estava para fazer e ajudava-me… Foi sempre muito prestável… mas era sempre um pouco frio na forma como me explicava as coisas… acho que ele não gosta assim muito de mim, mas como tem de trabalhar comigo, faz um esforço para parecer minimamente sociável…

- Não te queixes… podia ser pior… ele podia não te ajudar, só para fazer boa figura perante os vossos chefes, em comparação contigo…

- Não… ele não faria isso. Pelo que pouco que conheço dele, ele é uma pessoa muito íntegra…muito profissional… Ao menos, não me tenho de preocupar com isso.

- Outra coisa? Ele é giro?- disse Rita com um sorriso maroto.

- Acho que ele é normal… não é daquelas pessoas que me chamaria a atenção se o visse na rua…- respondeu Rita à provocação - Mas também não se pode dizer que seja feio… Mas mesmo que se parecesse com o George Clooney, com aquela personalidade, nunca me interessaria por ele…

- Pois… já vi que só tens olhos para o Pedro…

- Não tínhamos combinado em não falar de coisas tristes?

- Tens toda a razão… Olha, já te mostrei o quadro que comprei para o meu quarto de hóspedes?

- Ainda não… Mostra, mostra…

 

Depois de ter sido deslumbrada pelo quadro da amiga, Inês passou o resto da tarde a falar com a sua amiga sobre muitas coisas… Sem dar por isso, tinha conseguido passar umas horas sem pensar na sua relação difícil com Pedro. Se os próximos tempos fossem tão fáceis assim…

publicado por Matt Xell às 13:15
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Domingo, 24 de Outubro de 2010

Capítulo 26 - Bons Amigos

O fim-de-semana tinha finalmente chegado. Por isso, Inês tinha aproveitado para dormir até um pouco mais tarde. As últimas semanas tinham sido cansativas por causa do seu trabalho, e as suas horas de sono tinham sido muito reduzidas, pelo que lhe soube muito bem estar deitada na sua caminha. Era impossível recuperar as horas de sono perdidas nos últimos tempos, mas nesse dia apetecia-lhe ficar o dia inteiro a dormir e não fazer absolutamente mais nada. Mas tinha de levantar-se. Tinha uma série de tarefas a fazer. Uma das quais seria ir às compras, pois sabia que o seu frigorífico estava praticamente vazio e que a única coisa que teria em casa para comer seria provavelmente um iogurte líquido. E também não se podia esquecer de limpar a casa, pois o facto de não ter uma empregada que a ajudasse, notava-se perfeitamente na sua sala e na cozinha. E também teria de lavar a roupa suja que se tinha acumulado nos últimos tempos. Até porque queria levar um dos seus vestidos favoritos para o café com Pedro, marcado para o final da tarde.

 

O dia passou assim num instante, enquanto tratava dos seus afazeres. E quase sem dar por isso, estava a sair de casa para ir ter com o Pedro a um café em Telheiras. E nessa altura veio à cabeça a importância desta ocasião. Era a primeira vez que iria estar sozinha com Pedro desde que se tinham separado há uns meses atrás. E apesar de ainda gostar dele, queria que este fosse apenas um encontro entre amigos, pois no seu íntimo ainda se sentia algo magoada pelo que ele lhe tinha feito e ainda não confiava totalmente nele. Só esperava que Pedro tivesse as mesmas intenções, e que não estivesse à espera de algo mais. Ainda era cedo para isso. Era uma questão de ver o que a noite lhes iria reservar.

 

Quando chegou ao café, Pedro já la estava à porta à sua espera. Inês olhou para o seu relógio e viu que tinha chegado à hora marcada. O Pedro já devia ter chegado um pouco antes, o que poderia indiciar algum nervosismo e ansiedade por parte dele. Tudo o que ela queria era um encontro amigável, sem pressões de ambos os lados.

 

- Olá – Cumprimentou Inês, antes de dar dois beijinhos na face de Pedro.

- Olá.- Respondeu Pedro.

- Espero que não estejas à espera há muito tempo.

- Não… cheguei agora mesmo, um pouco antes de ti.

- Ainda bem que não tiveste de esperar. Vamos entrar?

 

Dirigiram-se os dois para uma mesa no canto do café, onde poderiam falar confortavelmente. O café não estava muito cheio, mas no sítio onde se sentaram não havia muita gente à volta, pelo que haveria menor ruído de fundo.

 

- Já há algum tempo que não nos víamos – disse Pedro, logo após terem pedido ambos um capucinno e um cheesecake de framboesa ao empregado de mesa.

- Tens razão… já lá vão várias semanas. Mas aí a culpa é toda minha. Estas últimas semanas lá na minha empresa foram algo complicadas. Já percebo os stresses que tinhas às vezes nalguns dias com os deadlines das tuas campanhas, quando… -Inês parou um instante pois estava prestes a dizer “quando ainda estávamos a namorar”, e percebeu que poderia causar algum embaraço. Mas emendou a tempo.

- … estavas sempre ocupado.

- Estás a ver? Não eram só desculpas. Há alturas em que praticamente não conseguiamos parar nem por um segundo. E não tínhamos tempo para mais nada… Já sabes o que passo.

- Sim, agora percebo perfeitamente.

- Mas o mais importante de tudo, é que tu estejas a gostar do que estás a fazer. Senão, é um sacrifício muito grande.

- Sabes, estou mesmo a gostar. Quando lá cheguei, estava sempre a pensar que seria sempre um emprego temporário, para me ajudar a pagar as contas, e que uns meses depois, estaria à procura novamente de algo na minha área….

 

Inês sentia que podia conversar à vontade com Pedro. Isso era algo que não tinha mudado. Ele sabia ouvi-la e notava-se que ele tinha um real interesse por se inteirar do que ela estava a sentir e do que ela estava a passar.

 

- … mas estou a gostar dos amigos que fiz por lá e surpreendentemente, estou realmente interessada nas tarefas que me deram. Claro que preferia trabalhar menos horas… mas sinto que faço parte da equipa e que as pessoas confiam no meu trabalho.

 

- Isso é o mais importante. Eu também só faço as noitadas que faço porque também gosto do que faço… Bem, o ordenado também ajuda…

 

Pedro conseguiu arrancar um leve sorriso a Inês. O quanto ele sentia falta de ver aquele sorriso tímido, mas ao mesmo tempo muito contagiante.

 

- Mas felizmente, a parte complicada já terminou. Agora só daqui a três meses, é que o stress volta novamente. E aproveito para aprender entretanto mais algumas coisas sobre contabilidade… Acho que me fez alguma falta, nestas últimas semanas… Lá me valeu a ajudas dos meus colegas.

 

- Sabes, nunca pensei que acabasses por ficar num emprego como esse. Sempre pensei que estivesses a fazer algo onde estivesses a trabalhar com pessoas ou miúdos, ou algo mais criativo. É que contabilidade e números parecem-ne uma coisa muita séria… não era daquelas áreas que ligue muito com aquilo que tu és…

- Eu também nunca pensei isso… Mas as pessoas mudam… E acho que mudei alguma coisa nos últimos tempos… Sempre fui uma pessoa muito emocional e agia com base no que sentia… Mas isso já me causou alguns dissabores…

 

Pedro sentiu-se um pouco culpado ao ouvir estas últimas palavras. Tinha sido ele a última pessoa a magoá-la, quando lhe tinha prometido no início do namoro que ele nunca a iria magoar como outras pessoas o tinham feito. Mas, lá no fundo, ele sabia que ela agora não lhe estava a dar uma indirecta.

