Sexta-feira, 19 de Agosto de 2011

Capítulo 30 - A pressa é inimiga da perfeição...

Pedro sentia-se algo ansioso. Tinha ligado a Inês no dia anterior por várias vezes e ela não tinha nem atendido, nem devolvido qualquer das suas chamadas.
Ele começou a ficar preocupado, uma vez que a última vez que tinha falado com ela tinha sido há cerca de duas semanas.

 

Tinha sido uma breve conversa por telemóvel, em que ela lhe tinha dito que andava muito ocupada por causa de um projecto novo na empresa em que trabalhava.
Estava a ser uma altura muito stressante para ela e ela tinha prometido ligar-lhe para combinar alguma coisa quando as coisas estivessem mais calmas. Mas duas semanas tinham-se passado sem que ela tivesse dado qualquer sinal de vida.

 

Ele então engoliu o orgulho e tinha ligado-lhe no dia anterior, mas sem qualquer sucesso, o que começava a causar-lhe alguma apreensão. E esse estado de espírito estava a ser notado pelos seus colegas, nomeadamente por Carlos e por Patrícia.

 

- O que achas que se está a passar com ele? – perguntou Patrícia a Carlos, que já sabia a resposta para a pergunta que tinha feito.

- Não faço ideia… De há duas semanas para cá, nota-se que ele está preocupado com qualquer coisa… e tenho a ideia que nós dois sabemos com o quê… ou mais propriamente, com quem. – respondeu Carlos, que também sabia que só podia ser essa a causa da angústia do seu amigo.

- Pois… Ela!!! – disse Patrícia, com um tom demasiado seco, situação que não passou despercebida ao seu colega.

- Não sejas assim. Ela é uma óptima rapariga. Aliás, tu até já falaste mais com ela do que eu e deves ter percebido isso.

- Tens razão… mas isso não é motivo para ela tratá-lo desta forma. Ele merece melhor. Se fosse eu… - começou Patrícia, antes de instintivamente interromper a sua frase, pois ia dizer mais do que devia.

- Uhm… Se fosses tu? O que queres dizer com isso? – disse Carlos com um ar malacioso.

- Esquece… Só te digo que ninguém o deveria fazer sofrer assim…

- Mas isto é bom para ele. Para ele aprender que não tem o mundo a seus pés e que às vezes tem de ter paciência para conseguir o que quer.

- Vamos ver… - suspirou Patrícia, que mais uma vez ficou com esperanças de que Inês se tivesse desinteressado de Pedro e abrisse uma porta para ela. Apesar das coisas estarem a correr bem com o Miguel, quem ela realmente amava era o Pedro.

 

Olharam então ambos para Pedro, que continuava a fazer o seu trabalho, mas com um ar desconsolado. Ele já não se conseguia concentrar no seu trabalho, pois só pensava nos motivos pelos quais Inês o estava a ignorar… Será que ela estava mesmo ocupada com o trabalho. Ou seria apenas uma desculpa para não o ver? Ele confiava nela, mas a incerteza estava constantemente presente na sua mente. Por mais que o não quisesse admitir, o medo de perder Inês para sempre era cada vez maior. Ainda por cima, ela tinha-lhe dito na última conversa que estava a dar-se cada vez melhor com o tal colega dela, o Diogo. Será que ela se tinha apaixonado por ele? Por mais inverosímil que essa situação lhe parecesse, tudo poderia ser um motivo para o distanciamento de Inês.

 

E o que podia ele fazer? Já lhe tinha ligado várias vezes sem sucesso e ligar-lhe mais uma vez, podia levar a que Inês considerasse que ele não estava a respeitar o seu espaço.

 

Pedro respirou fundo e tentou concentrar-se novamente no seu trabalho. Sim, tentou era a palavra mais correcta, pois durante o resto do dia, por mais que o quisesse evitar, o seu pensamento desviava para o motivo da ausência de qualquer resposta dela.

 

No final do dia, antes de ir para casa, depois de ter reparado que não tinha feito o que tinha planeado fazer, Pedro suspirou e resignou-se à
situação. Não podia fazer nada para obrigar Inês a falar com ele, nem poderia tentar ligar-lhe novamente tão cedo. As suas opções estavam profundamente limitadas e apenas podia esperar. A sua insegurança começava a abalar a sua confiança. Não… Não era a primeira vez que ela demorava a responder aos seus telefonemas. Mas isso não fazia com que custasse menos.

 

Mas Pedro não teve de esperar muito mais. Nessa noite, após o jantar, quando já se encontrava refastelado no sofá da sua sala, a ver um jogo de futebol do campeonato argentino para tentar evitar pensar nela, o seu telemóvel tocou.

 

Inicialmente, ele não tinha ouvido o toque, que era actualmente o Yellow dos Coldplay, para condizer com o seu estado de espírito. Após ter chegado do
emprego, tinha deixado o telemóvel no seu quarto. Mas por algum motivo que ele não soube explicar, ele teve a sensação de que poderia ter recebido alguma chamada no telemóvel e decidiu por descargo de consciência confirmar que não tinha nenhuma chamada perdida.

 

Mas não era esse o caso. No visor do seu telemóvel, viu que tinha duas chamadas não atendidas de Inês. O seu coração começou a bater mais rápido e a sua ansiedade aumentou, com a expectativa de falar com ela novamente. Mas ele sabia que tinha de manter-se calmo. Por isso, respirou fundo antes de ligar-lhe.

 

- Oi – disse Pedro, após Inês ter atendido a sua chamada.

- Olá. Já vi que está muito complicado falar. – disse ela, não evitando um riso que desconcentrou Pedro completamente, gorando qualquer tentativa dele se manter tranquilo e calmo. O quanto ele sentia a falta de ouvir a voz e o riso dela.

- Parece que sim. Mas ainda bem finalmente temos a oportunidade de por um pouco a conversa em dia.

- Sim… Desculpa lá ter-te ignorado nos últimos tempos, mas o trabalho tem estado impossível. O dia passa a correr e quando chego a casa quero apenas tomar um banho relaxante e ir dormir.

- Sim, percebo perfeitamente. – disse Pedro, que embora no seu íntimo percebesse a situação, também não gostava da sensação de ansiedade provocada pelo facto dela não lhe atender as chamadas.

- Infelizmente, este projecto é coisa para durar ainda mais algum tempo. Aliás, não posso falar contigo muito tempo, pois tenho de voltar ao trabalho. O meu colega já me está a fazer sinais de que tenho de me despachar. E ele é muito controlador neste tipo de situações.

- Ainda estás a trabalhar a esta hora? Estás aí sozinha com o teu colega?

- Alguém está a ficar com ciúmes… – troçou Inês. Sim, estou sozinha aqui com ele, mas estamos a trabalhar…e muito, infelizmente… Mas mesmo que não estivesse, não tinhas nada a ver com isso. Não te devo explicações nenhumas.

- Sim. Tens razão. Mas quando eu perguntei-te, não foi pelo motivo que estavas a pensar – tentou Pedro disfarçar.- Estava apenas preocupado com a tua segurança… nunca se sabe quem pode aparecer aí durante a noite.

- Claro, claro… Foi só mesmo por isso – exclamou Inês, não escondendo a ironia nas suas palavras. – Mas estava a ligar-te pois vou ter o dia de folga
no Sábado e queria saber se querias combinar um almoço. Aviso-te que não sei quando irei ter tempo novamente para por a conversa em dia contigo

- Uhm… Deixa-me consultar a minha agenda. Bem, tinha aqui um blind date com uma super-modelo para Sábado conhecida de uns amigos, mas vou mudar para o jantar. Afinal, tenho de aproveitar a tua disponibilidade.

- Já vi que continuas engraçadinho como sempre.- Ficamos então combinados?

- Combinadíssimos. Então, depois marcamos o sítio. Ainda ficas a trabalhar?

- Sim – disse Inês com uma voz desconsolada.- A noite é ainda uma criança.

 

Após Inês ter desligado, Pedro sentiu uma sensação de alívio. Não estava mesmo à espera que ela lhe ligasse essa noite para combinar um encontro com ele. Sim, era apenas como amigos, mas mesmo assim, ela podia muito bem ter escolhido outra pessoa para passar o pouco tempo livre que ela tinha disponível.

Um sorriso não deixou de estar presente na cara de Pedro durante o resto da noite. Aliás, durante o resto da semana. Ele gostava mesmo a sério dela. A sensação de vazio na sua vida quando não estava com ela era demasiado grande e ele não queria que essa sensação permanecesse. Mas estava tudo nas mãos dela.

 

E foram estes pensamentos que estiveram presentes na mente de Pedro até ao dia do almoço. Como habitual, ele tinha chegado primeiro que ela ao restaurante e aproveitou esse tempo para pensar em como as coisas poderiam correr naquele dia. Ele já lhe tinha dado algum tempo e as coisas estavam a correr bem. Mas por quanto mais tempo teria ele de esperar? Ele não a queria pressionar, mas aquela sensação de impotência para mudar as coisas estava constantemente na sua cabeça.

 

Mas a sua reflexão foi interrompida quando Inês chegou finalmente. Ela estava linda, com um top branco pouco revelador e uma pequena saia preta que lhe ficava muito bem. Mas ela podia ter-se vestido com um saco de batatas que ele acharia-a linda na mesma. Ele estava contente só de estar com ela e ter a oportunidade de olhar para o seu rosto e para os seus olhos.

 

- Desculpa o atraso – disse Inês, ao mesmo tempo que lhe dava um ligeiro beijo na face.

- Não há problema. Já estava à espera. – respondeu, ao mesmo tempo só pensava nas saudades que tinha do aroma suave do perfume dela.

- Pois… Há coisas que nunca irão mudar – disse Inês, com um sorriso contido.

- Eu sei… Mas é daquelas coisas que fazem parte de ti e tu não serias tu se não fosses assim.

- Não percebi se isso foi um elogio ou não.

- É melhor não saberes. – Pedro já sentia imensa falta destas provocações e sentia que esse sentimento era retribuído. – Mas já vi que estás com umas
olheiras enormes.

- Pois… o que é que hei-de fazer? O trabalho não pára e ainda irá continuar mais umas semanas. O tal projecto de que te tinha falado vai-se prolongar ainda mais e terei de aguentar.

- Sim… eu percebo. – disse Pedro, tantando mostrar empatia pela situação.

- Não tem sido nada fácil. O que vale é que eu e o Diogo estamos a dar-nos cada vez melhor o que tem ajudado a passar o tempo.

 

Uma sensação de cíumes atravessou por completo o corpo de Pedro. Esse tal de Diogo era o tal colega com que ela estava a passar as últimas noites. Ele nunca se sentira ameaçado, pois ela sempre lhe tinha dito que ele era um colega antipático e que não falava com ela, mas parecia que as coisas estavam a mudar. Ele estava a sentir-se um pouco ciumento, mas infelizmente, não podia dizer nada a Inês, pois ambos eram apenas amigos e sabia que qualquer insinuação da sua parte apenas iria conduzir a discussões entre os dois. Eles tinham estado
tão pouco tempo juntos nos últimos tempos, que não queria perder tempo a discutir com ela. Preferia aproveitar e disfrutar estes breves momentos com ela.

 

- Ainda bem. É sempre mais fácil trabalhar com alguém com que nos damos bem.

- Sim… é mesmo isso. E ao contrário do que eu pensava, ele é uma pessoa bem mais acessível do que pensava. È é demasiado introvertido, mas quando se dispõe a abrir para alguém, não é assim tal má pessoa.

- Ainda bem para ti. – Pedro estava a ficar cada vez mais desconfortável com a conversa, pelo que desviou a conversa para outros temas, que não
implicassem a menção ao colega de Inês.

 

Durante o almoço, os dois passaram mais tempo a conversar do que a comer os pratos que tinham pedido. Tal como antigamente. Os dois não paravam de rir e quem os visse naquele momento não teria qualquer dúvida que eram um casal que já estava junto há muito tempo.

 

Pedro queria que este almoço se prolongasse para sempre. Há algum tempo que não estava com ela e sabia que enquanto fossem apenas amigos, ele apenas iria estar com ela esporadicamente. E isso não era suficiente. Ele precisava de estar mais tempo com ela, pois era a única altura em que ele se sentia verdadeiramente feliz. Mas não sabia o que ela estava a pensar.

 

Ele esperava já ter-lhe provado que ela poderia confiar nele novamente, mas ela nunca tinha feito qualquer referência a esse facto. E os dois foram feitos um para o outro. Mas enquanto fossem apenas amigos, ele corria o risco de outra pessoa arrebatar o coração dela. E ele não podia correr esse risco. Tinha uma decisão difícil a tomar. Mas soube que tinha arriscar. Não a queria pressionar, mas já era o momento ideal para saber o que ela sentia.

 

- Mas posso fazer-te uma pergunta? – disse Pedro com um ar um pouco mais sério.

- Claro… Diz… Eu é que posso não responder-te – respondeu Inês com um sorriso.

- Achas que… - Pedro interrompeu o que ia dizer, pois teve segundas dúvidas sobre se estava realmente a tomar a atitude correcta. Mas sabia que tinha de dizer o que lhe ia na alma e arriscar. - … já me perdoaste ? Já confias em mim?

 

Inês receva este momento já há algum tempo. Sabia que os sentimentos de Pedro não tinham desaparecido e por mais que ainda gostasse dele e por mais que ele já lhe tivesse demonstrado que tinha mudado e que estava disposto a esperar por ela, ainda não confiava totalmente nele. O facto de ter aberto o seu coração e ter sido magoada por um homem novamente ainda não tinha sido totalmente ultrapassado. Ela achava que os dois ainda seriam felizes juntos no futuro. Só precisava de mais algum tempo. Uma parte de si dizia para aproveitar este momento para reatar com Pedro. Mas a parte do seu coração que tinha sido magoado e que ainda não tinha recuperado totalmente, pedia-lhe mais algum tempo. Dizia-lhe que se ele gostava mesmo dela, iria respeitar a sua decisão e esperar até que ela estivesse preparada. Não era fácil abrir o coração mais uma vez, pois as cicatrizes da ferida que ele lhe tinha causado ainda permaneciam.

 

- Sabes… essa é uma pergunta complicada. Sim, já te perdoei o que me fizeste.

- Mas? – Pedro sentiu pelo tom de voz dela, que iria existir um mas.

- Mas…acho que ainda preciso de mais algum tempo. Tu sabes que eu gosto de ti. Mas…

- Sim, eu sei. E é por isso que acho que era altura de nós juntarmos novamente. Para mostrar-te que as coisas serão diferentes desta vez.

- Mas ainda não estou preparada. E tu disseste que estavas disposto a esperar.

- Inês… Tu sabes que eu gosto de ti. Mas não posso esperar para sempre. Não posso ficar com a minha vida parada indefinidamente, à espera que tu te
decidas. Uma coisa é pedires-me um mês, ou três ou seis meses. Outra coisa é estares à espera que eu esteja para sempre à espera de ti. – Pedro sentia a dureza nas suas palavras, mas não tinha conseguido conter-se mais. Ele amava Inês, mas precisava de alguma sinal dela que ela iria voltar para ele, mais cedo ou mais tarde. Ele não queria ser apenas amigo dela. Isso ela já sabia. Mas se não existisse nenhuma hipótese dela lhe perdoar, então o que estavam eles a fazer?

 

Ele já lhe tinha dado algum tempo para ela tomar uma decisão. Mas hoje, ela tinha-lhe pedido mais tempo. Não, ele não podia continuar a viver assim. À espera que ela lhe ligasse. À espera de que ela lhe devolvesse a chamada. Ele precisava dela na sua vida. Mas se ela não fosse nunca esquecer o passado, porque é que ele haveria de estar nesta incerteza permanente em vez de seguir com a sua vida?

 

- O que queres dizer com isso? Estás a fazer- me um ultimato? Ou aceito voltar para ti, ou não esperas mais por mim? – notava-se pela voz de Inês que ela estava a começar a ficar exaltada.

- Não, não era isso que eu te queria dizer. Eu já esperei tanto tempo por ti, que posso esperar mais algum tempo. Mas queria era saber se esse dia irá
chegar eventualmente.

- Pedro… Não te consigo prometer nada. Eu gosto de ti, mas ainda não estou preparada. Neste momento, apenas consigo ser tua amiga. E se para ti isso não é suficiente, talvez seja melhor não nos vermos mais.

- Inês… tu sabes que eu estou disposto a esperar por ti. Se agora apenas estás preparada para ser minha amiga, então amigos seremos.

 

Pedro soube que as coisas não seriam mais as mesmas, como se comprovou pelas conversas que tiveram até ao final do almoço.

 

Tinha decidido arriscar, mas as coisas não tinham corrido como gostaria. Talvez até a tivesse afastado ainda mais. Foi um risco que tinha decidido correr.
Pedro lamentou-se da decisão que tinha tomado. Se tivesse ficado calado, talvez as coisas tivessem sido diferentes.

 

Mas na vida, em certas ocasiões surgem encruzilhadas. E Pedro sabia que se não tivesse dito nada, corria o risco de perdê-la para outra pessoa. Assim,
ao menos ela ficava a saber o que ele sentia.

 

Mas Pedro sabia que teria de viver com as consequências deste acto para o resto da sua vida…

publicado por Matt Xell às 19:23
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Quinta-feira, 4 de Agosto de 2011

Capítulo 29 - As coisas mudam...

Inês levantou-se da cama com um sorriso nos lábios… parecia-lhe que finalmente que tudo estava a correr-lhe bem. As coisas estavam a correr muito
bem no seu emprego, não estava agora a sair muito tarde e aos poucos as coisas estavam a recompor-se com Pedro. Não, ainda era cedo demais para reatar com ele, mas o tempo tinha-a levado a pensar que ele estava mesmo mudado e que já faltava cada vez menos para que os dois se juntassem novamente…Até porque ela sentia mesmo a falta dele…Mas tinha mesmo de ter alguma paciência até porque tinha prometido à Rita e ela não era pessoa para quebrar uma promessa à sua amiga.

 

Mas depressa o sorriso desapareceu, após ter demorado quase uma hora e meiapara chegar ao escritório, devido a um acidente que apanhou no caminho. Não era muito habitual ela chegar atrasada… muito pelo contrário, mas hoje era daqueles dias em que tudo parecia estar a correr mal, pois assim que chegou, a sua colega Sónia avisou-lhe que o chefe dela, o Dr. Rui tinha perguntando por ela.
A Inês só pensava na sua sorte: no preciso e raro dia em que chegava atrasada, o chefe perguntava por ela. O que mais poderia acontecer?

 

Ela levantou-se logo da sua mesa e dirigiu-se ao gabinete do Dr. Rui, que ao contrário do habitual, encontrava-se fechado. Foi então informada pela secretária que ele se encontrava numa reunião que iria demorar toda a manhã, e que ela deveria tentar falar mais tarde com ele.

 

Inês resignou-se e sabia que não podia fazer mais nada do que esperar e continuar a trabalhar. Mas ficou interrogada sobre qual o motivo que o seu chefe teria para querer falar com ela.

 

Mas a sua curiosidade aumentou, quando o seu departamento foi convocadopara uma reunião a seguir ao almoço. Todos se interrogavam sobre o motivo pelo qual a reunião tinha sido marcada e surgiram alguns rumores de que estavam a pensar fazer cortes no pessoal, para reduzir custos. Quando estes rumores chegaram aos ouvidos de Inês, ela começou a ficar preocupada, pois era das pessoas com menos tempo de casa e com menos experiência. O dia só parecia que estava a piorar cada vez mais e a sua ansiedade aumentava a cada momento que passava.

 

Mas finalmente tinha chegado a hora da reunião. Todas as pessoas do departamento entraram silenciosamente na sala de reuniões marcada para o efeito e sentaram-se sem grande alarido, à espera que o chefe chegasse. Já não faltava muito para que as dúvidas fossem dissipadas.

Quando o Dr. Rui chegou à sala agradeceu a todos os presentes a sua presença e começou a falar das dificuldades económicas que a empresa estava a passar, com a crise a afectar a actividade da empresa. O pânico começou a assaltar o espírito das pessoas na sala, pois não imaginavam onde é que esta conversa iria terminar. Inês foi uma dessas pessoas. O seu nervosismo aumentava a cada palavra que era dita e não podia fazer nada para o impedir. Seria por isso que o seu chefe tinha querido falar com ela de manhã?

 

Mas felizmente, passado meia hora ouviu-se um suspiro de alívio conjunto na sala. O Dr. Rui comunicou que por forma a fazer face às necessidades dos outros departamentos da empresa nesta altura mais complicada, tinha sido decido pela Direcção a criação imediata de um projecto que envolvia vários departamentos para tentar responder aos desafios que se apresentavam. E que seria necessárias duas pessoas do departamento financeiro, para fora do horário normal de trabalho, participar nesse projecto, o que iria implicar um grande sacrifício pessoal dos voluntários.

 

O único a oferecer-se quase de imediato foi o Diogo, o que não surpreendeu nenhum dos presentes da sala. Era mesmo o tipo de pessoa que estava disposto a trabalhar fora de horas por forma a mostrar-se aos chefes e progredir na sua carreira. Mas seguiu-se um momento de silêncio constrangedor, em que mais ninguém se voluntariou.

 

Inês debateu-se com um dilema pessoal. Ela até achava que seria um projecto interessante e que iria enriquecer a sua carreira, mas por outro lado implicava mais uma série de noites de trabalho duro e stressante, o que iria novamente prejudicar a sua vida pessoal. E a sua relação com Pedro… ou melhor, a sua quase-relação com Pedro podia ser afectada por isso.

Mas não podia deixar que os sentimentos por alguém pudessem afectar a sua carreira. Se ele realmente gostasse dela, estaria disposto a esperar mais um pouco, até que ela tivesse mais disponibilidade para ele. Era um sinal de que ele tinha realmente crescido face ao passado.

 

Por isso, de forma muito relutante, Inês acabou por se voluntariar para integrar o projecto, sem imaginar o impacto que essa decisão acabaria por ter
na sua vida.

 

Ela e o Diogo foram então informados pelo seu chefe que o projecto iria iniciar-se já na segunda-feira seguinte, tendo este também agradecido a ambos a sua disponibilidade.

 

Inês suspirou então de alívio, pois pelo menos iria ter o fim-de-semana para se preparar para as semanas difíceis que viriam. Mas depois lembrou-se que iria passar novamente mais uma série de semanas com o Diogo e a sua impessoalidade… Mas não podia fazer nada para evitar isso…

 

Mas depressa chegou o primeiro dia do projecto. Ou mais propriamente a primeira noite… O responsável do projecto explicou a todos os membros da equipa, na qual Inês e Diogo estavam incluídos, que o projecto tinha a duração prevista de um mês, embora pudesse ser prolongado mais umas semanas, dependendo da evolução do mesmo. E formou as várias equipas de entre os presentes, tendo ela e Diogo ficado integrados na mesma equipa.

 

Inês pensou que iria ser um mês difícil, pois já estava habituada à atitude demasiado profissional e introvertida do seu colega. Mas era um sacrifício que teriam de fazer. E um mês passava num instante. Pelo menos era o que ela esperava.

 

Mas a primeira noite deu para ela ter uma amostra do que lhe estava destinado. Foi uma noite em que ambos ficaram praticamente calados o tempo todo a tentar preencher os documentos e relatórios. O silêncio era apenas interrompido quando ela tinha algumas dúvidas, que Diogo não se importava de retirar. Mas tirando isso, ele não lhe dirigia a palavra. E ela, por sua vez, mesmo sendo muito extrovertida, sentia-se algo condicionada, pois não queria estar a meter conversa com ele, quando era claro que ele não estava interessado nisso e apenas queria trabalhar. No final da noite, quando todas as equipas foram para casa, contavam-se pelos dedos as vezes em que o silêncio tinha sido quebrado entre os dois.

 

Inês quando chegou a casa, antes de se ir deitar, apenas pensou que iria ser um mês muito comprido e não tinha esperança de que as coisas melhorassem.

 

As suas previsões acabaram-se por concretizar, pois o resto da semana foi muito semelhante ao primeiro dia. Custava-lhe muito que isso acontecesse, pois ela por natureza tinha a tendência para tagarelar, mas a frieza com que o colega a tratava, tirava-lhe qualquer vontade de falar com ele. Até porque ele mostrava-se muito concentrado no que estava a fazer e demonstrava que não queria ser incomodado com coisas triviais. Ela não se podia queixar da ajuda dele, pois ele era uma pessoa muito inteligente e prática e conseguia desenrascá-los aos dois nas tarefas que eram atribuídas à equipa. Mas ela não estava a ser ela própria. E isso era algo que ela detestava.

 

Mas as coisas não mudavam. Dia após dia, a rotina era sempre a mesma. Depois do trabalho normal diário, iam os dois para a sala de reuniões com as
restantes equipas envolvidas no projecto. E ela acabava invariavelmente na mesma equipa do Diogo, onde o trabalho decorria sempre da mesma forma.

 

Até que numa noite, Inês decidiu que tinha mesmo de falar com o seu colega.
Eles até estavam a cumprir com as tarefas que lhes iam sendo atribuídas, masnão percebia o motivo pelo qual ele agia assim. E mais valia falar agora, do que aguentar mais duas semanas e meias naquela situação inconfortável. Isto se o projecto não se prolongasse.

Por isso, numa altura em que as coisas estavam mais calmas, ela decidiu arriscar.

 

- Diogo… Podemos falar?

- Claro. Tens alguma dúvida?

- Não, não era por causa de nenhuma dúvida. Precisava de esclarecer uma coisa contigo.

 

Inês reparou logo na mudança da expressão facial do seu colega quando disse essas palavras, pois tinha-se tornado ainda mais sisuda.

 

- Mas sobre o que queres falar? – Interrogou-se Diogo, mostrando um certo ar de surpresa.

- Queria falar da forma como estamos a trabalhar juntos.

- Mas achas que não estamos a trabalhar bem? Estamos a fazer tudo o que nos foi pedido e até já fomos elogiados por isso.

- Sim… eu sei… mas não é isso. É que queria falar da forma como nós os dois nos relacionamos. Não sei… parece que não gostas de mim e tentas evitar falar comigo… até pode não ser isso, mas é a impressão com que fico.

- Inês… podes estar descansada… não tenho nada contra ti… é só que estou muito concentrado no que estou fazer e quero garantir que as coisas correm bem.

- E achas que eu não quero? E que não estou empenhada no projecto? É que acho que as coisas poderiam correr melhor se nos dessemos melhor… as horas e as noites passariam mais depressa…

 

Diogo calou-se momentaneamente e reflectiu no que haveria de dizer. Sabia que ela tinha razão. Eles estavam praticamente obrigados a estar mais tempo juntos do que com as próprias famílias e amigos e não era justo para ela ter como companhia alguém que não queria falar com ela a não ser quando fosse necessário. Ele tinha sido sempre uma pessoa fechada por natureza… era mesmo próprio da sua personalidade… mas soube que tinha de fazer um esforço para ser mais sociável, pois caso contrário poderia surgir problemas com Inês, o que iria acabar por afectar o projecto.

 

- Sim… tens toda a razão… mas tens de perceber que eu sou assim por natureza… mas vou fazer um esforço para melhorar…

- É só isso que te peço. Não te vou obrigar a mudares, mas agradeço que pelo menos estejas disposto a fazer o esforço.

- Sim… vou fazer esse esforço. Eu prometo.

- E para iniciar esta nova fase, fazemos um pacto. Cada um irá contar algo que mais ninguém aqui na empresa sabe. E quero que saibas que podes confiar em mim.

- Inês…- disse Diogo, após uma breve pausa – essa questão nunca se colocou.
Nunca me deste motivos para não confiar em ti. Mas queres que eu comece?

- Não…como fui eu que tive a ideia, eu começo. Sabes quem eu descobri que andava com a Mónica da área comercial? O André da área das compras. Cá eles fingem que não se conhecem, mas um dia vi-os muito juntos num restaurante, num jantar romântico.

