Sexta-feira, 19 de Agosto de 2011

Capítulo 30 - A pressa é inimiga da perfeição...

Pedro sentia-se algo ansioso. Tinha ligado a Inês no dia anterior por várias vezes e ela não tinha nem atendido, nem devolvido qualquer das suas chamadas.
Ele começou a ficar preocupado, uma vez que a última vez que tinha falado com ela tinha sido há cerca de duas semanas.

 

Tinha sido uma breve conversa por telemóvel, em que ela lhe tinha dito que andava muito ocupada por causa de um projecto novo na empresa em que trabalhava.
Estava a ser uma altura muito stressante para ela e ela tinha prometido ligar-lhe para combinar alguma coisa quando as coisas estivessem mais calmas. Mas duas semanas tinham-se passado sem que ela tivesse dado qualquer sinal de vida.

 

Ele então engoliu o orgulho e tinha ligado-lhe no dia anterior, mas sem qualquer sucesso, o que começava a causar-lhe alguma apreensão. E esse estado de espírito estava a ser notado pelos seus colegas, nomeadamente por Carlos e por Patrícia.

 

- O que achas que se está a passar com ele? – perguntou Patrícia a Carlos, que já sabia a resposta para a pergunta que tinha feito.

- Não faço ideia… De há duas semanas para cá, nota-se que ele está preocupado com qualquer coisa… e tenho a ideia que nós dois sabemos com o quê… ou mais propriamente, com quem. – respondeu Carlos, que também sabia que só podia ser essa a causa da angústia do seu amigo.

- Pois… Ela!!! – disse Patrícia, com um tom demasiado seco, situação que não passou despercebida ao seu colega.

- Não sejas assim. Ela é uma óptima rapariga. Aliás, tu até já falaste mais com ela do que eu e deves ter percebido isso.

- Tens razão… mas isso não é motivo para ela tratá-lo desta forma. Ele merece melhor. Se fosse eu… - começou Patrícia, antes de instintivamente interromper a sua frase, pois ia dizer mais do que devia.

- Uhm… Se fosses tu? O que queres dizer com isso? – disse Carlos com um ar malacioso.

- Esquece… Só te digo que ninguém o deveria fazer sofrer assim…

- Mas isto é bom para ele. Para ele aprender que não tem o mundo a seus pés e que às vezes tem de ter paciência para conseguir o que quer.

- Vamos ver… - suspirou Patrícia, que mais uma vez ficou com esperanças de que Inês se tivesse desinteressado de Pedro e abrisse uma porta para ela. Apesar das coisas estarem a correr bem com o Miguel, quem ela realmente amava era o Pedro.

 

Olharam então ambos para Pedro, que continuava a fazer o seu trabalho, mas com um ar desconsolado. Ele já não se conseguia concentrar no seu trabalho, pois só pensava nos motivos pelos quais Inês o estava a ignorar… Será que ela estava mesmo ocupada com o trabalho. Ou seria apenas uma desculpa para não o ver? Ele confiava nela, mas a incerteza estava constantemente presente na sua mente. Por mais que o não quisesse admitir, o medo de perder Inês para sempre era cada vez maior. Ainda por cima, ela tinha-lhe dito na última conversa que estava a dar-se cada vez melhor com o tal colega dela, o Diogo. Será que ela se tinha apaixonado por ele? Por mais inverosímil que essa situação lhe parecesse, tudo poderia ser um motivo para o distanciamento de Inês.

 

E o que podia ele fazer? Já lhe tinha ligado várias vezes sem sucesso e ligar-lhe mais uma vez, podia levar a que Inês considerasse que ele não estava a respeitar o seu espaço.

 

Pedro respirou fundo e tentou concentrar-se novamente no seu trabalho. Sim, tentou era a palavra mais correcta, pois durante o resto do dia, por mais que o quisesse evitar, o seu pensamento desviava para o motivo da ausência de qualquer resposta dela.

 

No final do dia, antes de ir para casa, depois de ter reparado que não tinha feito o que tinha planeado fazer, Pedro suspirou e resignou-se à
situação. Não podia fazer nada para obrigar Inês a falar com ele, nem poderia tentar ligar-lhe novamente tão cedo. As suas opções estavam profundamente limitadas e apenas podia esperar. A sua insegurança começava a abalar a sua confiança. Não… Não era a primeira vez que ela demorava a responder aos seus telefonemas. Mas isso não fazia com que custasse menos.

 

Mas Pedro não teve de esperar muito mais. Nessa noite, após o jantar, quando já se encontrava refastelado no sofá da sua sala, a ver um jogo de futebol do campeonato argentino para tentar evitar pensar nela, o seu telemóvel tocou.

 

Inicialmente, ele não tinha ouvido o toque, que era actualmente o Yellow dos Coldplay, para condizer com o seu estado de espírito. Após ter chegado do
emprego, tinha deixado o telemóvel no seu quarto. Mas por algum motivo que ele não soube explicar, ele teve a sensação de que poderia ter recebido alguma chamada no telemóvel e decidiu por descargo de consciência confirmar que não tinha nenhuma chamada perdida.

 

Mas não era esse o caso. No visor do seu telemóvel, viu que tinha duas chamadas não atendidas de Inês. O seu coração começou a bater mais rápido e a sua ansiedade aumentou, com a expectativa de falar com ela novamente. Mas ele sabia que tinha de manter-se calmo. Por isso, respirou fundo antes de ligar-lhe.

 

- Oi – disse Pedro, após Inês ter atendido a sua chamada.

- Olá. Já vi que está muito complicado falar. – disse ela, não evitando um riso que desconcentrou Pedro completamente, gorando qualquer tentativa dele se manter tranquilo e calmo. O quanto ele sentia a falta de ouvir a voz e o riso dela.

- Parece que sim. Mas ainda bem finalmente temos a oportunidade de por um pouco a conversa em dia.

- Sim… Desculpa lá ter-te ignorado nos últimos tempos, mas o trabalho tem estado impossível. O dia passa a correr e quando chego a casa quero apenas tomar um banho relaxante e ir dormir.

- Sim, percebo perfeitamente. – disse Pedro, que embora no seu íntimo percebesse a situação, também não gostava da sensação de ansiedade provocada pelo facto dela não lhe atender as chamadas.

- Infelizmente, este projecto é coisa para durar ainda mais algum tempo. Aliás, não posso falar contigo muito tempo, pois tenho de voltar ao trabalho. O meu colega já me está a fazer sinais de que tenho de me despachar. E ele é muito controlador neste tipo de situações.

- Ainda estás a trabalhar a esta hora? Estás aí sozinha com o teu colega?

- Alguém está a ficar com ciúmes… – troçou Inês. Sim, estou sozinha aqui com ele, mas estamos a trabalhar…e muito, infelizmente… Mas mesmo que não estivesse, não tinhas nada a ver com isso. Não te devo explicações nenhumas.

- Sim. Tens razão. Mas quando eu perguntei-te, não foi pelo motivo que estavas a pensar – tentou Pedro disfarçar.- Estava apenas preocupado com a tua segurança… nunca se sabe quem pode aparecer aí durante a noite.

- Claro, claro… Foi só mesmo por isso – exclamou Inês, não escondendo a ironia nas suas palavras. – Mas estava a ligar-te pois vou ter o dia de folga
no Sábado e queria saber se querias combinar um almoço. Aviso-te que não sei quando irei ter tempo novamente para por a conversa em dia contigo

- Uhm… Deixa-me consultar a minha agenda. Bem, tinha aqui um blind date com uma super-modelo para Sábado conhecida de uns amigos, mas vou mudar para o jantar. Afinal, tenho de aproveitar a tua disponibilidade.

- Já vi que continuas engraçadinho como sempre.- Ficamos então combinados?

- Combinadíssimos. Então, depois marcamos o sítio. Ainda ficas a trabalhar?

- Sim – disse Inês com uma voz desconsolada.- A noite é ainda uma criança.

 

Após Inês ter desligado, Pedro sentiu uma sensação de alívio. Não estava mesmo à espera que ela lhe ligasse essa noite para combinar um encontro com ele. Sim, era apenas como amigos, mas mesmo assim, ela podia muito bem ter escolhido outra pessoa para passar o pouco tempo livre que ela tinha disponível.

Um sorriso não deixou de estar presente na cara de Pedro durante o resto da noite. Aliás, durante o resto da semana. Ele gostava mesmo a sério dela. A sensação de vazio na sua vida quando não estava com ela era demasiado grande e ele não queria que essa sensação permanecesse. Mas estava tudo nas mãos dela.

 

E foram estes pensamentos que estiveram presentes na mente de Pedro até ao dia do almoço. Como habitual, ele tinha chegado primeiro que ela ao restaurante e aproveitou esse tempo para pensar em como as coisas poderiam correr naquele dia. Ele já lhe tinha dado algum tempo e as coisas estavam a correr bem. Mas por quanto mais tempo teria ele de esperar? Ele não a queria pressionar, mas aquela sensação de impotência para mudar as coisas estava constantemente na sua cabeça.

 

Mas a sua reflexão foi interrompida quando Inês chegou finalmente. Ela estava linda, com um top branco pouco revelador e uma pequena saia preta que lhe ficava muito bem. Mas ela podia ter-se vestido com um saco de batatas que ele acharia-a linda na mesma. Ele estava contente só de estar com ela e ter a oportunidade de olhar para o seu rosto e para os seus olhos.

 

- Desculpa o atraso – disse Inês, ao mesmo tempo que lhe dava um ligeiro beijo na face.

- Não há problema. Já estava à espera. – respondeu, ao mesmo tempo só pensava nas saudades que tinha do aroma suave do perfume dela.

- Pois… Há coisas que nunca irão mudar – disse Inês, com um sorriso contido.

- Eu sei… Mas é daquelas coisas que fazem parte de ti e tu não serias tu se não fosses assim.

- Não percebi se isso foi um elogio ou não.

- É melhor não saberes. – Pedro já sentia imensa falta destas provocações e sentia que esse sentimento era retribuído. – Mas já vi que estás com umas
olheiras enormes.

- Pois… o que é que hei-de fazer? O trabalho não pára e ainda irá continuar mais umas semanas. O tal projecto de que te tinha falado vai-se prolongar ainda mais e terei de aguentar.

- Sim… eu percebo. – disse Pedro, tantando mostrar empatia pela situação.

- Não tem sido nada fácil. O que vale é que eu e o Diogo estamos a dar-nos cada vez melhor o que tem ajudado a passar o tempo.

 

Uma sensação de cíumes atravessou por completo o corpo de Pedro. Esse tal de Diogo era o tal colega com que ela estava a passar as últimas noites. Ele nunca se sentira ameaçado, pois ela sempre lhe tinha dito que ele era um colega antipático e que não falava com ela, mas parecia que as coisas estavam a mudar. Ele estava a sentir-se um pouco ciumento, mas infelizmente, não podia dizer nada a Inês, pois ambos eram apenas amigos e sabia que qualquer insinuação da sua parte apenas iria conduzir a discussões entre os dois. Eles tinham estado
tão pouco tempo juntos nos últimos tempos, que não queria perder tempo a discutir com ela. Preferia aproveitar e disfrutar estes breves momentos com ela.

 

- Ainda bem. É sempre mais fácil trabalhar com alguém com que nos damos bem.

- Sim… é mesmo isso. E ao contrário do que eu pensava, ele é uma pessoa bem mais acessível do que pensava. È é demasiado introvertido, mas quando se dispõe a abrir para alguém, não é assim tal má pessoa.