 

- … Mais do que eu desejava. Mas sempre fui assim, desde miúda. Decidia sempre com o coração e não pensava muito nas consequências. Sempre fui muito impulsiva, sabes? E chega uma certa altura, quando nos apercebemos de que temos de mudar… Não uma pequena mudança nos nossos hábitos… mas sim uma mudança na nossa forma de agir e viver a vida… às vezes as coisas más acontecem por uma razão… nem que seja para nos fazer ter um reality check, e repensar um pouco…- Inês parou por uns instantes, pois o seu lado emocional estava novamente a vir ao de cima.

 

- … pelo que decidi ser menos impulsiva… usar mais a razão do que a emoção… E por acaso acabei por arranjar um emprego mais sério… mas foi pura concidência… Talvezs um sinal de que tinha de mudar…

 

- Às vezes, temos mesmo de mudar… Só tenho pena de ter sido um dos causadores dessa mudança.

- Já falámos disto, Pedro. Há coisas más que vêem por bem. Mas o passado é o passado. O que interessa agora é a nossa amizade…

- Sim… mas sinto-me algo responsável.

- Não te sintas. Às vezes, precisamos mesmo de mudar a nossa vida e isso não acontece por uma única situação. Não foi só por causa de ti que repensei um pouco a minha vida. Disso podes estar descansado.

- Tens razão. È como tu dizes. Nem vale a pena falar mais no passado.

- Concordo. Mas voltando ao que te estava a dizer… o mais importante é que estou realmente a gostar de estar envolvida em algo mais concreto, mais terra a terra. Realmente, mudei um pouco.

 

Pedro ficou um pouco mais descansado. Ele não tinha planeado no dia de hoje tocar no que tinha acontecido antes entre os dois, e quando ele mencionou sem pensar em algo que os tinha afectado aos dois no passado, pensou que pudesse ter estragado o encontro amigável que ambos estavam a ter. Felizmente, isso não aconteceu.

Mas acima de tudo, estava feliz por ter mais uma oportunidade com Inês. Mesmo não sendo a mesma Inês de antes, continuava a sentir a mesma empatia com ela… e queria fazer todos os possíveis para um dia ela confiar nele novamente.

 

- Seja como for, tu ainda és a mesma Inês de sempre. Apenas um pouco mais madura…

- Sim. Desde que com isso não estejas a insinuar de que estou a ficar mais velha.

- Agora que falas nisso, estou a ver umas rugas novas na tua testa…

Inês já sentia falta das provocações mútuas entre ambos. Sentia-se feliz, por aos poucos, as coisas estaram a voltar ao normal antes da separação. Mas sabia que as coisas nunca mais iriam ser as mesmas. Ou que pelo, menos ainda faltaria muito para que isso acontecesse.

 

- Olha quem fala. Já vi que o trabalho te tem dado muitas preocupações ultimamente. Pelo menos pela quantidade de cabelos brancos novos que tens…

 

A conversa continuou durante cerca de uma hora. Mas acima de tudo, a conversa foi natural, sem silêncios embaraçosos. Os dois continuavam a dar-se muito bem e isso notou-se perfeitamente. Quem os visse sentados naquele café, nunca imaginaria que era a primeira vez em muito tempo que estavam juntos e muito provavelmente grande parte das pessoas pensariam que eles estariam juntos numa relação.

 

Mas durante a conversa um certo tema não foi focado por nenhum deles. Falaram animadamente sobre uma série de coisas, mas nenhum quis ser o primeiro a perguntar ao outro se estavam a sair com outra pessoa. As coisas estavam a correr bem, e nenhum queria introduzir um tema inconfortável para ambos naquela noite.

 

Mas Pedro, esteve a pensar nisso durante a noite toda. Mesmo que não o parecesse, ele queria saber se ela estava a sair com alguém ou estava em vias de sair com alguém. Ele já tinha percebido que pelo menos ela não estava em nenhuma relação séria. Mas isso não era suficiente. Ele queria saber que ainda existia hipóteses de um dia os dois voltarem a estar juntos.

 

Mas não conseguia encontrar nenhuma ocasião apropriada para introduzir este tema na conversa. Supostamente, eles agora eram amigos. E não seria normal um amigo perguntar a outro amigo se eles estavam a sair com alguém? Ele fazia isso com a Patrícia. Mas será que ela poderia interpretar mal a sua pergunta? Ele não queria arriscar.

 

Mas pressentindo que o encontro deles estava quase a terminar, ele soube que não era algo para lhe perguntar directamente. Tinha de satisfazer a sua curiosidade de uma forma mais discreta. Porém, sabia que tinha de ser naquele momento. Por isso, logo a seguir a ter olhado mais uma vez para o relógio, decidiu-se finalmente.

 

- Já está a ficar um pouco tarde. Estou a gostar imenso da nossa conversa, mas hoje não posso dormir muito tarde.

- Ai não?. Não me digas que ontem saíste à noite e só te deitaste de madrugada. – Inês aproveitou a deixa, para tentar também descobrir algo mais, mas sem dar a entender as suas intenções.

- Não… nos últimos dias não tenho dormido assim muito. E não, não é pelos motivos que possas estar a conjecturar na tua cabeça. Tenho estado a trabalhar numas campanhas quase em simultâneo e tenho feito umas noitadas muito prolongadas. Este é o primeiro fim-de-semana nos últimos tempos que tenho um tempo livre, mas as próximas semanas irão ser complicadas. Por isso, não sei se nos próximos tempos mais próximos, se as coisas irão ser calmas… Será mais complicado combinarmos alguma coisa… Se bem, que, como imagino que a tua vida social deva agora estar bastante preenchida, depois das últimas semanas. Aliás, deves ter as próximas noites ocupadas, durante os próximos tempos. – Pedro lançou o isco, e esperou que a resposta dela lhe desse alguma indicação para a questão que inquietava a sua mente..

 

Por seu turno, Inês não caiu no erro de responder logo a Pedro. Ela já o conhecia bem, e sabia que a insinuação dele não tinha sido casual. Mas ao mesmo tempo, não sabia exactamente o motivo dele. Não, ela não tinha muitas coisas marcadas nos próximos tempos. Mas será que ele queria marcar mais uma coisa com ela, tão pouco tempo depôs deste reencontro que estavam a ter nessa noite? Ou teria outro motivo escondido?

Mas ela sabia que tinha de ser sincera. Ambos estavam a tentar fazer o esforço de serem amigos e se ela queria ser amiga dele, tinha de começar a confiar nele aos poucos.

 

- Nem por isso. Tenho só uma saída marcada com umas amigas, mas de resto, nos próximos dias tenho muitas tarefas caseiras para pôr em dia.

 

Pedro sentiu-se aliviado ao ouvir estas palavras. Se ela tivesse encontrado alguém, a primeira coisa que faria após estas semanas terríveis em termos de horários, seria passar tempo com essa pessoa.

 

- Já vi que transformaste-te numa dona de casa exemplar. Desde que não sejas também desesperada…

- Piadinhas…

- Reconhece. Já sentias alguma falta das nossas conversas.

- Por mais que me custe a admitir, lá muito lá no fundo, sentia mesmo a falta. Pena que tenha agora memso de ir a um jantar com a família. – disse Inês, com um grande sorriso nos seus lábios.

- Então, temos de combinar qualquer coisa daqui a uns tempos – disse Pedro, tentando não parecer muito ansioso e tentando que ela não achasse que ele pudesse estar a pressionar.