 

- Não… A sério? Nem fazia ideia? Mas mais alguém sabe?

- Não… eu não contei nada a ninguém… Não tem nada a ver comigo, nem com mais ninguém da empresa. É daquele tipo de coisas que diz respeito apenas a eles os dois e a mais ninguém. E só te conto a ti, pois sei que não vais contar a ninguém.

- Obrigado pela confiança. Claro que não vou contar a ninguém. Agora é a minha vez, certo?

- Sim… Estou curiosa para saber o que aí vem…

- Mas prometes que fica entre nós?

- Claro que sim…

- Bem.. A Mónica e o Jorge não são os únicos que têm um romance no escritório… - disse Diogo, aguçando a curiosidade da sua colega. - Eu tenho uma relação secreta com a Sónia já há uns meses.

 

Inês ficou completamente chocada. Nunca iria pensar que a sua amiga Sónia se pudesse envolver com alguém como o Diogo. Eram pessoas muito diferentes e com personalidades opostas. Se bem que ela tinha dito que estava a andar com alguém nos últimos tempos e estava a fazer segredo da pessoa.

 

- Não posso… Estás mesmo a falar a sério?

 

Diogo fez mais uma pausa, tendo colocado um ar muito sério antes de responder à sua colega.

 

- Achas mesmo? – disse Diogo, tentando evitar um sirriso.

- Não sei… Podia ser verdade… mas não foi isso o combinado. Era suposto contarmos um ao outro uma coisa que mais ninguém soubesse – reclamou Inês, como era seu hábito.

- E foi o que fiz. Provei-te que tenho um sentido de humor, ao contrário do que todos no escritório pensam…

 

Inês esboçou um genuíno sorriso ao seu colega e soube que as coisas iriam mudar para melhor e que ambos se iriam dar melhor no futuro…

publicado por Matt Xell às 00:34
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Quarta-feira, 3 de Agosto de 2011

Introdução

Será possível que o amor consiga transformar uma pessoa? Poderá uma pessoa mudar completamente a sua maneira de ser e pensar por amor?

 

Pedro é um rapaz que nunca foi capaz de se comprometer e que encontra em Inês a primeira rapariga por quem verdadeiramente sente algo... Mas ele desconhece por completo o passado de Inês, uma rapariga por quem se apaixonou à primeira vista.

Será suficiente que duas pessoas se amem para ficarem juntas para sempre, ou não será a vida assim tão simples? Poderão duas pessoas muito diferentes uma da outra conseguir separar os obstáculos que vão surgindo numa relação improvável... Será que uma pessoa consegue esquecer o passado e impedir que este influencie a possibilidade dessa pessoa ser feliz?

Acompanha a relação tumultuosa entre Pedro e Inês, na sua tentativa de encontrar o que toda a gente procura, a felicidade, nesta história de amor...

 

O amor só encontra o seu significado no momento da separação...

G. Bona, "Il Silenzio delle Cicale"

 

 

 

 

Se é a primeira vez que visitas o blog, convido-te a ler inicialmente o primeiro capítulo.

 

Primeiro capítulo
http://realitycheck.blogs.sapo.pt/376.html
 

 

publicado por Matt Xell às 00:01
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Domingo, 3 de Abril de 2011

Capítulo 28 - Palavras Escondidas...

 Patrícia encontrava-se compenetrada nos seus pensamentos, quando sentiu algo a bater na sua cara. Tinha sido uma daquelas pequenas bolas de esponja com o logótipo da empresa que alguém tinha atirado contra ela. Mesmo sem se virar na direcção do culpado, ela já sabia quem o tinha feito.

 

 

Realmente, Pedro nos últimos dias tinha recuperado a alegria que tinha desaparecido nos últimos meses. E tinha novamente disposição para este tipo de brincadeiras com ela. E só poderia existir um motivo para esta mudança de disposição. As coisas deveriam estar a correr melhor com a Inês. Apesar dele não lhe ter dito explicitamente, notava-se que ele tinha novamente voltado a sair com ela. Não, as coisas ainda não estavam como eram antes. Mas seria uma questão de tempo até as coisas mudarem. E ela sabia que ela tinha sido uma das principais responsáveis pela reaproximação dos dois. Ela podia ter ficado calada no jantar de anos de Pedro e não ter dito nada a Inês. Se assim ela o tivesse feito, os dois continuariam afastados. Mas ela já não suportava a tristeza e melancolia na vida de Pedro, e por mais que lhe custasse a ela própria, ela estava disposta a perdê-lo, pois o que ela mais queria era que ele voltasse a ser o Pedro de sempre… Era muito difícil para ela. Foi um sacrifício que nunca ninguém saberia que tinha feito. Quem nunca sofreu, nunca amou. E quem já amou, já sofreu…

 

Quem nunca fez algo por alguém, sem essa pessoa saber de nada? Era esse o papel que lhe tinha sido reservado na saga de Pedro e Inês. O de uma personagem secundária, a que ninguém ligava muito, mas que teve um papel fulcral no desenrolar da história.

 

Todos estes pensamentos passaram num segundo na sua cabeça, antes de se virar para Pedro.

 

- Já vi que estás sem nada para fazer… - disse, fingindo um tom agressivo na sua voz.

- Desculpa, não me consegui conter. Quando te vi aí parada à frente do PC, tinha mesmo de fazer aquilo.

 

Patrícia sorriu no seu íntimo, pois sentia que Pedro estava feliz. E ainda por cima, essa mudança do estado de espírito tinha provocado uma reaproximação entre os dois, se bem que ele continuasse a vê-la só como uma amiga.

 

- Folgo em saber isso.

- Vá lá… não é a primeira vez que te faço isto.

- Sim… não é a primeira… E tenho a sensação de que não será a última… Mas o que vieste fazer ao meu humilde gabinete?

- Tens um tempinho para falar?

 

Patrícia quase congelou ao ouvir essas palavras. Já imaginava o que estaria para vir. Infelizmente, o facto de Pedro ter voltado a recorrer a ela para ser sua confidente, também trazia um reverso da medalha. Um dia, ele iria voltar a falar da sua quase relação com Inês. Ela sabia que era inevitável, mas tinha o secreto desejo que fosse o mais tarde possível. Se ele soubesse o transtorno que lhe estava a causar, ele talvez não lhe diria nada. Mas não sabia, porque ela própria não queria que ele soubesse.

 

- Claro. Desde que não atires outra vez uma bola contra mim.

- Vou tentar conter-me.

- Fica combinado. Então, que novidades tens para me contar?

- Queria pedir-te um conselho.- Patrícia sabia que o momento que tanto receava estava prestes a chegar.

- Já sabes que podes confiar em mim. Diz-me lá.

 

A cara de Pedro ficou mais séria. Os seus olhos demonstravam que tinha algum receio em fazer-lhe a pergunta. Após ter dado um ligeiro suspiro, disparou:

 

- Não sei se te tinha dito, mas no fim de semana passado, estive com a Inês…

 

Mesmo estando à espera desta situação, Patrícia sentiu um calafrio quando ela se concretizou.

 

- Não, não foi nada do que estás a pensar… foi só um cafezinho, para por a conversa em dia. Como se fossemos dois bons amigos.

 

- Ah… não fazia a mínima ideia. E como é que correu? – disse Patrícia, tentando com o largo sorriso esconder o incómodo que esta conversa lhe estava causar.

- Bem…Aliás… muito bem. Foi como nada se tivesse passado antes.

- Mas? – Patrícia sabia que teria de haver algo mais, para ele querer falar com ela.

- Mas, faltou algo… Eu senti que ela estava a gostar de estarmos juntos novamente… mas senti que ela estava a conter-se em alguns momentos… como se ainda não confiasse totalmente em mim...

- Sabes.. Isso é normal… esta coisas levam tempo… mas já é muito bom as coisas estarem a comporem-se.

- Tens razão… não posso apressar as coisas. Mas queria mesmo que as coisas voltassem a ser como dantes… Mas ainda somos apenas amigos…

 

Ao ouvir estas palavras, Patrícia sentiu por uns breves momentos, uma esperança. Mas rapidamente ela desvanesceu-se. Ela sabia que mais cedo ou mais tarde ele e Inês iriam acabar por voltar a estar juntos. E queria que isso acontecesse o mais cedo possível, pois quando mais tempo isso demorasse a acontecer, mais tempo iria alimentar aquela sensação de ainda ser possível que Pedro olhasse para o lado e a visse de uma forma diferente. E isso iria impedi-la de seguir com a sua vida.

 

- Eu sei que as coisas vão mudar. Ela não vai conseguir resistir para sempre ao teu charme – disse Patrícia com um sorriso maroto ao mesmo tempo que pousou a mão em cima do ombro do seu amigo. – tens de a reconquistar aos poucos…

 

- Sabes… Eu não sei o que faria sem ti. E sem os teus conselhos. És a melhor amiga a quem eu poderia recorrer para me ajudar neste tipo de coisas.

- Já sabes… ficas a dever-me um favor.

- Não será o primeiro.

- Eu estou a contar.

- Eu sei bem que sim… - disse Pedro com um sorriso. – Mas chega de falar de mim. Como é que estão a correr as coisas com o Miguel?

 

Patrícia pensou um pouco antes de responder. Não sabia muito bem o que lhe dizer. As coisas estavam a avançar lentamente com o Miguel, o tal homem com quem tinha jantado há uns meses atrás e tinha-se dado muito bem. E ao contrário do que imaginava que iria acontecer nesta altura, ele ainda estava interessado nela, mesmo após ela ter estado nuns meses terríveis numa campanha que a obrigou a imensas noitadas e fins de semana. Mas ele devia mesmo estar interessado nela, pois teve muita paciência e demonstrou que estava disposto a esperar por ela.

Foi por isso que teve vários encontros com ele. Acima de tudo, ambos estavam a aprender a confiar um no outro e a conhecer-se melhor. Ambos eram muito parecidos e gostavam das mesmas coisas. Ele era perfeito para ela… Mas ela ainda não tinha deixado cair todas as suas defesas, uma vez que tinha aquela ideia estúpida de que Pedro ainda poderia vir a interessar-se por ela e que assim que ela entrasse numa relação com Miguel, a porta fecharia para sempre. E era por isso que ela tinha medo do que dizer a Pedro, com medo de dizer algo que o afastasse para sempre. Não que ele tivesse alguma vez próximo dela.

 

- Estão a correr bem. Fui jantar com ele na semana passada. Fiquei de lhe ligar para combinar qualquer coisa esta semana.

- Já vi que as coisas estão a começar a ficar sérias.

- Não sei ainda… Vamos lá ver como as coisas correm. Por agora estamos a levar as coisas devagar.

 

Patrícia tinha muito cuidado em cada palavra que dizia. Não queria dizer nada que pudesse afastar Pedro, nem dizer uma mentira ao seu amigo.

 

- Fico feliz por ti. Vejo que tens estado feliz com ele e isso é que interessa. Ele seria um parvo em não querer ter algo mais sério contigo.

 

Patrícia ficava sempre um bocado atrapalhada, quando Pedro lhe fazia um elogio destes. Ficava dividida, pois sempre lhe fazia ter esperança de que ela gostasse dela. Mas no seu íntimo, ela sabia que isso não era realidade.

 

- Vamos ver.. Eu ainda não sei se quero ter uma relação séria com ele… Mas estão a correr bem…. – disse Patrícia, que ficou um pouco desiludida pelo facto de Pedro não ter demonstrado qualquer indícios de cíumes da sua quase relação com o Miguel.

 

- Espero que sim… já estás a ficar para velha… é melhor aproveitar enquanto ainda estiveres minimamente atraente para tentar enganar alguém a ficar contigo- disse Pedro, desta vez já com um ar menos sério.

 

- Ora… Vá…Vamos trabalhar… - disse Patrícia, com um grande sorriso nos lábios, sorriso esse que, neste momento da sua vida, só o Pedro lhe conseguia provocar.

publicado por Matt Xell às 23:13
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Segunda-feira, 29 de Novembro de 2010

Capítulo 27 - Dar tempo ao tempo...

Apesar de já ter passado um dia, Inês não conseguia de deixar de mostrar um sorriso sempre que pensava na conversa que tinha tido com Pedro. Ela sabia que os dois eram feitos um para o outro. Mas sabia também que nem sempre duas pessoas que gostam uma da outra ficam juntas. Ainda para mais, quando a confiança entre elas tinha sido quebrada no passado.

Por isso, sentia-se culpada de ter a esperança de que as coisas voltassem a ser como dantes. Tinha de ter paciência e ver como as coisas corriam. Mas era complicado gerir estes sentimentos, pelo que decidiu que precisava da ajuda da sua melhor amiga e dos seus bem-intencionados conselhos.

 

Combinou então com a Rita passar em casa dela, para falarem um pouco ao final da tarde. A amiga, que também já não a via há algum tempo devido aos horários complicados que Inês tinha tido nos últimos tempos, insistiu que ela fosse visitá-la.

 

Inês ficava sempre com remorsos quando ia visitar a amiga, pois a sua casa parecia uma arrecadação em comparação com a casa perfeita da amiga. Nunca tinha visto uma casa assim… Estava sempre decorada com as coisas certas no lugar certo e sempre limpa e arrumada. Parecia aquelas casas que se viam nas revistas de decoração que costumava ler quando estava na sala de espera do seu dentista.

 

Mas à hora combinada, lá chegou à casa da sua amiga. E logo depois de ter deixado o seu casaco em cima da cama que estava no quarto de hóspedes, foi logo metralhada com as perguntas que Rita queria fazer desde o dia anterior.

 

- Então… Como é que correu? – disse Rita, com um tom de impaciência, bem patente na sua voz.

- Correu bem… ou melhor… correu muito bem. Pareceu que nunca tínhamos deixado de estar juntos…

- E como é que te sentes?

- Não sei bem… estou muito confusa…

- E tens motivos para estar… Não te podes esquecer do que ele te fez.

- Não… não me esqueci. Mas… - tentou justificar Rita antes de ser interrompida.

- Não pode haver mas… Já te esqueceste do que sofreste com ele?…Eu pelo menos, não me esqueci do que passaste na altura. Sei que para ti, é fácil pensar que ele mudou, pois queres a todo o custo arranjar uma desculpa para que as coisas voltem a ser como antes.

- Rita… Posso assegurar-te que não me esqueci do que passei… nem do apoio que me deste… Mas não é fácil… queria tanto voltar para ele...

- Sim, eu sei, querida. Mas ainda é cedo para isso. Tens de esperar mais um pouco, para saber se ele mudou mesmo.

- Eu sei que ele está diferente. Deu para perceber ontem. Deu para perceber no jantar de anos dele. Acho que ele percebeu que errou e que quer que eu volte para a vida dele.

- Sim, acredito nisso. Mas a pergunta que tens de te perguntar é se tu queres que ele volte já. Ainda por cima, agora encontras-te numa fase em que estás a descobrir quem és e o que queres da tua vida.

- O que hei-de fazer?

- Tu sabes no teu íntimo qual é a decisão correcta a tomar. Não é a mais fácil… mas a longo prazo, será a melhor…

- Tens razão…Tens sempre razão…

 

Rita abraçou a amiga, pois sentiu que esta precisava do seu apoio naquele momento. Viu um pequeno brilhozinho nos olhos da amiga, pois as primeiras lágrimas começavam a aparecer, quando tomou consciência do caminho que deveria seguir.

 

- Vá… vamos falar de coisas mais alegres – disse Rita, tentando distrair a amiga. – Parece que já tens um tempinho livre durante a semana para sair com as tuas amigas. 

- Pois… o trabalho vai acalmar por uns tempos. Já estava mesmo a precisar…

- Também diria que sim. Já não te via há tanto tempo. Já quase passas mais tempo com os teus novos colegas do que com os teus amigos.

-Nos últimos tempos tem sido assim. Mas também já deu para fazer novas amigas lá dentro. Senão, não teria aguentado estas semanas infernais…

- Ainda bem… mas quando é que conheço algumas dessas tuas novas amigas?

- Temos de combinar um cinema para vos apresentar… Vais gostar delas… são muito divertidas…

- Então combina… por mim, pode ser quando quiseres… Não sou eu que tenho estado sempre indisponível nos últimos tempos…

- Tens toda a razão… escusas de dar-me novamente na cabeça…

- E vou finalmente conhecer esse tal homem com quem tens passado o tempo todo?

- Quem? O Diogo? Ele é apenas um colega…- disse Inês com uma voz indignada. Não o considero que seja um amigo. Não que não tenha já tentado aproximar-me dele, pois tendo em conta o tempo todo que iríamos estar juntos a trabalhar, seria sempre mais fácil passar o tempo com alguém com quem me desse bem… mas ele é muito…. Como é que hei-de dizer? Muito fechado e muito profissional… não é daquelas pessoas com quem eu normalmente me dou bem…

- Pois…já estou a ver o tipo de pessoa que ele é… Mas é assim tão complicado trabalhar com ele? Coitada de ti…

- Não é assim tão mau. Ele não é uma pessoa antipática. Parece-me mais uma pessoa introvertida, que está no seu próprio mundo. E não me posso queixar. Ajudou-me muito… sempre que eu tinha uma dúvida, ele parava o que estava para fazer e ajudava-me… Foi sempre muito prestável… mas era sempre um pouco frio na forma como me explicava as coisas… acho que ele não gosta assim muito de mim, mas como tem de trabalhar comigo, faz um esforço para parecer minimamente sociável…

- Não te queixes… podia ser pior… ele podia não te ajudar, só para fazer boa figura perante os vossos chefes, em comparação contigo…

- Não… ele não faria isso. Pelo que pouco que conheço dele, ele é uma pessoa muito íntegra…muito profissional… Ao menos, não me tenho de preocupar com isso.

- Outra coisa? Ele é giro?- disse Rita com um sorriso maroto.

- Acho que ele é normal… não é daquelas pessoas que me chamaria a atenção se o visse na rua…- respondeu Rita à provocação - Mas também não se pode dizer que seja feio… Mas mesmo que se parecesse com o George Clooney, com aquela personalidade, nunca me interessaria por ele…

- Pois… já vi que só tens olhos para o Pedro…

- Não tínhamos combinado em não falar de coisas tristes?

- Tens toda a razão… Olha, já te mostrei o quadro que comprei para o meu quarto de hóspedes?

- Ainda não… Mostra, mostra…

 

Depois de ter sido deslumbrada pelo quadro da amiga, Inês passou o resto da tarde a falar com a sua amiga sobre muitas coisas… Sem dar por isso, tinha conseguido passar umas horas sem pensar na sua relação difícil com Pedro. Se os próximos tempos fossem tão fáceis assim…

publicado por Matt Xell às 13:15
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Domingo, 24 de Outubro de 2010

Capítulo 26 - Bons Amigos

O fim-de-semana tinha finalmente chegado. Por isso, Inês tinha aproveitado para dormir até um pouco mais tarde. As últimas semanas tinham sido cansativas por causa do seu trabalho, e as suas horas de sono tinham sido muito reduzidas, pelo que lhe soube muito bem estar deitada na sua caminha. Era impossível recuperar as horas de sono perdidas nos últimos tempos, mas nesse dia apetecia-lhe ficar o dia inteiro a dormir e não fazer absolutamente mais nada. Mas tinha de levantar-se. Tinha uma série de tarefas a fazer. Uma das quais seria ir às compras, pois sabia que o seu frigorífico estava praticamente vazio e que a única coisa que teria em casa para comer seria provavelmente um iogurte líquido. E também não se podia esquecer de limpar a casa, pois o facto de não ter uma empregada que a ajudasse, notava-se perfeitamente na sua sala e na cozinha. E também teria de lavar a roupa suja que se tinha acumulado nos últimos tempos. Até porque queria levar um dos seus vestidos favoritos para o café com Pedro, marcado para o final da tarde.

 

O dia passou assim num instante, enquanto tratava dos seus afazeres. E quase sem dar por isso, estava a sair de casa para ir ter com o Pedro a um café em Telheiras. E nessa altura veio à cabeça a importância desta ocasião. Era a primeira vez que iria estar sozinha com Pedro desde que se tinham separado há uns meses atrás. E apesar de ainda gostar dele, queria que este fosse apenas um encontro entre amigos, pois no seu íntimo ainda se sentia algo magoada pelo que ele lhe tinha feito e ainda não confiava totalmente nele. Só esperava que Pedro tivesse as mesmas intenções, e que não estivesse à espera de algo mais. Ainda era cedo para isso. Era uma questão de ver o que a noite lhes iria reservar.

 

Quando chegou ao café, Pedro já la estava à porta à sua espera. Inês olhou para o seu relógio e viu que tinha chegado à hora marcada. O Pedro já devia ter chegado um pouco antes, o que poderia indiciar algum nervosismo e ansiedade por parte dele. Tudo o que ela queria era um encontro amigável, sem pressões de ambos os lados.

 

- Olá – Cumprimentou Inês, antes de dar dois beijinhos na face de Pedro.

- Olá.- Respondeu Pedro.

- Espero que não estejas à espera há muito tempo.

- Não… cheguei agora mesmo, um pouco antes de ti.

- Ainda bem que não tiveste de esperar. Vamos entrar?

 

Dirigiram-se os dois para uma mesa no canto do café, onde poderiam falar confortavelmente. O café não estava muito cheio, mas no sítio onde se sentaram não havia muita gente à volta, pelo que haveria menor ruído de fundo.

 

- Já há algum tempo que não nos víamos – disse Pedro, logo após terem pedido ambos um capucinno e um cheesecake de framboesa ao empregado de mesa.

- Tens razão… já lá vão várias semanas. Mas aí a culpa é toda minha. Estas últimas semanas lá na minha empresa foram algo complicadas. Já percebo os stresses que tinhas às vezes nalguns dias com os deadlines das tuas campanhas, quando… -Inês parou um instante pois estava prestes a dizer “quando ainda estávamos a namorar”, e percebeu que poderia causar algum embaraço. Mas emendou a tempo.

- … estavas sempre ocupado.

- Estás a ver? Não eram só desculpas. Há alturas em que praticamente não conseguiamos parar nem por um segundo. E não tínhamos tempo para mais nada… Já sabes o que passo.

- Sim, agora percebo perfeitamente.

- Mas o mais importante de tudo, é que tu estejas a gostar do que estás a fazer. Senão, é um sacrifício muito grande.

- Sabes, estou mesmo a gostar. Quando lá cheguei, estava sempre a pensar que seria sempre um emprego temporário, para me ajudar a pagar as contas, e que uns meses depois, estaria à procura novamente de algo na minha área….

 

Inês sentia que podia conversar à vontade com Pedro. Isso era algo que não tinha mudado. Ele sabia ouvi-la e notava-se que ele tinha um real interesse por se inteirar do que ela estava a sentir e do que ela estava a passar.

 

- … mas estou a gostar dos amigos que fiz por lá e surpreendentemente, estou realmente interessada nas tarefas que me deram. Claro que preferia trabalhar menos horas… mas sinto que faço parte da equipa e que as pessoas confiam no meu trabalho.

 

- Isso é o mais importante. Eu também só faço as noitadas que faço porque também gosto do que faço… Bem, o ordenado também ajuda…

 

Pedro conseguiu arrancar um leve sorriso a Inês. O quanto ele sentia falta de ver aquele sorriso tímido, mas ao mesmo tempo muito contagiante.

 

- Mas felizmente, a parte complicada já terminou. Agora só daqui a três meses, é que o stress volta novamente. E aproveito para aprender entretanto mais algumas coisas sobre contabilidade… Acho que me fez alguma falta, nestas últimas semanas… Lá me valeu a ajudas dos meus colegas.

 

- Sabes, nunca pensei que acabasses por ficar num emprego como esse. Sempre pensei que estivesses a fazer algo onde estivesses a trabalhar com pessoas ou miúdos, ou algo mais criativo. É que contabilidade e números parecem-ne uma coisa muita séria… não era daquelas áreas que ligue muito com aquilo que tu és…

- Eu também nunca pensei isso… Mas as pessoas mudam… E acho que mudei alguma coisa nos últimos tempos… Sempre fui uma pessoa muito emocional e agia com base no que sentia… Mas isso já me causou alguns dissabores…

 

Pedro sentiu-se um pouco culpado ao ouvir estas últimas palavras. Tinha sido ele a última pessoa a magoá-la, quando lhe tinha prometido no início do namoro que ele nunca a iria magoar como outras pessoas o tinham feito. Mas, lá no fundo, ele sabia que ela agora não lhe estava a dar uma indirecta.

 

- … Mais do que eu desejava. Mas sempre fui assim, desde miúda. Decidia sempre com o coração e não pensava muito nas consequências. Sempre fui muito impulsiva, sabes? E chega uma certa altura, quando nos apercebemos de que temos de mudar… Não uma pequena mudança nos nossos hábitos… mas sim uma mudança na nossa forma de agir e viver a vida… às vezes as coisas más acontecem por uma razão… nem que seja para nos fazer ter um reality check, e repensar um pouco…- Inês parou por uns instantes, pois o seu lado emocional estava novamente a vir ao de cima.

 

- … pelo que decidi ser menos impulsiva… usar mais a razão do que a emoção… E por acaso acabei por arranjar um emprego mais sério… mas foi pura concidência… Talvezs um sinal de que tinha de mudar…

 

- Às vezes, temos mesmo de mudar… Só tenho pena de ter sido um dos causadores dessa mudança.

- Já falámos disto, Pedro. Há coisas más que vêem por bem. Mas o passado é o passado. O que interessa agora é a nossa amizade…

- Sim… mas sinto-me algo responsável.

- Não te sintas. Às vezes, precisamos mesmo de mudar a nossa vida e isso não acontece por uma única situação. Não foi só por causa de ti que repensei um pouco a minha vida. Disso podes estar descansado.

- Tens razão. È como tu dizes. Nem vale a pena falar mais no passado.

- Concordo. Mas voltando ao que te estava a dizer… o mais importante é que estou realmente a gostar de estar envolvida em algo mais concreto, mais terra a terra. Realmente, mudei um pouco.

 

Pedro ficou um pouco mais descansado. Ele não tinha planeado no dia de hoje tocar no que tinha acontecido antes entre os dois, e quando ele mencionou sem pensar em algo que os tinha afectado aos dois no passado, pensou que pudesse ter estragado o encontro amigável que ambos estavam a ter. Felizmente, isso não aconteceu.

Mas acima de tudo, estava feliz por ter mais uma oportunidade com Inês. Mesmo não sendo a mesma Inês de antes, continuava a sentir a mesma empatia com ela… e queria fazer todos os possíveis para um dia ela confiar nele novamente.

 

- Seja como for, tu ainda és a mesma Inês de sempre. Apenas um pouco mais madura…

- Sim. Desde que com isso não estejas a insinuar de que estou a ficar mais velha.

- Agora que falas nisso, estou a ver umas rugas novas na tua testa…

Inês já sentia falta das provocações mútuas entre ambos. Sentia-se feliz, por aos poucos, as coisas estaram a voltar ao normal antes da separação. Mas sabia que as coisas nunca mais iriam ser as mesmas. Ou que pelo, menos ainda faltaria muito para que isso acontecesse.

 

- Olha quem fala. Já vi que o trabalho te tem dado muitas preocupações ultimamente. Pelo menos pela quantidade de cabelos brancos novos que tens…

 

A conversa continuou durante cerca de uma hora. Mas acima de tudo, a conversa foi natural, sem silêncios embaraçosos. Os dois continuavam a dar-se muito bem e isso notou-se perfeitamente. Quem os visse sentados naquele café, nunca imaginaria que era a primeira vez em muito tempo que estavam juntos e muito provavelmente grande parte das pessoas pensariam que eles estariam juntos numa relação.