- Ainda bem para ti. – Pedro estava a ficar cada vez mais desconfortável com a conversa, pelo que desviou a conversa para outros temas, que não
implicassem a menção ao colega de Inês.

 

Durante o almoço, os dois passaram mais tempo a conversar do que a comer os pratos que tinham pedido. Tal como antigamente. Os dois não paravam de rir e quem os visse naquele momento não teria qualquer dúvida que eram um casal que já estava junto há muito tempo.

 

Pedro queria que este almoço se prolongasse para sempre. Há algum tempo que não estava com ela e sabia que enquanto fossem apenas amigos, ele apenas iria estar com ela esporadicamente. E isso não era suficiente. Ele precisava de estar mais tempo com ela, pois era a única altura em que ele se sentia verdadeiramente feliz. Mas não sabia o que ela estava a pensar.

 

Ele esperava já ter-lhe provado que ela poderia confiar nele novamente, mas ela nunca tinha feito qualquer referência a esse facto. E os dois foram feitos um para o outro. Mas enquanto fossem apenas amigos, ele corria o risco de outra pessoa arrebatar o coração dela. E ele não podia correr esse risco. Tinha uma decisão difícil a tomar. Mas soube que tinha arriscar. Não a queria pressionar, mas já era o momento ideal para saber o que ela sentia.

 

- Mas posso fazer-te uma pergunta? – disse Pedro com um ar um pouco mais sério.

- Claro… Diz… Eu é que posso não responder-te – respondeu Inês com um sorriso.

- Achas que… - Pedro interrompeu o que ia dizer, pois teve segundas dúvidas sobre se estava realmente a tomar a atitude correcta. Mas sabia que tinha de dizer o que lhe ia na alma e arriscar. - … já me perdoaste ? Já confias em mim?

 

Inês receva este momento já há algum tempo. Sabia que os sentimentos de Pedro não tinham desaparecido e por mais que ainda gostasse dele e por mais que ele já lhe tivesse demonstrado que tinha mudado e que estava disposto a esperar por ela, ainda não confiava totalmente nele. O facto de ter aberto o seu coração e ter sido magoada por um homem novamente ainda não tinha sido totalmente ultrapassado. Ela achava que os dois ainda seriam felizes juntos no futuro. Só precisava de mais algum tempo. Uma parte de si dizia para aproveitar este momento para reatar com Pedro. Mas a parte do seu coração que tinha sido magoado e que ainda não tinha recuperado totalmente, pedia-lhe mais algum tempo. Dizia-lhe que se ele gostava mesmo dela, iria respeitar a sua decisão e esperar até que ela estivesse preparada. Não era fácil abrir o coração mais uma vez, pois as cicatrizes da ferida que ele lhe tinha causado ainda permaneciam.

 

- Sabes… essa é uma pergunta complicada. Sim, já te perdoei o que me fizeste.

- Mas? – Pedro sentiu pelo tom de voz dela, que iria existir um mas.

- Mas…acho que ainda preciso de mais algum tempo. Tu sabes que eu gosto de ti. Mas…

- Sim, eu sei. E é por isso que acho que era altura de nós juntarmos novamente. Para mostrar-te que as coisas serão diferentes desta vez.

- Mas ainda não estou preparada. E tu disseste que estavas disposto a esperar.

- Inês… Tu sabes que eu gosto de ti. Mas não posso esperar para sempre. Não posso ficar com a minha vida parada indefinidamente, à espera que tu te
decidas. Uma coisa é pedires-me um mês, ou três ou seis meses. Outra coisa é estares à espera que eu esteja para sempre à espera de ti. – Pedro sentia a dureza nas suas palavras, mas não tinha conseguido conter-se mais. Ele amava Inês, mas precisava de alguma sinal dela que ela iria voltar para ele, mais cedo ou mais tarde. Ele não queria ser apenas amigo dela. Isso ela já sabia. Mas se não existisse nenhuma hipótese dela lhe perdoar, então o que estavam eles a fazer?

 

Ele já lhe tinha dado algum tempo para ela tomar uma decisão. Mas hoje, ela tinha-lhe pedido mais tempo. Não, ele não podia continuar a viver assim. À espera que ela lhe ligasse. À espera de que ela lhe devolvesse a chamada. Ele precisava dela na sua vida. Mas se ela não fosse nunca esquecer o passado, porque é que ele haveria de estar nesta incerteza permanente em vez de seguir com a sua vida?

 

- O que queres dizer com isso? Estás a fazer- me um ultimato? Ou aceito voltar para ti, ou não esperas mais por mim? – notava-se pela voz de Inês que ela estava a começar a ficar exaltada.

- Não, não era isso que eu te queria dizer. Eu já esperei tanto tempo por ti, que posso esperar mais algum tempo. Mas queria era saber se esse dia irá
chegar eventualmente.

- Pedro… Não te consigo prometer nada. Eu gosto de ti, mas ainda não estou preparada. Neste momento, apenas consigo ser tua amiga. E se para ti isso não é suficiente, talvez seja melhor não nos vermos mais.

- Inês… tu sabes que eu estou disposto a esperar por ti. Se agora apenas estás preparada para ser minha amiga, então amigos seremos.

 

Pedro soube que as coisas não seriam mais as mesmas, como se comprovou pelas conversas que tiveram até ao final do almoço.

 

Tinha decidido arriscar, mas as coisas não tinham corrido como gostaria. Talvez até a tivesse afastado ainda mais. Foi um risco que tinha decidido correr.
Pedro lamentou-se da decisão que tinha tomado. Se tivesse ficado calado, talvez as coisas tivessem sido diferentes.

 

Mas na vida, em certas ocasiões surgem encruzilhadas. E Pedro sabia que se não tivesse dito nada, corria o risco de perdê-la para outra pessoa. Assim,
ao menos ela ficava a saber o que ele sentia.

 

Mas Pedro sabia que teria de viver com as consequências deste acto para o resto da sua vida…

publicado por Matt Xell às 19:23
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Segunda-feira, 29 de Novembro de 2010

Capítulo 27 - Dar tempo ao tempo...

Apesar de já ter passado um dia, Inês não conseguia de deixar de mostrar um sorriso sempre que pensava na conversa que tinha tido com Pedro. Ela sabia que os dois eram feitos um para o outro. Mas sabia também que nem sempre duas pessoas que gostam uma da outra ficam juntas. Ainda para mais, quando a confiança entre elas tinha sido quebrada no passado.

Por isso, sentia-se culpada de ter a esperança de que as coisas voltassem a ser como dantes. Tinha de ter paciência e ver como as coisas corriam. Mas era complicado gerir estes sentimentos, pelo que decidiu que precisava da ajuda da sua melhor amiga e dos seus bem-intencionados conselhos.

 

Combinou então com a Rita passar em casa dela, para falarem um pouco ao final da tarde. A amiga, que também já não a via há algum tempo devido aos horários complicados que Inês tinha tido nos últimos tempos, insistiu que ela fosse visitá-la.

 

Inês ficava sempre com remorsos quando ia visitar a amiga, pois a sua casa parecia uma arrecadação em comparação com a casa perfeita da amiga. Nunca tinha visto uma casa assim… Estava sempre decorada com as coisas certas no lugar certo e sempre limpa e arrumada. Parecia aquelas casas que se viam nas revistas de decoração que costumava ler quando estava na sala de espera do seu dentista.

 

Mas à hora combinada, lá chegou à casa da sua amiga. E logo depois de ter deixado o seu casaco em cima da cama que estava no quarto de hóspedes, foi logo metralhada com as perguntas que Rita queria fazer desde o dia anterior.

 

- Então… Como é que correu? – disse Rita, com um tom de impaciência, bem patente na sua voz.

- Correu bem… ou melhor… correu muito bem. Pareceu que nunca tínhamos deixado de estar juntos…

- E como é que te sentes?

- Não sei bem… estou muito confusa…

- E tens motivos para estar… Não te podes esquecer do que ele te fez.

- Não… não me esqueci. Mas… - tentou justificar Rita antes de ser interrompida.

- Não pode haver mas… Já te esqueceste do que sofreste com ele?…Eu pelo menos, não me esqueci do que passaste na altura. Sei que para ti, é fácil pensar que ele mudou, pois queres a todo o custo arranjar uma desculpa para que as coisas voltem a ser como antes.

- Rita… Posso assegurar-te que não me esqueci do que passei… nem do apoio que me deste… Mas não é fácil… queria tanto voltar para ele...

- Sim, eu sei, querida. Mas ainda é cedo para isso. Tens de esperar mais um pouco, para saber se ele mudou mesmo.

- Eu sei que ele está diferente. Deu para perceber ontem. Deu para perceber no jantar de anos dele. Acho que ele percebeu que errou e que quer que eu volte para a vida dele.

- Sim, acredito nisso. Mas a pergunta que tens de te perguntar é se tu queres que ele volte já. Ainda por cima, agora encontras-te numa fase em que estás a descobrir quem és e o que queres da tua vida.

- O que hei-de fazer?

- Tu sabes no teu íntimo qual é a decisão correcta a tomar. Não é a mais fácil… mas a longo prazo, será a melhor…

- Tens razão…Tens sempre razão…

 

Rita abraçou a amiga, pois sentiu que esta precisava do seu apoio naquele momento. Viu um pequeno brilhozinho nos olhos da amiga, pois as primeiras lágrimas começavam a aparecer, quando tomou consciência do caminho que deveria seguir.

 

- Vá… vamos falar de coisas mais alegres – disse Rita, tentando distrair a amiga. – Parece que já tens um tempinho livre durante a semana para sair com as tuas amigas. 

- Pois… o trabalho vai acalmar por uns tempos. Já estava mesmo a precisar…

- Também diria que sim. Já não te via há tanto tempo. Já quase passas mais tempo com os teus novos colegas do que com os teus amigos.

-Nos últimos tempos tem sido assim. Mas também já deu para fazer novas amigas lá dentro. Senão, não teria aguentado estas semanas infernais…

- Ainda bem… mas quando é que conheço algumas dessas tuas novas amigas?

- Temos de combinar um cinema para vos apresentar… Vais gostar delas… são muito divertidas…

- Então combina… por mim, pode ser quando quiseres… Não sou eu que tenho estado sempre indisponível nos últimos tempos…

- Tens toda a razão… escusas de dar-me novamente na cabeça…

- E vou finalmente conhecer esse tal homem com quem tens passado o tempo todo?

- Quem? O Diogo? Ele é apenas um colega…- disse Inês com uma voz indignada. Não o considero que seja um amigo. Não que não tenha já tentado aproximar-me dele, pois tendo em conta o tempo todo que iríamos estar juntos a trabalhar, seria sempre mais fácil passar o tempo com alguém com quem me desse bem… mas ele é muito…. Como é que hei-de dizer? Muito fechado e muito profissional… não é daquelas pessoas com quem eu normalmente me dou bem…

- Pois…já estou a ver o tipo de pessoa que ele é… Mas é assim tão complicado trabalhar com ele? Coitada de ti…

- Não é assim tão mau. Ele não é uma pessoa antipática. Parece-me mais uma pessoa introvertida, que está no seu próprio mundo. E não me posso queixar. Ajudou-me muito… sempre que eu tinha uma dúvida, ele parava o que estava para fazer e ajudava-me… Foi sempre muito prestável… mas era sempre um pouco frio na forma como me explicava as coisas… acho que ele não gosta assim muito de mim, mas como tem de trabalhar comigo, faz um esforço para parecer minimamente sociável…

- Não te queixes… podia ser pior… ele podia não te ajudar, só para fazer boa figura perante os vossos chefes, em comparação contigo…

- Não… ele não faria isso. Pelo que pouco que conheço dele, ele é uma pessoa muito íntegra…muito profissional… Ao menos, não me tenho de preocupar com isso.