- Seria óptimo.

 

Ao saírem do café, Inês despediu-se um um leve beijo na face de Pedro, com a promessa de não deixar que passasse muito tempo antes de se encontrarem novamente. Pedro viu-a a passar para o outro lado da estrada onde ela tinha deixado o carro, e não conseguiu deixar de pensar, enquanto via o cabelo loiro de Inês esvoaçar ligeiramente com uma leve brisa que passava naquele momento, que esta noite tinha sido o primeiro passo para que tudo voltasse a ser como dantes.

publicado por Matt Xell às 23:08
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Domingo, 5 de Setembro de 2010

Capítulo 25 - O início da amizade

Pedro estava satisfeito pelo facto da noite passada ter corrido bem… Principalmente, estava feliz pelo facto do reencontro com Inês ter sido muito encorajador. Os dois tinham falado algumas vezes durante a noite e pareceu-lhe que ele já tinha recuperado parte da confiança dela. Mas sabia que ainda faltava muito para que as coisas voltassem a ser como dantes. E a culpa era toda dele.

 

Agora tinha de ser amigo de Inês. Por mais que isso lhe custasse, era o que Inês queria. E ele não tinha outra hipótese que não a de respeitar o seu pedido. Quão difícil poderia ser amigo de uma mulher? Ele já tinha conseguido manter uma relação de amizade com a Patrícia. Não poderia ser assim tão complicado.

 

Enquanto estava no escritório, Pedro resistiu à tentação de ligar-lhe por causa do tal encontro que tinham ficado de ter. Era ainda muito cedo para ligar-lhe. Ele tinha de ter paciência e fazer as coisas com calma, sob o risco de afastar Inês novamente da sua vida. E também lembrou-se que não tinha ficado combinado quem ligaria ao outro. Ela poderia estar a contar a ser ela a marcar o encontro e ele não queria estar a pressioná-la.

 

Não, ele tinha esperar. E estava disposto a esperar o tempo que fosse preciso para a ter de volta.

 

Mas isso não impediu que ele estivesse o tempo todo ansioso à espera da chamada dela. Mas infelizmente, a sua espera foi em vão. Uma semana tinha passado e ele não tinha recebido um telefonema ou um SMS dela. Para tentar fugir a esse facto, ele concentrou-se no trabalho, para não ter de pensar noutra coisa. Era a forma mais fácil de não lidar com a ansiosidade que tinha.

Mas chegou a uma altura em que ele não conseguia aguentar mais. As coisas tinham corrido bem no jantar. Já tinha passado algum tempo, e podia ser que ela estivesse ocupada com o seu novo emprego e no meio de tanta coisa, não tinha tido oportunidade de lhe ligar. Por isso, racionalizou que não havia nenhum mal em ser ele ligar-lhe para combinar um café.

 

Pedro agarrou no seu telemóvel e ligou para o número de Inês. Mas ela não lhe atendeu o telemóvel. Aliás, ela desligou-lhe imediatamente, não tendo deixado tocar mais uma vez. Tentou mais uma vez, mas obteve o mesmo resultado.

 

Ele começou a ficar algo nervoso. Porque seria que ela estaria a evitar as suas chamadas? Será que ele tinha cometido o erro de ligar-lhe em vez de esperar que ela estivesse preparada para sair com ele a sós pela primeira vez desde que tinham terminado? Ou será que ela estava ocupada de momento e ligaria-lhe logo a seguir, assim que ela pudesse?

 

Pedro decidiu aguardar alguns minutos antes de tentar novamente, pois podia ser que Inês devolvesse a sua chamada. Mas os minutos foram passando e ele continuava a não ter nenhum sinal dela. Passado duas horas após a sua tentativa, Pedro decidiu ligar-lhe novamente… mas mais uma vez, aconteceu o mesmo que antes. A sua preocupação aumentou, pois por um momento, passou-lhe pela cabeça que ela tinha mudado de ideias e que não queria estar com ele, nem mesmo como amigo. Ou talvez ela tivesse encontrado alguém entretanto e não quisesse falar com ele, para evitar aquela conversa embaraçosa que acontece sempre nessas situações.

 

Mas ele não podia fazer nada. A bola estava nas mãos dela, e se ele continuasse a insistir corria o risco de afastá-la de forma irremediável. Se é que isso ainda não já tivesse acontecido. Tinha de continuar com a sua vida sem ela e nunca perder a esperança. Por isso, voltou a enterrar-se no trabalho, particularmente na campanha actual que tinha em mãos, e não saiu do escritório até serem onze da noite.

 

Quando chegou a casa, olhou para o telemóvel e viu que não tinha chamadas não atendidas ou mensagens novas. O seu ânimo diminuiu ainda mais, mas apenas podia suspirar e resignar-se à situação. Tomou um duche e depois de ter comido uma sandes ao jantar foi logo deitar-se.

 

Mas essa noite o seu sono não tranquilo, pois a insegurança que tinha reflectia-se de forma inconsciente nos seus sonhos. E nessa noite tinha mais uma vez sonhado com Inês, mas o final não tinha sido feliz. Pedro acordou de madrugada, sobressaltado com o desfecho do seu sonho, e pensou que não poderia deixar que isso acontecesse na realidade. Ele realmente amava Inês, como nunca tinha amado outra mulher na vida. E não conseguia imaginar como seria a sua vida sem ela. Sim, isso poderia parecer um cliché, mas na verdade, ele sentia um vazio que não o deixava ser feliz, mesmo com o emprego e o dinheiro que tinha. Faltava alguém com que partilhar a sua vida. Por isso, só lhe restava desviar os pensamentos para a campanha em que estava a trabalhar e em ideias novas para o anúncio televisivo.

 

E foi assim que mais um dia passou, sem ter tido novidades dela. E foi assim que passaram as três semanas seguintes em que se dedicou de corpo e alma ao trabalho, para não ter tempo de pensar nela. Os seus dias eram praticamente cópias uns dos outros. Ele passou a ser dos primeiros criativos que chegava à agência logo de manhã e passou a ser um dos últimos a sair. Os seus fins-de-semana eram também passados a trabalhar. Mas a cada dia que passava, era cada vez mais difícil escapar e evitar a realidade que cada vez mais lhe parecia mais evidente: ela já não estava interessada nele. E isso só fazia com que ele se enterrasse cada vez mais em trabalho. Era uma bola de neve que não parava de crescer.

 

Mas Pedro sabia que um dia teria de aceitar a realidade nua e crua. O tempo que tinha passado desde que lhe tinha tentado ligar pareceu-lhe uma eternidade. Tinha sido já há quase um mês. Olhou para o relógio e viu que já eram meia-noite. Não tinha noção de que era tão tarde. Olhou à volta e viu que era a última pessoa na agência. Tinha completamente perdido a noção do tempo. Estava a fazer o shutdown do seu portátil, quando ouviu o seu telemóvel a tocar. Quem poderia estar a ligar-lhe àquela hora da noite? Nunca era um bom sinal.

 

Mas o seu coração praticamente parou quando viu no ecran do telemóvel quem lhe estava a ligar, para logo de seguida começar a bater aceleradamente. Era o efeito que Inês tinha nele.

 

- Estou? – disse Pedro, depois de se recompor.

- Olá, Pedro. Tudo bem? Desculpa lá estar-te ligar a esta hora da noite.

- Não há problema. Está tudo bem? Aconteceu-te alguma coisa?