 

Mas durante a conversa um certo tema não foi focado por nenhum deles. Falaram animadamente sobre uma série de coisas, mas nenhum quis ser o primeiro a perguntar ao outro se estavam a sair com outra pessoa. As coisas estavam a correr bem, e nenhum queria introduzir um tema inconfortável para ambos naquela noite.

 

Mas Pedro, esteve a pensar nisso durante a noite toda. Mesmo que não o parecesse, ele queria saber se ela estava a sair com alguém ou estava em vias de sair com alguém. Ele já tinha percebido que pelo menos ela não estava em nenhuma relação séria. Mas isso não era suficiente. Ele queria saber que ainda existia hipóteses de um dia os dois voltarem a estar juntos.

 

Mas não conseguia encontrar nenhuma ocasião apropriada para introduzir este tema na conversa. Supostamente, eles agora eram amigos. E não seria normal um amigo perguntar a outro amigo se eles estavam a sair com alguém? Ele fazia isso com a Patrícia. Mas será que ela poderia interpretar mal a sua pergunta? Ele não queria arriscar.

 

Mas pressentindo que o encontro deles estava quase a terminar, ele soube que não era algo para lhe perguntar directamente. Tinha de satisfazer a sua curiosidade de uma forma mais discreta. Porém, sabia que tinha de ser naquele momento. Por isso, logo a seguir a ter olhado mais uma vez para o relógio, decidiu-se finalmente.

 

- Já está a ficar um pouco tarde. Estou a gostar imenso da nossa conversa, mas hoje não posso dormir muito tarde.

- Ai não?. Não me digas que ontem saíste à noite e só te deitaste de madrugada. – Inês aproveitou a deixa, para tentar também descobrir algo mais, mas sem dar a entender as suas intenções.

- Não… nos últimos dias não tenho dormido assim muito. E não, não é pelos motivos que possas estar a conjecturar na tua cabeça. Tenho estado a trabalhar numas campanhas quase em simultâneo e tenho feito umas noitadas muito prolongadas. Este é o primeiro fim-de-semana nos últimos tempos que tenho um tempo livre, mas as próximas semanas irão ser complicadas. Por isso, não sei se nos próximos tempos mais próximos, se as coisas irão ser calmas… Será mais complicado combinarmos alguma coisa… Se bem, que, como imagino que a tua vida social deva agora estar bastante preenchida, depois das últimas semanas. Aliás, deves ter as próximas noites ocupadas, durante os próximos tempos. – Pedro lançou o isco, e esperou que a resposta dela lhe desse alguma indicação para a questão que inquietava a sua mente..

 

Por seu turno, Inês não caiu no erro de responder logo a Pedro. Ela já o conhecia bem, e sabia que a insinuação dele não tinha sido casual. Mas ao mesmo tempo, não sabia exactamente o motivo dele. Não, ela não tinha muitas coisas marcadas nos próximos tempos. Mas será que ele queria marcar mais uma coisa com ela, tão pouco tempo depôs deste reencontro que estavam a ter nessa noite? Ou teria outro motivo escondido?

Mas ela sabia que tinha de ser sincera. Ambos estavam a tentar fazer o esforço de serem amigos e se ela queria ser amiga dele, tinha de começar a confiar nele aos poucos.

 

- Nem por isso. Tenho só uma saída marcada com umas amigas, mas de resto, nos próximos dias tenho muitas tarefas caseiras para pôr em dia.

 

Pedro sentiu-se aliviado ao ouvir estas palavras. Se ela tivesse encontrado alguém, a primeira coisa que faria após estas semanas terríveis em termos de horários, seria passar tempo com essa pessoa.

 

- Já vi que transformaste-te numa dona de casa exemplar. Desde que não sejas também desesperada…

- Piadinhas…

- Reconhece. Já sentias alguma falta das nossas conversas.

- Por mais que me custe a admitir, lá muito lá no fundo, sentia mesmo a falta. Pena que tenha agora memso de ir a um jantar com a família. – disse Inês, com um grande sorriso nos seus lábios.

- Então, temos de combinar qualquer coisa daqui a uns tempos – disse Pedro, tentando não parecer muito ansioso e tentando que ela não achasse que ele pudesse estar a pressionar.

- Seria óptimo.

 

Ao saírem do café, Inês despediu-se um um leve beijo na face de Pedro, com a promessa de não deixar que passasse muito tempo antes de se encontrarem novamente. Pedro viu-a a passar para o outro lado da estrada onde ela tinha deixado o carro, e não conseguiu deixar de pensar, enquanto via o cabelo loiro de Inês esvoaçar ligeiramente com uma leve brisa que passava naquele momento, que esta noite tinha sido o primeiro passo para que tudo voltasse a ser como dantes.

publicado por Matt Xell às 23:08
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Domingo, 5 de Setembro de 2010

Capítulo 25 - O início da amizade

Pedro estava satisfeito pelo facto da noite passada ter corrido bem… Principalmente, estava feliz pelo facto do reencontro com Inês ter sido muito encorajador. Os dois tinham falado algumas vezes durante a noite e pareceu-lhe que ele já tinha recuperado parte da confiança dela. Mas sabia que ainda faltava muito para que as coisas voltassem a ser como dantes. E a culpa era toda dele.

 

Agora tinha de ser amigo de Inês. Por mais que isso lhe custasse, era o que Inês queria. E ele não tinha outra hipótese que não a de respeitar o seu pedido. Quão difícil poderia ser amigo de uma mulher? Ele já tinha conseguido manter uma relação de amizade com a Patrícia. Não poderia ser assim tão complicado.

 

Enquanto estava no escritório, Pedro resistiu à tentação de ligar-lhe por causa do tal encontro que tinham ficado de ter. Era ainda muito cedo para ligar-lhe. Ele tinha de ter paciência e fazer as coisas com calma, sob o risco de afastar Inês novamente da sua vida. E também lembrou-se que não tinha ficado combinado quem ligaria ao outro. Ela poderia estar a contar a ser ela a marcar o encontro e ele não queria estar a pressioná-la.

 

Não, ele tinha esperar. E estava disposto a esperar o tempo que fosse preciso para a ter de volta.

 

Mas isso não impediu que ele estivesse o tempo todo ansioso à espera da chamada dela. Mas infelizmente, a sua espera foi em vão. Uma semana tinha passado e ele não tinha recebido um telefonema ou um SMS dela. Para tentar fugir a esse facto, ele concentrou-se no trabalho, para não ter de pensar noutra coisa. Era a forma mais fácil de não lidar com a ansiosidade que tinha.

Mas chegou a uma altura em que ele não conseguia aguentar mais. As coisas tinham corrido bem no jantar. Já tinha passado algum tempo, e podia ser que ela estivesse ocupada com o seu novo emprego e no meio de tanta coisa, não tinha tido oportunidade de lhe ligar. Por isso, racionalizou que não havia nenhum mal em ser ele ligar-lhe para combinar um café.

 

Pedro agarrou no seu telemóvel e ligou para o número de Inês. Mas ela não lhe atendeu o telemóvel. Aliás, ela desligou-lhe imediatamente, não tendo deixado tocar mais uma vez. Tentou mais uma vez, mas obteve o mesmo resultado.

 

Ele começou a ficar algo nervoso. Porque seria que ela estaria a evitar as suas chamadas? Será que ele tinha cometido o erro de ligar-lhe em vez de esperar que ela estivesse preparada para sair com ele a sós pela primeira vez desde que tinham terminado? Ou será que ela estava ocupada de momento e ligaria-lhe logo a seguir, assim que ela pudesse?

 

Pedro decidiu aguardar alguns minutos antes de tentar novamente, pois podia ser que Inês devolvesse a sua chamada. Mas os minutos foram passando e ele continuava a não ter nenhum sinal dela. Passado duas horas após a sua tentativa, Pedro decidiu ligar-lhe novamente… mas mais uma vez, aconteceu o mesmo que antes. A sua preocupação aumentou, pois por um momento, passou-lhe pela cabeça que ela tinha mudado de ideias e que não queria estar com ele, nem mesmo como amigo. Ou talvez ela tivesse encontrado alguém entretanto e não quisesse falar com ele, para evitar aquela conversa embaraçosa que acontece sempre nessas situações.

 

Mas ele não podia fazer nada. A bola estava nas mãos dela, e se ele continuasse a insistir corria o risco de afastá-la de forma irremediável. Se é que isso ainda não já tivesse acontecido. Tinha de continuar com a sua vida sem ela e nunca perder a esperança. Por isso, voltou a enterrar-se no trabalho, particularmente na campanha actual que tinha em mãos, e não saiu do escritório até serem onze da noite.

 

Quando chegou a casa, olhou para o telemóvel e viu que não tinha chamadas não atendidas ou mensagens novas. O seu ânimo diminuiu ainda mais, mas apenas podia suspirar e resignar-se à situação. Tomou um duche e depois de ter comido uma sandes ao jantar foi logo deitar-se.

 

Mas essa noite o seu sono não tranquilo, pois a insegurança que tinha reflectia-se de forma inconsciente nos seus sonhos. E nessa noite tinha mais uma vez sonhado com Inês, mas o final não tinha sido feliz. Pedro acordou de madrugada, sobressaltado com o desfecho do seu sonho, e pensou que não poderia deixar que isso acontecesse na realidade. Ele realmente amava Inês, como nunca tinha amado outra mulher na vida. E não conseguia imaginar como seria a sua vida sem ela. Sim, isso poderia parecer um cliché, mas na verdade, ele sentia um vazio que não o deixava ser feliz, mesmo com o emprego e o dinheiro que tinha. Faltava alguém com que partilhar a sua vida. Por isso, só lhe restava desviar os pensamentos para a campanha em que estava a trabalhar e em ideias novas para o anúncio televisivo.

 

E foi assim que mais um dia passou, sem ter tido novidades dela. E foi assim que passaram as três semanas seguintes em que se dedicou de corpo e alma ao trabalho, para não ter tempo de pensar nela. Os seus dias eram praticamente cópias uns dos outros. Ele passou a ser dos primeiros criativos que chegava à agência logo de manhã e passou a ser um dos últimos a sair. Os seus fins-de-semana eram também passados a trabalhar. Mas a cada dia que passava, era cada vez mais difícil escapar e evitar a realidade que cada vez mais lhe parecia mais evidente: ela já não estava interessada nele. E isso só fazia com que ele se enterrasse cada vez mais em trabalho. Era uma bola de neve que não parava de crescer.

 

Mas Pedro sabia que um dia teria de aceitar a realidade nua e crua. O tempo que tinha passado desde que lhe tinha tentado ligar pareceu-lhe uma eternidade. Tinha sido já há quase um mês. Olhou para o relógio e viu que já eram meia-noite. Não tinha noção de que era tão tarde. Olhou à volta e viu que era a última pessoa na agência. Tinha completamente perdido a noção do tempo. Estava a fazer o shutdown do seu portátil, quando ouviu o seu telemóvel a tocar. Quem poderia estar a ligar-lhe àquela hora da noite? Nunca era um bom sinal.

 

Mas o seu coração praticamente parou quando viu no ecran do telemóvel quem lhe estava a ligar, para logo de seguida começar a bater aceleradamente. Era o efeito que Inês tinha nele.

 

- Estou? – disse Pedro, depois de se recompor.

- Olá, Pedro. Tudo bem? Desculpa lá estar-te ligar a esta hora da noite.

- Não há problema. Está tudo bem? Aconteceu-te alguma coisa?

- Não, não aconteceu nada. Espero não te ter acordado.

- Já sabes como sou. A noite ainda é uma criança…

- Pois… não sei porquê, acho que já deves estar na tua caminha…

- Estás a ver como estás muito enganada? – disse Pedro, com um sorriso, que já sentia falta destas provocações mútuas – Por acaso, estou ainda na agência, a trabalhar.

- Tu? Trabalhar a esta hora? Não acredito. Só se estiveres a fazer uma campanha televisiva e estiveres a seleccionar modelos em bikini para entrar no anúncio.

- È isso que tu achas de mim? Já te disse que já não sou mais esse homem desde há uns tempos… quando conheci uma certa pessoa… Posso dizer-te que não está cá ninguém comigo e que sou a única pessoa que ainda não saiu do escritório.

- Bem normalmente, não acreditaria nisso, mas como tu me prometeste que nunca mais me irias mentir, vou acreditar em ti.

- Fazes muito bem. Tu é que deves estar com as tuas amigas na discoteca, com essa música toda como barulho de fundo. – Pedro disse estas palavras com alguma ânsia, pois tinha algum receio de que ela pudesse estar a sair com o novo namorado e tinha algum medo da resposta dela.

- Até não me importava nada de estar agora a dançar. Mas por acaso estou ainda a trabalhar.

- A esta hora? Mas ainda estás no mesmo sítio, não estás? Porque é que estás ainda a trabalhar a esta hora, ainda para mais sendo apenas uma temporária?

- Ainda não te tinha dito, mas fui promovida há duas semanas atrás, para umas novas funções de maior responsabilidade. Portanto tive que aprender todas as minhas tarefas de novo. Ainda por cima, como agora estou do departamento de contabilidade e acabámos de fechar as contas do semestre, as coisas não têm sido nada fáceis. O trabalho é muito, e o tempo é pouco. Tenho estado nos últimos dias a fazer estas noitadas até esta hora, mas finalmente as contas já fecharam e as coisas vão acalmar…

 

Pedro respirou de alívio. Não só Inês não tinha encontrado outra pessoa, como também o motivo pelo qual ela não lhe tinha ligado era apenas o excesso de trabalho. Ela não o tinha esquecido, apenas estava realmente ocupada e não tinha tido oportunidade de lhe ligar.

 

- Tenho pena que o teu novo trabalho te obrigue a trabalhar tanto. Já pensaste em tentar encontrar um novo emprego, onde trabalhasses menos? O dinheiro não é tudo na vida. Eu posso afirmar-te isso com conhecimento de causa…

 

- Sim, poder, eu podia… mas eu estou a gostar do que estou a fazer. Vou ser compensada com horas extraordinárias pelo trabalho que estou a fazer. Mas acima de tudo, os meus chefes confiam em mim e no meu trabalho. E é bom sentir esse reconhecimento pelo meu esforço.

 

- O mais importante é que tu gostes do que estejas a fazer.

- Sim… ao contrário do que esperava, estou mesmo a gostar…

- Mas não me digas que és a única que estás aí a trabalhar a estas horas… Espero que não estejam a aproveitar-se de ti, pelo facto de seres a rapariga nova…

- Pedro, sabes que a única pessoa que se aproveita de mim és tu… - disse Inês, não conseguindo evitar uma suave gargalhada de que Pedro já sentia falta – Mas falando a sério, não sou a única que estou a trabalhar. Nesta última semana, tem estado o departamento todo por cá, se bem que eu e um colega é que temos ficado todos os dias mais tarde do que os outros, pois o trabalho deles depende do nosso.

- Queres dizer que estás aí sozinha com um colega a esta hora?

- Sim, estou aqui com o Diogo. È um colega que foi promovido na mesma altura do que eu. É uma pessoa um bocado estranha, pois praticamente não me dirige uma única palavra quando não o tem de fazer. Nós só falamos acerca do trabalho. De resto, ele é uma pessoa muito fechada. Mas não me posso queixar, pois como ele tem a formação na área da contabilidade, tem-me ajudado em certas coisas que deveriam ser básicas para alguém nesta área e tem-me safado em algumas situações. Mas acho que não gosta assim muito de mim, pois tirando quando fala comigo sobre trabalho, não me dirige a palavra. Acho que só a custo é que ele me diz Bom dia ou Até amanhã.

 

Pedro ficou novamente aliviado. Quando Inês lhe tinha dito que estava sozinha com outro homem a esta hora da noite, ficou preocupado. Mas tendo em conta que lhe parecia que esse tal de Diogo não estava minimamente interessado em Inês, eles podiam ficar sozinhos no trabalho o tempo que tivessem de estar.

 

- Pelo menos ele tem-te ajudado e sido bom colega. Tiveste sorte.

- Acho que sim. Mas foi por isso que não tive oportunidade para falar com os meus amigos nos últimos tempos. Tu incluindo. Por isso, agora que o trabalho irá acalmar, queria saber se querias então tomar o tal café neste fim-de-semana, a ver se colocamos a conversa em dia.

- Por mim, acho que é uma óptima ideia.

- Espero que não tenhas estado este tempo todo à espera que eu te ligasse. – disse Patrícia com um sorriso maroto.

- Podes estar descansada que não. Estive também muito entretido nestes últimos tempos e preocupado com outras situações.- respondeu Pedro com a voz o mais natural e calma possível. Se Inês alguma vez soubesse das mudanças na sua vida que a espera por um telefonema dela lhe tinha causado, ela iria ficar assustada.

- Óptimo. Já me sinto menos mal. Realmente, tirando a Rita, quase não tenho falado com outras pessoas sem ser de trabalho nestas últimas semanas. Tenho uma série de pessoas com que retomar o contacto.

- Está descansada. Mas ainda bem que ligaste.

- Também acho que sim. Até Sábado.

 

Após Inês ter desligado, Pedro sentiu-se como se lhe tivessem tirado um peso dos ombros. Ainda tinha uma hipótese de voltar a reatar as coisas com Inês. Ainda faltava um longo caminho, mas pelo menos a caminhada não tinha sido interrompida ainda no início.

 

E o resto da sua semana foi completamente diferente do último mês. Pedro retomou os horários de sempre, pois já não tinha de soterrar-se em trabalho para não pensar na relação com Inês. Aliás, agora não conseguia deixar de pensar no encontro de Sábado. Quer Carlos, quer Patrícia notaram esta mudança repentina de humor e de hábitos e ambos sabiam que só podia estar relacionado com Inês. Só ela poderia causar esta transformação.

Quanto a Pedro, ele só esperava que o fim-de-semana chegasse o mais depressa possível, pois ao contrário dos últimos tempos, o tempo parecia agora passar mais devagar.

publicado por Matt Xell às 23:47
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Terça-feira, 3 de Agosto de 2010

Capítulo 24 - O reencontro

Inês olhou para o despertador e viu que já eram horas de se levantar. Mas desta vez, ao contrário das últimas semanas, fe-lo com um sorriso nos lábios... A noite anterior tinha mudado o seu estado de espírito, pois agora tinha uma grande esperança no futuro. Para além do novo emprego, tinha dado os primeiros passos para reatar a relação com Pedro. Por isso, não parava de relembrar o que tinha ocorrido na noite passada. Lembrava-se perfeitamente que tinha acabado de jantar e que estava indecisa sobre se deveria ligar ou não ao Pedro.

 

Inês, por mais que o não quisesse, sentia-se ainda algo renitente em ligar-lhe. Algum tempo já tinha passado desde a última vez que se tinham falado e nessa altura ela tinha-lhe dito que precisavam de passar algum tempo separados... e que um dia poderiam ser amigos... A insegurança voltou ao de cima, pois ela só pensava que ao contrário do que ele lhe tinha prometido, ele já a teria esquecido por ter ficado farto de esperar por ela. E não queria saber se isso teria acontecido ou não. Preferia pensar que ele ainda poderia estar à espera dela, em vez de ter a certeza de que ele já tinha continuado com a sua vida. E por isso, não lhe queria ligar. Tinha medo de admitir que tinha cometido um erro.

 

Foi quando ouviu o seu telemóvel a tocar. Inês olhou para o ecran e viu que era Pedro. Foi uma daquelas coincidências que parecia inacreditável. Respirou fundo e atendeu a chamada.

 

- Estou? – disse ainda um pouco receosa do que iria ouvir.

- Olá Inês, sou eu... Desculpa lá estar-te a ligar, mas senti que era altura de falarmos...

- A sério? Já não era sem tempo....

- Já sentia falta das tuas provocações.... Mas já passou algum tempo desde a última vez que nós falamos... E tínhamos combinado que iríamos tentar ser amigos... Por isso queria convidar-te a ir a um jantar que estou a organizar para os meus anos daqui a uma semana... Interessada?

 

Inês pensou um pouco antes de responder... Não queria que as suas emoções afectassem a sua decisão. Ela ainda estava um pouco indecisa sobre se já era tempo de reatar as relações com Pedro ou ainda era cedo demais.

 

- Para a semana? Deixa-me ver a minha agenda. Se não tiver nada marcado, terei todo prazer em ir.

- Gostava muito de contar com a tua presença. Os meus melhores amigos vão lá estar e queria que tu também passasses a fazer parte desse grupo.

- Vou tentar ir, está descansado. Avisa-me só depois do dia e da hora.

- Fica combinado... Foi bom ouvir a tua voz outra vez...

- Também gostei de te ouvir. Beijinhos...

- Beijinhos....

 

Assim que Pedro desligou a chamada, Inês sentia-se diferente. Sentia-se mais livre e mais aliviada. O primeiro contacto com Pedro tinha corrido bem. E acima de tudo, parecia que ele estava mesmo disposto a fazer o que ela tinha pedido para que ele conseguisse reconquistar novamente a sua confiança.

Como não poderia deixar de ser, ligou na altura imediatamente à Rita para desabafar e contar o que tinha acontecido, tendo ficado quase uma hora seguida a dizer o que sentia, antes de se ir deitar, porque o dia seguinte era dia de trabalho.

 

Tudo parecia estar a entrar nos eixos. Só esperava que tudo continuasse assim.

Mas depressa saiu do estado pensativo em que se encontrava. Agora era altura de ir para o trabalho. Ainda continuava no departamento de compras e queria demonstrar aos seus superiores hierárquicos que tinha capacidades para evoluir dentro da firma e ir para outra função...

 

O trabalho estava a correr bem e com o tempo foi adquirindo confiança em si e no que estava a fazer. E acima de tudo, que os colegas a viam não como uma cara bonita que só estava lá por esse motivo, mas como alguém motivada para o trabalho e com capacidade para aprender e evoluir. Mas já estava a ficar um pouco farta de fazer as mesmas coisas dia após dia e queria algo diferente para fazer com maior complexidade, pois sentia que estava preparada para lhe serem atribuídas maiores responsabilidades.

 

Mas ela ficou preocupada, quando a sua colega Sónia, no final do dia disse-lhe que o chefe queria falar com ela. Inês inicialmente ficou algo receosa, pois já tinha ouvido demasiadas histórias de colegas (ou ex-colegas) que tinham sido repreendidas pelo Dr. Rui e saído do seu gabinete a chorar. Tentou relembrar-se mentalmente se tinha feito alguma coisa nos últimos tempos que pudesse ter motivado a sua convocatória para junto do chefe, mas não conseguiu lembrar-se de nada. Mas isso não queria dizer nada e o seu chefe poderia ter embirrado com ela por uma coisa mínima. Começou então a ficar algo nervosa, mas só lhe restava ir ter com o seu chefe a aceitar o seu destino. Mas depois de ter saído do gabinete, estava completamente desorientada. Não só tinha sido elogiada pelo seu chefe, como também lhe foi proposta a transferência para o departamento de contabilidade, onde teria um cargo de maior responsabilidade, mas que também implicaria mais horas de trabalho e também um novo esforço em termos de formação para as novas tarefas que poderia ter de executar. Ela respondeu-lhe favoravelmente ao convite e soube que a transferência iria concretizar-se no prazo de duas semanas, logo após o final do mês.

 

Inês sentia que a sua vida estava a mudar para melhor... Tinha outra coisa em que pensar, sem ser na sua vida amorosa. Mas lá no seu íntimo, só esperava pelo jantar que Pedro estava a organizar na semana seguinte para ver em que situação estavam as coisas. Os dias pareciam avançar devagar e nunca mais chegava o dia do jantar. Foi por isso com grande satisfação e nervosismo que finalmente esse dia tinha chegado.

 

Por mais que ela não o quisesse admitir, ela queria ver Pedro novamente. E tinha-se preparado para isso, pois consciente ou inconscientemente, tinha ido ao cabelereiro e à manicure no dia anterior. E decidiu levar um vestido que lhe ficava particularmente bem e que chamava a atenção de qualquer homem com dois olhos na cara.

 

Quando chegou ao restaurante, viu que Pedro já lá estava com alguns amigos. Ela consciencializou-se naquele momento que não conhecia ninguém naquele jantar. Ela dirigiu-se a Pedro e cumprimentou-o com um leve beijo na face.

 

- Oi. Muitos parabéns – disse Inês, logo após tê-lo cumprimentado.

- Ainda bem que vieste. Agradeço imenso o facto de teres vindo.

- Não podia perder esta oportunidade para estarmos juntos e para por a conversa em dia- disse Inês, não conseguindo conter o sorriso por estar a falar novamente com ele.

 

Estiveram a falar um pouco do que se tinha passado nos últimos tempos e nem parecia que tinham estado alguma vez separados. A conversa saía naturalmente, e sem aqueles inconvenientes e embaraços que podia decorrer da situção em que os dois se encontravam. Mas tiveram de interromper a conversa, pois mais alguns amigos de Pedro tinham chegado e ele também tinha de dedicar alguma atenção a eles.

 

Inês decidiu-se então a sentar... como não conhecia ninguém, decidiu ficar no lugar livre mais próximo de Pedro. Apesar de não conhecer ninguém no jantar, ela nunca tinha problemas neste tipo de situações, pois devido à sua personalidade, era uma pessoa muito cativante e que agarrava a atenção de quem estivesse a falar com ela, fosse qual fosse o tema.

 

Estava então a ter uma conversa com o desconhecido do lado sobre como há quanto tempo conheciam Pedro e a natureza da relação de cada um deles com o amigo, quando ouviu uma voz feminina a perguntar se a cadeira à frente de Inês ainda estava disponível. Instantaneamente, quase por reflexo, Inês disse que sim, sem ter olhado para quem tinha feito a pergunta. Mas depois desviou o olhar e viu que estava agora sentada à frente da amiga de Pedro que tinha sido o motivo principal para o fim da sua relação. Patrícia... era esse o nome que não tinha saído da sua cabeça nos últimos tempos. Ela sabia que Patrícia não tinha a culpa de nada e que tinha sido Pedro que lhe tinha mentido. Mas subconscientemente, ela era uma das culpadas pelo seu sofrimento nos últimos meses. E ainda por cima, ela naquela noite rivalizava com ela pelo título de rapariga mais atraente da sala... Patrícia tinha vindo com um lindo vestido rosa choque que realçava o seu corpo e o seu decote, e que muito provavelmente também atraíria a atenção de Pedro. Inês não gostava da amiga de Pedro, mas decidiu que não podia demonstar-lhe isso, pois ela não lhe tinha feito ainda nada. Um dos seus principais objectivos durante a noite passou a ser encontrar motivos reais para detestar a pessoa sentada à sua frente.

 

Mas à medida que a noite prosseguia, estava a ser-lhe complicado concretizar os seus objectivos. Duranta a conversa, Patrícia mostrou ser uma pessoa humilde, muito pacífica, muito simpática e atenciosa. E Inês não teve outro remédio do que ir mostrando um sorriso mais forçado durante a conversa e manter uma conversa cordial com ela. Findo o jantar, e antes de servirem a sobremesa, Inês pediu licença e foi ao quarto de banho. Quando estava prestes a voltar para a mesa depois de lavar as mãos, reparou que Patrícia também estava ao seu lado.

 

- O jantar está a correr bem... – disse Patrícia, para não parecer indelicada.

- Sim, também acho que sim. Nunca tinha vindo cá... mas gostei – respondeu Inês.

- Inês... – disse Patrícia, antes de fazer uma breve pausa... – Posso fazer-te uma pergunta? Pode parecer descabida, mas tenho mesmo de a fazer...

Inês hesitou um pouco, mas lá acabou por assentir com um ligeiro acenar da cabeça.

- Tens alguma coisa contra mim?

 

Inês foi apanhada desprevenida por aquela pergunta. O que iria responder? Respirou fundo e percebeu que só poderia responder a verdade... Ela percebeu que não tinha enganado Patrícia durante a noite e que ao contrário do que tinha pensado, não tinha conseguido esconder o que realmente sentia...