- Outra coisa? Ele é giro?- disse Rita com um sorriso maroto.

- Acho que ele é normal… não é daquelas pessoas que me chamaria a atenção se o visse na rua…- respondeu Rita à provocação - Mas também não se pode dizer que seja feio… Mas mesmo que se parecesse com o George Clooney, com aquela personalidade, nunca me interessaria por ele…

- Pois… já vi que só tens olhos para o Pedro…

- Não tínhamos combinado em não falar de coisas tristes?

- Tens toda a razão… Olha, já te mostrei o quadro que comprei para o meu quarto de hóspedes?

- Ainda não… Mostra, mostra…

 

Depois de ter sido deslumbrada pelo quadro da amiga, Inês passou o resto da tarde a falar com a sua amiga sobre muitas coisas… Sem dar por isso, tinha conseguido passar umas horas sem pensar na sua relação difícil com Pedro. Se os próximos tempos fossem tão fáceis assim…

publicado por Matt Xell às 13:15
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Domingo, 24 de Outubro de 2010

Capítulo 26 - Bons Amigos

O fim-de-semana tinha finalmente chegado. Por isso, Inês tinha aproveitado para dormir até um pouco mais tarde. As últimas semanas tinham sido cansativas por causa do seu trabalho, e as suas horas de sono tinham sido muito reduzidas, pelo que lhe soube muito bem estar deitada na sua caminha. Era impossível recuperar as horas de sono perdidas nos últimos tempos, mas nesse dia apetecia-lhe ficar o dia inteiro a dormir e não fazer absolutamente mais nada. Mas tinha de levantar-se. Tinha uma série de tarefas a fazer. Uma das quais seria ir às compras, pois sabia que o seu frigorífico estava praticamente vazio e que a única coisa que teria em casa para comer seria provavelmente um iogurte líquido. E também não se podia esquecer de limpar a casa, pois o facto de não ter uma empregada que a ajudasse, notava-se perfeitamente na sua sala e na cozinha. E também teria de lavar a roupa suja que se tinha acumulado nos últimos tempos. Até porque queria levar um dos seus vestidos favoritos para o café com Pedro, marcado para o final da tarde.

 

O dia passou assim num instante, enquanto tratava dos seus afazeres. E quase sem dar por isso, estava a sair de casa para ir ter com o Pedro a um café em Telheiras. E nessa altura veio à cabeça a importância desta ocasião. Era a primeira vez que iria estar sozinha com Pedro desde que se tinham separado há uns meses atrás. E apesar de ainda gostar dele, queria que este fosse apenas um encontro entre amigos, pois no seu íntimo ainda se sentia algo magoada pelo que ele lhe tinha feito e ainda não confiava totalmente nele. Só esperava que Pedro tivesse as mesmas intenções, e que não estivesse à espera de algo mais. Ainda era cedo para isso. Era uma questão de ver o que a noite lhes iria reservar.

 

Quando chegou ao café, Pedro já la estava à porta à sua espera. Inês olhou para o seu relógio e viu que tinha chegado à hora marcada. O Pedro já devia ter chegado um pouco antes, o que poderia indiciar algum nervosismo e ansiedade por parte dele. Tudo o que ela queria era um encontro amigável, sem pressões de ambos os lados.

 

- Olá – Cumprimentou Inês, antes de dar dois beijinhos na face de Pedro.

- Olá.- Respondeu Pedro.

- Espero que não estejas à espera há muito tempo.

- Não… cheguei agora mesmo, um pouco antes de ti.

- Ainda bem que não tiveste de esperar. Vamos entrar?

 

Dirigiram-se os dois para uma mesa no canto do café, onde poderiam falar confortavelmente. O café não estava muito cheio, mas no sítio onde se sentaram não havia muita gente à volta, pelo que haveria menor ruído de fundo.

 

- Já há algum tempo que não nos víamos – disse Pedro, logo após terem pedido ambos um capucinno e um cheesecake de framboesa ao empregado de mesa.

- Tens razão… já lá vão várias semanas. Mas aí a culpa é toda minha. Estas últimas semanas lá na minha empresa foram algo complicadas. Já percebo os stresses que tinhas às vezes nalguns dias com os deadlines das tuas campanhas, quando… -Inês parou um instante pois estava prestes a dizer “quando ainda estávamos a namorar”, e percebeu que poderia causar algum embaraço. Mas emendou a tempo.

- … estavas sempre ocupado.

- Estás a ver? Não eram só desculpas. Há alturas em que praticamente não conseguiamos parar nem por um segundo. E não tínhamos tempo para mais nada… Já sabes o que passo.

- Sim, agora percebo perfeitamente.

- Mas o mais importante de tudo, é que tu estejas a gostar do que estás a fazer. Senão, é um sacrifício muito grande.

- Sabes, estou mesmo a gostar. Quando lá cheguei, estava sempre a pensar que seria sempre um emprego temporário, para me ajudar a pagar as contas, e que uns meses depois, estaria à procura novamente de algo na minha área….

 

Inês sentia que podia conversar à vontade com Pedro. Isso era algo que não tinha mudado. Ele sabia ouvi-la e notava-se que ele tinha um real interesse por se inteirar do que ela estava a sentir e do que ela estava a passar.

 

- … mas estou a gostar dos amigos que fiz por lá e surpreendentemente, estou realmente interessada nas tarefas que me deram. Claro que preferia trabalhar menos horas… mas sinto que faço parte da equipa e que as pessoas confiam no meu trabalho.

 

- Isso é o mais importante. Eu também só faço as noitadas que faço porque também gosto do que faço… Bem, o ordenado também ajuda…

 

Pedro conseguiu arrancar um leve sorriso a Inês. O quanto ele sentia falta de ver aquele sorriso tímido, mas ao mesmo tempo muito contagiante.

 

- Mas felizmente, a parte complicada já terminou. Agora só daqui a três meses, é que o stress volta novamente. E aproveito para aprender entretanto mais algumas coisas sobre contabilidade… Acho que me fez alguma falta, nestas últimas semanas… Lá me valeu a ajudas dos meus colegas.

 

- Sabes, nunca pensei que acabasses por ficar num emprego como esse. Sempre pensei que estivesses a fazer algo onde estivesses a trabalhar com pessoas ou miúdos, ou algo mais criativo. É que contabilidade e números parecem-ne uma coisa muita séria… não era daquelas áreas que ligue muito com aquilo que tu és…

- Eu também nunca pensei isso… Mas as pessoas mudam… E acho que mudei alguma coisa nos últimos tempos… Sempre fui uma pessoa muito emocional e agia com base no que sentia… Mas isso já me causou alguns dissabores…

 

Pedro sentiu-se um pouco culpado ao ouvir estas últimas palavras. Tinha sido ele a última pessoa a magoá-la, quando lhe tinha prometido no início do namoro que ele nunca a iria magoar como outras pessoas o tinham feito. Mas, lá no fundo, ele sabia que ela agora não lhe estava a dar uma indirecta.

 

- … Mais do que eu desejava. Mas sempre fui assim, desde miúda. Decidia sempre com o coração e não pensava muito nas consequências. Sempre fui muito impulsiva, sabes? E chega uma certa altura, quando nos apercebemos de que temos de mudar… Não uma pequena mudança nos nossos hábitos… mas sim uma mudança na nossa forma de agir e viver a vida… às vezes as coisas más acontecem por uma razão… nem que seja para nos fazer ter um reality check, e repensar um pouco…- Inês parou por uns instantes, pois o seu lado emocional estava novamente a vir ao de cima.

 

- … pelo que decidi ser menos impulsiva… usar mais a razão do que a emoção… E por acaso acabei por arranjar um emprego mais sério… mas foi pura concidência… Talvezs um sinal de que tinha de mudar…

 

- Às vezes, temos mesmo de mudar… Só tenho pena de ter sido um dos causadores dessa mudança.

- Já falámos disto, Pedro. Há coisas más que vêem por bem. Mas o passado é o passado. O que interessa agora é a nossa amizade…

- Sim… mas sinto-me algo responsável.

- Não te sintas. Às vezes, precisamos mesmo de mudar a nossa vida e isso não acontece por uma única situação. Não foi só por causa de ti que repensei um pouco a minha vida. Disso podes estar descansado.

- Tens razão. È como tu dizes. Nem vale a pena falar mais no passado.

- Concordo. Mas voltando ao que te estava a dizer… o mais importante é que estou realmente a gostar de estar envolvida em algo mais concreto, mais terra a terra. Realmente, mudei um pouco.

 

Pedro ficou um pouco mais descansado. Ele não tinha planeado no dia de hoje tocar no que tinha acontecido antes entre os dois, e quando ele mencionou sem pensar em algo que os tinha afectado aos dois no passado, pensou que pudesse ter estragado o encontro amigável que ambos estavam a ter. Felizmente, isso não aconteceu.

Mas acima de tudo, estava feliz por ter mais uma oportunidade com Inês. Mesmo não sendo a mesma Inês de antes, continuava a sentir a mesma empatia com ela… e queria fazer todos os possíveis para um dia ela confiar nele novamente.

 

- Seja como for, tu ainda és a mesma Inês de sempre. Apenas um pouco mais madura…

- Sim. Desde que com isso não estejas a insinuar de que estou a ficar mais velha.

- Agora que falas nisso, estou a ver umas rugas novas na tua testa…

Inês já sentia falta das provocações mútuas entre ambos. Sentia-se feliz, por aos poucos, as coisas estaram a voltar ao normal antes da separação. Mas sabia que as coisas nunca mais iriam ser as mesmas. Ou que pelo, menos ainda faltaria muito para que isso acontecesse.

 

- Olha quem fala. Já vi que o trabalho te tem dado muitas preocupações ultimamente. Pelo menos pela quantidade de cabelos brancos novos que tens…

 

A conversa continuou durante cerca de uma hora. Mas acima de tudo, a conversa foi natural, sem silêncios embaraçosos. Os dois continuavam a dar-se muito bem e isso notou-se perfeitamente. Quem os visse sentados naquele café, nunca imaginaria que era a primeira vez em muito tempo que estavam juntos e muito provavelmente grande parte das pessoas pensariam que eles estariam juntos numa relação.

 

Mas durante a conversa um certo tema não foi focado por nenhum deles. Falaram animadamente sobre uma série de coisas, mas nenhum quis ser o primeiro a perguntar ao outro se estavam a sair com outra pessoa. As coisas estavam a correr bem, e nenhum queria introduzir um tema inconfortável para ambos naquela noite.

 

Mas Pedro, esteve a pensar nisso durante a noite toda. Mesmo que não o parecesse, ele queria saber se ela estava a sair com alguém ou estava em vias de sair com alguém. Ele já tinha percebido que pelo menos ela não estava em nenhuma relação séria. Mas isso não era suficiente. Ele queria saber que ainda existia hipóteses de um dia os dois voltarem a estar juntos.

 

Mas não conseguia encontrar nenhuma ocasião apropriada para introduzir este tema na conversa. Supostamente, eles agora eram amigos. E não seria normal um amigo perguntar a outro amigo se eles estavam a sair com alguém? Ele fazia isso com a Patrícia. Mas será que ela poderia interpretar mal a sua pergunta? Ele não queria arriscar.