- Não, não aconteceu nada. Espero não te ter acordado.

- Já sabes como sou. A noite ainda é uma criança…

- Pois… não sei porquê, acho que já deves estar na tua caminha…

- Estás a ver como estás muito enganada? – disse Pedro, com um sorriso, que já sentia falta destas provocações mútuas – Por acaso, estou ainda na agência, a trabalhar.

- Tu? Trabalhar a esta hora? Não acredito. Só se estiveres a fazer uma campanha televisiva e estiveres a seleccionar modelos em bikini para entrar no anúncio.

- È isso que tu achas de mim? Já te disse que já não sou mais esse homem desde há uns tempos… quando conheci uma certa pessoa… Posso dizer-te que não está cá ninguém comigo e que sou a única pessoa que ainda não saiu do escritório.

- Bem normalmente, não acreditaria nisso, mas como tu me prometeste que nunca mais me irias mentir, vou acreditar em ti.

- Fazes muito bem. Tu é que deves estar com as tuas amigas na discoteca, com essa música toda como barulho de fundo. – Pedro disse estas palavras com alguma ânsia, pois tinha algum receio de que ela pudesse estar a sair com o novo namorado e tinha algum medo da resposta dela.

- Até não me importava nada de estar agora a dançar. Mas por acaso estou ainda a trabalhar.

- A esta hora? Mas ainda estás no mesmo sítio, não estás? Porque é que estás ainda a trabalhar a esta hora, ainda para mais sendo apenas uma temporária?

- Ainda não te tinha dito, mas fui promovida há duas semanas atrás, para umas novas funções de maior responsabilidade. Portanto tive que aprender todas as minhas tarefas de novo. Ainda por cima, como agora estou do departamento de contabilidade e acabámos de fechar as contas do semestre, as coisas não têm sido nada fáceis. O trabalho é muito, e o tempo é pouco. Tenho estado nos últimos dias a fazer estas noitadas até esta hora, mas finalmente as contas já fecharam e as coisas vão acalmar…

 

Pedro respirou de alívio. Não só Inês não tinha encontrado outra pessoa, como também o motivo pelo qual ela não lhe tinha ligado era apenas o excesso de trabalho. Ela não o tinha esquecido, apenas estava realmente ocupada e não tinha tido oportunidade de lhe ligar.

 

- Tenho pena que o teu novo trabalho te obrigue a trabalhar tanto. Já pensaste em tentar encontrar um novo emprego, onde trabalhasses menos? O dinheiro não é tudo na vida. Eu posso afirmar-te isso com conhecimento de causa…

 

- Sim, poder, eu podia… mas eu estou a gostar do que estou a fazer. Vou ser compensada com horas extraordinárias pelo trabalho que estou a fazer. Mas acima de tudo, os meus chefes confiam em mim e no meu trabalho. E é bom sentir esse reconhecimento pelo meu esforço.

 

- O mais importante é que tu gostes do que estejas a fazer.

- Sim… ao contrário do que esperava, estou mesmo a gostar…

- Mas não me digas que és a única que estás aí a trabalhar a estas horas… Espero que não estejam a aproveitar-se de ti, pelo facto de seres a rapariga nova…

- Pedro, sabes que a única pessoa que se aproveita de mim és tu… - disse Inês, não conseguindo evitar uma suave gargalhada de que Pedro já sentia falta – Mas falando a sério, não sou a única que estou a trabalhar. Nesta última semana, tem estado o departamento todo por cá, se bem que eu e um colega é que temos ficado todos os dias mais tarde do que os outros, pois o trabalho deles depende do nosso.

- Queres dizer que estás aí sozinha com um colega a esta hora?

- Sim, estou aqui com o Diogo. È um colega que foi promovido na mesma altura do que eu. É uma pessoa um bocado estranha, pois praticamente não me dirige uma única palavra quando não o tem de fazer. Nós só falamos acerca do trabalho. De resto, ele é uma pessoa muito fechada. Mas não me posso queixar, pois como ele tem a formação na área da contabilidade, tem-me ajudado em certas coisas que deveriam ser básicas para alguém nesta área e tem-me safado em algumas situações. Mas acho que não gosta assim muito de mim, pois tirando quando fala comigo sobre trabalho, não me dirige a palavra. Acho que só a custo é que ele me diz Bom dia ou Até amanhã.

 

Pedro ficou novamente aliviado. Quando Inês lhe tinha dito que estava sozinha com outro homem a esta hora da noite, ficou preocupado. Mas tendo em conta que lhe parecia que esse tal de Diogo não estava minimamente interessado em Inês, eles podiam ficar sozinhos no trabalho o tempo que tivessem de estar.

 

- Pelo menos ele tem-te ajudado e sido bom colega. Tiveste sorte.

- Acho que sim. Mas foi por isso que não tive oportunidade para falar com os meus amigos nos últimos tempos. Tu incluindo. Por isso, agora que o trabalho irá acalmar, queria saber se querias então tomar o tal café neste fim-de-semana, a ver se colocamos a conversa em dia.

- Por mim, acho que é uma óptima ideia.

- Espero que não tenhas estado este tempo todo à espera que eu te ligasse. – disse Patrícia com um sorriso maroto.

- Podes estar descansada que não. Estive também muito entretido nestes últimos tempos e preocupado com outras situações.- respondeu Pedro com a voz o mais natural e calma possível. Se Inês alguma vez soubesse das mudanças na sua vida que a espera por um telefonema dela lhe tinha causado, ela iria ficar assustada.

- Óptimo. Já me sinto menos mal. Realmente, tirando a Rita, quase não tenho falado com outras pessoas sem ser de trabalho nestas últimas semanas. Tenho uma série de pessoas com que retomar o contacto.

- Está descansada. Mas ainda bem que ligaste.

- Também acho que sim. Até Sábado.

 

Após Inês ter desligado, Pedro sentiu-se como se lhe tivessem tirado um peso dos ombros. Ainda tinha uma hipótese de voltar a reatar as coisas com Inês. Ainda faltava um longo caminho, mas pelo menos a caminhada não tinha sido interrompida ainda no início.

 

E o resto da sua semana foi completamente diferente do último mês. Pedro retomou os horários de sempre, pois já não tinha de soterrar-se em trabalho para não pensar na relação com Inês. Aliás, agora não conseguia deixar de pensar no encontro de Sábado. Quer Carlos, quer Patrícia notaram esta mudança repentina de humor e de hábitos e ambos sabiam que só podia estar relacionado com Inês. Só ela poderia causar esta transformação.

Quanto a Pedro, ele só esperava que o fim-de-semana chegasse o mais depressa possível, pois ao contrário dos últimos tempos, o tempo parecia agora passar mais devagar.

publicado por Matt Xell às 23:47
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Segunda-feira, 28 de Junho de 2010

Capitulo 23 - Vida nova

Inês olhou para o despertador e viu que já eram horas de se levantar. Apesar de ser bastante mais cedo do que a hora em que habitualmente acordava, tinha mesmo de sair da cama. Iria começar hoje o seu novo emprego.

Já há algum tempo que estava a procura de emprego, mesmo antes de ter terminado o seu curso de Psicologia, e tinha-se apercebido de que o mercado de trabalho nessa área estava em baixa, principalmente para os recém-licenciados.