 

- Patrícia.. Vou ser sincera contigo... Tu nunca me fizeste nada, mas acho que nunca te vou deixar de considerar aquela rapariga que se meteu na minha relação contigo...

- Já tinha percebido isso... Sabes que o Pedro já me tinha falado muito de ti antes de vocês.... – fez uma breve pausa, pois soube que tinha falado de mais – e não foi a rapariga que esteve sentada à minha frente... Tu foste muito educada comigo e fomos tendo aquelas conversas circunstanciais... Mas percebi que não estavas a ser tu... Perguntei-me várias vezes durante a noite onde estaria a rapariga que tinha conquistado o Pedro... E cheguei à conclusão que não estavas confortável em falar comigo, embora o não quisesses demonstrar...

 

Inês sentiu a sinceridade com que Patrícia tinha dito aquelas palavras e apeteceu-lhe pedir desculpa. Mas não era o momento para isso. Quem sabe um dia teria uma nova oportunidade. Mas era altura de pelo menos se justificar.

 

- Tens toda a razão. Senti-me um pouco constrangida por tu estares cá. Eu sei que a culpa não é tua. Mas se não fosses tu, se calhar estava neste momento ao lado do Pedro a segurar a mão dele enquanto os seus amigos lhe cantavam os parabéns.

- Inês... vou-te dizer uma coisa... Acho que tu nunca tiveste motivos para ficar assim. O Pedro nunca faria algo que te pudesse magoar. Pelo menos o novo Pedro... Tu não o conheceste antes... Ele mudou muito desde que começou a andar contigo e se o conhecesses antes perceberias a diferença. Perceberias que ele estaria disposto a fazer tudo por ti e que ele não tinha olhos para mais ninguém... mesmo que alguém estivesse interessada nele, ele não estaria interessado. Tu eras a única mulher da vida dele...

 

Inês ficou sem saber o que dizer... Será que se tinha precipitado em não aceitar logo as explicações de Pedro na altura? Será que ela também tinha alguma culpa pelo fim da relação?

 

- Sabes que nos últimos tempos ele não tem sido o mesmo. No escritório, nota-se que lhe falta algo na sua vida. Mas mesmo assim, ele não voltou a ser o Pedro de antes. Tu mudaste-o e ele está disposto a esperar por ti. Por isso, não tens que estar preocupada comigo ou com outra mulher. Tu és a única pessoa que ele quer na vida dele. E espero que saibas disso.

 

Uma lágrima começou a cair do olho de Inês que tinha ficado emocionada com as palavras de Patrícia. Ainda não estava preparada para reatar as coisas com Pedro, mas pelo menos agora já se sentia mais segura dos sentimentos de Pedro para com ela. Ela continuou incapaz de dizer algo, mas sentiu que Patrícia tinha percebido o que ela sentia. Ambas voltaram para a mesa, mesmo a tempo da sobremesa.

 

Enquanto provava o seu cheesecake, Patrícia sentia-se triste por praticamente ter empurrado Inês de volta para a vida de Pedro... mas o mais importante era que ele fosse feliz... mesmo que não fosse com ela. E ela sabia no seu íntimo que ele só seria feliz junto de Inês.

 

Entretanto, Inês achava que a noite tinha corrido bem. O primeiro passo já tinha sido dado e só esperava por novos desenvolvimentos na sua nova relação de amizade. Ela foi despedir-se de Pedro que estava junto da Patrícia que também ia andando para casa.

 

- Pedro, muito obrigado por me teres convidado. Foi bom termos voltado a falar.

- Eu é que te agradeço por teres vindo. Significou muito para mim.

- Então um dia, combinamos qualquer coisa para pormos a conversa em dia.

 - Parece-me uma óptima ideia. Talvez para a semana? – disse Pedro ao dar dois beijinhos na face de Inês, que sentiu o seu coração a pulsar rapidamente e sem controlo nesse momento. Mas lá conseguiu recuperar o controlo.

- Também acho que seria uma óptima ideia- respondeu Inês, que reparou no piscar de olhos de Patrícia dirigido para ela, indicando a aprovação da atitude que Inês tinha tomado ao aceitar o convite de Pedro...

 

Ao chegar a casa, só pensava no que se tinha passado no jantar. Mas ao contrário do que imaginava quando tinha acordado nesse dia de manhã, não tinha sido o reencontro com Pedro que tinha alegrado o seu coração. Tinham sido as palavras de Patrícia que afinal não era tão má pessoa como ela pensava.

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Segunda-feira, 28 de Junho de 2010

Capitulo 23 - Vida nova

Inês olhou para o despertador e viu que já eram horas de se levantar. Apesar de ser bastante mais cedo do que a hora em que habitualmente acordava, tinha mesmo de sair da cama. Iria começar hoje o seu novo emprego.

Já há algum tempo que estava a procura de emprego, mesmo antes de ter terminado o seu curso de Psicologia, e tinha-se apercebido de que o mercado de trabalho nessa área estava em baixa, principalmente para os recém-licenciados.

E tendo terminado o último exame há cerca de um mês, tinha de arranjar algum emprego para ir suportando a renda e os gastos enquanto não arranjasse um emprego na sua área. E isso poderia demorar algum tempo, pelo que há uns meses atrás tinha recorrido a uma empresa de trabalho temporário... Após ter efectuado uma série de entrevistas e os testes psicotécnicos, ficou a aguardar novidades sobre um eventual emprego que essa empresa acharia que seria mais adequado para ela.

 

Mas estas últimas semanas tinham sido complicadas, devido ao que tinha acontecido com Pedro. Já não falava com ele há duas semanas pois eles tinham combinado dar algum tempo ao outro. Quando ela recebeu a chamada da empresa de trabalho temporário a indicar que tinha sido esolhida para trabalhar como assistente administrativa na área financeira de uma multinacional e perguntar-lhe se ela estava interessada, ela aceitou logo a proposta, uma vez que precisava de algo para esquecer o que se tinha passado nos últimos tempo e seguir em frente com a sua vida. Ainda não tinha exactamente a noção do que é uma assistente administrativa fazia, pelo que era com alguma curiosidade e nervosismo que se preparava para o primeiro dia de trabalho. A primeira grande dificuldade prendia-se com o que vestir...

 

A primeira impressão é uma coisa muito importante, pois apenas se tem hipótese de causar uma primeira impressão uma vez.  E ela queria causar um boa impressão aos seus novos colegas de emprego, ainda para mais porque sentia que tinha de provar algo, pois era apenas uma temporária. Ela não sabia se quereria apresentar-se de forma muito profissional usando um fato. Ou tinha a alternativa de se vestir de forma casual, de calças de ganga e uma blusa discreta... Ou tinha ainda a hipótese de se vestir de forma sensual com a menor minisaia que tinha e com um top muito revelador... Eram muitas as hipóteses e Inês não tinha ideia de qual seria a alternativa mais apropriada. Após vestir-se e despir-se várias vezes em frente ao espelho, decidiu-se a usar um dos seus vestidos favoritos que apesar de mostrar a sua beleza natural não era muito revelador do seu corpo. Pelo menos não iria ser alvo de comentários menos apropriados pelos seus colegas.

 

Um pouco antes das nove da manhã, chegou ao seu novo local de trabalho. Assim que chegou à recepção, foi encaminhada para a responsável dos Recursos Humanos com quem esteve a tratar de toda a papelada inicial. De seguida, fizeram-lhe uma visita guiada do escritório, que ainda era maior do que pensava, pois ocupava vários andares e tinha vários open spaces enormes cheio de secretárias com pessoas, todas à frente de um computador... Ela também se apercebeu de que grande parte das pessoas que lá trabalhavam eram mais ou menos da sua idade, pelo que ficou mais aliviada pelo facto de poder conseguir encontrar alguém com que se pudesse dar bem e que a ajudasse a integrar-se na empresa.

 

No final da visita guiada, a sua colega de recursos humanos apresentou-a ao seu chefe, o Dr. Rui. Era uma pessoa relativamente nova, entre os 35 e os 40, mas a sua primeira impressão não foi a melhor. Ele pareceu-lhe demasiado ríspido quando foram apresentados e não perdeu mais do que cinco segundos com ela. Sim, ela era apenas uma simples temporária, mas mesmo assim, achava que pelo menos o chefe quereria conhecer melhor quem trabalhava para ele.. E durante a manhã, percebeu que o seu novo chefe não tinha problemas em gritar com os seus subordinados se eles não tivessem feito algo como ele queria...

 

Nesta fase inicial, iria ser treinada por uma colega já com alguma experiência e que já estava na empresa há 3 anos, a Sónia. Pareceu-lhe uma pessoa mais acessível do que o seu chefe, até porque não só era apenas ligeiramente mais velha do que ela (pareceu-lhe que ela tinha cerca de 25 anos), mas porque era uma pessoa muito calma e com muita paciência para ensinar sempre as pessoas acabadas de entrar e que não percebiam de nada do que iam fazer... A Sónia explicou-lhe que o trabalho dela iria consistir em ajudar o departamento financeiro da empresa onde fosse necessário, consoante os picos de trabalho ou fosse necessário substituir alguém que estivesse de baixa ou de férias...

 

Inicialmente, ela iria estar alocada à area de compras, e iria essencialmente estar a lançar facturas de fornecedores no computador. Sónia passou grande parte da manhã a explicar-lhe o que tinha de fazer, a mostrar-lhe o sistema informático com que a empresa trabalhava e ainda esteve a ajudá-la a lançar as suas primeiras facturas, para se certificar de que ela tinha aprendido correctamente. Não era uma coisa assim tão complicada, pois felizmente, Inês tinha alguma experiência em trabalhar com computadores devido aos trabalhos da faculdade e por isso o Word e o Excel não eram palavras estranhas. Teve alguma dificuldade inicial nesse primeiro dia a tentar compreender o sistema informático onde tinha de lançar as facturas e que campos preencher, e por isso de vez em quando pedia a ajuda de Sónia, que tinha-a posto à vontade para a questionar sempre que ela achasse necessário. Mas esperava que passado uns dias, se sentisse mais à vontade e mais confiante no que estava a fazer...

 

Felizmente, também o seu horário de trabalho, pelo menos enquanto estivesse no departamento de compras, não era muito extendido e por volta das 18h30 foi mandada para casa. Mas foi-lhe dito para não se habituar muito a esse horário, pois existiam outros departamentos onde poderia ser alocada, onde poderia sair muito mais tarde do que isso durante vários dias. 

 

Inês ficou satisfeita por começar num sitio mais calmo, para poder adaptar-se com calma à empresa e ao trabalho, e esperava que pudesse continuar nas compras por mais algum tempo. E pelo menos sabia que podia contar com uma pessoa para ajudá-la lá dentro, pois a Sónia era de facto uma rapariga impecável. Até a tinha convidado para almoçar, pois imaginava que ela não tinha tido oportunidade de conhecer outros colegas nesse primeiro dia. E foi o que tinha acontecido, pois tinha estado em formação o dia inteiro e teve poucas oportunidades de falar com as colegas que estavam perto nela, numa mesa minúscula num open space enorme. E tinha também reparado que o ambiente de trabalho era um pouco formal, com poucas interrupções para além do café e das idas à casa de banho, muito provavelmente por causa do chefe, que não perdia qualquer hipótese de dar na cabeça de algum dos seus subordinados. E por isso, todos procuravam estar concentrados no trabalho, para evitarem cometerem erros. E uma coisa que a Sónia lhe tinha dito, é que o Dr. Rui às vezes poderia ser um pouco duro, mas que nunca tinha repreendido ninguém que não o merecesse, embora ela não concordasse com a forma como ele às vezes humilhava os colegas à frente de toda a gente.

 

No final do dia, chegou a casa e ligou à Rita para contar-lhe o seu primeiro dia de trabalho. Após ter desligado o telemóvel, Inês apercebeu-se que tinha sido a primeira vez que o principal motivo dos seus desabafos não tinha sido Pedro... Era um sinal de que o tempo tinha-a ajudado a esquecer o que se tinha passado.... O passado é o passado e abria-se uma nova página na sua vida... Novo emprego, novas amigas e quem sabe... uma nova paixão?

 

Mas o dia tinha-lhe corrido bem... A incerteza que tinha sobre o seu futuro quando acordou de manhã tinha-se atenuado... Ela estava um pouco insegura sobre o facto deste ser o primeiro emprego a sério dela e nem imaginava o seu futuro se as coisas tivessem corrido mal... Mas felizmente, os seus piores receios não se concretizaram...

 

O dia seguinte ainda correu melhor... Não só ela já estava um pouco mais habituada ao seu trabalho, como na hora do café foram-lhe apresentadas algumas colegas que também eram temporárias e também estavam lá há pouco tempo e com que se entendeu bastante bem. Tinham várias coisas em comum, como o facto de também ser este o primeiro emprego delas e também o facto de terem também tirado cursos noutras áreas, mas que estavam todas agora como assistentes na área financeira por não terem encontrado o emprego que mais gostariam... e acima de tudo, eram pessoas que estavam dispostas a apoiar-se umas às outras... E ainda por cima, Inês era daquelas pessoas muito aberta, que conquistava qualquer pessoa com a sua personalidade e a forma aberta como dizia o que pensava, o que facilitou a integração naquele grupo... A única pessoa que ainda não lhe ligava muito era o seu chefe, o que a fazia feliz, pois se ele não soubesse quem ela era, menos hipóteses existiriam de ele embirrar com ela.

 

Os primeiros dias de Inês correram bem, e cada vez menos sentia a necessidade de pedir ajuda à Sónia, pois estava mais à vontade no que fazia... E acima de tudo, estava a gostar do que fazia, embora não fosse o tipo de coisas que queria fazer para o resto da sua vida e já imaginava que daqui a uns meses já estaria farta de fazer a mesma coisa todos os dias. O que lhe valia era o facto de daqui a uns tempo, poderia ser precisa noutro departamento e iria fazer outra coisa completamente diferente...

Mas acima de tudo, tinha feito novos amigos lá dentro e estava a seguir com a sua vida. Aliás, tirando o seu chefe, apenas existia um outro colega, o Diogo, que também era um temporário e que praticamente a ignorava, que não mostravam qualquer interesse em ser seus amigos. De resto, praticamente toda a gente no seu departamento gostava dela e estavam a ajudá-la a integrar-se.... E sentia que a sua vida profissional estava a correr bem... Mas não tinha niguém com quem partilhar essa sensação... E de repente começou a pensar que aquela noite seria a noite ideal para ligar a Pedro, com que já não trocava uma palavra há quase três semanas...

publicado por Matt Xell às 22:08
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Sábado, 15 de Maio de 2010

Capítulo 22 - Seguir em frente

Por volta das oito horas da noite, Patrícia chegou ao café onde tinha combinado encontrar-se com Pedro. Sentiu um nervosinho miudinho e não fazia ideia do motivo. Ao contrário do dia anterior, não ia para um encontro. Ia apenas ter uma conversa amigável com um colega... Pelo menos era isso que ela tentava se convencer, por forma a não ficar tão nervosa. Mas não estava a resultar. Desde que tinha saído do escritório directamente para o café, não conseguia deixar de pensar que por mais que quisesse, ainda sentia algo muito forte pelo seu amigo. E não tinha sido o encontro do dia anterior que tinha mudado essa situação.

 

Respirou fundo e tentou concentrar-se, pois já não devia faltar muito para Pedro também chegar. E ela não queria mostrar-lhe que sentia algo por ele. Ainda para mais, agora que ele só tinha olhos para outra mulher... Mas acima de tudo, era amiga dele e por mais que lhe custasse, tinha de lhe dar apoio nesta fase mais difícil da vida dele... Mesmo que isso implicasse reconhecer que ela nunca iria ser a tal para ele, pois mesmo estando ele separado daquela rapariga, ele não conseguia parar de pensar nela. Quem lhe dera que ele sentisse o mesmo por ela...

 

Mas os pensamentos dela foram interrompidos, quando se apercebeu da chegada do seu amigo. Ambos sentaram-se numa mesa num cantinho onde podiam falar à vontade sem serem incomodados pelos outros clientes do café.

 

- Ainda bem que pudeste vir – disse Pedro, ao interromper o silêncio momentâneo que resultou do facto de nenhum querer ser o primeiro a iniciar a conversa. Não era normal, pois Pedro confiava na sua amiga e nunca tinha tido problemas em lhe dizer nada... Mas desta vez o motivo era diferente... Ele precisava da sua ajuda para reconquistar Inês e não sabia muito bem como começar...

- Estava mesmo a precisar de falar contigo...nem sabes como senti a tua falta nestes últimos tempos...- começou Pedro.- Estava mesmo a precisar de um ombro amigo... E não merecia que estivesses cá, pela forma como te tenho ignorado nos últimos tempos...

- Estás a fazer um bom trabalho a pedir desculpas... Continua... – interrompeu Patrícia com um sorriso.

- Mas acho que seria preciso muito mais para nos afastar e acabar com a nossa amizade.

- Fico feliz que aches isso de nós. E sabes que não consigo resistir a esses olhos, pelo que vamos esquecer a última semana e seguir em frente... Mas com que então, ela não voltou para ti da forma como querias....

- Pois... ela não me conseguir perdoar totalmente, mas pelo menos não me tirou completamente da sua vida... e que que sejamos amigos...

- Cá está a frase que normalmente indica que a relação está preste a terminar...- gracejou Patrícia.

- Pois... Mas desta vez as coisas são diferentes. Eu acho que ela está preparada para dar-me uma nova hipótese no futuro... E eu nunca iria perdoar-me se não aproveitasse esta oportunidade... Por isso precisava da tua ajuda... O que posso fazer para não a afastar?

 

Patrícia pensou bem no que iria dizer. Estava-lhe a custar muito por dentro fazer isto, mas ela queria vê-lo feliz... mesmo que não fosse com ela...

 

- Sabes... Acho que tens de continuar a ser o Pedro destas últimas semanas. Tu mudaste muito... Passaste de alguém que não se importava com o futuro e vivias como se fosses o dono de tudo... para alguém que é mais humilde e que está disposto a fazer de tudo para reconquistar a pessoa que ama... Tens de continuar a ser esse Pedro e tenho a certeza de que mais cedo ou mais tarde, ela irá aperceber-se de que não pode viver sem ti...

 

- Nem imaginas o quanto te agradeço por me dizeres isso. Mas realmente, sinto-me uma pessoa diferente... A Inês faz-me querer ser uma pessoa melhor e isso é algo que não consigo negar. Mas e se ela não conseguir confiar em mim novamente?

 

- Tem calma, Pedro. A confiança conquista-se aos poucos, acto a acto, dia a dia. Tens de ter paciência e acima de tudo, não a forçar a nada. Tens de lhe dar algum tempo e acima de tudo, fazer com que ela perceba que estás disposto a esperar o tempo que for preciso.

 

- Já não és a primeira pessoa que me diz isso. – Mas sinto um aperto sempre que penso que existe uma possibilidade dela me esquecer. Ou pior... de encontrar outra pessoa entretanto...

 

- É o risco que tens de correr. Mas acima de tudo, tens de fazer com que ela confie em ti... tudo o resto, virá depois...

 

- Não sei o que faria sem ti, Patrícia...

- Também não sei o que farias sem mim... – respondeu a amiga, com o sorriso característico dela.

- Mas chega de falar de mim... Como é que correu o teu encontro ontem?

- Sabes... correu melhor do que eu esperava... já há algum tempo que não saia com ninguém... estava um pouco enferrujada...

- Mas imagino que ele deva ter ficado encantado contigo... Ontem estavas muito bem arranjada...

 

A face de Patrícia corou ao ouvir os elogios dos seu amigo... Ela sempre tinha esperado que ele reparasse nela... mas isso só tinha acontecido quando ele tinha encontrado outra pessoa...

 

- Escusas de gozar comigo só pelo facto de ter feito um makeover...

- Mas estava a falar a sério... tu ontem estavas muito gira... o que é que ele achou?

- Sinceramente, acho que ele nem reparou muito nisso... ele esteve a noite toda mais interessada no que eu dizia...

- Já te tinha dito que tu és muito mais do que uma cara bonita... e qualquer homem seria um sortudo em estar contigo... ainda bem que entraste nesta nova fase... estava  a pensar que irias sempre continuar a dar primazia ao trabalho em vez de tentares encontrar alguém... Fico muito feliz que tenha corrido bem.... Então, achas que ele é o tal?

 

Patrícia teve de parar um pouco para não responder o que lhe veio logo à cabeça... Caso não o tivesse feito, corria o risco de dizer que ontem não tinha estado com o tal... esse, estava mesmo à sua frente... Mas Patrícia sabia que tinha de seguir em frente e não pensar mais em Pedro dessa forma... Mas custava-lhe muito e tinha de fazer um grande esforço para que ele não se apercebesse de nada.

 

- Não sei... Ainda é cedo para dizer isso... Mas acho que começámos bem... Quem sabe se ele não será a pessoa perfeita para mim?

- Espero que sim... que já não estás a ficar nova....

- Engraçadinho....

- Falando a sério, espero que tudo corra bem...

- Também eu – disse Patrícia, que não sabia ao certo se estava a ser sincera quando disse estas palavras...

 

O resto da conversa durante a noite foi menos séria e muito divertida... Ambos eram bons amigos e davam-se muito bem... Mas acima de tudo, Patrícia tentou durante a noite provar a si própria de que tinha seguido em frente com a sua vida e que Pedro era só um amigo... Mas infelizmente, sabia que estava a enganar-se a si própria... Nada faria com que ela deixasse de pensar nele... Mesmo que estivesse com outra pessoa, ele ocuparia sempre uma parte do seu pensamento... Só esperava que ainda restasse um espaço no seu coração que pudesse ser ocupado por outro homem.... Quem sabe o homem que tinha conhecido ontem? Quem sabe se ontem não se tinha dado início a um novo começo?

publicado por Matt Xell às 23:19
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Domingo, 18 de Abril de 2010

Capítulo 21 - Um novo começo?

Pedro ficou satisfeito por ter conseguido resolver as coisas com Patrícia. Ele sabia que ela não conseguia não lhe perdoar, pois eram verdadeiros amigos e seria preciso algo muito grave para os afastar a sério. Ele só podia estar verdadeiramente agradecido por ter uma amiga assim. Mas Pedro nem teve tempo de pensar mais, pois foi chamado de urgência para uma reunião que um dos maiores clientes da empresa tinha marcado.

 

Patrícia, por sua vez, não conseguia deixar de pensar na conversa que tinha tido. Sentiu-se desconsolada por ter finalmente percebido que Pedro nunca iria deixar de pensar em Inês, mesmo que ela não quisesse nada com ele. Mas lá no seu íntimo, já tinha interiorizado essa situação. Tinha de seguir em frente com a sua vida e era por esse motivo que tinha um “blind date” combinado por uma das suas amigas. Ela nunca na vida imaginava que alguma vez iria jantar com alguém que não conhecia, mas tinha decidido que a melhor forma de esquecer a paixão que tinha por Pedro, seria tentar encontrar outro homem que enchesse o vazio que existia no seu coração. E quem melhor do que uma das suas melhores amigas para a ajudar a encontrar alguém com quem ela se desse bem. E ela tinha ouvido muito bem desse homem, pelo que ela esperava não ficar desiludida. E principalmente, esperava que ele não ficasse desiludido com ela.

 

Já há algum tempo que ela não tinha um encontro com um homem... E toda a gente sabe quão difíceis são os primeiros encontros, prncipalmente com pessoas que não conhecemos muito bem. Existe sempre aquela preocupação de tentar perceber como é a pessoa que está sentada do outro lado da mesa, no meio da conversa habitual que se costuma ter nestas ocasiões. Todos tinham sempre a preocupação de não entrar em conversas muito íntimas e pessoais, pois ainda era muito cedo para isso. Mas não podiam cair no erro de ter conversas muito gerais, que não captassem o interesse da outra pessoa.  Em resumo, os primeiros encontros não eram fáceis e ela só esperava que tudo corresse bem. Mas tudo seria diferente se o encontro fosse com Pedro... Ele já a conhecia tão bem, que as coisas seriam muito diferentes. Mas já era altura de deixar de pensar nele... Era difícil, mas Patrícia sabia que era a coisa correcta a fazer.

 

E foi com estes pensamentos que Patrícia passou o resto da tarde, antes de ir para o restaurante que a sua amiga tinha escolhido para o encontro.

 

                                                                       ***

 

 

Pedro chegou ao escritório de manhã, atrasado como sempre. Não tinha nenhuma campanha urgente em curso, pelo que  podia gerir o seu horário como mais lhe conviesse. Lembrou-se que tinha de ver se Patrícia estava disponível para tomar o tal café com ele à noite. Era uma oportunidade para saber como tinha corrido o encontro dela no dia anterior e também para conversar um pouco sobre Inês.

 

Mas ele estranhou, quando reparou que ela ainda não tinha chegado ao escritório. Era estranho, uma vez que ela era sempre uma pessoa muito certinha e que era das primeiras pessoas a chegar todos os dias ao escritório e uma das últimas a sair. Realmente, não era uma situação nada habitual, o que apenas o fez ficar mais curioso sobre o que se tinha passado na noite anterior com a sua amiga. O que teria acontecido para ela não ter ainda chegado?

 

Pedro foi obrigado a concentrar-se no trabalho, pois tinha naquele momento uma reunião com os colegas por causa da nova campanha. Mas durante toda a reunião, ficou sempre intrigado por ainda não ter visto a amiga.

 

Mas ficou mais descansado ao final, quando terminada a reunião, viu que Patrícia já estava na sua mesa. E se não fosse impossível, ainda mais atraente do que no dia anterior, com um vestido vermelho com um decote que mostrava muito mais do que Pedro achava que Patrícia seria capaz de mostrar em público.

 

- Já vi que a noite de ontem correu bem... Para só teres chegado a estas horas- perguntou Pedro.

- Isso é o que tu querias saber... mas eu não sou daquelas raparigas que beija e conta...

- Já vi que aconteceu aí qualquer coisa... mas realmente, queria saber se hoje então querias tomar um café ao final do dia, para conversarmos um pouco. Claro que se tiveres um novo encontro marcado para hoje à noite eu compreendo que querias adiar...

- Por acaso, hoje tenho a minha agenda livre e posso encaixar-te...

- Só posso agradecer, pois imagino que o teu tempo livre é muito disputado.

- Tu nem imaginas... mas lá te faço um favor por seres um velho amigo... E agora deixa-me trabalhar que tenho um apresentação à tarde e estou um pouco atrasada.

- Cá está a Patrícia do costume... – disse Pedro à sua amiga, antes de ir para a sua secretária.

 

Patrícia voltou ao trabalho, mas não conseguia deixar de se lembrar da noite passada.

 

A noite tinha tudo para correr bem. Quando chegou ao restaurante, deparou-se com um homem bem parecido e muito charmoso. E acima de tudo, muito atencioso para com ela, mesmo sendo aquela a primeira vez que se estavam a encontrar. E se ela pensasse que ele era apenas um homem atraente na casa dos 30, estava muito enganada. Como veio acabar por descobrir, ele era também muito bem sucedido a nível profissional, pois era o sócio principal de uma pequena empresa de software que ele tinha criado e que tinha crescido bastante, sendo que se ele quisesse já se podia reformar. Mas ele gostava de se manter ocupado e por isso ainda continuava a fazer parte da equipa de desenvolvimento dos projectos.

Tinha sido esse um dos principais motivos para ele ainda ser solteiro naquela idade... ele, tal como ela, tinha-se dedicado de corpo e alma ao trabalho e o tempo livre era escasso e como tal nunca tinha dado a primazia à vida pessoal. Ainda por cima, o pouco tempo livre que ele tinha era também passado em algumas actividades de voluntariado, uma vez que ele achava que tinha tido a sorte de ter conseguido algum sucesso na vida que era obrigação dele partilhar e tentar ajudar outras pessoas.