 

Mas pressentindo que o encontro deles estava quase a terminar, ele soube que não era algo para lhe perguntar directamente. Tinha de satisfazer a sua curiosidade de uma forma mais discreta. Porém, sabia que tinha de ser naquele momento. Por isso, logo a seguir a ter olhado mais uma vez para o relógio, decidiu-se finalmente.

 

- Já está a ficar um pouco tarde. Estou a gostar imenso da nossa conversa, mas hoje não posso dormir muito tarde.

- Ai não?. Não me digas que ontem saíste à noite e só te deitaste de madrugada. – Inês aproveitou a deixa, para tentar também descobrir algo mais, mas sem dar a entender as suas intenções.

- Não… nos últimos dias não tenho dormido assim muito. E não, não é pelos motivos que possas estar a conjecturar na tua cabeça. Tenho estado a trabalhar numas campanhas quase em simultâneo e tenho feito umas noitadas muito prolongadas. Este é o primeiro fim-de-semana nos últimos tempos que tenho um tempo livre, mas as próximas semanas irão ser complicadas. Por isso, não sei se nos próximos tempos mais próximos, se as coisas irão ser calmas… Será mais complicado combinarmos alguma coisa… Se bem, que, como imagino que a tua vida social deva agora estar bastante preenchida, depois das últimas semanas. Aliás, deves ter as próximas noites ocupadas, durante os próximos tempos. – Pedro lançou o isco, e esperou que a resposta dela lhe desse alguma indicação para a questão que inquietava a sua mente..

 

Por seu turno, Inês não caiu no erro de responder logo a Pedro. Ela já o conhecia bem, e sabia que a insinuação dele não tinha sido casual. Mas ao mesmo tempo, não sabia exactamente o motivo dele. Não, ela não tinha muitas coisas marcadas nos próximos tempos. Mas será que ele queria marcar mais uma coisa com ela, tão pouco tempo depôs deste reencontro que estavam a ter nessa noite? Ou teria outro motivo escondido?

Mas ela sabia que tinha de ser sincera. Ambos estavam a tentar fazer o esforço de serem amigos e se ela queria ser amiga dele, tinha de começar a confiar nele aos poucos.

 

- Nem por isso. Tenho só uma saída marcada com umas amigas, mas de resto, nos próximos dias tenho muitas tarefas caseiras para pôr em dia.

 

Pedro sentiu-se aliviado ao ouvir estas palavras. Se ela tivesse encontrado alguém, a primeira coisa que faria após estas semanas terríveis em termos de horários, seria passar tempo com essa pessoa.

 

- Já vi que transformaste-te numa dona de casa exemplar. Desde que não sejas também desesperada…

- Piadinhas…

- Reconhece. Já sentias alguma falta das nossas conversas.

- Por mais que me custe a admitir, lá muito lá no fundo, sentia mesmo a falta. Pena que tenha agora memso de ir a um jantar com a família. – disse Inês, com um grande sorriso nos seus lábios.

- Então, temos de combinar qualquer coisa daqui a uns tempos – disse Pedro, tentando não parecer muito ansioso e tentando que ela não achasse que ele pudesse estar a pressionar.

- Seria óptimo.

 

Ao saírem do café, Inês despediu-se um um leve beijo na face de Pedro, com a promessa de não deixar que passasse muito tempo antes de se encontrarem novamente. Pedro viu-a a passar para o outro lado da estrada onde ela tinha deixado o carro, e não conseguiu deixar de pensar, enquanto via o cabelo loiro de Inês esvoaçar ligeiramente com uma leve brisa que passava naquele momento, que esta noite tinha sido o primeiro passo para que tudo voltasse a ser como dantes.

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Domingo, 5 de Setembro de 2010

Capítulo 25 - O início da amizade

Pedro estava satisfeito pelo facto da noite passada ter corrido bem… Principalmente, estava feliz pelo facto do reencontro com Inês ter sido muito encorajador. Os dois tinham falado algumas vezes durante a noite e pareceu-lhe que ele já tinha recuperado parte da confiança dela. Mas sabia que ainda faltava muito para que as coisas voltassem a ser como dantes. E a culpa era toda dele.

 

Agora tinha de ser amigo de Inês. Por mais que isso lhe custasse, era o que Inês queria. E ele não tinha outra hipótese que não a de respeitar o seu pedido. Quão difícil poderia ser amigo de uma mulher? Ele já tinha conseguido manter uma relação de amizade com a Patrícia. Não poderia ser assim tão complicado.

 

Enquanto estava no escritório, Pedro resistiu à tentação de ligar-lhe por causa do tal encontro que tinham ficado de ter. Era ainda muito cedo para ligar-lhe. Ele tinha de ter paciência e fazer as coisas com calma, sob o risco de afastar Inês novamente da sua vida. E também lembrou-se que não tinha ficado combinado quem ligaria ao outro. Ela poderia estar a contar a ser ela a marcar o encontro e ele não queria estar a pressioná-la.

 

Não, ele tinha esperar. E estava disposto a esperar o tempo que fosse preciso para a ter de volta.

 

Mas isso não impediu que ele estivesse o tempo todo ansioso à espera da chamada dela. Mas infelizmente, a sua espera foi em vão. Uma semana tinha passado e ele não tinha recebido um telefonema ou um SMS dela. Para tentar fugir a esse facto, ele concentrou-se no trabalho, para não ter de pensar noutra coisa. Era a forma mais fácil de não lidar com a ansiosidade que tinha.

Mas chegou a uma altura em que ele não conseguia aguentar mais. As coisas tinham corrido bem no jantar. Já tinha passado algum tempo, e podia ser que ela estivesse ocupada com o seu novo emprego e no meio de tanta coisa, não tinha tido oportunidade de lhe ligar. Por isso, racionalizou que não havia nenhum mal em ser ele ligar-lhe para combinar um café.

 

Pedro agarrou no seu telemóvel e ligou para o número de Inês. Mas ela não lhe atendeu o telemóvel. Aliás, ela desligou-lhe imediatamente, não tendo deixado tocar mais uma vez. Tentou mais uma vez, mas obteve o mesmo resultado.

 

Ele começou a ficar algo nervoso. Porque seria que ela estaria a evitar as suas chamadas? Será que ele tinha cometido o erro de ligar-lhe em vez de esperar que ela estivesse preparada para sair com ele a sós pela primeira vez desde que tinham terminado? Ou será que ela estava ocupada de momento e ligaria-lhe logo a seguir, assim que ela pudesse?

 

Pedro decidiu aguardar alguns minutos antes de tentar novamente, pois podia ser que Inês devolvesse a sua chamada. Mas os minutos foram passando e ele continuava a não ter nenhum sinal dela. Passado duas horas após a sua tentativa, Pedro decidiu ligar-lhe novamente… mas mais uma vez, aconteceu o mesmo que antes. A sua preocupação aumentou, pois por um momento, passou-lhe pela cabeça que ela tinha mudado de ideias e que não queria estar com ele, nem mesmo como amigo. Ou talvez ela tivesse encontrado alguém entretanto e não quisesse falar com ele, para evitar aquela conversa embaraçosa que acontece sempre nessas situações.

 

Mas ele não podia fazer nada. A bola estava nas mãos dela, e se ele continuasse a insistir corria o risco de afastá-la de forma irremediável. Se é que isso ainda não já tivesse acontecido. Tinha de continuar com a sua vida sem ela e nunca perder a esperança. Por isso, voltou a enterrar-se no trabalho, particularmente na campanha actual que tinha em mãos, e não saiu do escritório até serem onze da noite.

 

Quando chegou a casa, olhou para o telemóvel e viu que não tinha chamadas não atendidas ou mensagens novas. O seu ânimo diminuiu ainda mais, mas apenas podia suspirar e resignar-se à situação. Tomou um duche e depois de ter comido uma sandes ao jantar foi logo deitar-se.

 

Mas essa noite o seu sono não tranquilo, pois a insegurança que tinha reflectia-se de forma inconsciente nos seus sonhos. E nessa noite tinha mais uma vez sonhado com Inês, mas o final não tinha sido feliz. Pedro acordou de madrugada, sobressaltado com o desfecho do seu sonho, e pensou que não poderia deixar que isso acontecesse na realidade. Ele realmente amava Inês, como nunca tinha amado outra mulher na vida. E não conseguia imaginar como seria a sua vida sem ela. Sim, isso poderia parecer um cliché, mas na verdade, ele sentia um vazio que não o deixava ser feliz, mesmo com o emprego e o dinheiro que tinha. Faltava alguém com que partilhar a sua vida. Por isso, só lhe restava desviar os pensamentos para a campanha em que estava a trabalhar e em ideias novas para o anúncio televisivo.

 

E foi assim que mais um dia passou, sem ter tido novidades dela. E foi assim que passaram as três semanas seguintes em que se dedicou de corpo e alma ao trabalho, para não ter tempo de pensar nela. Os seus dias eram praticamente cópias uns dos outros. Ele passou a ser dos primeiros criativos que chegava à agência logo de manhã e passou a ser um dos últimos a sair. Os seus fins-de-semana eram também passados a trabalhar. Mas a cada dia que passava, era cada vez mais difícil escapar e evitar a realidade que cada vez mais lhe parecia mais evidente: ela já não estava interessada nele. E isso só fazia com que ele se enterrasse cada vez mais em trabalho. Era uma bola de neve que não parava de crescer.

 

Mas Pedro sabia que um dia teria de aceitar a realidade nua e crua. O tempo que tinha passado desde que lhe tinha tentado ligar pareceu-lhe uma eternidade. Tinha sido já há quase um mês. Olhou para o relógio e viu que já eram meia-noite. Não tinha noção de que era tão tarde. Olhou à volta e viu que era a última pessoa na agência. Tinha completamente perdido a noção do tempo. Estava a fazer o shutdown do seu portátil, quando ouviu o seu telemóvel a tocar. Quem poderia estar a ligar-lhe àquela hora da noite? Nunca era um bom sinal.

 

Mas o seu coração praticamente parou quando viu no ecran do telemóvel quem lhe estava a ligar, para logo de seguida começar a bater aceleradamente. Era o efeito que Inês tinha nele.

 

- Estou? – disse Pedro, depois de se recompor.

- Olá, Pedro. Tudo bem? Desculpa lá estar-te ligar a esta hora da noite.

- Não há problema. Está tudo bem? Aconteceu-te alguma coisa?

- Não, não aconteceu nada. Espero não te ter acordado.

- Já sabes como sou. A noite ainda é uma criança…

- Pois… não sei porquê, acho que já deves estar na tua caminha…

- Estás a ver como estás muito enganada? – disse Pedro, com um sorriso, que já sentia falta destas provocações mútuas – Por acaso, estou ainda na agência, a trabalhar.

- Tu? Trabalhar a esta hora? Não acredito. Só se estiveres a fazer uma campanha televisiva e estiveres a seleccionar modelos em bikini para entrar no anúncio.

- È isso que tu achas de mim? Já te disse que já não sou mais esse homem desde há uns tempos… quando conheci uma certa pessoa… Posso dizer-te que não está cá ninguém comigo e que sou a única pessoa que ainda não saiu do escritório.

- Bem normalmente, não acreditaria nisso, mas como tu me prometeste que nunca mais me irias mentir, vou acreditar em ti.

- Fazes muito bem. Tu é que deves estar com as tuas amigas na discoteca, com essa música toda como barulho de fundo. – Pedro disse estas palavras com alguma ânsia, pois tinha algum receio de que ela pudesse estar a sair com o novo namorado e tinha algum medo da resposta dela.