E tendo terminado o último exame há cerca de um mês, tinha de arranjar algum emprego para ir suportando a renda e os gastos enquanto não arranjasse um emprego na sua área. E isso poderia demorar algum tempo, pelo que há uns meses atrás tinha recorrido a uma empresa de trabalho temporário... Após ter efectuado uma série de entrevistas e os testes psicotécnicos, ficou a aguardar novidades sobre um eventual emprego que essa empresa acharia que seria mais adequado para ela.

 

Mas estas últimas semanas tinham sido complicadas, devido ao que tinha acontecido com Pedro. Já não falava com ele há duas semanas pois eles tinham combinado dar algum tempo ao outro. Quando ela recebeu a chamada da empresa de trabalho temporário a indicar que tinha sido esolhida para trabalhar como assistente administrativa na área financeira de uma multinacional e perguntar-lhe se ela estava interessada, ela aceitou logo a proposta, uma vez que precisava de algo para esquecer o que se tinha passado nos últimos tempo e seguir em frente com a sua vida. Ainda não tinha exactamente a noção do que é uma assistente administrativa fazia, pelo que era com alguma curiosidade e nervosismo que se preparava para o primeiro dia de trabalho. A primeira grande dificuldade prendia-se com o que vestir...

 

A primeira impressão é uma coisa muito importante, pois apenas se tem hipótese de causar uma primeira impressão uma vez.  E ela queria causar um boa impressão aos seus novos colegas de emprego, ainda para mais porque sentia que tinha de provar algo, pois era apenas uma temporária. Ela não sabia se quereria apresentar-se de forma muito profissional usando um fato. Ou tinha a alternativa de se vestir de forma casual, de calças de ganga e uma blusa discreta... Ou tinha ainda a hipótese de se vestir de forma sensual com a menor minisaia que tinha e com um top muito revelador... Eram muitas as hipóteses e Inês não tinha ideia de qual seria a alternativa mais apropriada. Após vestir-se e despir-se várias vezes em frente ao espelho, decidiu-se a usar um dos seus vestidos favoritos que apesar de mostrar a sua beleza natural não era muito revelador do seu corpo. Pelo menos não iria ser alvo de comentários menos apropriados pelos seus colegas.

 

Um pouco antes das nove da manhã, chegou ao seu novo local de trabalho. Assim que chegou à recepção, foi encaminhada para a responsável dos Recursos Humanos com quem esteve a tratar de toda a papelada inicial. De seguida, fizeram-lhe uma visita guiada do escritório, que ainda era maior do que pensava, pois ocupava vários andares e tinha vários open spaces enormes cheio de secretárias com pessoas, todas à frente de um computador... Ela também se apercebeu de que grande parte das pessoas que lá trabalhavam eram mais ou menos da sua idade, pelo que ficou mais aliviada pelo facto de poder conseguir encontrar alguém com que se pudesse dar bem e que a ajudasse a integrar-se na empresa.

 

No final da visita guiada, a sua colega de recursos humanos apresentou-a ao seu chefe, o Dr. Rui. Era uma pessoa relativamente nova, entre os 35 e os 40, mas a sua primeira impressão não foi a melhor. Ele pareceu-lhe demasiado ríspido quando foram apresentados e não perdeu mais do que cinco segundos com ela. Sim, ela era apenas uma simples temporária, mas mesmo assim, achava que pelo menos o chefe quereria conhecer melhor quem trabalhava para ele.. E durante a manhã, percebeu que o seu novo chefe não tinha problemas em gritar com os seus subordinados se eles não tivessem feito algo como ele queria...

 

Nesta fase inicial, iria ser treinada por uma colega já com alguma experiência e que já estava na empresa há 3 anos, a Sónia. Pareceu-lhe uma pessoa mais acessível do que o seu chefe, até porque não só era apenas ligeiramente mais velha do que ela (pareceu-lhe que ela tinha cerca de 25 anos), mas porque era uma pessoa muito calma e com muita paciência para ensinar sempre as pessoas acabadas de entrar e que não percebiam de nada do que iam fazer... A Sónia explicou-lhe que o trabalho dela iria consistir em ajudar o departamento financeiro da empresa onde fosse necessário, consoante os picos de trabalho ou fosse necessário substituir alguém que estivesse de baixa ou de férias...

 

Inicialmente, ela iria estar alocada à area de compras, e iria essencialmente estar a lançar facturas de fornecedores no computador. Sónia passou grande parte da manhã a explicar-lhe o que tinha de fazer, a mostrar-lhe o sistema informático com que a empresa trabalhava e ainda esteve a ajudá-la a lançar as suas primeiras facturas, para se certificar de que ela tinha aprendido correctamente. Não era uma coisa assim tão complicada, pois felizmente, Inês tinha alguma experiência em trabalhar com computadores devido aos trabalhos da faculdade e por isso o Word e o Excel não eram palavras estranhas. Teve alguma dificuldade inicial nesse primeiro dia a tentar compreender o sistema informático onde tinha de lançar as facturas e que campos preencher, e por isso de vez em quando pedia a ajuda de Sónia, que tinha-a posto à vontade para a questionar sempre que ela achasse necessário. Mas esperava que passado uns dias, se sentisse mais à vontade e mais confiante no que estava a fazer...

 

Felizmente, também o seu horário de trabalho, pelo menos enquanto estivesse no departamento de compras, não era muito extendido e por volta das 18h30 foi mandada para casa. Mas foi-lhe dito para não se habituar muito a esse horário, pois existiam outros departamentos onde poderia ser alocada, onde poderia sair muito mais tarde do que isso durante vários dias. 

 

Inês ficou satisfeita por começar num sitio mais calmo, para poder adaptar-se com calma à empresa e ao trabalho, e esperava que pudesse continuar nas compras por mais algum tempo. E pelo menos sabia que podia contar com uma pessoa para ajudá-la lá dentro, pois a Sónia era de facto uma rapariga impecável. Até a tinha convidado para almoçar, pois imaginava que ela não tinha tido oportunidade de conhecer outros colegas nesse primeiro dia. E foi o que tinha acontecido, pois tinha estado em formação o dia inteiro e teve poucas oportunidades de falar com as colegas que estavam perto nela, numa mesa minúscula num open space enorme. E tinha também reparado que o ambiente de trabalho era um pouco formal, com poucas interrupções para além do café e das idas à casa de banho, muito provavelmente por causa do chefe, que não perdia qualquer hipótese de dar na cabeça de algum dos seus subordinados. E por isso, todos procuravam estar concentrados no trabalho, para evitarem cometerem erros. E uma coisa que a Sónia lhe tinha dito, é que o Dr. Rui às vezes poderia ser um pouco duro, mas que nunca tinha repreendido ninguém que não o merecesse, embora ela não concordasse com a forma como ele às vezes humilhava os colegas à frente de toda a gente.

 

No final do dia, chegou a casa e ligou à Rita para contar-lhe o seu primeiro dia de trabalho. Após ter desligado o telemóvel, Inês apercebeu-se que tinha sido a primeira vez que o principal motivo dos seus desabafos não tinha sido Pedro... Era um sinal de que o tempo tinha-a ajudado a esquecer o que se tinha passado.... O passado é o passado e abria-se uma nova página na sua vida... Novo emprego, novas amigas e quem sabe... uma nova paixão?

 

Mas o dia tinha-lhe corrido bem... A incerteza que tinha sobre o seu futuro quando acordou de manhã tinha-se atenuado... Ela estava um pouco insegura sobre o facto deste ser o primeiro emprego a sério dela e nem imaginava o seu futuro se as coisas tivessem corrido mal... Mas felizmente, os seus piores receios não se concretizaram...