 

Ou seja, o homem que esteve à sua frente era praticamente o homem perfeito para qualquer outra mulher. Mas podia acontecer que ele não tivesse nada em comum com ela. Mas mais uma vez, como a noite acabou por provar, esse pensamento acabou por se revelar falso. A noite passou num instante e ela sentia-se à vontade com ele. Ele era divertido e ela dava-se constantemente a rir das piadas ou das histórias engraçadas que ele dizia. Ela sentia-se também à vontade com ele para partilhar alguns pormenores não íntimos sobre a sua vida. Ela descobriu que ele tal como ela gostava de cães. Que ele adorava ler e que era capaz de ler um livro por horas seguidas se gostasse desse livro enquanto o não acabasse. Tal como ela. Ele gostava do mesmo genero de música e tinha também ido aos últimos concertos que ela também tinha ido. Soube também que ele adorava cozinhar, mas que nunca tinha tempo para o fazer. Essa era capaz de ser a única coisa que não tinham em comum. E o toque final do jantar ocorreu aquando da sobremesa. Ela não tinha pedido nada pois estava um pouco cheia, mas ele tinha escolhido o cheesecake de amora, que era uma das sobremesas favoritas dela e quando o empregado de mesa trouxe a sobremesa ele pediu-lhe para trazar um garfo adicional para ela também provar, mesmo ela não tendo dito nada. Ele era uma pessoa simples, muito simpática, altruista e que preocupava-se mais com os outros do que com ele.

 

Tinham-se dado muito bem e a amiga mútua que os tinha juntado tinha mesmo acertado na mouche. À saída do restaurante, trocaram o número de telemóvel e combinaram marcar qualquer coisa daqui a uns tempos. E ambos sabiam que essa promessa iria mesmo concretizar-se, pois a noite tinha corrido muito bem e ambos queriam saber aonde aquilo poderia chegar.

 

Realmente, a noite tinha tudo para correr muito bem. E tinha corrido até ela chegar a casa e ter tempo para parar um pouco e pensar sobre a agradável noite que tinha passado. Quando ia escrever no seu diário, infelizmente percebeu uma coisa. Que mesmo tendo gostado do seu encontro, ainda continuava a pensar em Pedro. Como era possível que ela tivesse encontrado um homem perfeito que estava interessado nela e com quem ela achava que poderia ter um futuro, mas ela não conseguia deixar de pensar em alguém que não estava interessado nela e que muito provavelmente nunca iria estar. Quando chegou a casa, estava preparada para escrever no seu diário o que tanto tinha gostado noite que tinha passado. Mas acabou por escrever sobre a confusão emocional que tinha e sobre o facto de, apesar do que intencionava, ainda não tinha ultrapassado a paixão que tinha por Pedro e que ainda não estava preparada para seguir em frente. E a lágrima que caiu no diário após ter escrito a última frase fez-lhe perceber mesmo isso.

publicado por Matt Xell às 17:49
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Terça-feira, 16 de Março de 2010

Capítulo 20 - Amigos?

 

Pedro acordou de manhã, com um ânimo diferente. A conversa que tinha tido no dia anterior com a Inês tinha feito com que ele tivesse alguma esperança de voltar a ter uma relação com ela. Mas agora tinha de fazer os possíveis para reconquistar a confiança dela. Mesmo que isso implicasse temporariamente ser apenas amigo dela… Seja o que fosse que isso significasse…
 
Ele nunca tinha tido uma rapariga que fosse apenas sua amiga. Durante toda a vida dele, ele nunca conseguiu manter uma relação de amizade com uma mulher, pois mais cedo ou mais tarde acontecia algo que acabava por afectar a sua amizade… Inúmeras foram as ocasiões em que ele acabava por tomar a iniciativa junto de uma amiga e acabavam por sair juntos, mas mais cedo ou mais (normalmente depois de ter dormido com essa amiga) a relação acabava por terminar e normalmente nunca mais via a antiga amiga.
 
Ou noutros casos, a amiga apaixonava-se por ele, mas ele não sentia o mesmo por ela. Juntando aos inúmeros casos que ele tinha com outras mulheres, acabavam por fazer com que essas amigas se distanciassem dele.
 
Aliás, só uma mulher fazia parte actualmente do seu círculo de amigos: Patrícia. Ela era talvez a única mulher que era imune aos seus encantos naturais e nunca tinha demonstrado qualquer interesse nele em termos amorosos. Para além disso, ela era a única mulher em quem ele podia confiar e prezava tanto a sua amizade, que seria incapaz de ter alguma relação com ela, sob medo de arriscar a companhia e o apoio que ela lhe tinha dado nos últimos anos.
 
Patrícia seria talvez a melhor pessoa para lhe aconselhar neste momento que lhe estava a ser tão difícil. Ele tinha-a afastado algum tempo depois de ter acabado a relação com Inês, e nunca lhe tinha contado o que realmente causou o fim da relação. Ela merecia que ele lhe contasse a verdade e ele tinha a certeza de que ela o iria ajudar a ser um amigo de Inês… Ela era a pessoa perfeita para isso…
 
 
Já na agência de publicidade, Pedro pensava na melhor forma de pedir desculpas a Patrícia pela frieza com que ele a tinha tratado nos últimos tempos. Ele só podia fazer uma coisa… Ajoelhar-se à frente dela e pedir-lhe sinceramente desculpas e esperar que ela o perdoasse… Ela era amiga dele e sabia que ele às vezes tinha attitudes estúpidas, e sempre o tinha perdoado e esperava que desta vez as coisas não fossem diferentes.
 
Assim que a sua manhã acalmou um pouco, Pedro deslocou-se para junto da secretária da sua amiga, mas não a encontrou por lá… Ele ficou a pensar onde poderia ela estar, mas foi interrompido por uma voz feminina.
 
- Caro colega Pedro… Não faço ideia porque está aqui, uma vez que nos últimos tempos tem passado muito despercebido cá pelo escritório…
 
Pedro reconheceu a voz de Patrícia, mesmo estando de costas para ela e sentiu o sarcasmo. Ele merecia isso, pois tinha praticamente ignorado a amiga nos últimos tempos…
 
- Já sentia a falta dessas demostrações de carinho com que tu me costumas brindar… Mas desta vez, eu mereço tudo o que me digas… Mas eu peço-te imensa…. – Pedro virou-se, pois queria pedir-lhe desculpa, olhos nos olhos, para que a Patrícia visse sinceramente que ele estava arrependido…
 
- … - mas assim que se virou Pedro ficou sem palavras por uns instantes… Pedro ficou surpreendido ao ver Patrícia, pois ela estava diferente… A começar pelo penteado… O cabelo estava arranjado como se tivesse sido tratado por um cabeleleiro famoso de Paris. A seguir, Pedro reparou nas unhas, que estavam arranjadas e reluziam com o seu verniz vermelho… A sua amiga nunca se tinha preocupado muito com o cabelo e com as unhas, pois preferia que as pessoas centrassem a sua atenção na sua maneira de ser e não na sua aparência física. Aliás, ela orgulhava-se de ter chegado onde estava na empresa pela sua competência e pelas capacidades que tinha demonstrado… Não que ela não fosse atraente, porque o era… e bastante… Mas ela procurava não chamar a atenção… Mas com o que ela estava a vestir nesse dia, ela atrairia a atenção de qualquer homem. Pedro não conseguiu desviar o olhar da combinação de blusa branca apertada (que atraía os olhares masculinos para os seios dela) com a mini saia preta que mostrava as compridas e bem torneadas pernas da sua amiga, finalizando com os sapatos de salto alto. Patrícia sempre se tinha vestido discretamente, preferindo sempre o tradicional fato de trabalho, quando se tinha apresentações a clients ou a T-shirt e calças de ganga, pois o ambiente era informal, e os colaboradores da empresa podiam vestir-se como bem entendiam…
 
 
-          Pedes imenso o quê? – disse Patrícia, quebrando o silêncio.
-          Peço muita desculpa, Patrícia.. - disse Pedro, quebrando o estado de quase catatonia em que se encontrava. - ... por não ter praticamente falado contigo nos últimos dias. Não sei se sabias, mas as coisas com a Inês não estão a correr muito bem...
-          Já imaginava que qualquer coisa tinha acontecido.. Não porque me disseste alguma coisa sobre isso, mas porque tenho visto como tens andado nos últimos tempos... Eu também não te fui pressionar, pois imaginei que precisavas de algum tempo para pôr as ideias em ordem... Mas sinto-me magoada pois pensava que era tua amiga e tu sabes que eu estava aqui para te ajudar no que precisasses.
-          Patrícia, eu sei disso. Mas é por isso mesmo que estou a pedir desculpa. Sabes que não sabia o que te dizer.. nunca estive numa situação destas...
-          Estás a referir-te ao facto de estares apaixonado por alguém e esse pessoa não querer estar contigo? Achas que és a primeira pessoa a quem isso aconteceu?
-          Tens razão... Agora quer olho para trás, vejo que fiz mal em não ter confidenciado contigo. Achas que ainda vou a tempo de corrigir a situação?
-          Sabes que não consigo resistir a esses olhos – disse Patrícia, ao mesmo tempo que não conseguia evitar um sorriso.
-          Ainda bem... Achas que hoje à noite podíamos tomar um café... Precisava mesmo de desabafar com alguém sobre o que estou a passar com a Inês... Ficava-te muito grato se aceitasses o meu convite.
-          Sabes que nunca perderia a hipótese de beber uns copos, ainda por cima sendo tu a pagar... mas já tenho um compromisso esta noite, logo depois de sair do escritório.
-          Então, é por isso que estás assim vestida. Sabes que quando te vi ainda há pouco, não acreditava que eras mesmo tu... Pode-se saber com quem vais?
-          Pedro... eu sei que somos amigos, mas não te tenho de contar tudo o que se passa com a minha vida amorosa... pelo menos, quando as coisas estão no início...
-          Sim, eu sei... mas não tinha a ideia que estavas a sair com alguém... Não tinha reparado que estavas agora à procura de uma relação...
-          Se tu te bem te lembras, nos últimos dias, não tens estado asssim muito presente na minha vida para saberes o que tem acontecido na minha vida...
-          Pois... mas no espírito de abertura que decidimos há pouco entrar, acho que tu me podias dizer alguma coisa sobre com quem vais sair.
 
Patrícia notou a curiosidade do amigo e ainda pensou que pudesse ser um sinal de ciúmes dela estar com outra pessoa. Mas rapidamente percebeu que estava iludida e que ele apenas estava preocupado com ela, pois não queria que ela estivesse envolvido com a pessoa errada.
 
- Sabes que há uns tempos, cheguei à conclusão de que tinha de mudar a forma como estava a ver a vida... Tenho estado concentradíssima no trabalho e não me tenho preocupado em encontrar alguém com quem partilhar os meus sucessos no emprego... E percebi que já não valia a pena esperar que alguém que fosse a pessoa perfeita para mim caísse nos meus braços. Decidi deixar de esperar que o destino me juntasse a alguém e tomei a decisão de ir à procura da pessoa certa. Nem que isso implicasse sair com várias pessoas até descobrir o tal...
 
Patrícia fez uma breve pausa e continuou - ... mas ainda não o descobri... por isso, vou jantar com um amigo da minha melhor amiga que já há alguns anos ela achava que seria a pessoa perfeita para mim, mas que nunca me tinha apresentado, pois ela sempre achava que a minha dedicação ao trabalho nos ia acabar por separar... Mas lá a convenci de que as coisas agora estavam diferentes...
 
- Fico feliz por ti... Já achava que era a altura certa para encontrares alguém.. Alguém que te fizesse sorrir como a Inês tinha feito comigo nestas últimas semanas.
 
Patrícia sofreu internamente ao ouvir estas palavras, mas não deixou transparecer essas emoções na sua cara. O que Pedro não imaginava é que esta mudança que ela tinha decidido trazer à sua vida tinha resultado do facto dela ter percebido, que por mais que ela fizesse, Pedro nunca iria se apaixonar por ela. Ela tinha esperado tanto tempo por ele, até um dia ter visto que ela afinal se tinha apaixonada por outra rapariga... Ela sofreu quando percebeu isso e soube que era altura de seguir em frente com a sua vida e esquecê-lo. Mas sempre que ele falava-lhe de Inês, recordava-se sempre da paixão que tinha esmorecido, mas que não tinha ainda desaparecido do seu coração.
 
- Mas acho que tu não terias problemas em encontrar alguém... Não precisas de mudar o penteado ou de vestir essas roupas mais sexy. Quem te conhecesse como eu te conheço, apaixonaria-te por ti por quem teu és, e não pela tua aparência – completou Pedro.
 
- Não te importas então de deixar o café para amanhã à noite? – questionou Patrícia
- Não há problema... Tu mereces esta noite...e amanhã, podemos falar não só de mim, mas também de como correu o teu encontro. Mas só te posso dizer que ele é um homem de sorte.
- Vamos ver se tens razão. Obrigado por teres vindo cá pedir desculpas.
- Eu é que te agradeço por me teres perdoado. Amigos outra vez? - perguntou Pedro, ao mesmo tempo que piscava o olho a Patrícia.
- O que é que tu achas? – disse Patrícia com um sorriso, o que permitu a Pedro perceber que as coisas entre eles tinham voltado ao normal...
 
publicado por Matt Xell às 00:23
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Terça-feira, 16 de Fevereiro de 2010

Capítulo 19 - O fim

 

Quatro dias se passaram, sem que Pedro tivesse tido qualquer novidade da rapariga que tanto tinha magoado. A muito custo, tinha conseguido conter os seus instintos e ligar-lhe. Seguia o conselho de Carlos, que lhe tinha aconselhado a esperar algum tempo para que Inês já estivesse mais calma e com a cabeça fria… Não valeria a pena insistir antes, sob o risco dela continuar a evitar atender os seus telefonemas…
 
E Pedro sentia que ainda não era altura de a pressionar novamente para falar com ele. Quando ela estivesse preparada, ela iria ligar-lhe… Era essa a esperança dele…
 
Estes dias permitiram-lhe pensar na sua vida… O tempo que esteve sem a presença dela, fez-lhe pensar que a sua vida estava vazia… Fazia exactamente as mesmas coisas antes de conhecer Inês, mas tudo parecia-lhe diferente… Faltava-lhe alguém com quem partilhar a sua vida…
 
O trabalho já não lhe dava tanto prazer como dantes… Às vezes, ficava em silêncio por alguns momentos e que qualquer pessoa percebia que a sua cabeça estava noutro sítio…
 
E Patrícia tinha sido uma das pessoas que tinha notado a transformação no seu amigo. Tinha desaparecido por completo aquele entusiasmo que estava presente em tudo o que ele fazia e que era notório nas últimas semanas…
E apesar dele ter acabado tudo com aquela rapariga, ela não se sentia tão feliz como ela pensaria… A causa do que estava a acontecer com Pedro não era ela… E imaginava que ele nunca iria sentir nada tão intenso por ela, como tinha sentido por Inês… E isso estava a magoá-la tanto como o facto da pessoa de quem gostava estava a sofrer…
 
E ainda por cima, o comportamento de Pedro com ela tinha sido diferente neste últimos dias… Ela não sabia porque Pedro tinha passado a ser mais reservado com ela e não lhe tenha desabafado com ela nesta fase mais complicada da sua vida… Ela era sua amiga e ele confiava nela… Mas ultimamente, ele quase não lhe dizia nada e sentia que os dois estavam a afastar-se, sem que ela soubesse o motivo. E começava a aperceber-se que mesmo sabendo que Pedro não a considerasse mais do que uma amiga, queria estar com ele, mesmo que fosse só como amiga…
 
O que Patrícia não sabia era que Pedro, mesmo sabendo que a culpa não era da sua amiga, sentia que nada do que aconteceu teria acontecido se não tivesse ido almoçar com ela… Era um sentimento irracional, mas era o que sentia… Ele sabia que a culpa era dele, mas inconscientemente, também atribuía um pouco da culpa a Patrícia… Para além disso, sempre que a via, lembrava-se de Inês e da dor que sentia por não estar ao pé dela… Por isso, nestes últimos dias, ele tinha-se mantido relativamente afastado dela… Ela não merecia isso… Ela já o tinha apoiado tanto no passado e ele confiava nela… Mas a dor que sofria impedia-o de pensar de forma racional… Mas ele sabia que Patrícia iria perdoar-lhe pois era uma verdadeira amiga que sabia que ele estava a precisar de algum tempo sozinho e que quando ele precisasse da ajuda dela, ela estaria lá….
 
Ainda por cima, o seu nervosismo e a sua ansiedade não paravam de aumentar à medida que os dias passavam… O trabalho era a única coisa que o ajudava a passar os dias e mesmo assim, não conseguia parar de pensar no que se tinha passado… E o final do dia de trabalho chegava num instante, sem ele se aperceber.
 
Eram cerca das dez da noite quando Pedro chegou a casa… Hoje era uma daquelas noites em que só lhe apetecia deitar-se na cama, adormecer o mais rápido possível para que o amanhã chegasse depressa… Poderia ser que amanhã tivesse notícias de Inês…
Depois de ter jantado uma coisa rápida, deitou-se no sofa da sala….
Passado uns instantes tinha adormecido… As últimas noites não tinham sido fáceis, pois às vezes lembrava-se de algo que lhe fazia pensar na Inês e não conseguia deixar de pensar nela o resto da noite…
Tinham passado cerca de meia hora, quando despertou ao ouvir o seu telemóvel a tomar… Pegou no telemóvel e sentiu um friozinho na espinha quando reconheceu o número de Inês…
 
Estava agora com medo do que iria acontecer… Ele que tanto tinha ansiado por ter notícias dela, estava agora preocupado por ela querer falar com ele… Tinha medo do que ela poderia dizer… tinha medo da decisão que ela tinha tomado… Pedro começou a pensar que preferia não ter notícias dela mas acreditar que ela um dia iria voltar para ele, do que ouvir da boca dela as palavras que mais temia e por um ponto final na sua esperança de ser feliz com ela…
 
Pedro suspirou fundo e atendeu a chamada.
 
-         Estou?
-         Pedro?…
-         Olá Inês… Sim, sou eu. – disse Pedro ao reconhecer a voz da rapariga que tanto amava. Porém, ele não conseguia perceber pelo tom de voz dela, o que ela lhe iria dizer…
-         Sabes… Pensei muito nesta chamada, desde aquela noite… Mas…
-         Eu também tenho pensado muito no que me irias dizer se me ligasses… e eu sempre imaginei no que aconteceria se não me desse uma oportunidade para explicar-me… Eu nunca conseguiria perdoar-me…
-         Peço-te um favor… deixa-me dizer o que te tenho para te dizer…
-         Desculpa… Devo-te isso…
-         Sabes que tenho revivido na minha cabeça o momento em que te vi com aquela mulher.. e o momento em que me mentiste…
-         Desculpa…
-         Deixa-me terminar… e não consigo deixar de pensar no que me fizeste… Tinhas-me prometido que nunca me ias magoar… e eu acreditei em ti… Tu nem imaginas o que senti…
-         Tens razão.. Tens toda a razão… Mas tens de saber que eu…
-         Nem imaginas a dor que sentia no meu coração… a desilusão que tive em ti… o quanto eu me culpei por me ter deixado apaixonar por ti…
 
Pedro não conseguir dizer nada… Sentiu que naquele momento que não podia fazer nada para convence-la… Ela já tinha tomado a decisão… E ele não podia fazer nada para mudar a situação… Só lhe restava permanecer calado e aguardar que ela lhe dissesse o que lhe ia na alma….
 
-         Mas vi que a culpa não era minha… Eu pensava que tu eras diferente… Mas foste tu que me mentiste… foste tu que estiveste com outra mulher sem me dizeres nada… E comecei a odiar-te pelo que me fizeste… Sentia que nunca te iria conseguir perdoar, por mais tempo que passasse…
 
Pedro começou a recear o rumo que a conversa estava a tomar… Sentia a fúria nos olhos dela, quando ela olhava para ele… Ele apenas podia desviar o olhar, mostrando que sabia o que tinha feito mal e que estava arrependido…
 
-         Mas noutras vezes, dizia-me a mim própria que o que tinha visto tinha uma explicação… que tu devias ter uma boa desculpa para me teres mentido… que eu tinha tido razão no meu primeiro instinto quando pensei que tu eras uma pessoa diferente dos outros homens…
 
Pedro sentiu a esperança a voltar… Será que ela lhe tinha perdoado?… Ao ouvir o suave timbre de voz que saía agora dos lábios dela, sentiu uma sensação de calor no seu corpo…
 
-         Mas acima de tudo percebi que eu sofri tanto apenas por um motivo… Eu estava realmente apaixonada por ti… E sentia que nós poderíamos ser felizes… Por isso achei que me devia a mim própria ouvir-te… Sabes que ainda não te perdoei pelo que me fizeste… Mas precisava de ouvir a tua explicação… E não seria justo da minha parte, tomar uma decisão sem te ouvir…
 
Pedro soube desta forma que ela ainda não estava completamente certa da sua decisão… E que tinha agora a última hipótese de recupera-la e não perdê-la para sempre. Ele sabia que tinha de ser completamente honesto com ela, ao contrario do que tinha feito há uns dias…
 
-        
 
Pedro sentiu alguma dificuldade em dizer o que queria… Tinha um nó na garganta , pois tinha medo de dizer alguma coisa que a pudesse afastar… Mas sabia que tinha de controlar o seu receio…
Após um breve silêncio, Pedro sentiu a sua voz voltar e apesar de já ter recriado esta conversa inúmeras vezes na sua cabeça, desde o momento em que que tinha magoado Inês naquela noite, não sabia como começar…
 
-         Nem imaginas o quanto eu estou a sofrer por saber que te magoei… Eu nunca te deveria ter mentido e por isso peço-te desculpa… Mas tens de acreditar em mim… Aquela rapariga é uma das minhas melhores amigas, a Patrícia… Nós não somos apenas colegas, como também falamos várias vezes sobre a nossa vida pessoal um com o outro… Mas nada mais do que isso.
 
Inês ouviu estas palavras, sem deixar escapar um som… Não sabia se devia acreditar no que Pedro lhe estava a dizer… Ela queria tanto acreditar nele… e que aquela rapariga não era mais do que uma grande amiga dele e era esse o motivo pelo qual eles pareciam tão íntimos… Não que ela tivesse alguma vez tido uma amizade desse tipo com um rapaz… Tinha bons amigos, mas nunca alguém com quem tivesse tal confiança para contar certas partes da sua vida… Para isso tinha as suas amigas….
Mas a desconfiança nunca desapareceu completamente da sua mente… Apesar dele lhe parecer estar a ser o mais sincero possível…
 
-         Eu não te devia ter mentido… Aliás, nem sei porque o fiz, pois não estava a fazer nada que não devesse… Ela não é mais do que uma amiga e nunca senti nada por ela.. Aliás, quase te posso garantir que ela nunca pensa em mim dessa forma… Mas damo-nos muito bem e ela era uma das primeiras pessoas que eu gostaria que tu conhecesses, pois ambas significam muito para mim…
 
Infelizmente, Inês estava a acreditar nas palavras de Pedro. Ela sentia no seu íntimo que ele estava agora a ser honesto com ela e que ele e aquela rapariga eram apenas amigos. Sentiu-se aliviada, pois um dos seus medos era o facto de Pedro gostar de outra pessoa e que tudo o que ele lhe tinha ditto no passado eram simplesmente mentiras… Mas mesmo assim, ele tinha-lhe mentido… Depois do que tinha passado com o Alfredo, ela não conseguia perdoar-lhe a quebra da sua confiança... Ele tinha-lhe mentido, tal como o Alfedo e tal como grande parte dos seus anteriores namorados… Ela tinha confiado neles e tinha sempre prometido que isso não iria acontecer novamente…. Mas sempre esquecia a sua promessa e pensava que a pessoa em questão era diferente de todas as outras… E tinha sempre acabado por voltar a sofrer… Por isso, sentia uma grande relutância em deixar Pedro entrar novamente na sua vida…
 
-         Eu sei que te magoei… E peço imensa desculpa por isso… Mas estou agora a dizer-te a verdade… Eu amo-te muito e não me consigo imaginar a viver sem ti… Tenho sofrido imenso nestes ultimos dias por não me teres respondido às minha chamadas… E quando imagino o meu futuro sem ti, fico com um vazio tão grande que tu nem imaginas…
-         Era o que eu também sentia por ti… até me teres enganado – interrompeu Inês após o longo monólogo de Pedro, com alguns soluços pelo meio… As lágrimas tinham chegado aos seus olhos e as emoções estavam a vir ao de cima…
-         Inês, se tu ainda gostas de mim, deves-te a ti própria dar-me mais uma oportunidade… Prometo-te que nunca mais te vou mentir…
-         Mas o que me vale a tua palavra? Não sei se consigo acreditar novamente em ti após o que aconteceu… Tu perdeste a minha confiança e não sei se alguma vez a conseguirás recuperar…
-         Eu sei que fiz algo de errado, mas estou disposto a tudo para não te perder… Faço tudo o que quiseres para não sair da tua vida…
 
Inês sentiu que não estava em condições para tomar agora uma decisão… Naquele momento, o seu coração dizia-lhe que devia aceita-lo de volta, pois também ela não aguentava estar longe dele… E dizia-lhe que ele também a amava dela e que ela a única mulher da vida dele… Mas a sua cabeça dizia-lhe que ela devia deixar de pensar nele, pois ele tinha-lhe mentido antes, pelo que ela ia estar sempre na dúvida no futuro se devia acreditar nele… E qualquer relação em que não exista confiança estaria condenado ao insucesso, por mais que duas pessoas gostassem uma da outra…
 
-         Tudo? – perguntou Inês.
-         Sim, tudo o que tu pedires… Faço tudo o que for preciso para mostrar-te que podes confiar em mim… Tu vales esse sacrifício…
 
Fez-se um silêncio durante uns breves segundos…Inês já tinha tomado uma decisão antes de ligar a Pedro… Mas tinha prometido a si própria ouvi-lo antes de lhe comunicar o que tinha decidido… Mas as coisas tinham mudado… E apesar do seu conflito interior, tomou a sua decisão final… Não sabia se seria a decisão mais correcta, mas naquele momento, pareceu-lhe que seria a única coisa que poderia fazer, para não sair magoada no futuro…
 
-         Acho que só existe uma forma de voltar a confiar em ti… Tu tens de conquistar a minha confiança aos poucos… E acho que só existe uma forma de fazer isso…
-         Qual? O que tenho de fazer?
-         Não estou preparada para ter uma relação com alguém que me magoou… Acho que não te conheço verdadeiramente… As minhas emoções por ti, fizeram com que eu criasse uma imagem de ti. Talvez tu não fosses a pessoa que pensava que eras…
 
Pedro começou a ficar assustado com estas palavras… Não tinha ideia para onde esta conversa ia… E começou a ficar receoso de a ter perdido para sempre…
 
-         Mas sou… Peço-te mais uma… - disse Pedro, antes de ser interropido.
-         Deixa-me terminar… Eu mereço isso, depois do que me fizeste… Talvez tu não fosses a pessoa que pensava que eras… Mas se calhar até és… E a única forma de eu saber quem és, é conhecer-te melhor… E não estou preparada para me envolver emocionalmente contigo, sem isso.
-         E o que sugeres?
-         Tu mereces uma segunda oportunidade. E eu gosto de ti, pelo que não te quero fora da minha vida. Por isso, acho que nós deveríamos ser apenas amigos… Dessa forma, eu irei conseguir saber se tu conseguirás reconquistar a minha confiança…
-         Se essa for a única hipótese de estarmos juntos… então eu aceito… Mas eu prometo-te agora que isto não irá demorar muito tempo… Tu sabes que nós fomos feito um para o outro e vou mostrar-te que sou merecedor da tua confiança… E nós voltaremos a estar juntos… Mas por agora, aceito as tuas condições… Amigos, hum?
-      Sim...apenas amigos… - suspirou Inês, mesmo antes de terminar a conversa com Pedro…
 

 

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Domingo, 22 de Novembro de 2009

Capítulo 18 - O dia seguinte – Parte II

Eram nove da manhã e Inês ainda continuava na sua cama. Tinha passado a noite toda em claro, pois não tinha conseguido parar de pensar no que tinha acontecido. Logo após ter chegado ao restaurante, tinha desabafado por telemóvel com a Rita o que tinha passado. Esta não pode fazer mais nada do que tentar consolá-la. Sentia-se muito triste pela sua amiga, pois nos últimos tempos ela tinha estado a recuperar do que se tinha passado e pensava mesmo que as coisas iriam corer bem com ela.