- Até não me importava nada de estar agora a dançar. Mas por acaso estou ainda a trabalhar.

- A esta hora? Mas ainda estás no mesmo sítio, não estás? Porque é que estás ainda a trabalhar a esta hora, ainda para mais sendo apenas uma temporária?

- Ainda não te tinha dito, mas fui promovida há duas semanas atrás, para umas novas funções de maior responsabilidade. Portanto tive que aprender todas as minhas tarefas de novo. Ainda por cima, como agora estou do departamento de contabilidade e acabámos de fechar as contas do semestre, as coisas não têm sido nada fáceis. O trabalho é muito, e o tempo é pouco. Tenho estado nos últimos dias a fazer estas noitadas até esta hora, mas finalmente as contas já fecharam e as coisas vão acalmar…

 

Pedro respirou de alívio. Não só Inês não tinha encontrado outra pessoa, como também o motivo pelo qual ela não lhe tinha ligado era apenas o excesso de trabalho. Ela não o tinha esquecido, apenas estava realmente ocupada e não tinha tido oportunidade de lhe ligar.

 

- Tenho pena que o teu novo trabalho te obrigue a trabalhar tanto. Já pensaste em tentar encontrar um novo emprego, onde trabalhasses menos? O dinheiro não é tudo na vida. Eu posso afirmar-te isso com conhecimento de causa…

 

- Sim, poder, eu podia… mas eu estou a gostar do que estou a fazer. Vou ser compensada com horas extraordinárias pelo trabalho que estou a fazer. Mas acima de tudo, os meus chefes confiam em mim e no meu trabalho. E é bom sentir esse reconhecimento pelo meu esforço.

 

- O mais importante é que tu gostes do que estejas a fazer.

- Sim… ao contrário do que esperava, estou mesmo a gostar…

- Mas não me digas que és a única que estás aí a trabalhar a estas horas… Espero que não estejam a aproveitar-se de ti, pelo facto de seres a rapariga nova…

- Pedro, sabes que a única pessoa que se aproveita de mim és tu… - disse Inês, não conseguindo evitar uma suave gargalhada de que Pedro já sentia falta – Mas falando a sério, não sou a única que estou a trabalhar. Nesta última semana, tem estado o departamento todo por cá, se bem que eu e um colega é que temos ficado todos os dias mais tarde do que os outros, pois o trabalho deles depende do nosso.

- Queres dizer que estás aí sozinha com um colega a esta hora?

- Sim, estou aqui com o Diogo. È um colega que foi promovido na mesma altura do que eu. É uma pessoa um bocado estranha, pois praticamente não me dirige uma única palavra quando não o tem de fazer. Nós só falamos acerca do trabalho. De resto, ele é uma pessoa muito fechada. Mas não me posso queixar, pois como ele tem a formação na área da contabilidade, tem-me ajudado em certas coisas que deveriam ser básicas para alguém nesta área e tem-me safado em algumas situações. Mas acho que não gosta assim muito de mim, pois tirando quando fala comigo sobre trabalho, não me dirige a palavra. Acho que só a custo é que ele me diz Bom dia ou Até amanhã.

 

Pedro ficou novamente aliviado. Quando Inês lhe tinha dito que estava sozinha com outro homem a esta hora da noite, ficou preocupado. Mas tendo em conta que lhe parecia que esse tal de Diogo não estava minimamente interessado em Inês, eles podiam ficar sozinhos no trabalho o tempo que tivessem de estar.

 

- Pelo menos ele tem-te ajudado e sido bom colega. Tiveste sorte.

- Acho que sim. Mas foi por isso que não tive oportunidade para falar com os meus amigos nos últimos tempos. Tu incluindo. Por isso, agora que o trabalho irá acalmar, queria saber se querias então tomar o tal café neste fim-de-semana, a ver se colocamos a conversa em dia.

- Por mim, acho que é uma óptima ideia.

- Espero que não tenhas estado este tempo todo à espera que eu te ligasse. – disse Patrícia com um sorriso maroto.

- Podes estar descansada que não. Estive também muito entretido nestes últimos tempos e preocupado com outras situações.- respondeu Pedro com a voz o mais natural e calma possível. Se Inês alguma vez soubesse das mudanças na sua vida que a espera por um telefonema dela lhe tinha causado, ela iria ficar assustada.

- Óptimo. Já me sinto menos mal. Realmente, tirando a Rita, quase não tenho falado com outras pessoas sem ser de trabalho nestas últimas semanas. Tenho uma série de pessoas com que retomar o contacto.

- Está descansada. Mas ainda bem que ligaste.

- Também acho que sim. Até Sábado.

 

Após Inês ter desligado, Pedro sentiu-se como se lhe tivessem tirado um peso dos ombros. Ainda tinha uma hipótese de voltar a reatar as coisas com Inês. Ainda faltava um longo caminho, mas pelo menos a caminhada não tinha sido interrompida ainda no início.

 

E o resto da sua semana foi completamente diferente do último mês. Pedro retomou os horários de sempre, pois já não tinha de soterrar-se em trabalho para não pensar na relação com Inês. Aliás, agora não conseguia deixar de pensar no encontro de Sábado. Quer Carlos, quer Patrícia notaram esta mudança repentina de humor e de hábitos e ambos sabiam que só podia estar relacionado com Inês. Só ela poderia causar esta transformação.

Quanto a Pedro, ele só esperava que o fim-de-semana chegasse o mais depressa possível, pois ao contrário dos últimos tempos, o tempo parecia agora passar mais devagar.

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Terça-feira, 16 de Fevereiro de 2010

Capítulo 19 - O fim

 

Quatro dias se passaram, sem que Pedro tivesse tido qualquer novidade da rapariga que tanto tinha magoado. A muito custo, tinha conseguido conter os seus instintos e ligar-lhe. Seguia o conselho de Carlos, que lhe tinha aconselhado a esperar algum tempo para que Inês já estivesse mais calma e com a cabeça fria… Não valeria a pena insistir antes, sob o risco dela continuar a evitar atender os seus telefonemas…
 
E Pedro sentia que ainda não era altura de a pressionar novamente para falar com ele. Quando ela estivesse preparada, ela iria ligar-lhe… Era essa a esperança dele…
 
Estes dias permitiram-lhe pensar na sua vida… O tempo que esteve sem a presença dela, fez-lhe pensar que a sua vida estava vazia… Fazia exactamente as mesmas coisas antes de conhecer Inês, mas tudo parecia-lhe diferente… Faltava-lhe alguém com quem partilhar a sua vida…
 
O trabalho já não lhe dava tanto prazer como dantes… Às vezes, ficava em silêncio por alguns momentos e que qualquer pessoa percebia que a sua cabeça estava noutro sítio…
 
E Patrícia tinha sido uma das pessoas que tinha notado a transformação no seu amigo. Tinha desaparecido por completo aquele entusiasmo que estava presente em tudo o que ele fazia e que era notório nas últimas semanas…
E apesar dele ter acabado tudo com aquela rapariga, ela não se sentia tão feliz como ela pensaria… A causa do que estava a acontecer com Pedro não era ela… E imaginava que ele nunca iria sentir nada tão intenso por ela, como tinha sentido por Inês… E isso estava a magoá-la tanto como o facto da pessoa de quem gostava estava a sofrer…
 
E ainda por cima, o comportamento de Pedro com ela tinha sido diferente neste últimos dias… Ela não sabia porque Pedro tinha passado a ser mais reservado com ela e não lhe tenha desabafado com ela nesta fase mais complicada da sua vida… Ela era sua amiga e ele confiava nela… Mas ultimamente, ele quase não lhe dizia nada e sentia que os dois estavam a afastar-se, sem que ela soubesse o motivo. E começava a aperceber-se que mesmo sabendo que Pedro não a considerasse mais do que uma amiga, queria estar com ele, mesmo que fosse só como amiga…
 
O que Patrícia não sabia era que Pedro, mesmo sabendo que a culpa não era da sua amiga, sentia que nada do que aconteceu teria acontecido se não tivesse ido almoçar com ela… Era um sentimento irracional, mas era o que sentia… Ele sabia que a culpa era dele, mas inconscientemente, também atribuía um pouco da culpa a Patrícia… Para além disso, sempre que a via, lembrava-se de Inês e da dor que sentia por não estar ao pé dela… Por isso, nestes últimos dias, ele tinha-se mantido relativamente afastado dela… Ela não merecia isso… Ela já o tinha apoiado tanto no passado e ele confiava nela… Mas a dor que sofria impedia-o de pensar de forma racional… Mas ele sabia que Patrícia iria perdoar-lhe pois era uma verdadeira amiga que sabia que ele estava a precisar de algum tempo sozinho e que quando ele precisasse da ajuda dela, ela estaria lá….
 
Ainda por cima, o seu nervosismo e a sua ansiedade não paravam de aumentar à medida que os dias passavam… O trabalho era a única coisa que o ajudava a passar os dias e mesmo assim, não conseguia parar de pensar no que se tinha passado… E o final do dia de trabalho chegava num instante, sem ele se aperceber.
 
Eram cerca das dez da noite quando Pedro chegou a casa… Hoje era uma daquelas noites em que só lhe apetecia deitar-se na cama, adormecer o mais rápido possível para que o amanhã chegasse depressa… Poderia ser que amanhã tivesse notícias de Inês…
Depois de ter jantado uma coisa rápida, deitou-se no sofa da sala….
Passado uns instantes tinha adormecido… As últimas noites não tinham sido fáceis, pois às vezes lembrava-se de algo que lhe fazia pensar na Inês e não conseguia deixar de pensar nela o resto da noite…
Tinham passado cerca de meia hora, quando despertou ao ouvir o seu telemóvel a tomar… Pegou no telemóvel e sentiu um friozinho na espinha quando reconheceu o número de Inês…
 
Estava agora com medo do que iria acontecer… Ele que tanto tinha ansiado por ter notícias dela, estava agora preocupado por ela querer falar com ele… Tinha medo do que ela poderia dizer… tinha medo da decisão que ela tinha tomado… Pedro começou a pensar que preferia não ter notícias dela mas acreditar que ela um dia iria voltar para ele, do que ouvir da boca dela as palavras que mais temia e por um ponto final na sua esperança de ser feliz com ela…
 
Pedro suspirou fundo e atendeu a chamada.
 
-         Estou?
-         Pedro?…
-         Olá Inês… Sim, sou eu. – disse Pedro ao reconhecer a voz da rapariga que tanto amava. Porém, ele não conseguia perceber pelo tom de voz dela, o que ela lhe iria dizer…
-         Sabes… Pensei muito nesta chamada, desde aquela noite… Mas…
-         Eu também tenho pensado muito no que me irias dizer se me ligasses… e eu sempre imaginei no que aconteceria se não me desse uma oportunidade para explicar-me… Eu nunca conseguiria perdoar-me…
-         Peço-te um favor… deixa-me dizer o que te tenho para te dizer…
-         Desculpa… Devo-te isso…
-         Sabes que tenho revivido na minha cabeça o momento em que te vi com aquela mulher.. e o momento em que me mentiste…
-         Desculpa…
-         Deixa-me terminar… e não consigo deixar de pensar no que me fizeste… Tinhas-me prometido que nunca me ias magoar… e eu acreditei em ti… Tu nem imaginas o que senti…
-         Tens razão.. Tens toda a razão… Mas tens de saber que eu…
-         Nem imaginas a dor que sentia no meu coração… a desilusão que tive em ti… o quanto eu me culpei por me ter deixado apaixonar por ti…
 
Pedro não conseguir dizer nada… Sentiu que naquele momento que não podia fazer nada para convence-la… Ela já tinha tomado a decisão… E ele não podia fazer nada para mudar a situação… Só lhe restava permanecer calado e aguardar que ela lhe dissesse o que lhe ia na alma….
 