 

O dia seguinte ainda correu melhor... Não só ela já estava um pouco mais habituada ao seu trabalho, como na hora do café foram-lhe apresentadas algumas colegas que também eram temporárias e também estavam lá há pouco tempo e com que se entendeu bastante bem. Tinham várias coisas em comum, como o facto de também ser este o primeiro emprego delas e também o facto de terem também tirado cursos noutras áreas, mas que estavam todas agora como assistentes na área financeira por não terem encontrado o emprego que mais gostariam... e acima de tudo, eram pessoas que estavam dispostas a apoiar-se umas às outras... E ainda por cima, Inês era daquelas pessoas muito aberta, que conquistava qualquer pessoa com a sua personalidade e a forma aberta como dizia o que pensava, o que facilitou a integração naquele grupo... A única pessoa que ainda não lhe ligava muito era o seu chefe, o que a fazia feliz, pois se ele não soubesse quem ela era, menos hipóteses existiriam de ele embirrar com ela.

 

Os primeiros dias de Inês correram bem, e cada vez menos sentia a necessidade de pedir ajuda à Sónia, pois estava mais à vontade no que fazia... E acima de tudo, estava a gostar do que fazia, embora não fosse o tipo de coisas que queria fazer para o resto da sua vida e já imaginava que daqui a uns meses já estaria farta de fazer a mesma coisa todos os dias. O que lhe valia era o facto de daqui a uns tempo, poderia ser precisa noutro departamento e iria fazer outra coisa completamente diferente...

Mas acima de tudo, tinha feito novos amigos lá dentro e estava a seguir com a sua vida. Aliás, tirando o seu chefe, apenas existia um outro colega, o Diogo, que também era um temporário e que praticamente a ignorava, que não mostravam qualquer interesse em ser seus amigos. De resto, praticamente toda a gente no seu departamento gostava dela e estavam a ajudá-la a integrar-se.... E sentia que a sua vida profissional estava a correr bem... Mas não tinha niguém com quem partilhar essa sensação... E de repente começou a pensar que aquela noite seria a noite ideal para ligar a Pedro, com que já não trocava uma palavra há quase três semanas...

publicado por Matt Xell às 22:08
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Domingo, 18 de Abril de 2010

Capítulo 21 - Um novo começo?

Pedro ficou satisfeito por ter conseguido resolver as coisas com Patrícia. Ele sabia que ela não conseguia não lhe perdoar, pois eram verdadeiros amigos e seria preciso algo muito grave para os afastar a sério. Ele só podia estar verdadeiramente agradecido por ter uma amiga assim. Mas Pedro nem teve tempo de pensar mais, pois foi chamado de urgência para uma reunião que um dos maiores clientes da empresa tinha marcado.

 

Patrícia, por sua vez, não conseguia deixar de pensar na conversa que tinha tido. Sentiu-se desconsolada por ter finalmente percebido que Pedro nunca iria deixar de pensar em Inês, mesmo que ela não quisesse nada com ele. Mas lá no seu íntimo, já tinha interiorizado essa situação. Tinha de seguir em frente com a sua vida e era por esse motivo que tinha um “blind date” combinado por uma das suas amigas. Ela nunca na vida imaginava que alguma vez iria jantar com alguém que não conhecia, mas tinha decidido que a melhor forma de esquecer a paixão que tinha por Pedro, seria tentar encontrar outro homem que enchesse o vazio que existia no seu coração. E quem melhor do que uma das suas melhores amigas para a ajudar a encontrar alguém com quem ela se desse bem. E ela tinha ouvido muito bem desse homem, pelo que ela esperava não ficar desiludida. E principalmente, esperava que ele não ficasse desiludido com ela.

 

Já há algum tempo que ela não tinha um encontro com um homem... E toda a gente sabe quão difíceis são os primeiros encontros, prncipalmente com pessoas que não conhecemos muito bem. Existe sempre aquela preocupação de tentar perceber como é a pessoa que está sentada do outro lado da mesa, no meio da conversa habitual que se costuma ter nestas ocasiões. Todos tinham sempre a preocupação de não entrar em conversas muito íntimas e pessoais, pois ainda era muito cedo para isso. Mas não podiam cair no erro de ter conversas muito gerais, que não captassem o interesse da outra pessoa.  Em resumo, os primeiros encontros não eram fáceis e ela só esperava que tudo corresse bem. Mas tudo seria diferente se o encontro fosse com Pedro... Ele já a conhecia tão bem, que as coisas seriam muito diferentes. Mas já era altura de deixar de pensar nele... Era difícil, mas Patrícia sabia que era a coisa correcta a fazer.

 

E foi com estes pensamentos que Patrícia passou o resto da tarde, antes de ir para o restaurante que a sua amiga tinha escolhido para o encontro.

 

                                                                       ***

 

 

Pedro chegou ao escritório de manhã, atrasado como sempre. Não tinha nenhuma campanha urgente em curso, pelo que  podia gerir o seu horário como mais lhe conviesse. Lembrou-se que tinha de ver se Patrícia estava disponível para tomar o tal café com ele à noite. Era uma oportunidade para saber como tinha corrido o encontro dela no dia anterior e também para conversar um pouco sobre Inês.

 

Mas ele estranhou, quando reparou que ela ainda não tinha chegado ao escritório. Era estranho, uma vez que ela era sempre uma pessoa muito certinha e que era das primeiras pessoas a chegar todos os dias ao escritório e uma das últimas a sair. Realmente, não era uma situação nada habitual, o que apenas o fez ficar mais curioso sobre o que se tinha passado na noite anterior com a sua amiga. O que teria acontecido para ela não ter ainda chegado?

 

Pedro foi obrigado a concentrar-se no trabalho, pois tinha naquele momento uma reunião com os colegas por causa da nova campanha. Mas durante toda a reunião, ficou sempre intrigado por ainda não ter visto a amiga.

 

Mas ficou mais descansado ao final, quando terminada a reunião, viu que Patrícia já estava na sua mesa. E se não fosse impossível, ainda mais atraente do que no dia anterior, com um vestido vermelho com um decote que mostrava muito mais do que Pedro achava que Patrícia seria capaz de mostrar em público.

 

- Já vi que a noite de ontem correu bem... Para só teres chegado a estas horas- perguntou Pedro.

- Isso é o que tu querias saber... mas eu não sou daquelas raparigas que beija e conta...

- Já vi que aconteceu aí qualquer coisa... mas realmente, queria saber se hoje então querias tomar um café ao final do dia, para conversarmos um pouco. Claro que se tiveres um novo encontro marcado para hoje à noite eu compreendo que querias adiar...

- Por acaso, hoje tenho a minha agenda livre e posso encaixar-te...

- Só posso agradecer, pois imagino que o teu tempo livre é muito disputado.

- Tu nem imaginas... mas lá te faço um favor por seres um velho amigo... E agora deixa-me trabalhar que tenho um apresentação à tarde e estou um pouco atrasada.

- Cá está a Patrícia do costume... – disse Pedro à sua amiga, antes de ir para a sua secretária.

 

Patrícia voltou ao trabalho, mas não conseguia deixar de se lembrar da noite passada.