 
Entre soluços e lágrimas, as duas prometeram combinar encontrar-se no dia seguinte. Rita sabia que tinha de dar apoio à sua amiga, sob o risco de acontecer o que tinha acontecido na outra vez que aconteceu uma coisas destas.
 
A noite foi complicada para Inês. Não conseguia parar de reviver na sua cabeça as palavras de Pedro ao jantar… as mentiras que ele tinha contado… as mentiras esfarrapadas com que ele tentou justificar-se. O pior de tudo é que ela ainda gostava dele…
 
Mas já tinha sofrido tanto no passado com alguém que lhe tinha mentido. E tinha jurado que nunca iria deixar quem um homem a enganasse e a magoasse novamente… E não compreendia porque o Pedro, que tanto lhe tinha prometido que não a iria magoar, lhe tivesse mentido… Ele até poderia ter uma boa explicação para ter beijado aquela mulher na face com intimidade… Mas ele mentiu-lhe na sua cara… olhos nos olhos…
Porque teria feito tal coisa? Será que tinha alguma razão para me esconder alguma coisa?
 
A insegurança começou a assaltar a cabeça de Inês… Muita coisa passou pela sua cabeça durante a noite… mas quanto acordou de manhã, não se lembrava do que tinha pensado durante a noite… A única coisa de que se lembrava era da forma como Pedro a tinha enganado… Inês não sentia forças para se levantar da cama… Estava não só magoada com o que lhe tinham feito, mas estava também deprimida por ter perdido alguém com que achava que seria feliz…
 
A muito custo levantou-se da cama e foi tomar um duche… Normalmente, costumava tomar o duche rapidamente por forma a ir logo para a faculdade, pois tinha o mau hábito de chegar atrasada… Mas desta vez deixou-se ficar quase meia hora, sujeita ao jacto forte que vinha do chuveiro, pois permitia-lhe não pensar.. E era isso mesmo que ela desejava… Não pensar no que tinha acontecido ontem… Não pensar nos motivos que tinham levado Pedro a mentir-lhe… Não pensar no que iria fazer agora…
 
Mas ela sabia que mais cedo ou mais tarde teria de enfrentar a realidade… E pior do que tudo… teria de enfrentar o Pedro….
 
Mas para isso tinha de aconselhar-se com a Rita. Tinham combinado encontrar-se num pequeno café perto da sua casa e sabia que a sua amiga lhe iria ajudar a ultrapassar esta fase mais complicada. Quando chegou ao café, a sua amiga já lá estava e levantou-se por forma a dar-lhe um abraço…
As lágrimas começaram a jorrar-lhe dos olhos e Inês não conseguia parar de chorar… Mas o facto da sua amiga lá estar para a ajudar, fê-la acalmar-se um pouco, permitindo-lhe perguntar à sua amiga o que deveria ela fazer…
 
-         Inês.. tu já sabes a minha opinião… Tu já sofreste tanto com o Alfredo… Quer um, quer o outro já te magoaram bastante…
-         Eu sei… Mas eu ainda sinto algo pelo Pedro… Eu sei que não deveria perdoar-lhe pelo que ele me fez… Mas e se a culpa foi minha?
-         Inês!!! Como é que podes sequer imaginar que a culpa foi tua? Ele é o único culpado do que aconteceu… O que é que tu poderias ter feito para que ele não te mentisse?
-         Não sei… Mas estava tudo a corer tão bem… Não consigo perceber o motivo pelo qual ele fez aquilo… Eu tenho de saber… Tenho de lhe ligar e perguntar…
-         Não faças isso a ti propria… Ele não merece… Eu sei que posso estar a parecer um pouco dura contigo e com ele, mas tu sabes que se eu não fizesse isso, tu voltarias logo a corer para ele… Não lhe deves ligar… Ele sabe o que fez… Tem de ser ele a tomar a iniciativa…
-         Mas ele tem tentado ligar-me desde ontem à noite… E só penso que ele me queria dizer… Ele de certeza que iria tentar pedir novamente desculpa…
-         Muito provavelmente sim… Mas isso muda alguma coisa do que ele te fez?
 
Inês não respondeu porque sabia que Rita tinha razão. Ela era a sua guia nestes momentos mais difíceis… pois ela sabia que ela própria tinha grandes dificuldades em pensar com a cabeça, pois era o seu coração que normalmente falava mais alto… E tinha sido isso que lhe tinha feito custar tanto recuperar da traição do seu anterior namorado…
 
-         Inês… Tu sabes bem que se ele te enganou agora, se o aceitares de volta, existem grandes probabilidades dele voltar fazer a mesma coisa…
-         Sim… Eu sei… Mas tu não tens ideia do quanto gosto dele…- disse Inês, mostrando grande mágoa na sua voz…
-         Acho que sei… Nunca te tinha visto tão feliz como estavas nos últimos tempos… Mas tens de pensar claramente.. Dar algum tempo ao tempo para reflectir se quererás mesmo te-lo de volta na tua vida…
-         Mas e se ele continuar a ligar-me?
-         Deixa-o continuar… Ele também tem de sofrer pelo que te fez… E se ele realmente ainda sente algo por ti, ele também irá aprender que não te pode tratar como te tratou e esperar que o perdoes agora… Se ele ainda está interessado em ti, não se importará de esperar o tempo que for necessário até tu seres capaz de falar com ele o que se passou…
-         Tens razão… como habitualmente. Acho que tenho mesmo de estar longe dele, por uns tempos… Mas ele não me sai do pensamento…
-         Eu sei… Mas tens de ocupar o teu tempo nos próximos tempos com outra coisa, para que a tua cabeça pense noutra coisa para além dele… A Dora não nos tinha convidado para ir amanhã com ela à terra dos pais dela? O que achas de irmos as duas com ela?… Sempre dava para espairecer um pouco… Costuma ser tão calmo por lá…
-         Mas tu não ias este fim de semana àquele concerto do Jack Johnson? Para o qual tinhas esperado não sei quantas horas na fila para comprar o bilhete?
-         Minha querida… O que tu achas que é mais importante para mim? Ir a um concerto ou estar contigo neste momento que tanto precisas?
-         Nem sei o que faria sem ti, amiguita…
-         Não penses mais nisso… Vamos é ligar à Dora e dizer que afinal vamos com ela… E de seguida vamos fazer as malas para alguns dias…
-         E o Pedro? O que faço enquanto estiver fora?
-         Não vais fazer absolutamente nada… Quando voltares, logo se verá… Talvez nessa altura já estejas preparada para falar com ele…
 
 
Inês assentiu com a cabeça… Ligaram logo à sua amiga que ficou radiante com o facto de ter a companhias de duas das suas melhores amigas com ela.
 
O resto do dia não foi fácil… Mesmo tendo a preocupação de fazer as malas para ir logo de manhã no dia seguinte para fora ,   Inês continuou a pensar no futuro da sua relação com Pedro… Se é que ainda haveria alguma hipótese de um futuro para os dois depois do que ele lhe tinha feito…
 
A partir da hora de jantar, Inês começou também a pensar no motivo pelo qual ele já não lhe tinha tentado ligar desde a madrugada desse dia, se bem que não tinha quaisquer intenções de atender a chamada… A insegurança tinha voltado novamente ao seu pensamento… Estava mesmo a precisar de passar uns dias com as suas amigas longe de tudo e de toda a gente e pensar no que iria fazer... Mas neste momento, muitas coisas passavam pela sua cabeça... a dor causada por Pedro... os motivos dele ter mentido... se iria aceitar as desculpas dele... se ele ainda estava interessado nela... o que ele sentia pela rapariga que estava no restaurante... porque ele não lhe tinha ligado novamente,,,
 
E foi nesta ângustia permanente que Inês passou a noite inteira até finalmente adormecer a altas horas da madrugada, sem ter tido qualquer notícia de Pedro...
publicado por Matt Xell às 16:38
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Segunda-feira, 19 de Outubro de 2009

Capítulo 17 - O dia seguinte : Parte I

Eram nove da manhã quando Pedro chegou ao seu escritório. Tinha sido uma noite muito difícil para ele, pois tinha perdido a conta ao número de vezes que tinha ligado para o telemóvel de Inês, sem qualquer sucesso. Ele sabia que tinha procedido mal, mas o erro que tinha cometido não era motivo suficiente para ela ter acabado tudo, sem lhe dar uma nova oportunidade.

Quando chegou ao pé de Carlos, este notou logo que algo se tinha passado. A cara sorridente que o seu amigo tinha tido nos últimos tempos, tinha desaparecido. E ele sabia que Pedro iria precisar muito do seu apoio para ultrapassar esta fase menos boa porque estava a passar. Por isso, achou que o melhor seria mesmo conseguir ele ele desabafasse e perguntou ao amigo se queria fazer uma pausa para tomar um cafe.
Pedro assentiu com ligeiro acenar de cabeça, e desceram até um cafézinho perto do escritório, que estava sempre muito vazio.

- Então, o que é que aconteceu ontem contigo? Porque é que estás assim?
- Ela acabou tudo comigo... – respondeu Pedro num tom muito baixo – Não consigo acreditar...
- O que é que tu fizeste?
- Lá estás tu a assumir que a culpa foi minha.
- E não foi?
- ... Sim, a culpa foi minha, mas acho que ela exagerou bastante e não me deixou explicar porque lhe tinha mentido.
- Mas o que é que lhe disseste para ela não te ter perdoado?
- Eu não fiz nada de mais. Eu tinha-lhe dito que tinho ido almoçar com um colega, pois não queria que ela pensasse que eu estava a sair com outras mulheres... Mas ela viu-me ontem a almoçar com a Patrícia e ficou completamente passada comigo.
- Já devias saber melhor... Mais facilmente se apanha um mentiroso do que...
- Mas foi uma mentirinha inocente. Tu sabes que eu e a Patrícia somos apenas amigos...
- Sim, mas a Inês não. E ainda pioraste as coisas, quando lhe mentiste. Mais valia teres-lhe dito a verdade...
- Mas eu não queria estragar as coisas com ela. Estava tudo a correr tão bem, que não queria causar-lhe uma crise de ciúmes...
- É fácil de perceber que já não estás numa relação séria há muito tempo... Sabes que a confiança é daquelas coisas que mais demora a construir, mas basta uma pequena coisa para a destruir completamente. E começar a mentir, logo no início da relação, por mais pequena que seja a mentira, é meio caminho andado para algo correr mal...
- Agora sei disso, mas ela nem me dá uma oportunidade para eu me desculpar...
- Imagino que ela nem atenda as tuas chamadas...
- Ela rejeita logo as chamadas... Já tentei enviar várias mensagens a dizer-lhe que preciso de falar com ela, mas nem sei se ela as leu....
- Tens de ter calma... Tens de ser paciente e dar-lhe algum tempo para acalmar.
- Achas que ela irá alguma vez atender as minhas chamadas?
- Acho que se ela gosta tanto de ti como tu dizias, então mais cedo ou mais tarde, vai acabar por ceder, e dar-te uma hipótese para explicares...
- Achas mesmo?
- Tenho a certeza disso. Só não te posso garantir que as coisas voltem a ser como dantes...
- Eu sei disso, mas se ela me ouvir, tenho a certeza de que ela compreenderá que só lhe menti, pois gosto tanto dela que não a queria magoar.
- Vê-se mesmo que tu não és o Pedro que eu conhecia... A pensar no que os outros sentem antes de pensar nele...
- O amor que sinto por ela mudou-me muito. Podes achar que eu estou a exagerar, mas quando estou com ela, quero ser uma pessoa melhor por ela... Nem imaginas o que me está a custar saber que ela não me quer ver mais...
- Achas que não? Todos os que amaram verdadeiramente alguém, muito provavelmente também já sofreram por esse amor. E nem todos acabaram por conseguir o que queriam.
- Já percebi que és um expert nessa matéria.
- Quem me dera poder dizer que nunca sofri assim. Mas posso dizer-te que as coisas melhoram e que nem tudo está tão mal como pode parecer...
- És mesmo um romântico incorrigível. Mas eu não sou assim. E tenho muito medo de perde-la... Mas já sabia que isto só poderia correr assim. Sempre que me acontece alguma coisa boa, acabo por estragá-la...
- Pedro.. Tem calma... se ela gosta mesmo de ti, então tens de ter paciência. Quando ela também se acalmar, já terás maior facilidade em explicar-lhe tudo. Talvez o melhor seja dares-lhe algum tempo para ela reflectir. Tenho a certeza de que ela vai responder ao teu telefonema... Mas dá-lhe algum tempo. Não estragues ainda mais as coisas...
- Mas eu não consigo fazer nada enquanto não souber que as coisas estão resolvidas entre nós os dois...
- Ouve-me... Se queres ter alguma hipótese com ela, tens de ouvir o que te digo. Tu cometeste um erro... Tens agora de arcar com as consequências... mesmo que isso implique sofrer enquanto ela não te perdoa.

Pedro reflectiu nas palavras do amigo e soube que ele tinha razão. Mas ele tinha medo dela nunca mais querer falar com ele.. Mas lá no fundo, ele sabia que Carlos tinha razão...

Carlos tentou consolar o seu amigo e dar-lhe alguma esperança de que Inês iria ser capaz de lhe perdoar... Mas chegou a um ponto em que percebeu que o seu amigo nunca iria voltar ao normal, enquanto não falasse com ela.

E isso viu-se durante o dia todo. Carlos notou que Pedro estava constantemente distraído durante os brainstormings para a nova campanha... Sempre que alguém lhe pedia uma opinião, notava-se que ele não estava a acompanhar as ideias lançadas pelos colegas. Decididamente, não era o Pedro que todos conheciam...

Pedro estava a sofrer... Não se lembrava de ter sofrido no passado por alguém de quem gostava tanto... Ele já tinha estado do lado oposto... E sentia-se agora um pouco culpado por ter feito sofrer algumas das raparigas com quem tinha estado e que tinham esperanças de ter uma relação séria com ele, e que a partir de certa altura ele tinha deixado de dar notícias... Era assim que se sentia alguém com o coração partido...

Ele pensou várias vezes durante o dia em ligar novamente para Inês, mas as palavras da Carlos ecoavam na cabeça dele... Talvez fosse mesmo pelo melhor dar-lhe algum tempo... Mas o que iria ele fazer entretanto? Sentia aquela sensação de perda de algo que nada conseguia preencher...

Quando saiu do escritório, ainda pensou em ir a um bar perto de sua casa para afogar as mágoas, mas achou que isso não iria resolver a situação... Podia faze-lo esquecer por umas horas a dor que estava a sentir, mas de manhã quando acordasse, tudo iria estar na mesma... Decidiu então ir para casa... Assim que chegou, pensou em preparar o jantar, mas não estava com fome... Ao contrário do que acontecia na grande maioria dos dias, estava sem qualquer apetite... Só lhe apetecia ligar novamente para Inês... Mas conseguiu controlar os seus impulsos a muito custo...

Mas não conseguia evitar olhar para o seu telemóvel de cinco em cinco minutos. Ele esperava desesperadamente que Inês lhe ligasse para resolverem as coisas. Ele sentia às vezes que se olhasse para o telemóvel iria fazer com que Inês lhe ligasse mais depressa. Mas ele sabia que estava a ser irracional... Mas não o conseguia evitar... Realmente o amor transforma as pessoas... Ele sempre tinha sido uma pessoa confiante, com uma grande autoestima, e que não se preocupava com a impressão que os outros tinham dele... Mas desta vez, estava completamente inseguro sobre si e por vezes passava-lhe pela cabeça que Inês nunca mais lhe iria perdoar.

E foi nesta ângustia permanente que Pedro passou a noite inteira até finalmente adormecer a altas horas da madrugada, sem ter tido qualquer notícia de Inês...

publicado por Matt Xell às 23:54
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Segunda-feira, 5 de Outubro de 2009

Capítulo 16 - A primeira discussão

Pedro tinha regressado ao escritório após o almoço. Estava satisfeito por finalmente ter tido a oportunidade de falar com Patrícia. Ele já estava a sentir-se culpado por ter escondido durante tanto tempo a sua vida amorosa a uma das suas melhores amigas. Ele prezava os conselhos dela mais do que os de ninguém, pois não existia ninguém em cujos conselhos confiasse mais. E ela achava que ele devia dizer a Inês o que sentia.

Ele tinha estado a pensar constantemente nisso nos últimos tempos, e estava bastante indeciso, mas Patrícia tinha-o completamente convencido a dizer a Inês que a amava. Ele sabia que era um risco pois não tinha a certeza de que ela sentisse a mesma coisa por ele. Mas sentia que tinha de lhe dizer que a amava de verdade, como nunca tinha amado ninguém. Na verdade, ele já tinha dito a várias raparigas que as amava, mas sentiu que esta era a primeira vez em que estava a ser sincero, do fundo do seu coração.
Por isso, o seu coração batia de forma acelerada. Ele não parava de pensar na reacção dela quando ele lhe dissesse, pois desejava no seu íntimo, que ela sentisse o mesmo. Mas tinha tomado a decisão, e não existia nada que o fosse demover.

E hoje iria ser o dia em que lhe iria contar. Ligou a Inês para combinarem jantar juntos nessa noite. Mas algo parecia diferente. A forma como ela lhe tinha falado tinha sido um bocado esquisita. Ele sentia que algo estava errado, mas não sabia o quê. Talvez tivesse sido o exame que lhe tivesse corrido mal, ou outra coisa qualquer. Mas ele sabia que ela estava distante.
Quando desligou, Pedro começou a duvidar novamente se seria boa ideia dizer a Inês que a amava. Era um passo importante, e o facto dele não ter reconhecido naquela pessoa com quem tinha falado ao telefone a rapariga que tanto amava, mostrou-lhe que afinal não a conhecia tão bem. Seria ainda cedo demais, e estaria a precipitar-se? A indecisão começou a pairar na sua mente, mas decidiu que tinha de lhe dizer o que sentia.

- Então, quando é que lhe vais dizer-lhe? – disse Patrícia, ao mesmo tempo que lhe tocava suavemente no ombro. – Já decidiste?
- Ah? Ainda não sei. Talvez hoje à noite? – respondeu Pedro, visivelmente apanhado de surpresa pela frontalidade da sua amiga.
- Só hoje à noite? Não achas que lhe devias dizer-lhe agora?
- Agora? Não sei se é daquelas coisas que lhe devia dizer ao telefone, sabes?
- Mas do que é que estás a falar? Ele está ali, na sala dele, à espera de que digas alguma coisa sobre a campanha. É só levantares o teu rabo dessa cadeira, andar dez metros e entrar no gabinete dele.
- Desculpa. Pensei que estavas a falar de outra coisa. – Vou já ter com ele.
- Não me digas. Estavas a pensar naquela pessoa de quem falamos no almoço.
- Tu já me conheces. Achas que eu estaria a pensar em assuntos pessoais no meu horário de trabalho?
- Queres mesmo que te responda a isso?
- Não, é melhor não...
- Sempre vais dizer-lhe, não vais? – perguntou-lhe, pois ainda tinha a pequena esperança de que ele não seguisse o conselho que ela lhe tinha dado e mudasse de ideias. Talvez ele lhe dissesse que afinal já não amava aquela rapariga.
- Hoje à noite... Nem sei como lhe vou dizer...
- Sinceramente, acho que não deves planear nada. Sê tu próprio, e acho que as coisas irão sair-te naturalmente. Tu és das melhores pessoas a improvisar sobre pressão, como tantas vezes demonstraste aqui.
- Mas isto é diferente. Eu não quero que nada corra mal.
- Eu sei. Mas tenho a certeza de que tudo vai correr pelo melhor.- disse Patrícia, ao mesmo tempo que era chamada pelo chefe com alguma urgência.

Ao levantar-se, emitiu um pequeno suspiro que passou despercebido a Pedro, pois apercebeu-se que já não conseguia fazer mais este papel de melhor amiga. Cada vez que tentava apoiar Pedro e dar-lhe força para dizer a Inês o que sentia, sofria por dentro, pois ela amava-o tanto ou mais do que aquela rapariga. E custava-lhe muito vê-lo apaixonado de verdade por outra pessoa. E o que podia ela fazer? Nada, absolutamente nada. Mas mais do que tudo, era amiga dele e lá no fundo, tudo o que queria era que ele fosse feliz. Só não percebia porque ele não podia ser feliz com ela...

A tarde foi agitada para ambos, pois tiveram de fazer um esforço de última hora para conseguirem acabar o draft das respectivas campanhas a tempo de enviarem as coisas ainda no final desse dia para os clientes. Ao final da tarde, Pedro reparou nas horas. Ia mesmo ligar a Inês a dizer-lhe que ia chegar atrasado, mas foi chamado de urgência pelo chefe que estava numa conference call com o cliente. Após essa reunião, o stress era tanto, que não se tinha mais lembrado de ligar a Inês. Já tinha passado quase meia hora da hora combinada, quando ele finalmente lhe ligou a dizer que estava naquele momento a saír do escritório e que ia já a correr para o restaurante. Sentiu logo pelo tom de voz dela que ela não tinha gostado muito fo facto dele não a ter avisado mais cedo, mas imaginou que ela iria compreender a situação assim que ele lhe explicasse o que tinha sucedido.

Quando ele finalmente chegou, dirigiu-se à mesa que tinha reservada, na qual já Inês estava à espera há cerca de três quartos de hora. A caminho da mesa, reparou no ar de Inês. Ele nunca a tinha visto assim. Ela tinha sempre um ar radiante e irradiava simpatia por todos os lados. Mas não era isso que ela aparentava hoje. Soube logo que tinha de pedir imensas desculpas pelo atraso e compensá-la de alguma forma. E achou também que talvez hoje não era o dia certo para dizer-lhe que a amava. Ele sentia claramente que o ambiente não estava apropriado para o que lhe tencionava dizer.

- Desculpa lá o atraso. Peço imensa desculpa, mas hoje tive mesmo um dia muito complicado no trabalho, e as reuniões que tive prolongaram-se por mais tempo do que estava à espera. Mas podes estar descansada que nem todos os dias são assim.
- Não há problema. Acontece... Só gostaria que me tivesses avisado que estavas atrasado. Não te custava nada e eu escusava de estar aqui sozinha. Sentia que toda a gente estava a olhar para mim, a ter pena de mim, pelo facto do meu namorado se ter baldado...
- Inês, se esse foi o teu problema, podes estar descansada. Tenho a certeza de que toda a gente estava a olhar para ti, mas por outro motivo. Eles estavam todos a olhar para a mulher mais bonita desta sala...

Inês não conseguiu evitar um esboço de um sorriso. Ele tinha esse efeito nela, e por mais que estivesse chateada com ele, ele conseguia conquistá-la novamente.

- Espero que não penses que os elogios desculpam o teu atraso... – respondeu, fingindo que estava ainda zangada com ele.
- Eu acho que os meus actos não têm desculpa. Qualquer homem seria parvo em deixar-te aqui sozinha, pois corria o risco de seres abordada de cinco em cinco minutos por alguém a oferecer-te uma bebida.... Por isso podes estar descansada, que esta será a última vez que isto acontece...
- È só mesmo por causa disso que vais fazer tudo para que isto nunca mais aconteça...
- Claro que sim.. Que outra razão poderia existir?

Ambos sorriram ao mesmo tempo. Pedro sentiu que este primeiro precalço tinha sido ultrapasssado, e que as coisas estavam a voltar ao normal. Ele sabia que tinha de fazer tudo para que esta relação corresse bem, porque a amava de verdade e não saberia o que fazer se a perdesse. Nada poderia correr mal e ele sabia que não poderia repetir os erros que tinha cometido no passado com outras mulheres.

- Queres então dizer que não confias em mim... – inquiriu Inês...
- Eu confio plenamente em ti. Não confio é nos homens que aqui estão. Eu conheço-os bem e sei que eles só têm uma coisa no pensamento.
- Queres então dizer que tu também só tens uma coisa no pensamento.
- Eu não. Eu sou diferente da maioria dos outros homens...
- Tens a certeza? Pela minha experiência, os homens são todos iguais...
- Nem todos. Se queres que eu te diga a verdade, todos os homens nascem iguais. Mas existem certos momentos na vida que nos mudam para sempre... – Pedro fez uma pequena pausa...- E um dos momentos mais marcantes foi quando que tu entraste na minha vida. E toda a gente que conheço dir-te-á isso.
- Tens a certeza? Se calhar é melhor pedir-te agora os telemóveis de todos os teus amigos e ligar-lhes para confirmar isso, antes de continuarmos a jantar – brincou Inês.
- Estás à vontade. Mas acho que podes poupar o teu dinheirinho. Podes confiar em mim.
- Posso mesmo? – perguntou Inês, mas desta vez com um tom mais sério.
- Podes ter a certeza que sim... Eu nunca te iria mentir ou esconder nada. Quero que a nossa relação seja o mais transparente possível. E não quero que exista nada que te faça duvidar disso.
- Sabes que a confiança é algo que se conquista.
- Sim, tenho a perfeita noção disso. Mas ainda não fiz nada que quebrasse a tua confiança em mim...
- Disseste bem... Ainda não fizeste nada. – disse Inês, tentando não mostrar o que realmente sentia, fingindo que se estava a meter com Pedro.
- Pois, mas podes ter a certeza de que isso irá continuar assim. Pois eu gosto muito de ti e não te queria magoar. E estou disposto a fazer tudo para que tenhas plena confiança em mim.
- Talvez possas começar por escolher o meu jantar... – disse Inês, que já estava com fome há algum tempo.

Pedro escolheu uma das especialidades da casa, o salmão grelhado, para os dois. Pediu também um vinho tinto já com alguns anos e que ele, apesar dos seus parcos conhecimentos em termos de vinhos, sabia que era dos melhores vinhos naquele restaurante.

Os dois estiveram a conversar durante a noite toda. Aquele pequeno precalço tinha sido ultrapassado e Pedro sentiu que a rapariga que estava agora à sua frente já era novamente a Inês por quem se tinha apaixonado. Mas de repente, Inês colocou uma cara mais séria e lançou uma pergunta, vinda do nada.