-         Mas vi que a culpa não era minha… Eu pensava que tu eras diferente… Mas foste tu que me mentiste… foste tu que estiveste com outra mulher sem me dizeres nada… E comecei a odiar-te pelo que me fizeste… Sentia que nunca te iria conseguir perdoar, por mais tempo que passasse…
 
Pedro começou a recear o rumo que a conversa estava a tomar… Sentia a fúria nos olhos dela, quando ela olhava para ele… Ele apenas podia desviar o olhar, mostrando que sabia o que tinha feito mal e que estava arrependido…
 
-         Mas noutras vezes, dizia-me a mim própria que o que tinha visto tinha uma explicação… que tu devias ter uma boa desculpa para me teres mentido… que eu tinha tido razão no meu primeiro instinto quando pensei que tu eras uma pessoa diferente dos outros homens…
 
Pedro sentiu a esperança a voltar… Será que ela lhe tinha perdoado?… Ao ouvir o suave timbre de voz que saía agora dos lábios dela, sentiu uma sensação de calor no seu corpo…
 
-         Mas acima de tudo percebi que eu sofri tanto apenas por um motivo… Eu estava realmente apaixonada por ti… E sentia que nós poderíamos ser felizes… Por isso achei que me devia a mim própria ouvir-te… Sabes que ainda não te perdoei pelo que me fizeste… Mas precisava de ouvir a tua explicação… E não seria justo da minha parte, tomar uma decisão sem te ouvir…
 
Pedro soube desta forma que ela ainda não estava completamente certa da sua decisão… E que tinha agora a última hipótese de recupera-la e não perdê-la para sempre. Ele sabia que tinha de ser completamente honesto com ela, ao contrario do que tinha feito há uns dias…
 
-        
 
Pedro sentiu alguma dificuldade em dizer o que queria… Tinha um nó na garganta , pois tinha medo de dizer alguma coisa que a pudesse afastar… Mas sabia que tinha de controlar o seu receio…
Após um breve silêncio, Pedro sentiu a sua voz voltar e apesar de já ter recriado esta conversa inúmeras vezes na sua cabeça, desde o momento em que que tinha magoado Inês naquela noite, não sabia como começar…
 
-         Nem imaginas o quanto eu estou a sofrer por saber que te magoei… Eu nunca te deveria ter mentido e por isso peço-te desculpa… Mas tens de acreditar em mim… Aquela rapariga é uma das minhas melhores amigas, a Patrícia… Nós não somos apenas colegas, como também falamos várias vezes sobre a nossa vida pessoal um com o outro… Mas nada mais do que isso.
 
Inês ouviu estas palavras, sem deixar escapar um som… Não sabia se devia acreditar no que Pedro lhe estava a dizer… Ela queria tanto acreditar nele… e que aquela rapariga não era mais do que uma grande amiga dele e era esse o motivo pelo qual eles pareciam tão íntimos… Não que ela tivesse alguma vez tido uma amizade desse tipo com um rapaz… Tinha bons amigos, mas nunca alguém com quem tivesse tal confiança para contar certas partes da sua vida… Para isso tinha as suas amigas….
Mas a desconfiança nunca desapareceu completamente da sua mente… Apesar dele lhe parecer estar a ser o mais sincero possível…
 
-         Eu não te devia ter mentido… Aliás, nem sei porque o fiz, pois não estava a fazer nada que não devesse… Ela não é mais do que uma amiga e nunca senti nada por ela.. Aliás, quase te posso garantir que ela nunca pensa em mim dessa forma… Mas damo-nos muito bem e ela era uma das primeiras pessoas que eu gostaria que tu conhecesses, pois ambas significam muito para mim…
 
Infelizmente, Inês estava a acreditar nas palavras de Pedro. Ela sentia no seu íntimo que ele estava agora a ser honesto com ela e que ele e aquela rapariga eram apenas amigos. Sentiu-se aliviada, pois um dos seus medos era o facto de Pedro gostar de outra pessoa e que tudo o que ele lhe tinha ditto no passado eram simplesmente mentiras… Mas mesmo assim, ele tinha-lhe mentido… Depois do que tinha passado com o Alfredo, ela não conseguia perdoar-lhe a quebra da sua confiança... Ele tinha-lhe mentido, tal como o Alfedo e tal como grande parte dos seus anteriores namorados… Ela tinha confiado neles e tinha sempre prometido que isso não iria acontecer novamente…. Mas sempre esquecia a sua promessa e pensava que a pessoa em questão era diferente de todas as outras… E tinha sempre acabado por voltar a sofrer… Por isso, sentia uma grande relutância em deixar Pedro entrar novamente na sua vida…
 
-         Eu sei que te magoei… E peço imensa desculpa por isso… Mas estou agora a dizer-te a verdade… Eu amo-te muito e não me consigo imaginar a viver sem ti… Tenho sofrido imenso nestes ultimos dias por não me teres respondido às minha chamadas… E quando imagino o meu futuro sem ti, fico com um vazio tão grande que tu nem imaginas…
-         Era o que eu também sentia por ti… até me teres enganado – interrompeu Inês após o longo monólogo de Pedro, com alguns soluços pelo meio… As lágrimas tinham chegado aos seus olhos e as emoções estavam a vir ao de cima…
-         Inês, se tu ainda gostas de mim, deves-te a ti própria dar-me mais uma oportunidade… Prometo-te que nunca mais te vou mentir…
-         Mas o que me vale a tua palavra? Não sei se consigo acreditar novamente em ti após o que aconteceu… Tu perdeste a minha confiança e não sei se alguma vez a conseguirás recuperar…
-         Eu sei que fiz algo de errado, mas estou disposto a tudo para não te perder… Faço tudo o que quiseres para não sair da tua vida…
 
Inês sentiu que não estava em condições para tomar agora uma decisão… Naquele momento, o seu coração dizia-lhe que devia aceita-lo de volta, pois também ela não aguentava estar longe dele… E dizia-lhe que ele também a amava dela e que ela a única mulher da vida dele… Mas a sua cabeça dizia-lhe que ela devia deixar de pensar nele, pois ele tinha-lhe mentido antes, pelo que ela ia estar sempre na dúvida no futuro se devia acreditar nele… E qualquer relação em que não exista confiança estaria condenado ao insucesso, por mais que duas pessoas gostassem uma da outra…
 
-         Tudo? – perguntou Inês.
-         Sim, tudo o que tu pedires… Faço tudo o que for preciso para mostrar-te que podes confiar em mim… Tu vales esse sacrifício…
 
Fez-se um silêncio durante uns breves segundos…Inês já tinha tomado uma decisão antes de ligar a Pedro… Mas tinha prometido a si própria ouvi-lo antes de lhe comunicar o que tinha decidido… Mas as coisas tinham mudado… E apesar do seu conflito interior, tomou a sua decisão final… Não sabia se seria a decisão mais correcta, mas naquele momento, pareceu-lhe que seria a única coisa que poderia fazer, para não sair magoada no futuro…
 
-         Acho que só existe uma forma de voltar a confiar em ti… Tu tens de conquistar a minha confiança aos poucos… E acho que só existe uma forma de fazer isso…
-         Qual? O que tenho de fazer?
-         Não estou preparada para ter uma relação com alguém que me magoou… Acho que não te conheço verdadeiramente… As minhas emoções por ti, fizeram com que eu criasse uma imagem de ti. Talvez tu não fosses a pessoa que pensava que eras…
 
Pedro começou a ficar assustado com estas palavras… Não tinha ideia para onde esta conversa ia… E começou a ficar receoso de a ter perdido para sempre…
 
-         Mas sou… Peço-te mais uma… - disse Pedro, antes de ser interropido.
-         Deixa-me terminar… Eu mereço isso, depois do que me fizeste… Talvez tu não fosses a pessoa que pensava que eras… Mas se calhar até és… E a única forma de eu saber quem és, é conhecer-te melhor… E não estou preparada para me envolver emocionalmente contigo, sem isso.
-         E o que sugeres?
-         Tu mereces uma segunda oportunidade. E eu gosto de ti, pelo que não te quero fora da minha vida. Por isso, acho que nós deveríamos ser apenas amigos… Dessa forma, eu irei conseguir saber se tu conseguirás reconquistar a minha confiança…
-         Se essa for a única hipótese de estarmos juntos… então eu aceito… Mas eu prometo-te agora que isto não irá demorar muito tempo… Tu sabes que nós fomos feito um para o outro e vou mostrar-te que sou merecedor da tua confiança… E nós voltaremos a estar juntos… Mas por agora, aceito as tuas condições… Amigos, hum?
-      Sim...apenas amigos… - suspirou Inês, mesmo antes de terminar a conversa com Pedro…
 

 

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Segunda-feira, 19 de Outubro de 2009

Capítulo 17 - O dia seguinte : Parte I

Eram nove da manhã quando Pedro chegou ao seu escritório. Tinha sido uma noite muito difícil para ele, pois tinha perdido a conta ao número de vezes que tinha ligado para o telemóvel de Inês, sem qualquer sucesso. Ele sabia que tinha procedido mal, mas o erro que tinha cometido não era motivo suficiente para ela ter acabado tudo, sem lhe dar uma nova oportunidade.

Quando chegou ao pé de Carlos, este notou logo que algo se tinha passado. A cara sorridente que o seu amigo tinha tido nos últimos tempos, tinha desaparecido. E ele sabia que Pedro iria precisar muito do seu apoio para ultrapassar esta fase menos boa porque estava a passar. Por isso, achou que o melhor seria mesmo conseguir ele ele desabafasse e perguntou ao amigo se queria fazer uma pausa para tomar um cafe.
Pedro assentiu com ligeiro acenar de cabeça, e desceram até um cafézinho perto do escritório, que estava sempre muito vazio.