 

A noite tinha tudo para correr bem. Quando chegou ao restaurante, deparou-se com um homem bem parecido e muito charmoso. E acima de tudo, muito atencioso para com ela, mesmo sendo aquela a primeira vez que se estavam a encontrar. E se ela pensasse que ele era apenas um homem atraente na casa dos 30, estava muito enganada. Como veio acabar por descobrir, ele era também muito bem sucedido a nível profissional, pois era o sócio principal de uma pequena empresa de software que ele tinha criado e que tinha crescido bastante, sendo que se ele quisesse já se podia reformar. Mas ele gostava de se manter ocupado e por isso ainda continuava a fazer parte da equipa de desenvolvimento dos projectos.

Tinha sido esse um dos principais motivos para ele ainda ser solteiro naquela idade... ele, tal como ela, tinha-se dedicado de corpo e alma ao trabalho e o tempo livre era escasso e como tal nunca tinha dado a primazia à vida pessoal. Ainda por cima, o pouco tempo livre que ele tinha era também passado em algumas actividades de voluntariado, uma vez que ele achava que tinha tido a sorte de ter conseguido algum sucesso na vida que era obrigação dele partilhar e tentar ajudar outras pessoas.

 

Ou seja, o homem que esteve à sua frente era praticamente o homem perfeito para qualquer outra mulher. Mas podia acontecer que ele não tivesse nada em comum com ela. Mas mais uma vez, como a noite acabou por provar, esse pensamento acabou por se revelar falso. A noite passou num instante e ela sentia-se à vontade com ele. Ele era divertido e ela dava-se constantemente a rir das piadas ou das histórias engraçadas que ele dizia. Ela sentia-se também à vontade com ele para partilhar alguns pormenores não íntimos sobre a sua vida. Ela descobriu que ele tal como ela gostava de cães. Que ele adorava ler e que era capaz de ler um livro por horas seguidas se gostasse desse livro enquanto o não acabasse. Tal como ela. Ele gostava do mesmo genero de música e tinha também ido aos últimos concertos que ela também tinha ido. Soube também que ele adorava cozinhar, mas que nunca tinha tempo para o fazer. Essa era capaz de ser a única coisa que não tinham em comum. E o toque final do jantar ocorreu aquando da sobremesa. Ela não tinha pedido nada pois estava um pouco cheia, mas ele tinha escolhido o cheesecake de amora, que era uma das sobremesas favoritas dela e quando o empregado de mesa trouxe a sobremesa ele pediu-lhe para trazar um garfo adicional para ela também provar, mesmo ela não tendo dito nada. Ele era uma pessoa simples, muito simpática, altruista e que preocupava-se mais com os outros do que com ele.

 

Tinham-se dado muito bem e a amiga mútua que os tinha juntado tinha mesmo acertado na mouche. À saída do restaurante, trocaram o número de telemóvel e combinaram marcar qualquer coisa daqui a uns tempos. E ambos sabiam que essa promessa iria mesmo concretizar-se, pois a noite tinha corrido muito bem e ambos queriam saber aonde aquilo poderia chegar.

 

Realmente, a noite tinha tudo para correr muito bem. E tinha corrido até ela chegar a casa e ter tempo para parar um pouco e pensar sobre a agradável noite que tinha passado. Quando ia escrever no seu diário, infelizmente percebeu uma coisa. Que mesmo tendo gostado do seu encontro, ainda continuava a pensar em Pedro. Como era possível que ela tivesse encontrado um homem perfeito que estava interessado nela e com quem ela achava que poderia ter um futuro, mas ela não conseguia deixar de pensar em alguém que não estava interessado nela e que muito provavelmente nunca iria estar. Quando chegou a casa, estava preparada para escrever no seu diário o que tanto tinha gostado noite que tinha passado. Mas acabou por escrever sobre a confusão emocional que tinha e sobre o facto de, apesar do que intencionava, ainda não tinha ultrapassado a paixão que tinha por Pedro e que ainda não estava preparada para seguir em frente. E a lágrima que caiu no diário após ter escrito a última frase fez-lhe perceber mesmo isso.

publicado por Matt Xell às 17:49
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Terça-feira, 16 de Março de 2010

Capítulo 20 - Amigos?

 

Pedro acordou de manhã, com um ânimo diferente. A conversa que tinha tido no dia anterior com a Inês tinha feito com que ele tivesse alguma esperança de voltar a ter uma relação com ela. Mas agora tinha de fazer os possíveis para reconquistar a confiança dela. Mesmo que isso implicasse temporariamente ser apenas amigo dela… Seja o que fosse que isso significasse…
 
Ele nunca tinha tido uma rapariga que fosse apenas sua amiga. Durante toda a vida dele, ele nunca conseguiu manter uma relação de amizade com uma mulher, pois mais cedo ou mais tarde acontecia algo que acabava por afectar a sua amizade… Inúmeras foram as ocasiões em que ele acabava por tomar a iniciativa junto de uma amiga e acabavam por sair juntos, mas mais cedo ou mais (normalmente depois de ter dormido com essa amiga) a relação acabava por terminar e normalmente nunca mais via a antiga amiga.
 
Ou noutros casos, a amiga apaixonava-se por ele, mas ele não sentia o mesmo por ela. Juntando aos inúmeros casos que ele tinha com outras mulheres, acabavam por fazer com que essas amigas se distanciassem dele.
 
Aliás, só uma mulher fazia parte actualmente do seu círculo de amigos: Patrícia. Ela era talvez a única mulher que era imune aos seus encantos naturais e nunca tinha demonstrado qualquer interesse nele em termos amorosos. Para além disso, ela era a única mulher em quem ele podia confiar e prezava tanto a sua amizade, que seria incapaz de ter alguma relação com ela, sob medo de arriscar a companhia e o apoio que ela lhe tinha dado nos últimos anos.
 
Patrícia seria talvez a melhor pessoa para lhe aconselhar neste momento que lhe estava a ser tão difícil. Ele tinha-a afastado algum tempo depois de ter acabado a relação com Inês, e nunca lhe tinha contado o que realmente causou o fim da relação. Ela merecia que ele lhe contasse a verdade e ele tinha a certeza de que ela o iria ajudar a ser um amigo de Inês… Ela era a pessoa perfeita para isso…
 
 
Já na agência de publicidade, Pedro pensava na melhor forma de pedir desculpas a Patrícia pela frieza com que ele a tinha tratado nos últimos tempos. Ele só podia fazer uma coisa… Ajoelhar-se à frente dela e pedir-lhe sinceramente desculpas e esperar que ela o perdoasse… Ela era amiga dele e sabia que ele às vezes tinha attitudes estúpidas, e sempre o tinha perdoado e esperava que desta vez as coisas não fossem diferentes.
 
Assim que a sua manhã acalmou um pouco, Pedro deslocou-se para junto da secretária da sua amiga, mas não a encontrou por lá… Ele ficou a pensar onde poderia ela estar, mas foi interrompido por uma voz feminina.
 