- Mas diz-me uma coisa? Achas que vou ficar à noite muitas vezes à tua espera?
- Só mesmo quando estamos próximos do nosso deadline e o cliente pressiona-nos para ter as coisas prontas para ontem.
- E isso acontece muitas vezes?
- Depende um pouco da campanha e do cliente. O meu trabalho é muito dinâmico e posso encontrar de tudo.
- Mas hoje à tarde, quando me ligaste, as coisas pareciam mais calmas.
- Tens toda a razão, mas isso não quer dizer nada. As coisas mudam ali dentro, de um instante para o outro. Basta o cliente pedir alguma coisa com urgência, que as nossas prioridades mudam logo. Posso dizer-te que antes do almoço, as coisas estavam calmíssimas e que eu pensava que iria sair cedo à tarde no escritório.
- Que engraçado. Já vi que o teu horário é muito flexível. Nem fazia a mínima ideia. Por exemplo, hoje até poderíamos ter almoçado juntos depois do meu exame. Bastava termos combinado para um pouco mais tarde, que dava...
- Normalmente sim, pois posso gerir o meu tempo. Desde que consiga ter a campanha pronta antes do deadline, posso ir almoçar à hora que quiser e voltar à hora que quiser. Mas por exemplo, hoje não podia, pois tive uma almoço de trabalho com um colega. Mas em qualquer outro dia, é só uma questão de combinarmos.
- Mas costumas dar-te bem com os teus colegas?
- Para ser sincero, o ambiente lá é um pouco competitivo, e mesmo quando estamos a trabalhar para a mesma campanha, todos procuram marcar pontos juntos dos chefes. Cada um está a fazer por si, pois só assim se consegue progredir na carreira. Mas para quem vê de fora, parece que todos lá dentro fazem parte da mesma equipa.
- Assim é complicado fazer amigos por lá... Nunca sabes se eles são mesmo teus amigos ou não.
- Lá dentro, são muito poucos os colegas em quem confio plenamente e que posso considerar como sendo meus amigos. Quanto aos outros, tenho sempre cuidado com o que lhes digo.
- E tens muitas colegas lá dentro na agência? – disse Inês, tentando mostrar de propósito o ciúme na sua voz.
- Algumas, mas podes estar descansada. Não existe nenhuma mulher como tu lá dentro.
- Sinto-me bastante mais tranquilizada – disse Inês, com um tom irónico muito perceptível para Pedro.
- Podes acreditar no que te estou a dizer. Não tenho nenhuma amiga lá dentro. As minhas colegas são todas muito competitivas e tenho uma relação estritamente profissional com todas elas.

Pedro nem imaginava que esta inofensiva mentira iria ter tantas repercussões. O que ele não sabia é que Inês tinha-o visto com Patrícia na hora de almoço. Por um acaso do destino, o restaurante que Rita tanto queria experimentar era o mesmo em que ele estava a almoçar. E Inês tinha visto, ao longe, o comportamente de Pedro para com a sua colega. Notou logo que eram duas pessoas chegadas e quando viu Pedro beija-la levemente na face, não conseguiu aguentar mais e saiu a correr do restaurante. Rita foi atrás dela e conseguiu acalmá-la um pouco.

- Tem calma. O que vimos pode ter uma explicação.
- Como é que ele pode enganar-me desta forma? Eu confiei nele... – disse Inês, já com lágrimas visíveis no rosto.
- Eu sabia que isto iria acontecer... Já com o Alfredo tinha sido a mesma coisa.
- Não estás a precipitar-te um pouco? Eu não vi nada fora do normal.
- Tu não viste o mesmo que eu? Ele está a enganar-me com aquela mulher...
- Inês, eu sei que o Alfredo magou-te muito. Mas isso não pode ser uma justificação para começares a desconfiar do Pedro por uma coisa que tu podes não estar a intepretar correctamente. Nem todos os homens são como o Alfredo. Ele traiu a tua confiança sem tu o esperares. E isso faz com que te seja difícil confiar em alguém novamente. Mas tu gostas dele. É o que me tens dito desde o dia em que o conheceste. Achas que vale a pena acabar com ele, sem lhe dar uma oportunidade de se explicar. Não achas que ele merece isso?

Inês ouviu as palavras da sua amiga e sabia que ela tinha razão. Mas já tinha saído magoada uma vez e não queria que isso acontecesse novamente. Mas ela tinha ficado tão incomodada em ver Pedro com aquela mulher desconhecida. Decidiu então esperar pelo jantar que iam ter à noite para clarificar a situação. Foi por isso que quando Pedro começou a mentir-lhe na cara dela, que ela não aguentou mais.

- Posso mesmo acreditar em ti? – perguntou Inês com alguma rispidez.
- Porque é que estás a dizer isso? O que é que passa?
- Já sabia que não devia confiar em ti. Não posso acreditar numa única palavra que me tenhas dito.
- Mas o que é que eu fiz para te irritar tanto?
- Tu sabes bem o que fizeste. Eu vi-te hoje à tarde... Com aquela mulher ao almoço...

Pedro foi apanhado em contrapé. Só lhe restava tentar justificar porque lhe tinha mentido. E esperar que os danos causados não fossem irreparáveis.

- Eu posso explicar...
- A única coisa que eu sei que é que tu me mentiste.
- Mas ela não é nada para mim... É só uma amiga...
- Uma amiga... Não foi isso que me disseste há bocado... Tu mentiste-me...
- Eu peço imensa desculpa, mas não foi por mal. Podes ter a certeza de que ela não é mais do que uma amiga. Podes acreditar em mim...
- Como é que eu posso acreditar em ti? Como posso acreditar numa única palavra que me vás dizer... Como é que eu sei que não me vais mentir novamente...?
- Inês, tem calma. Deixa-me explicar. Eu não sabia que me tinhas visto...
- Essa é a tua melhor justifificação?... Pensei que conseguias fazer melhor – interrompeu Inês, com um tom irónico.
- ... Eu não sei porque menti, mas na realidade eu podia ter-te dito a verdade. A mulher com quem me viste é mesmo uma colega e é uma das minhas melhores amigas, a Patrícia. Ela não é mais para mim do que uma amiga e podes perguntar-lhe que ela irá dizer-te o mesmo.
- Então porque é que não me disseste logo isso?
- Não sei porque tive receio de te dizer. Sinceramente, tive medo de dizer-te que estive a almoçar sozinho com outra mulher. Podias interpretar mal a situação...
- Ao invés do que aconteceu... Se não aconteceu nada de mais, porque é que tinhas medo de dizer alguma coisa? O que é que pensaste?
- Não sei. Na realidade, acho que não pensei. Entrei em pânico, pois achei que estavas um pouco estranha comigo quando falámos ao telefone hoje à tarde e não queria dizer algo que piorasse as coisas...
- E preferiste mentir-me.
- Se eu pudesse fazer tudo novamente, eu faria de maneira diferente. Mas agora não posso mudar o passado. O que queres que eu faça?
- Eu não quero que faças nada. Só quero é ir para casa...
- Inês, tu não queres que as coisas acabem assim. Eu tenho a certeza de que conseguimos resolver isso.
- Sinceramente, eu acho que não. Eu gostava de ti. Mas não posso estar com alguém em quem eu não confie. Eu já te tinha confessado que tinha sofrido muito no passado e tu prometeste não me magoar...
- Desculpa, mas.... – pediu novamente Pedro.
- Mas tu magoaste-te... Tu nem sabes o quanto eu gostava de ti. Eu pensava que eras diferente. Mas és como todo os outros... Não existe nada que possas fazer para que as coisas fiquem como dantes...
- Não existe nada que eu possa dizer ou fazer para que mudes a opinião?
- Infelizmente, acho que não. Nem consigo mais olhar para ti e falar contigo.

Um silêncio constrangedor invadiu a mesa, pois nenhum sabia mais o que dizer ao outro nesta situação. Notava-se que Inês estava triste e magoada, enquanto que Pedro estava com um ar desconsolado por saber que tinha estragado tudo. Passado cinco minutos, Inês levantou-se e disse que era melhor ela ir-se embora. Pedro ficou sem palavras e assistiu sem qualquer reacção à partida da única mulher que ele tinha amado na vida.

publicado por Matt Xell às 14:47
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Segunda-feira, 7 de Setembro de 2009

Capítulo 15 - O passado escondido...

Inês respirou fundo e suspirou. Tinha acabado de terminar o último exame do último semestre do último ano do seu curso. Sabia que estava prestes a iniciar-se uma fase importante da sua vida profissional.

Porém, também estava a iniciar uma nova fase na sua vida pessoal, pois estava agora envolvida com um homem que tinha conhecido há pouco tempo, pelo qual estava completamente apaixonada. Ela também sabia que Pedro estava completamente apaixonado por ela. Mas lá no seu íntimo, ela tinha ainda algum receio de o deixar entrar no seu coração.
Ela ainda estava a recuperar de um namoro prolongado e que lhe tinha causado muito sofrimento e tinha jurado não se envolver com ninguém nos tempos mais próximos. Mas Pedro tinha conseguido convencê-la de que ele era a alma gémea dela... Mas era também o que ela pensava do Alfredo, o seu ex-namorado. E ele tinha-a magoado mais do ela pensava possível.

Ela ainda se lembrava do primeiro dia em que o conheceu. Tinha sido na faculdade, pois eram ambos da mesma turma. No início, ela não lhe tinha prestado muita atenção. Apesar dele ser o rapaz mais bem parecido da turma, a primeira impressão que tinha ficado dele não tinha sido muito boa, pois ele estava constantemente a flirtar com todas as raparigas da faculdade. E envolver-se com uma pessoa como ele era algo que Inês não tencionava fazer. Mas muitas vezes, as coisas não correm como pretendíamos.

Ela nem sabia que iria cometer o maior erro da sua vida, quando aceitou o pedido de uma colega que fazia parte do seu grupo de estudo, para que Alfredo também passasse a integra-lo.
Quase sem se dar por isso, ela e Alfredo começaram a dar-se cada vez melhor, até porque os inúmeros trabalhos de grupo a que os alunos do primeiro ano estavam sujeitos os obrigavam a passar juntos inúmeras noites. Quanto mais tempo estavam juntos, mais ela percebia que ele não era a pessoa que ela tinha imaginado. Ele era uma pessoa muito extrovertida como ela e que tinha necessidade de estar no centro das atenções. Mas era também um homem muito sensível e divertido. E não foi surpresa que ela se apaixonasse por ele. No início ela não queria admitir essa situação, mas passado algum tempo passou a ser impossível esconder os seus sentimentos, até porque sempre que estavam os dois sozinhos, existia um desconforto evidente.

E este ambiente durou até ao final do primeiro semestre, quando finalmente aconteceu algo que quebrou a apatia existente. Um dia, Inês recebeu uma mensagem de Alfredo, através da qual ele lhe pedia para o ajudar a estudar para a oral que ele ia ter no dia seguinte, pois estava em risco de chumbar naquela cadeira. Mesmo com o ambiente estranho que pairava entre os dois, ela não podia deixar de ajudar o seu amigo, pelo que ambos combinaram encontrar-se na biblioteca a seguir ao almoço.

Quando ela chegou à biblioteca, Alfredo já lá estava. Inês começou logo a fazer-lhe perguntas, por forma a prepara-lo para a oral. A tarde passou depressa, pois a matéria era muita e o tempo era cada vez mais escasso para o que ainda faltava cobrir. Por volta das dez da noite, Alfredo sugeriu que ambos fizessem uma pausa e fossem jantar, pois nem tinha reparado que já era tão tarde. Inês assentiu e decidiram ir a um pequeno café que ficava numa esquina perto da faculdade, e comer rapidamente qualquer coisa.
Ainda hoje ela se lembrava do que se tinha passado no café, como se tivesse sido ontem... Palavra por palavra...

- Muito obrigado por me estares a ajudar, Inês. Não saberia o que fazer sem ti.
- Tu sabes que os amigos são para as ocasiões. Tu bem sabes, ou já te esqueceste daquela noite em que me ajudaste a estudar para o exame de Introdução à Psicologia I? Nem sei como é que não chumbámos nessa cadeira.
- Sim, eu lembro-me perfeitamente daquela noite. Ou pelo menos, lembro-me do facto de não ter conseguido concentrar-me durante a noite toda, pois estava sempre a olhar para ti, pois estavas muito gira naquele vestido que estavas a usar. – disse Alfredo, antes de Inês corar como nunca tinha corado antes.
- Ainda te lembras do que eu estava a usar naquele dia? Eu nem me lembro do que almocei ontem.
- Eu só me lembro daquele dia, pois foi o dia em que percebi que eu nunca iria ser feliz, enquanto não estivesse contigo...

Inês nem acreditava no que estava a ouvir. Ela sabia que ele sabia que ela sentia algo por ele, mas nunca imaginou que ele sentisse o mesmo. E pela primeira vez na vida estava sem palavras.

- Eu sei que estou a ser muito lamechas, mas é o que eu sinto. Nos últimos meses, acho que posso dizer que fiquei-te a conhecer bem e sei que tu também sentes algo por mim. Não podes negar isso... Mas sei que tu nunca serias capaz de tomar qualquer iniciativa, sem teres um sinal de que eu sentia o mesmo... Por isso, tens aqui o teu sinal...
- Alfredo... Tens toda a razão quando dizes que eu sinto algo por ti, mas estou numa fase da minha vida em que quero encontrar alguém com quem possa ter uma relação séria e assentar. Foi por isso que eu nunca te disse nada sober o que sentia, pois acho que tu...
- ... que eu não sou uma pessoa séria e que nunca seria capaz de me comprometer... Que eu não sou homem de uma só mulher e que nunca seria capaz de te ser fiel... Era isso que querias dizer? – Interrompeu Alfredo, que já estava preparado para esta reacção de Inês.
- Eu não te quero ofender, mas sim... Era nisso em que eu estava a pensar.
- Inês... Eu posso ter sido assim no passado. Mas temos passado muito tempo juntos nos últimos seis meses. Consegues dizer-me que viste alguma atitude da minha parte que indicasse que eu ainda sou a mesma pessoa?
- Não. Para dizer a verdade, tu surpreendeste-me muito, pois acabaste por te revelar muito diferente do que estava à espera.
- Então dá-me uma hipótese. É só isso que te peço... Consegues olhar-me nos olhos e dizer-me que eu não mereço pelo menos uma hipótese?

Ela ainda tentou pensar em algo para refutar o que ele lhe dissera, mas não conseguiu encontrar nenhuma objecção. E foi nessa noite que começou o namoro, selado com um beijo apaixonado.

No início tudo era um mar de rosas. Ela estava completamente apaixonada por ele. Ele também demonstrava variás vezes, com gestos românticos, que ela era a mulher da sua vida. Isso não queria dizer que de vez em quando, não existissem alguns arrufos entre eles, principalmente pelo facto de Inês ser um bocado ciumenta. Ela ficava muito irritada quando algumas colegas e amigas dele mais atraentes falavam com ele. Esta situação foi complicada para ela de início, mas o tempo fez-lhe ver que os seus receios eram infundados e que ela podia confiar nele, pois mesmo que essas raparigas estivessem interessadas nele, ele gostava demasiado dela para lhes dar alguma conversa.

Os dois passavam cada vez mais tempo juntos, e começavam a pensar no futuro, ao ponto de terem começado a pensar em comprar uma casa em conjunto e passar a viver juntos. Assim, cerca de dois e anos e meio após terem começado a namorar, Alfredo arranjou um emprego em part-time para conseguir amealhar algum dinheiro para concretizar o sonho deles. Poucas eram as ocasiões em que ela e Alfredo conseguiam estar juntos, pois ele passou a frequentar a turma da noite e só chegava quando ela já estava deitada. Ainda por cima, ela notou que com o avançar do semestre, ele chegava a casa cada vez mais tade e cada vez mais cansado. Mas ela pensava que esta situação era apenas temporária, pois estavam quase a acabar o curso. Só tinham agora de fazer um pequeno sacrifício.

O que Inês não contava é que acontecesse algo que iria mudar profundamente a vida dela. Ainda hoje, ela não percebeu o que pode ter corrido mal... Mas o facto é que o período dela estava atrasado, o que não era nada normal, pois o ciclo dela era muito regular. Ainda pensou que fosse do stress, pois este último ano tinha sido muito complicado.
Infelizmente, não foi esse o caso, como o teste de gravidez que ela reluntantemente decidiu fazer lhe demonstrou. Ela não conseguiu deitar-se essa noite, tal era o nervosismo que tinha, por não saber a reacção que Alfredo teria. Isto iria mudar para sempre as suas vidas, pois eles já tinham falado em ter um filho, mas só daqui a três ou quatro anos, quando já tivessem uma vida mais estabilizada.
Ela decidiu então que tinha de contar-lhe o mais rápido possível. Porém, este não seria o tipo de novidades que ela queria dar por telefone. Decidiu então ir ter com ele à faculdade, pois ele costumava ficar na faculdade mais algum tempo após a última aula do turno da noite, a trocar apontamentos com os colegas.
Durante o caminho, ela só pensava na forma como lhe iria dizer. Repetiu várias vezes na sua cabeça os diversos cenários possíveis, mas tinha um pressentimento que tudo ia correr bem. Quando entrou na faculdade, viu Alfredo sentado numa mesa com uma colega.

Eles pareciam muito íntimos enquanto conversavam, mas Inês pensou que eram os seus ciúmes a falar mais alto. Por isso, qual não foi o seu espanto quando ela viu o seu namorado a beijar apaixonadamente a colega na boca ao mesmo tempo que acariciava o corpo dela. A sua supresa apenas foi superada pelo choque que Alfredo que teve quando a viu e percebeu que ela tinha assistido a tudo.
Inês ainda pensou em ir-se embora, mas não era do seu feitio fugir das situações difíceis, embora as lágrimas que lhe corriam pelos olhos não parassem de jorrar. Quando finalmente chegou ao pé de Alfredo, ele desmanchou-se em desculpas, mas ela não conseguia ouvir o que ele lhe dizia, pois estava visivelmente transtornada. Ela apenas voltou a dar atenção a Alfredo quando ele disse que não era assim que ele queria que ela descobrisse.

- Que eu descobrisse o quê? – murmurou Inês, com uma voz carregada da dor que estava a sentir.
- Que eu tinha encontrado outra pessoa. Eu não queria magoar-te, mas...
- Cala-te. Não quero ouvir mais uma palavra tua.
- ... mas eu amo a João. Eu amo-a de verdade. Quando estou com ela, sinto algo que já não sentia há muito tempo...

Inês tinha pensado que as coisas não podiam ter ficado pior, mas quando ouviu o namorado a dizer-lhe que amava a outra mulher, ela ficou ainda mais destroçada.

- Desculpa, mas é a verdade. Desde que a conheci no início do ano, que me sinto mais feliz do que quando estou contigo. Eu ainda gosto de ti, mas aquela atracção que sentia no início tem vindo a desaparecer, e com o tempo os meus sentimentos mudaram. E isso notou-se mais este ano, pois acho que começámos a afastar-nos e eu não queria enfrentar isso.

A reacção de Inês ao que Alfredo lhe estava a dizer era de perfeita incredulidade. Ela nunca tinha imaginado que isto lhe podia acontecer, pelo que não conseguia dizer nada, mas apenas continuar a chorar, pelo que Alfredo continou a tentar justificar-se.

- Há algum tempo que queria dizer-te alguma coisa, mas temos passado tão pouco tempo juntos que nunca surgiu a oportunidade de por tudo em pratos limpos. Eu não queria que tu descobrisses assim, mas eu tinha prometido à João que te ia contar tudo...
- Que nobre da tua parte. – disse com ironia Inês, que tinha finalmente conseguido recompor um pouco do choque que tinha tido. – Fico satisfeita por teres decidido dizer-me a verdade, seis meses após teres andado a enganar-me. Nem sei como te agradecer...
- Não sejas assim.. Eu sei que estás magoada, mas eu não queria que as coisas terminassem assim.
- Nem eu. Posso-te garantir que não era assim que eu esperava que esta noite terminasse... Odeio-te e nunca mais te quero ver na vida... – disse Inês antes de virar as costas a Alfredo e vê-lo pela última vez.

Logo que chegou a casa, Inês telefonou a Rita a contar-lhe tudo o que se tinha passado, que foi também completamente apanhada de surpresa por toda esta situação. Uma vez que Rita tinha voltado a Aveiro para estudar, raras eram as vezes em que estavam juntas. Mas estavam em contacto quase todos os dias por mail, pois tinham-se tornado muito próximas e amigas íntimas. Hoje, era a vez da Rita ouvir os desabafos da sua amiga.

- Sinto muito o que te aconteceu. Nem consigo imaginar o que estás a sentir agora – disse Rita, que tentava ser o menos condescendente possível.
- Eu não percebo o que aconteceu. Pensei que ele estava a fazer um esforço para que podessemos viver juntos, e afinal ele queria separar-se de mim...
- Ele não te merece. Se calhar foi melhor teres descoberto agora...
- Mas eu ainda o amava. – disse Inês, que recomeçou a chorar. O que eu hei-de fazer agora?
- Já pensaste em contar-lhe...?
- Não, nem pensar. Não o quero ver mais durante o resto da minha vida.
- Então, o que é que estás a pensar em fazer?
- Sinceramente, não faço ideia. Eu sou ainda nova e não consigo criar um filho sozinha. – respondeu Inês, com um ar hesitante - O que é que achas que devo fazer?
- Inês, nem sei como responder a essa questão. Tu sabes como é difícil para mim dar-te um resposta objectiva nesta matéria.
- Sim, eu sei... Mas alguma vez arrependeste-te da tua decisão?
- Foi uma decisão difícil na altura, mas mesmo hoje sei que foi a melhor decisão que podia tomar. Mas claro que de vez em quando aindo penso em como as coisas seriam se eu não tivesse.... Tu sabes...
- Pois... Desculpa estar a fazer-te reviver outra vez esta situação...
- Eu sei que a decisão não é fácil, mas tu sabes que eu vou estar ao teu lado, independentemente do que decidires.
- Sim, eu sei... Só não sei o que é que eu hei-de fazer...


Estas palavras ecoaram novamente na mente de Inês, mesmo tendo passado já quase um ano sobre essa noite. A decisão tinha sido difícil, mas ela não estava arrependida da decisão que tinha tomado. Mas hoje não era dia de pensar no passado. Ela estava certa de que a sua sorte tinha mudado quando conheceu Pedro.

De repente, sentiu o seu telemóvel a vibrar. O seu corpo tremeu só de pensar que poderia ser o Pedro, pois ele tinha ficado de ligar para combinar um jantar para comemorar o fim dos exames. Mas era apenas a sua amiga Rita, que queria apenas avisar que estava um pouco atrasada para o almoço que tinham combinado num restaurante que lhe tinham recomendado e que ela queria experimentar há algum tempo...

publicado por Matt Xell às 22:40
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Terça-feira, 25 de Agosto de 2009

Capitulo 14 - As palavras que nunca te direi...


E tudo parecia correr bem na relação entre Pedro e Inês. Apesar de não conseguirem encontrarem-se todos os dias, quer por causa dos exames de Inês, quer por causa da campanha complicadíssima que tinha surgido na empresa de Pedro e que estava a aproximar-se do seu deadline, passavam quase uma hora por dia ao telemóvel a conversar.
E quando se juntavam para jantar, as emoções vinham à flor de cima. Ambos sentiam-se bem um com o outro e não havia um segundo em que as suas mãos não estivessem juntas. Há muito tempo que Inês não se sentia assim tão feliz. Depois do que tinha passado, nunca tinha imaginado que pudessse encontrar novamente um homem que a fizesse assim tão feliz. Mas também era esse o problema. Quanto mais se apaixonasse por alguém, maior seria o sofrimento se as coisas não corressem bem. Inês tinha jurado nunca mais deixar que alguém a magoasse como no passado. Mas com Pedro, as suas defesas abriram-se totalmente e estava a deixar este homem entrar no seu coração. E sabia que ele sentia o mesmo por ela.
Mas a relação ainda estava um bocado indefinida. Ambos gostavam de estar um com um outro, mas nenhum tinha ainda dado o primeiro passo no sentido de clarificar as coisas. Os dois andavam juntos, era certo. Mas nunca ninguém tinha falado numa relação mais séria.

Pedro nunca tinha tido no passado essa necessidade de ter uma relação com alguém. Para ele, o que interessava era o presente e viver dia a dia. Tinha sido esse um dos motivos para todas as relações dele terem acabado. O seu medo de compromissos era evidente para todos os que o rodeavam e quando as suas namoradas se apercebiam disso, estava dado o primeiro passo para o fim da relação.
Mas desta vez era diferente. Pedro não queria perder Inês por nada deste mundo. E ele estava disposto a fazer tudo por ela. Pela primeira vez na vida, Pedro sentia-se preparado para uma relação séria com uma mulher que ele achava que iria amar para o resto da vida. E estava disposto a demonstrar a Inês o que sentia.

Por seu turno, Inês também estava um pouco preocupada com esta indefinição. Mas por motivos diferentes de Pedro. Ela tinha acabado de sair de uma relação há pouco mais de seis meses, que não correu muito bem. Ela tinha sofrido bastante numa relação que tal como esta tinha começado muito bem. Mas com o tempo, ela acabou por conhecer melhor o agora ex-namorado. E se soubesse o que sabia agora, nunca se tinha dedicado de corpo e alma a ele. O seu coração andou magoado por muito tempo. Desde o fim desse namoro, que o seu coração estava fechado. Muitos tentaram romper a barreira que Inês tinha criado à sua volta. Mas só Pedro o tinha conseguido. Ela no início encontrava-se receosa de que a história se repetisse novamente. No seu íntimo tinha receio de que ele a magoasse. Mas agora que se estavam a conhecer melhor, ela sentiu que isso não iria acontecer, pois acreditava que Pedro a amava realmente e que faria tudo para que ela não saísse magoada. Inês começava assim a voltar a acreditar no amor. Mas mesmo assim, gostava desta indefinição. Não queria assumir nada mais sério enquanto não estivesse preparada. E achava que Pedro estava na mesma situação. E era isso que bastava a Inês por agora.

Porém, Inês não imaginava que Pedro pensava cada vez mais nesse asssunto, pois não queria partilhá-lha com mais ninguém. Ele sabia que ela não tinha saído com mais ninguém desde o dia em que se conheceram. Mas mesmo assim, ele queria que todos soubessem que ela era dele e que mais ninguém a podia ter.
Pedro sentia que estava numa nova fase da sua vida. Tinha finalmente encontrado alguém com quem queria passar o resto da vida. Sentia também que tinha mudado nas últimas semanas. E precisava de partilhar isso com uma das pessoas em quem mais tinha confiado no passado. Se bem que ultimamente, tinha deixado de confidenciar tanto com a Patrícia o que lhe ia na alma e preferido falar com o Carlos sobre a sua nova paixão. Pedro achava que era mais normal estar a falar de uma rapariga com um amigo do que com outra rapariga e tinha sido esse o único motivo para ter sido mais reservado com a Patrícia sobre esta nova fase da sua vida,
Mas tendo em conta que a sua relação com Inês estava tornar-se cada vez mais séria, Pedro achava que já era altura de falar com a amiga e saber a opinião dela. Patrícia tinha-o já apoiado várias vezes no último ano, sempre que ele tinha precisado dela. Tinham-se tornado próximos, ao ponto de terem combinado sair várias vezes fora do trabalho. Pedro estranhava sempre que Patrícia nunca vinha acompanhada quando eles saíam, mas pensou que devesse ao facto dela estar muito preocupada com a ascensão na empresa e não ter tempo para se envolver numa relação. Pedro conhecia bem a sua amiga e sabia que ela não era uma mulher para se envolver com alguém por quem não sentisse algo, apenas para não estar só. Era uma mulher forte e independente, que qualquer homem teria muita sorte se fosse o escolhido dela. E estava já a sentir-se mal por não partilhar com a amiga os sentimentos mais recentes.
Por isso decidiu almoçar com a Patrícia nesse dia. Só não sabia se ela estaria disponível, pois estavam em campanhas diferentes e não sabia se ela estaria muito ocupada. Mas nada melhor do que lhe perguntar. Pedro dirigiu-se à mesa de Patrícia, que estava absorta nos seus pensamentos a pensar numa nova ideia, e sem esta se aperceber de que ele tinha entrado, colocou-se atrás dela e deu-lhe um pequeno toque no ombro.
Patrícia quase deu um salto, pois tinha apanhado um pequeno choque. Não era novidade, pois tinham colocado recentemente uma alcatifa nova no escritório e o que não faltava era electricidade estática. Já tinha apanhado alguns choques, mas nenhum tão forte como este.
- Já vi que estás muito eléctrica. – Disse Pedro, não conseguindo evitar um sorriso.
- Parvo. Assustaste-me um bocado. Já ouviste falar em bater à porta?
- Tu é que me disseste que a tua porta estava sempre aberta para mim. Mesmo a da tua casa de banho.
- Hoje estás muito engraçadinho. Diz-me lá o que queres, pois estou um bocado atrapalhada com esta campanha. Tenho uma apresentação ao cliente amanhã, e ainda não consegui terminar tudo. Não tenho tempo para parvoíces. – disse Patrícia, tentando fingir que estava zangada com Pedro. Mas ela gostava quando ele vinha ter com ela e brincar um pouco. Já algum tempo que não o fazia.
- Já vi que vim cá perder o meu tempo. Queria ver se vinhas almoçar comigo, mas se estás assim tão ocupada, vou retirar-me dos teus aposentos e deixar-te trabalhar em paz…
- Fazes muito bem. – disse Patrícia, também não conseguindo evitar um ligeiro sorriso.
- Mas de certeza que não te consigo convencer? Conheço um arroz de polvo que está a chamar pelo teu nome.
- Já te disseram que és um chato? Tu tens o dom de chatear tanto as pessoas, que elas fazem tudo o queres, só para as deixarem em paz.
- Isso é claramente um sim. Então, saímos de cá quando forem quinze para a uma…
- Olha que vou contrariada. E tu pagas o almoço.
- Tu és uma negociadora difícil. Mas negócio fechado. Tudo para ter o prazer de almoçar contigo.