- Então, o que é que aconteceu ontem contigo? Porque é que estás assim?
- Ela acabou tudo comigo... – respondeu Pedro num tom muito baixo – Não consigo acreditar...
- O que é que tu fizeste?
- Lá estás tu a assumir que a culpa foi minha.
- E não foi?
- ... Sim, a culpa foi minha, mas acho que ela exagerou bastante e não me deixou explicar porque lhe tinha mentido.
- Mas o que é que lhe disseste para ela não te ter perdoado?
- Eu não fiz nada de mais. Eu tinha-lhe dito que tinho ido almoçar com um colega, pois não queria que ela pensasse que eu estava a sair com outras mulheres... Mas ela viu-me ontem a almoçar com a Patrícia e ficou completamente passada comigo.
- Já devias saber melhor... Mais facilmente se apanha um mentiroso do que...
- Mas foi uma mentirinha inocente. Tu sabes que eu e a Patrícia somos apenas amigos...
- Sim, mas a Inês não. E ainda pioraste as coisas, quando lhe mentiste. Mais valia teres-lhe dito a verdade...
- Mas eu não queria estragar as coisas com ela. Estava tudo a correr tão bem, que não queria causar-lhe uma crise de ciúmes...
- É fácil de perceber que já não estás numa relação séria há muito tempo... Sabes que a confiança é daquelas coisas que mais demora a construir, mas basta uma pequena coisa para a destruir completamente. E começar a mentir, logo no início da relação, por mais pequena que seja a mentira, é meio caminho andado para algo correr mal...
- Agora sei disso, mas ela nem me dá uma oportunidade para eu me desculpar...
- Imagino que ela nem atenda as tuas chamadas...
- Ela rejeita logo as chamadas... Já tentei enviar várias mensagens a dizer-lhe que preciso de falar com ela, mas nem sei se ela as leu....
- Tens de ter calma... Tens de ser paciente e dar-lhe algum tempo para acalmar.
- Achas que ela irá alguma vez atender as minhas chamadas?
- Acho que se ela gosta tanto de ti como tu dizias, então mais cedo ou mais tarde, vai acabar por ceder, e dar-te uma hipótese para explicares...
- Achas mesmo?
- Tenho a certeza disso. Só não te posso garantir que as coisas voltem a ser como dantes...
- Eu sei disso, mas se ela me ouvir, tenho a certeza de que ela compreenderá que só lhe menti, pois gosto tanto dela que não a queria magoar.
- Vê-se mesmo que tu não és o Pedro que eu conhecia... A pensar no que os outros sentem antes de pensar nele...
- O amor que sinto por ela mudou-me muito. Podes achar que eu estou a exagerar, mas quando estou com ela, quero ser uma pessoa melhor por ela... Nem imaginas o que me está a custar saber que ela não me quer ver mais...
- Achas que não? Todos os que amaram verdadeiramente alguém, muito provavelmente também já sofreram por esse amor. E nem todos acabaram por conseguir o que queriam.
- Já percebi que és um expert nessa matéria.
- Quem me dera poder dizer que nunca sofri assim. Mas posso dizer-te que as coisas melhoram e que nem tudo está tão mal como pode parecer...
- És mesmo um romântico incorrigível. Mas eu não sou assim. E tenho muito medo de perde-la... Mas já sabia que isto só poderia correr assim. Sempre que me acontece alguma coisa boa, acabo por estragá-la...
- Pedro.. Tem calma... se ela gosta mesmo de ti, então tens de ter paciência. Quando ela também se acalmar, já terás maior facilidade em explicar-lhe tudo. Talvez o melhor seja dares-lhe algum tempo para ela reflectir. Tenho a certeza de que ela vai responder ao teu telefonema... Mas dá-lhe algum tempo. Não estragues ainda mais as coisas...
- Mas eu não consigo fazer nada enquanto não souber que as coisas estão resolvidas entre nós os dois...
- Ouve-me... Se queres ter alguma hipótese com ela, tens de ouvir o que te digo. Tu cometeste um erro... Tens agora de arcar com as consequências... mesmo que isso implique sofrer enquanto ela não te perdoa.

Pedro reflectiu nas palavras do amigo e soube que ele tinha razão. Mas ele tinha medo dela nunca mais querer falar com ele.. Mas lá no fundo, ele sabia que Carlos tinha razão...

Carlos tentou consolar o seu amigo e dar-lhe alguma esperança de que Inês iria ser capaz de lhe perdoar... Mas chegou a um ponto em que percebeu que o seu amigo nunca iria voltar ao normal, enquanto não falasse com ela.

E isso viu-se durante o dia todo. Carlos notou que Pedro estava constantemente distraído durante os brainstormings para a nova campanha... Sempre que alguém lhe pedia uma opinião, notava-se que ele não estava a acompanhar as ideias lançadas pelos colegas. Decididamente, não era o Pedro que todos conheciam...

Pedro estava a sofrer... Não se lembrava de ter sofrido no passado por alguém de quem gostava tanto... Ele já tinha estado do lado oposto... E sentia-se agora um pouco culpado por ter feito sofrer algumas das raparigas com quem tinha estado e que tinham esperanças de ter uma relação séria com ele, e que a partir de certa altura ele tinha deixado de dar notícias... Era assim que se sentia alguém com o coração partido...

Ele pensou várias vezes durante o dia em ligar novamente para Inês, mas as palavras da Carlos ecoavam na cabeça dele... Talvez fosse mesmo pelo melhor dar-lhe algum tempo... Mas o que iria ele fazer entretanto? Sentia aquela sensação de perda de algo que nada conseguia preencher...

Quando saiu do escritório, ainda pensou em ir a um bar perto de sua casa para afogar as mágoas, mas achou que isso não iria resolver a situação... Podia faze-lo esquecer por umas horas a dor que estava a sentir, mas de manhã quando acordasse, tudo iria estar na mesma... Decidiu então ir para casa... Assim que chegou, pensou em preparar o jantar, mas não estava com fome... Ao contrário do que acontecia na grande maioria dos dias, estava sem qualquer apetite... Só lhe apetecia ligar novamente para Inês... Mas conseguiu controlar os seus impulsos a muito custo...

Mas não conseguia evitar olhar para o seu telemóvel de cinco em cinco minutos. Ele esperava desesperadamente que Inês lhe ligasse para resolverem as coisas. Ele sentia às vezes que se olhasse para o telemóvel iria fazer com que Inês lhe ligasse mais depressa. Mas ele sabia que estava a ser irracional... Mas não o conseguia evitar... Realmente o amor transforma as pessoas... Ele sempre tinha sido uma pessoa confiante, com uma grande autoestima, e que não se preocupava com a impressão que os outros tinham dele... Mas desta vez, estava completamente inseguro sobre si e por vezes passava-lhe pela cabeça que Inês nunca mais lhe iria perdoar.

E foi nesta ângustia permanente que Pedro passou a noite inteira até finalmente adormecer a altas horas da madrugada, sem ter tido qualquer notícia de Inês...

publicado por Matt Xell às 23:54
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Terça-feira, 25 de Agosto de 2009

Capitulo 14 - As palavras que nunca te direi...


E tudo parecia correr bem na relação entre Pedro e Inês. Apesar de não conseguirem encontrarem-se todos os dias, quer por causa dos exames de Inês, quer por causa da campanha complicadíssima que tinha surgido na empresa de Pedro e que estava a aproximar-se do seu deadline, passavam quase uma hora por dia ao telemóvel a conversar.
E quando se juntavam para jantar, as emoções vinham à flor de cima. Ambos sentiam-se bem um com o outro e não havia um segundo em que as suas mãos não estivessem juntas. Há muito tempo que Inês não se sentia assim tão feliz. Depois do que tinha passado, nunca tinha imaginado que pudessse encontrar novamente um homem que a fizesse assim tão feliz. Mas também era esse o problema. Quanto mais se apaixonasse por alguém, maior seria o sofrimento se as coisas não corressem bem. Inês tinha jurado nunca mais deixar que alguém a magoasse como no passado. Mas com Pedro, as suas defesas abriram-se totalmente e estava a deixar este homem entrar no seu coração. E sabia que ele sentia o mesmo por ela.
Mas a relação ainda estava um bocado indefinida. Ambos gostavam de estar um com um outro, mas nenhum tinha ainda dado o primeiro passo no sentido de clarificar as coisas. Os dois andavam juntos, era certo. Mas nunca ninguém tinha falado numa relação mais séria.

Pedro nunca tinha tido no passado essa necessidade de ter uma relação com alguém. Para ele, o que interessava era o presente e viver dia a dia. Tinha sido esse um dos motivos para todas as relações dele terem acabado. O seu medo de compromissos era evidente para todos os que o rodeavam e quando as suas namoradas se apercebiam disso, estava dado o primeiro passo para o fim da relação.
Mas desta vez era diferente. Pedro não queria perder Inês por nada deste mundo. E ele estava disposto a fazer tudo por ela. Pela primeira vez na vida, Pedro sentia-se preparado para uma relação séria com uma mulher que ele achava que iria amar para o resto da vida. E estava disposto a demonstrar a Inês o que sentia.

Por seu turno, Inês também estava um pouco preocupada com esta indefinição. Mas por motivos diferentes de Pedro. Ela tinha acabado de sair de uma relação há pouco mais de seis meses, que não correu muito bem. Ela tinha sofrido bastante numa relação que tal como esta tinha começado muito bem. Mas com o tempo, ela acabou por conhecer melhor o agora ex-namorado. E se soubesse o que sabia agora, nunca se tinha dedicado de corpo e alma a ele. O seu coração andou magoado por muito tempo. Desde o fim desse namoro, que o seu coração estava fechado. Muitos tentaram romper a barreira que Inês tinha criado à sua volta. Mas só Pedro o tinha conseguido. Ela no início encontrava-se receosa de que a história se repetisse novamente. No seu íntimo tinha receio de que ele a magoasse. Mas agora que se estavam a conhecer melhor, ela sentiu que isso não iria acontecer, pois acreditava que Pedro a amava realmente e que faria tudo para que ela não saísse magoada. Inês começava assim a voltar a acreditar no amor. Mas mesmo assim, gostava desta indefinição. Não queria assumir nada mais sério enquanto não estivesse preparada. E achava que Pedro estava na mesma situação. E era isso que bastava a Inês por agora.

Porém, Inês não imaginava que Pedro pensava cada vez mais nesse asssunto, pois não queria partilhá-lha com mais ninguém. Ele sabia que ela não tinha saído com mais ninguém desde o dia em que se conheceram. Mas mesmo assim, ele queria que todos soubessem que ela era dele e que mais ninguém a podia ter.
Pedro sentia que estava numa nova fase da sua vida. Tinha finalmente encontrado alguém com quem queria passar o resto da vida. Sentia também que tinha mudado nas últimas semanas. E precisava de partilhar isso com uma das pessoas em quem mais tinha confiado no passado. Se bem que ultimamente, tinha deixado de confidenciar tanto com a Patrícia o que lhe ia na alma e preferido falar com o Carlos sobre a sua nova paixão. Pedro achava que era mais normal estar a falar de uma rapariga com um amigo do que com outra rapariga e tinha sido esse o único motivo para ter sido mais reservado com a Patrícia sobre esta nova fase da sua vida,
Mas tendo em conta que a sua relação com Inês estava tornar-se cada vez mais séria, Pedro achava que já era altura de falar com a amiga e saber a opinião dela. Patrícia tinha-o já apoiado várias vezes no último ano, sempre que ele tinha precisado dela. Tinham-se tornado próximos, ao ponto de terem combinado sair várias vezes fora do trabalho. Pedro estranhava sempre que Patrícia nunca vinha acompanhada quando eles saíam, mas pensou que devesse ao facto dela estar muito preocupada com a ascensão na empresa e não ter tempo para se envolver numa relação. Pedro conhecia bem a sua amiga e sabia que ela não era uma mulher para se envolver com alguém por quem não sentisse algo, apenas para não estar só. Era uma mulher forte e independente, que qualquer homem teria muita sorte se fosse o escolhido dela. E estava já a sentir-se mal por não partilhar com a amiga os sentimentos mais recentes.
Por isso decidiu almoçar com a Patrícia nesse dia. Só não sabia se ela estaria disponível, pois estavam em campanhas diferentes e não sabia se ela estaria muito ocupada. Mas nada melhor do que lhe perguntar. Pedro dirigiu-se à mesa de Patrícia, que estava absorta nos seus pensamentos a pensar numa nova ideia, e sem esta se aperceber de que ele tinha entrado, colocou-se atrás dela e deu-lhe um pequeno toque no ombro.
Patrícia quase deu um salto, pois tinha apanhado um pequeno choque. Não era novidade, pois tinham colocado recentemente uma alcatifa nova no escritório e o que não faltava era electricidade estática. Já tinha apanhado alguns choques, mas nenhum tão forte como este.
- Já vi que estás muito eléctrica. – Disse Pedro, não conseguindo evitar um sorriso.
- Parvo. Assustaste-me um bocado. Já ouviste falar em bater à porta?
- Tu é que me disseste que a tua porta estava sempre aberta para mim. Mesmo a da tua casa de banho.
- Hoje estás muito engraçadinho. Diz-me lá o que queres, pois estou um bocado atrapalhada com esta campanha. Tenho uma apresentação ao cliente amanhã, e ainda não consegui terminar tudo. Não tenho tempo para parvoíces. – disse Patrícia, tentando fingir que estava zangada com Pedro. Mas ela gostava quando ele vinha ter com ela e brincar um pouco. Já algum tempo que não o fazia.
- Já vi que vim cá perder o meu tempo. Queria ver se vinhas almoçar comigo, mas se estás assim tão ocupada, vou retirar-me dos teus aposentos e deixar-te trabalhar em paz…
- Fazes muito bem. – disse Patrícia, também não conseguindo evitar um ligeiro sorriso.
- Mas de certeza que não te consigo convencer? Conheço um arroz de polvo que está a chamar pelo teu nome.
- Já te disseram que és um chato? Tu tens o dom de chatear tanto as pessoas, que elas fazem tudo o queres, só para as deixarem em paz.
- Isso é claramente um sim. Então, saímos de cá quando forem quinze para a uma…
- Olha que vou contrariada. E tu pagas o almoço.
- Tu és uma negociadora difícil. Mas negócio fechado. Tudo para ter o prazer de almoçar contigo.