- Caro colega Pedro… Não faço ideia porque está aqui, uma vez que nos últimos tempos tem passado muito despercebido cá pelo escritório…
 
Pedro reconheceu a voz de Patrícia, mesmo estando de costas para ela e sentiu o sarcasmo. Ele merecia isso, pois tinha praticamente ignorado a amiga nos últimos tempos…
 
- Já sentia a falta dessas demostrações de carinho com que tu me costumas brindar… Mas desta vez, eu mereço tudo o que me digas… Mas eu peço-te imensa…. – Pedro virou-se, pois queria pedir-lhe desculpa, olhos nos olhos, para que a Patrícia visse sinceramente que ele estava arrependido…
 
- … - mas assim que se virou Pedro ficou sem palavras por uns instantes… Pedro ficou surpreendido ao ver Patrícia, pois ela estava diferente… A começar pelo penteado… O cabelo estava arranjado como se tivesse sido tratado por um cabeleleiro famoso de Paris. A seguir, Pedro reparou nas unhas, que estavam arranjadas e reluziam com o seu verniz vermelho… A sua amiga nunca se tinha preocupado muito com o cabelo e com as unhas, pois preferia que as pessoas centrassem a sua atenção na sua maneira de ser e não na sua aparência física. Aliás, ela orgulhava-se de ter chegado onde estava na empresa pela sua competência e pelas capacidades que tinha demonstrado… Não que ela não fosse atraente, porque o era… e bastante… Mas ela procurava não chamar a atenção… Mas com o que ela estava a vestir nesse dia, ela atrairia a atenção de qualquer homem. Pedro não conseguiu desviar o olhar da combinação de blusa branca apertada (que atraía os olhares masculinos para os seios dela) com a mini saia preta que mostrava as compridas e bem torneadas pernas da sua amiga, finalizando com os sapatos de salto alto. Patrícia sempre se tinha vestido discretamente, preferindo sempre o tradicional fato de trabalho, quando se tinha apresentações a clients ou a T-shirt e calças de ganga, pois o ambiente era informal, e os colaboradores da empresa podiam vestir-se como bem entendiam…
 
 
-          Pedes imenso o quê? – disse Patrícia, quebrando o silêncio.
-          Peço muita desculpa, Patrícia.. - disse Pedro, quebrando o estado de quase catatonia em que se encontrava. - ... por não ter praticamente falado contigo nos últimos dias. Não sei se sabias, mas as coisas com a Inês não estão a correr muito bem...
-          Já imaginava que qualquer coisa tinha acontecido.. Não porque me disseste alguma coisa sobre isso, mas porque tenho visto como tens andado nos últimos tempos... Eu também não te fui pressionar, pois imaginei que precisavas de algum tempo para pôr as ideias em ordem... Mas sinto-me magoada pois pensava que era tua amiga e tu sabes que eu estava aqui para te ajudar no que precisasses.
-          Patrícia, eu sei disso. Mas é por isso mesmo que estou a pedir desculpa. Sabes que não sabia o que te dizer.. nunca estive numa situação destas...
-          Estás a referir-te ao facto de estares apaixonado por alguém e esse pessoa não querer estar contigo? Achas que és a primeira pessoa a quem isso aconteceu?
-          Tens razão... Agora quer olho para trás, vejo que fiz mal em não ter confidenciado contigo. Achas que ainda vou a tempo de corrigir a situação?
-          Sabes que não consigo resistir a esses olhos – disse Patrícia, ao mesmo tempo que não conseguia evitar um sorriso.
-          Ainda bem... Achas que hoje à noite podíamos tomar um café... Precisava mesmo de desabafar com alguém sobre o que estou a passar com a Inês... Ficava-te muito grato se aceitasses o meu convite.
-          Sabes que nunca perderia a hipótese de beber uns copos, ainda por cima sendo tu a pagar... mas já tenho um compromisso esta noite, logo depois de sair do escritório.
-          Então, é por isso que estás assim vestida. Sabes que quando te vi ainda há pouco, não acreditava que eras mesmo tu... Pode-se saber com quem vais?
-          Pedro... eu sei que somos amigos, mas não te tenho de contar tudo o que se passa com a minha vida amorosa... pelo menos, quando as coisas estão no início...
-          Sim, eu sei... mas não tinha a ideia que estavas a sair com alguém... Não tinha reparado que estavas agora à procura de uma relação...
-          Se tu te bem te lembras, nos últimos dias, não tens estado asssim muito presente na minha vida para saberes o que tem acontecido na minha vida...
-          Pois... mas no espírito de abertura que decidimos há pouco entrar, acho que tu me podias dizer alguma coisa sobre com quem vais sair.
 
Patrícia notou a curiosidade do amigo e ainda pensou que pudesse ser um sinal de ciúmes dela estar com outra pessoa. Mas rapidamente percebeu que estava iludida e que ele apenas estava preocupado com ela, pois não queria que ela estivesse envolvido com a pessoa errada.
 
- Sabes que há uns tempos, cheguei à conclusão de que tinha de mudar a forma como estava a ver a vida... Tenho estado concentradíssima no trabalho e não me tenho preocupado em encontrar alguém com quem partilhar os meus sucessos no emprego... E percebi que já não valia a pena esperar que alguém que fosse a pessoa perfeita para mim caísse nos meus braços. Decidi deixar de esperar que o destino me juntasse a alguém e tomei a decisão de ir à procura da pessoa certa. Nem que isso implicasse sair com várias pessoas até descobrir o tal...
 
Patrícia fez uma breve pausa e continuou - ... mas ainda não o descobri... por isso, vou jantar com um amigo da minha melhor amiga que já há alguns anos ela achava que seria a pessoa perfeita para mim, mas que nunca me tinha apresentado, pois ela sempre achava que a minha dedicação ao trabalho nos ia acabar por separar... Mas lá a convenci de que as coisas agora estavam diferentes...
 
- Fico feliz por ti... Já achava que era a altura certa para encontrares alguém.. Alguém que te fizesse sorrir como a Inês tinha feito comigo nestas últimas semanas.
 
Patrícia sofreu internamente ao ouvir estas palavras, mas não deixou transparecer essas emoções na sua cara. O que Pedro não imaginava é que esta mudança que ela tinha decidido trazer à sua vida tinha resultado do facto dela ter percebido, que por mais que ela fizesse, Pedro nunca iria se apaixonar por ela. Ela tinha esperado tanto tempo por ele, até um dia ter visto que ela afinal se tinha apaixonada por outra rapariga... Ela sofreu quando percebeu isso e soube que era altura de seguir em frente com a sua vida e esquecê-lo. Mas sempre que ele falava-lhe de Inês, recordava-se sempre da paixão que tinha esmorecido, mas que não tinha ainda desaparecido do seu coração.
 
- Mas acho que tu não terias problemas em encontrar alguém... Não precisas de mudar o penteado ou de vestir essas roupas mais sexy. Quem te conhecesse como eu te conheço, apaixonaria-te por ti por quem teu és, e não pela tua aparência – completou Pedro.
 
- Não te importas então de deixar o café para amanhã à noite? – questionou Patrícia
- Não há problema... Tu mereces esta noite...e amanhã, podemos falar não só de mim, mas também de como correu o teu encontro. Mas só te posso dizer que ele é um homem de sorte.
- Vamos ver se tens razão. Obrigado por teres vindo cá pedir desculpas.
- Eu é que te agradeço por me teres perdoado. Amigos outra vez? - perguntou Pedro, ao mesmo tempo que piscava o olho a Patrícia.
- O que é que tu achas? – disse Patrícia com um sorriso, o que permitu a Pedro perceber que as coisas entre eles tinham voltado ao normal...
 
publicado por Matt Xell às 00:23
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.sinopse

Uma história sobre um rapaz (Pedro) e uma rapariga (Inês) que o destino acaba por juntar e que origina uma relação com altos e baixos...

Pedro é um rapaz que nunca foi capaz de se comprometer e que encontra em Inês a primeira rapariga por quem verdadeiramente sente algo... Mas ele desconhece por completo o passado de Inês e que irá trazer grandes repercurssões na sua relação.

Nem tudo corre como eles gostariam nesta história de amor, e por maior que seja o amor que os une, o destino parece querer que a sua história não tenha um final feliz...

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