Após Pedro ter saído, Patrícia continuou a pensar. Mas agora, a campanha já não estava no seu pensamento. Ela não parava de pensar no motivo pelo qual ele a tinha convidado para almoçar. Não era a primeira vez. Na realidade, já tinham ido variadíssimas vezes almoçar um com o outro, mas já há algumas semanas que ela sentia que ele já não lhe dava tanta atenção como no passado. Por isso, este convite surgido do nada começou a incomodá-la. Só podia ser por causa da Inês. Essa mulher mistério de que já tinha ouvido Pedro tanto elogiar a Carlos nos últimos tempos.
Patrícia começou a ficar incomodada, com receio de que ele lhe dissesse que estava a apaixonar-se por essa rapariga. Tudo menos isso. Ela já tinha passado pela experiência de Pedro ter estado com muitas raparigas, mas nunca se tinha preocupado, pois ela percebia que as coisas não eram sérias e nunca iriam ter qualquer futuro. Mas desta vez ela diferente. Ela tinha já percebido que Pedro estava diferente para melhor e que eram cada vez menores as hipóteses dele vir a apaixonar-se por ela.
Por isso, respirou fundo e decidiu que iria contar-lhe durante o almoço o que sentia por ele. Antes que ele tivesse a oportunidade de dizer alguma coisa sobre a nova namorada, iria despejar o que tinha dentro dela quase desde que o tinha conhecido. Foi uma decisão difícil. Patrícia sabia que as coisas nunca mais iriam ser as mesmas. Fosse qual fosse o resultado, tudo iria mudar na relação com Pedro. Se ele também gostasse dela, a sua relação iria evoluir de uma amizade para algo mais profundo e complicado. Se ele não sentisse o mesmo, as coisas ficariam constrangidas entre ambos a partir desse momento. Sempre que os dois falassem, ele iria sentir-se culpado por não retribuir os sentimentos dela e ela iria sentir-se embaraçada pelo que tinha acontecido. Mas era a altura de arriscar. Patrícia sempre foi uma pessoa muito cautelosa e só se expunha a alguém quando tinha a certeza de que era correspondida. Ela teve sempre um grande receio de sofrer e por isso contavam-se pelos dedos as situações em que tinha decidido assumir o risco. Mas esta era uma daquelas decisões que iria ter grande impacto no seu futuro. Ela só tinha pensado no Pedro nos últimos tempos e o receio de perdê-lo era mais forte do que tudo. Ela nunca tinha sido impulsiva e qualquer decisão requeria sempre muita reflexão para pensar em todas os cenários possíveis e os prós e os contras de qualquer alternativa. Mas agora ia ser diferente.
Patrícia respirou fundo de novo e não conseguiu pensar em mais nada até à hora do almoço.
- Isso não está fácil. – interrompeu Pedro. - Já está a sair fumo da tua cabeça. Se calhar é melhor deixares de pensar na campanha e fazer uma pausa para recuperar um pouco. É mesmo a altura certa para irmos almoçar.
- Tens toda a razão. Às vezes, quando não chegamos a uma conclusão, é melhor não continuar a pensar e seguir o que o instinto nos diz.
- É o que te estou a dizer há algum tempo. Estou a ver que finalmente começas a seguir alguns dos meus conselhos. Vamos?
- Estou mesmo atrás de ti.

Os dois saíram do escritório e foram almoçar num restaurante pequeno onde já tinham ido várias vezes no passado. Era um sítio sossegado onde não havia muita confusão e a comida era muito boa. Mas Pedro sabia que Patrícia adorava aquele restaurante pelas sobremesas. Eram das mais originais e mais saborosas que se podiam encontrar. E mesmo ele, que não era grande apreciador de doces, provava sempre da sobremesa de Patrícia.

Quando se sentaram à mesa foram logo atendidos por um empregado que já os conhecia há algum tempo e fizeram os pedidos. Enquanto esperavam pela comida, Patrícia pensou que esta seria a altura certa para fazer o que tinha decido no escritório.

- Já há algum tempo que não íamos almoçar juntos – disse Patrícia, tentava abrir caminho para a revelação que iria fazer.
- Pois é, eu sei. E a culpa é toda minha. Sei que tenho andado ocupado nos últimos tempos....
- Sim, só um bocadinho...
- Mas foi por um bom motivo. E tu já sabes do que estou a falar.
- De quem estás a falar... – corrigiu Patrícia.
- Sim, tens razão. Mas tu tens de conhecer a Inês. Nunca conheci ninguém como ela. Tenho a certeza de que ias gostar logo dela.
- É só uma questão de me a apresentares. Pois já a conheceste há algum tempo e quase não me falaste dela.
- A culpa é toda minha. É que as coisas estavam ainda no início, e não tinha a certeza de que iam durar. Mas está a correr muito bem e agora acho que é altura certa para os meus amigos a conhecerem.
- Vê-se pela tua cara. Nunca te vi tão feliz.
- Mas eu estou mesmo feliz. Tu não tens ideia do efeito que ela tem em mim. Eu só penso nela o dia inteiro. Pela primeira vez, existe alguém com quem eu queira estar por muito tempo ao meu lado. ...E queria dizer-te que...
- Eu também queria dizer-te... – disse Patrícia, ao mesmo que Pedro tentava completar a sua confissão.
- Oh! Desculpa interromper-te.
- Não, eu é que te peço desculpa. Diz tu primeiro...
- Não! Diz lá o que ias dizer... Eu digo-te daqui a bocado – disse Patrícia, sentido-se cada vez mais ansiosa para dizer o que sentia.
- Bem... Patrícia... Queria pedir-te o teu conselho. Eu sinto-me feliz com ela, mais ainda não nos conhecemos muito bem, e não sei como ela iria reagir se...
- Se...
- Se eu lhe dissesse que a amava..
- Pedro, tu sabes que eu faria tudo para te ajudar, mas eu nem conheço a rapariga...
- Pois não. Mas conheces-me a mim. Eu nunca te disse isso, mas eu acho que tu conheces-me melhor do que ninguém. Até mesmo do que a Inês. Tens sido a pessoa em que mais confio e cuja opinião eu mais respeito. Eu considero-te uma das minhas melhores amigas e gostaria de saber qual seria a tua reacção se uma pessoa como eu te dissesse que te amava.
- Pedro, tu sabes que eu sou muito amiga, mas nunca pensei em ti nesses termos.- respondeu Patrícia de forma hesitante.

Naquele momento, com aquela resposta espontânea, Patrícia apercebeu-se de que ainda não estava preparada para dizer a Pedro o que sentia. Melhor, sentiu que independentemente do que dissesse, nada iria acontecer entre os dois, pois era demais evidente que ele gostava mesmo de Inês, e que dizer-lhe alguma coisa apenas iria estragar a amizade que tinham.
- Sim, eu sei. Apenas querias que fingisses que eras a Inês e que um tipo que te conhece há pouco menos de um mês, e que tu sabes que nunca teve uma relação que durasse mais de um mês, mas com quem tu te tens passado um bom bocado te disesse que te amava. Qual seria a tua reacção? Acreditavas que eu estava a ser sincero?
- Pedro, eu não sei o que a Inês te diria, mas se ela te conhecesse como eu te conheço, eu saberia que ela seria a mulher mais feliz do mundo por tu lhe dizeres isso. Qualquer mulher daria tudo para que uma pessoa como tu lhe dissesse que ela era a mulher que tinha mudado a tua vida e que tinha transformado tanto.
- Obrigado por seres sincera. Acho que tu me convenceste. Eu estava com algumas dúvidas, mas agora acredito sinceramente que tenho mesmo de confessar-lhe o que sinto.
- Tudo para te ajudar. Sabes que eu fui sincera no que te disse e acho mesmo que ela nem sabe a sorte que tem em tu gostares dela.
- Patrícia, não sei o que faria sem ti. – disse Pedro a pegar na mão direita de Patrícia, que sentiu um pequeno choque no momento em que sentiu o toque da mão do seu amigo.

Patrícia colocou a mão esquerda por cima da de Pedro com muito carinho, ao mesmo tempo que se esforçava para esconder os seus sentimentos e não demonstrar a enorme dor que sentia por não ser ela a escolhida.

- Eu também não sei o que farias sem mim...- disse a rir, tentando quebrar aquele momento esquisito.
- Já estou farto de te dizer que ainda não percebo porque não existe ninguém na tua vida. Tu és daquelas pessoas que qualquer pessoa gostaria de ter ao seu lado para o resto da vida. Mas tenho a certeza de que um dia irás encontrar a pessoa certa – disse ao mesmo tempo, que também colocou a outra mão sobre as maõs de Patrícia.
- Vamos lá ver se isso acontece – mentiu Patrícia, que tinha a certeza de que já a tinha encontrado, e que estava mesmo à sua frente.

Pedro levantou-se da sua cadeira e colocou-se muito perto de Patrícia e deu-lhe um pequeno beijo na face.

- Tenho a certeza de que sim. Tal como eu encontrei a Inês, também tu irás encontrar alguém. – disse Pedro, antes mesmo de ser interrompido pelo empregado que trazia os pratos para a sua mesa.


O que Pedro não imaginava é que duas raparigas que tinham entrado no restaurante que estava completamente cheio e que estavam à entrada do restaurante à espera de que uma mesa ficasse livre tinham assistido a esta última cena, tendo logo de imediato saído do estabelecimento.

publicado por Matt Xell às 19:22
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Uma história sobre um rapaz (Pedro) e uma rapariga (Inês) que o destino acaba por juntar e que origina uma relação com altos e baixos...

Pedro é um rapaz que nunca foi capaz de se comprometer e que encontra em Inês a primeira rapariga por quem verdadeiramente sente algo... Mas ele desconhece por completo o passado de Inês e que irá trazer grandes repercurssões na sua relação.

Nem tudo corre como eles gostariam nesta história de amor, e por maior que seja o amor que os une, o destino parece querer que a sua história não tenha um final feliz...

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