Após Pedro ter saído, Patrícia continuou a pensar. Mas agora, a campanha já não estava no seu pensamento. Ela não parava de pensar no motivo pelo qual ele a tinha convidado para almoçar. Não era a primeira vez. Na realidade, já tinham ido variadíssimas vezes almoçar um com o outro, mas já há algumas semanas que ela sentia que ele já não lhe dava tanta atenção como no passado. Por isso, este convite surgido do nada começou a incomodá-la. Só podia ser por causa da Inês. Essa mulher mistério de que já tinha ouvido Pedro tanto elogiar a Carlos nos últimos tempos.
Patrícia começou a ficar incomodada, com receio de que ele lhe dissesse que estava a apaixonar-se por essa rapariga. Tudo menos isso. Ela já tinha passado pela experiência de Pedro ter estado com muitas raparigas, mas nunca se tinha preocupado, pois ela percebia que as coisas não eram sérias e nunca iriam ter qualquer futuro. Mas desta vez ela diferente. Ela tinha já percebido que Pedro estava diferente para melhor e que eram cada vez menores as hipóteses dele vir a apaixonar-se por ela.
Por isso, respirou fundo e decidiu que iria contar-lhe durante o almoço o que sentia por ele. Antes que ele tivesse a oportunidade de dizer alguma coisa sobre a nova namorada, iria despejar o que tinha dentro dela quase desde que o tinha conhecido. Foi uma decisão difícil. Patrícia sabia que as coisas nunca mais iriam ser as mesmas. Fosse qual fosse o resultado, tudo iria mudar na relação com Pedro. Se ele também gostasse dela, a sua relação iria evoluir de uma amizade para algo mais profundo e complicado. Se ele não sentisse o mesmo, as coisas ficariam constrangidas entre ambos a partir desse momento. Sempre que os dois falassem, ele iria sentir-se culpado por não retribuir os sentimentos dela e ela iria sentir-se embaraçada pelo que tinha acontecido. Mas era a altura de arriscar. Patrícia sempre foi uma pessoa muito cautelosa e só se expunha a alguém quando tinha a certeza de que era correspondida. Ela teve sempre um grande receio de sofrer e por isso contavam-se pelos dedos as situações em que tinha decidido assumir o risco. Mas esta era uma daquelas decisões que iria ter grande impacto no seu futuro. Ela só tinha pensado no Pedro nos últimos tempos e o receio de perdê-lo era mais forte do que tudo. Ela nunca tinha sido impulsiva e qualquer decisão requeria sempre muita reflexão para pensar em todas os cenários possíveis e os prós e os contras de qualquer alternativa. Mas agora ia ser diferente.
Patrícia respirou fundo de novo e não conseguiu pensar em mais nada até à hora do almoço.
- Isso não está fácil. – interrompeu Pedro. - Já está a sair fumo da tua cabeça. Se calhar é melhor deixares de pensar na campanha e fazer uma pausa para recuperar um pouco. É mesmo a altura certa para irmos almoçar.
- Tens toda a razão. Às vezes, quando não chegamos a uma conclusão, é melhor não continuar a pensar e seguir o que o instinto nos diz.
- É o que te estou a dizer há algum tempo. Estou a ver que finalmente começas a seguir alguns dos meus conselhos. Vamos?
- Estou mesmo atrás de ti.

Os dois saíram do escritório e foram almoçar num restaurante pequeno onde já tinham ido várias vezes no passado. Era um sítio sossegado onde não havia muita confusão e a comida era muito boa. Mas Pedro sabia que Patrícia adorava aquele restaurante pelas sobremesas. Eram das mais originais e mais saborosas que se podiam encontrar. E mesmo ele, que não era grande apreciador de doces, provava sempre da sobremesa de Patrícia.

Quando se sentaram à mesa foram logo atendidos por um empregado que já os conhecia há algum tempo e fizeram os pedidos. Enquanto esperavam pela comida, Patrícia pensou que esta seria a altura certa para fazer o que tinha decido no escritório.

- Já há algum tempo que não íamos almoçar juntos – disse Patrícia, tentava abrir caminho para a revelação que iria fazer.
- Pois é, eu sei. E a culpa é toda minha. Sei que tenho andado ocupado nos últimos tempos....
- Sim, só um bocadinho...
- Mas foi por um bom motivo. E tu já sabes do que estou a falar.
- De quem estás a falar... – corrigiu Patrícia.
- Sim, tens razão. Mas tu tens de conhecer a Inês. Nunca conheci ninguém como ela. Tenho a certeza de que ias gostar logo dela.
- É só uma questão de me a apresentares. Pois já a conheceste há algum tempo e quase não me falaste dela.
- A culpa é toda minha. É que as coisas estavam ainda no início, e não tinha a certeza de que iam durar. Mas está a correr muito bem e agora acho que é altura certa para os meus amigos a conhecerem.
- Vê-se pela tua cara. Nunca te vi tão feliz.
- Mas eu estou mesmo feliz. Tu não tens ideia do efeito que ela tem em mim. Eu só penso nela o dia inteiro. Pela primeira vez, existe alguém com quem eu queira estar por muito tempo ao meu lado. ...E queria dizer-te que...
- Eu também queria dizer-te... – disse Patrícia, ao mesmo que Pedro tentava completar a sua confissão.
- Oh! Desculpa interromper-te.
- Não, eu é que te peço desculpa. Diz tu primeiro...
- Não! Diz lá o que ias dizer... Eu digo-te daqui a bocado – disse Patrícia, sentido-se cada vez mais ansiosa para dizer o que sentia.
- Bem... Patrícia... Queria pedir-te o teu conselho. Eu sinto-me feliz com ela, mais ainda não nos conhecemos muito bem, e não sei como ela iria reagir se...
- Se...
- Se eu lhe dissesse que a amava..
- Pedro, tu sabes que eu faria tudo para te ajudar, mas eu nem conheço a rapariga...
- Pois não. Mas conheces-me a mim. Eu nunca te disse isso, mas eu acho que tu conheces-me melhor do que ninguém. Até mesmo do que a Inês. Tens sido a pessoa em que mais confio e cuja opinião eu mais respeito. Eu considero-te uma das minhas melhores amigas e gostaria de saber qual seria a tua reacção se uma pessoa como eu te dissesse que te amava.
- Pedro, tu sabes que eu sou muito amiga, mas nunca pensei em ti nesses termos.- respondeu Patrícia de forma hesitante.

Naquele momento, com aquela resposta espontânea, Patrícia apercebeu-se de que ainda não estava preparada para dizer a Pedro o que sentia. Melhor, sentiu que independentemente do que dissesse, nada iria acontecer entre os dois, pois era demais evidente que ele gostava mesmo de Inês, e que dizer-lhe alguma coisa apenas iria estragar a amizade que tinham.
- Sim, eu sei. Apenas querias que fingisses que eras a Inês e que um tipo que te conhece há pouco menos de um mês, e que tu sabes que nunca teve uma relação que durasse mais de um mês, mas com quem tu te tens passado um bom bocado te disesse que te amava. Qual seria a tua reacção? Acreditavas que eu estava a ser sincero?
- Pedro, eu não sei o que a Inês te diria, mas se ela te conhecesse como eu te conheço, eu saberia que ela seria a mulher mais feliz do mundo por tu lhe dizeres isso. Qualquer mulher daria tudo para que uma pessoa como tu lhe dissesse que ela era a mulher que tinha mudado a tua vida e que tinha transformado tanto.
- Obrigado por seres sincera. Acho que tu me convenceste. Eu estava com algumas dúvidas, mas agora acredito sinceramente que tenho mesmo de confessar-lhe o que sinto.
- Tudo para te ajudar. Sabes que eu fui sincera no que te disse e acho mesmo que ela nem sabe a sorte que tem em tu gostares dela.
- Patrícia, não sei o que faria sem ti. – disse Pedro a pegar na mão direita de Patrícia, que sentiu um pequeno choque no momento em que sentiu o toque da mão do seu amigo.

Patrícia colocou a mão esquerda por cima da de Pedro com muito carinho, ao mesmo tempo que se esforçava para esconder os seus sentimentos e não demonstrar a enorme dor que sentia por não ser ela a escolhida.

- Eu também não sei o que farias sem mim...- disse a rir, tentando quebrar aquele momento esquisito.
- Já estou farto de te dizer que ainda não percebo porque não existe ninguém na tua vida. Tu és daquelas pessoas que qualquer pessoa gostaria de ter ao seu lado para o resto da vida. Mas tenho a certeza de que um dia irás encontrar a pessoa certa – disse ao mesmo tempo, que também colocou a outra mão sobre as maõs de Patrícia.
- Vamos lá ver se isso acontece – mentiu Patrícia, que tinha a certeza de que já a tinha encontrado, e que estava mesmo à sua frente.

Pedro levantou-se da sua cadeira e colocou-se muito perto de Patrícia e deu-lhe um pequeno beijo na face.

- Tenho a certeza de que sim. Tal como eu encontrei a Inês, também tu irás encontrar alguém. – disse Pedro, antes mesmo de ser interrompido pelo empregado que trazia os pratos para a sua mesa.


O que Pedro não imaginava é que duas raparigas que tinham entrado no restaurante que estava completamente cheio e que estavam à entrada do restaurante à espera de que uma mesa ficasse livre tinham assistido a esta última cena, tendo logo de imediato saído do estabelecimento.

publicado por Matt Xell às 19:22
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Quarta-feira, 12 de Agosto de 2009

Capítulo 13 - A Amiga...

 
Após fechar a porta da sua casa, Inês suspirou. Já há algum tempo que não se sentia assim. O seu coração não parava de bater rapidamente com a emoção do encontro que tinha tido naquela noite. Desde o beijo de despedida, que ela não conseguia deixar de pensar nele. Ela não sabia como é que ele tinha conquistado o coração dela em tão pouco tempo.
Não há muito tempo, ela tinha jurado que nunca iria deixar que outra pesssoa chegasse tão próxima dela e a magoasse novamente. Mas Pedro tinha conseguido aos poucos convencê-la de que ele era diferente dos homens com que ela tinha estado no passado.
Ela começou a recear que se ele soubesse o passado dela, os sentimentos dele iriam mudar. Por um momento passou-lhe pela cabeça a ideia de que se ele gostasse mesmo dela, o seu passado não iria importar. Mas depressa voltou à realidade e decidiu que por mais que lhe custasse esconder algo dele, caso o não fizesse, ele iria deixá-la num piscar de olhos mesmo antes da relação começar.
Era um pequeno preço a pagar pela sua felicidade. E tomou a decisão de lhe contar tudo, quando estivessem juntos há mais tempo e isso já não iria causar qualquer problema entre os dois. Mas até esse momento, iria fazer tudo para que ele nunca soubesse nada. E isso incluía esconder coisas dele.
Inês cedo tinha aprendido que a vida não era um mar de rosas. Apesar da sua tenra idade, já tinha passado por muitas coisas que possivelmente pessoas já muito mais velhas nunca iriam passar. Ela tinha muita vergonha do que tinha feito e quanto menos pessoas soubessem, melhor seria para ela.
Logo após ter tomado essa decisão, Inês começou novamente a pensar em Pedro. Era algo que não conseguia parar de fazer, mesmo se quisesse. E ela não o queria, pois sentia-se invadida por uma sensação tão estranha, que só poderia ser o amor. E tinha que partilhar o que sentia com alguém.E esse alguém, apenas podia ser a Rita.

A Rita era a sua melhor amiga. Tinha-a conhecido na secundária há cerca de seis anos. Ainda se lembrava do dia em que a tinha encontrado. Desde sempre que Inês tinha sido uma rapariga muito sociável e que era sempre a alma do grupo dela. Ela foi sempre o centro das atenções, não só por causa da sua beleza latente mas também por causa da sua personalidade. Por seu turno, a Rita era uma rapariga que primava pela descrição e parecia deslocada no meio da turma. Ela era uma rapariga nova na escola que tinha sido transferida de uma escola em Aveiro, donde se tinha mudado com os pais e a irmã para Lisboa. E por esse motivo, não conhecia ninguém na escola, e não parecia integrar-se no resto da turma ao fim de duas semanas de aulas. Ocasionalmente, alguém metia conversa com ela, mas ela parecia não querer criar laços com ninguém.
Inês lembrou-se da primeira impressão que tinha tido dela. Era uma rapariga muito tímida, que se vestia muito discretamente e que procurava não dar muito nas vistas, apesar dos seus enormes cabelos louros. Era uma rapariga que qualquer rapaz consideraria engraçada, mas nada mais do que isso. A ideia com que tinha ficado das primeiras semanas de Rita na escola, era de que ela era uma rapariga muito mimada pelos pais e que se achava superior às outras pessoas da escola. Tinham corrido rumores de que ela vinha de uma família com algumas posses e que tinha vindo de um colégio privado com elevada reputação e distinção. E o facto de não se querer integrar com o resto da turma apenas reforçava essa ideia.
Por seu turno, Inês era a rapariga mais popular do ano dela. No último ano, o seu corpo tinha-se desenvolvido muito rapidamente e tinha-se tornado o olhar de todos os rapazes da turma dela, incluindo os comprometidos. E tinha-se tornado a inveja de todas as raparigas, que se sentiam incomodadas pela enorme atenção que todos os rapazes dedicavam a ela. Mas mesmo assim, ela andava sempre rodeada do seu grupo de amigas que a acompanhavam desde a preparatória. E nunca pensaria em incluir Rita nesse grupinho.
Mas um dia, a professora de Psicologia decidou dividir a turma em grupos de dois, para fazer um trabalho sobre a influência dos genes na personalidade das pessoas. E acabou por juntar a Rita com a Inês, esperando que aquela aluna que estava sempre calada e quietinha nas aulas espevitasse um bocado ao passar algum tempo com a rapariga mais irrequieta da turma e que estava sempre a interromper as aulas, pois do início ao fim estava sempre a sussurar com a colega do lado. Inês, logo após a professora a ter juntado à Rita, pensou que com tantas pessoas naquela turma, ela tinha logo que juntá-la a uma rapariga que não tinha nada a ver com ela e que insistia em se manter afastada do resto da turma.
Após o fim da aula, a Rita foi ter com Inês, para combinar onde iriam fazer o trabalho. Ambas decidiram que o melhor seriam encontrarem-se na biblioteca à tarde para pesquisarem para o trabalho.
Quando Inês chegou ao local combinado um quarto de hora atrasada, já a Rita tinha colocado em cima da mesa de trabalho quatro ou cinco livros de Psicologia, a maioria dos quais de psicólogos com nomes impronunciáveis. Inês pensou logo que estaria na presença de uma daquelas pessoas que dava muita importância ao estudos e que não se importava com mais nada. Pediu desculpa pelo atraso e começaram as duas a percorrer os livros, à procura dos capítulos que tinham a informação necessária para o trabalho delas. Foram praticamente duas horas de quase silêncio, apenas interrompido por algumas piadas de Inês, que não obtiveram qualquer reação por parte da sua colega. A Rita praticamente não disse qualquer palavra durante a tarde toda, tirando as respostas a algumas questões que Inês ia colocando. Após terem tirado fotocópias daquilo que lhes interessava, combinaram que no dia seguinte se iriam encontrar outra vez, desta vez na casa da Rita, para redigir o trabalho.
Durante a noite, Inês telefonou a uma das amigas do seu grupinho, a dizer que nunca tinha tido uma seca tão grande e que a sua colega de trabalho era uma das pessoas mais chatas e fechadas que tinha conhecido. Não tinha ficado com uma boa impressão dela e apenas queria terminar o trabalho o mais depressa possível para não ter mais qualquer contacto com ela.

No dia seguinte, após o almoço, Inês foi para a casa da Rita. Ficava numa zona de vivendas, a mais fina da cidade. Tocou à porta e foi atendida pela empregada que a convidou a esperar um pouco na sala, enquanto ia chamar a Rita. Inês deu uma vista de olhos rápida pela sala e reparou que parecia uma daquelas fotografias que se encontravam naquelas revistas de decoração das casas de pessoas famosas. Percebeu logo que a Rita vinha de uma família com posses e que seria esse o motivo para não se querer misturar com os colegas. Entretanto a Rita chegou e sugeriu-lhe irem para o quarto dela. Quando lá chegaram, Inês surpreendeu-se imenso. Ao contrário da exuberância do resto da casa, o quarto dela pautava-se pela simplicidade. Era um quarto que primava pela arrumação, sem nada fora do sítio, com uma pequena televisão e onde se destacava um enorme poster dos Backstreet Boys. Sentaram-se na secretária dela, onde já lá estava um computador portátil e algumas folhas impressas da Internet com mais alguma informação que Rita devia ter pesquisado durante a noite passada.
De início, decidiram que seria a Rita a escrever no computador, uma vez que Inês era daquelas pessoas que nunca conseguiria um emprego como secretária, pois era impossível existir alguém que teclasse mais lentamente do que ela. Começaram ambas a falar sobre o que tinham lido no dia anterior. A tarde passou devagar, não tendo sido tocado outro tema de conversa para além do trabalho. A Inês detestava falar só de trabalho. Achava que o trabalho em conjunto correria melhor se ambas estivessem mais descontraídas e menos formais e brincassem uma com a outra. Mas qualquer tentiva de quebrar o gelo era imediatamente recusada pela Rita que dizia que elas só se deveriam preocupar em acabar o trabalho. Este até estava bastante bom e faltava apenas o capítulo em que se tinha de dar a opinião pessoal sobre o tema. Inês perguntou à Rita o que ela achava do assunto ao que Rita ficou a reflectir por uns instantes antes de lhe responder.

- Eu não acredito que os nosso genes determinem a nossa personalidade. A nossa personalidade vai-se desenvolvendo à medida que o tempo vai passando e as pessoas mudam com o tempo.
- Mas tu não achas que as pessoas têm algumas características que herdam dos pais? – retorquiu Inês.
- Eu acho que a única coisa que herdamos dos nossos pais são as nossas características físicas: a cor do nosso cabelo, os nossos olhos ou o nariz. Mas não é pelo meu pai ou a minha mãe serem pessoas calmas, que eu também o vou ser.
- Eu não penso bem assim. Há certas pessoas que nascem tímidas e que nunca vão deixar de ser tímidas. Há certas características inatas que por mais que as pessoas tentem mudar, nunca o irão conseguir. Eu por exemplo, já nasci assim expansiva e faladora. Os meus pais sempre me disseram que desde bebé que era assim, e que sempre chamava as atenções de todos desde muito cedo.
- Eu também penso que isso é verdade. Mas isso não tem a ver com o que estamos a discutir. Tu estás a dizer que há certas características com que nascemos e que irão para sempre influenciar o que nós fazemos. Eu também concordo com isso. Mas eu acho que isso não se herda dos pais.
- Ao contrário de outras coisas... – disse Inês que detestava que as pessoas não concordassem com ela e estando já a ficar farta do tratamento algo frio da Rita desde o dia anterior.
- O que queres dizer com isso? – perguntou Rita com uma entoção que indicava que ela não tinha gostado do comentário.
- Vê o teu caso. Nota-se que os teus pais são ricos. Eles devem-se achar melhor do que os outros. E tu pelos vistos estás a seguir o mesmo caminho.
- Estás completamente enganada. Vê-se que tu não me conheces mesmo nada.
- Ai não? Então porque é que estás sempre afastada do resto das pessoas da nossa turma e mal lhe diriges uma palavra? Só pode ser pelo facto de achares que ele não merecem que lhes digas alguma coisa.

A dicussão estava a ficar cada vez pior. Mas Rita decidiu por um termo ao rumo que a conversa estava a tomar. Ela era uma pessoa calma e pacífica por natureza e não estava interessada em discutir mais.

- Se tu e todos os outros acham isso, então estão no vosso direito. Cada um é livre de pensar o que quer. Mesmo que estejam completamente errados.
- Não acredito em ti. Estás agora a fazer de coitadinha. – disse Inês, que nunca foi uma pessoa que deixasse as coisas a meio. – Prova-me o contrário. Tu nunca mostraste abertura para com os outros e sempre que eu tentava falar contigo com outra coisa para além do trabalho, tu não me ligavas. Diz-me lá então como é que eu estou enganada.

Rita hesitou antes de dizer qualquer coisa. Por um momento, ela pensou no que lhe iria responder. Não queria dizer a ninguém o que realmente passava pela cabeça. Muito muito menos a alguém como a Inês, que não era minimamente amiga dela.

- Tu nunca irias compreender. – suspirou com um ar de resignação.
- Experimenta-me.
- E ainda por cima, achas que eu iria contar alguma coisa à rapariga com a maior boca da escola? Se eu te dissesse alguma coisa, amanhã já todos saberiam disso.
- Agora vê-se que és tu que não me conheces. Se soubesses como eu sou, saberias que sou alguém em que toda a gente confia. Eu sou incapaz de mentir ou de trair a confiança de alguém.
- Não é o que parece. A imagem que passa de ti é de alguém que não tem qualquer preocupações com o futuro e que está disposta a fazer tudo para ter o que quer. Nem que isso implique perder a amizade de alguém, se isso permitir que mais pessoas passem a gostar de ti. Só queres ser popular, independentemente do que os outros possam sofrer.
- Eu não sou assim. Podes perguntar a qualquer amiga minha.
- Amigas tuas? Achas que elas gostam a sério de ti? Elas só andam contigo para aproveitarem a tua popularidade. Pelo menos, são os comentários que tenho ouvido das outras pessoas.
- Ai é? Também já deves ter ouvidos os comentários muito elogiosos que toda a gente faz a ti desde o dia em que chegaste à escola – disse Inês com uma voz muito irónica.
- Não, não ouvi. Mas imagino o que devam dizer. Mas não me importo nada com isso. Nunca me preocupei com as aparências, ao contrário de muitas pessoas.
- Espero que não te estivesses a referir-te a mim. Pois eu acho que tu também estás a julgar-me pelas aparências e a imagem que construíste de mim, e não pelo que eu sou na realidade.
- Talvez estejamos as duas a cometer o mesmo erro. – reconheceu Rita, já com algumas lágrimas nos seus olhos. Ela foi sempre um pesssoa que apesar de ter sofrido muito por dentro, sempre tentou nunca demonstrar aos outros qualquer fraqueza. Mas neste momento, não estava a conseguir guardar as emoções só para ela e começou a chorar.

Inês sentiu que estava no dever de tentar confortar a sua colega, pois as lágrimas não paravam de fluir dos olhos azuis que tinham agora um brilhozinho. Mas apercebeu-se que não tinha sido só a discussão que tinham tido que tinha provocado esta situação. Deveria existir algo mais que justificasse não só a atitude de Rita nesta tarde, mas a atitude dela desde que veio de Aveiro. Passado cinco minutos, a crise de choro tinha terminado, mas os olhos de Rita demonstravam que ela ainda estava muito perturbada com a situação.
- Peço desculpa por esta cena – disse Rita aos soluços.
- Não faz mal. Eu é que peço desculpa por te ter feito chorar.
- Inês, não foi culpa tua. Eu não estava a chorar pelo que me disseste. Mas a conversa que estávamos a ter, fez-me lembrar de uma coisa no passado que me causou muita dor e que eu estou a tentar esquecer há algum tempo. Mas de repente voltou e eu não consegui evitar chorar.
- Rita, eu sei que nós não somos amigas, mas parece-me que estás a precisar de desabafar com alguém. Parece que estás a carregar o peso do mundo nos teus ombros. Eu sei que tu já tens uma imagem de mim que se calhar não vais conseguir mudar, mas eu posso garantir-te que podes confiar em mim. Tens todo o direito de não o fazer, mas se não queres que os outros te julguem pelas aparências, eu peço-te que não faças o mesmo a meu respeito.
- Não é por ti, mas por mim. Eu não sei se te consigo contar. Eu já percebi que provavelmente fiz uma imagem de ti que não corresponde à realidade. Mas eu não sei se....

Inês interrompeu-a a meio e pôs a sua mão no ombro da sua colega.

- Tu não tens de me contar nada se o não quiseres. Todos temos os nossos segredos, muitos dos quais não revelamos aos nossos melhores amigos. Eu também já passei por muita coisa, mas cheguei à conclusão que há coisas que temos de guardar para nós.

Rita ficou em silêncio uns minutos, antes de decidir revelar o que tinha acontecido com ela no passado. Inês ouviu a história e começou também a chorar, pois sentiu uma grande empatia com a sua colega. Inês soube que a família da Rita tinha vindo de Aveiro de Lisboa apenas por causa dela, para se afastarem do local onde tudo se tinha passado.
Ela começou a perceber por que motivo Rita tinha manter-se afastada dos seus colegas desde que tinha chegado. Também ela achava que seria difícil para alguém que tivesse passado por aquela situação, que conseguisse confiar novamente nos outros. Mas decidiu que iria fazer todos os esforços para ajudar Rita a superar aquela fase em que se encontrava. Antes de lhe contar qualquer coisa, Rita apenas pediu a Inês que não tivesse pena dela. Mas no final, não era pena que Inês sentia pela sua nova amiga. Era um grande orgulho pelo esforço que Rita tinha feito para ultrapassar a tragédia que a tinha afectado no passado e pela força interior que ela tinha demonstrado, pois muitas outras raparigas na situação dela teriam caído numa depressão da qual seria difícil saír.
Foi nessa noite que surgiram os laços de confiança entre as duas que permaneceram até hoje. E Inês pensou que teria sido muito difícil ultrapassar as dificuldades que tinha tido ainda há pouco tempo, sem o apoio da sua amiga...
Mas pelo menos hoje tinha boas notícias para partilhar...
publicado por Matt Xell às 22:09
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Sábado, 11 de Julho de 2009

Capítulo 12 - Uma noite inesquecível...

Estava uma noite um bocado fria. Já era final de Novembro e o Inverno estava a chegar.
Pedro encontrou-se com Inês à porta do cafézinho, que estava a abarrotar. Era dia de jogo e ninguém queria perder pitada do jogo que envolvia o Sporting com uma equipa turca com um nome impronunciável.
Ele era um fanático de futebol e nunca perdia um jogo para as competições europeias, seja qual fosse a equipa que jogasse. Mas hoje, nada mais para além de Inês parecia importante.

Sentaram-se numa mesa que entretanto tinha ficado vazia. Pedro foi o primeiro a quebrar o silêncio.

- Senti imenso a tua falta.
- Eu também. Não consegui concentrar-me no exame, porque só pensava no que te havia de dizer.
- Não me digas. Então correu-te mal.
- Não tão bem como queria, mas tinha coisas mais importantes em que pensar.
- Eu também só pensei em ti desde aquela noite. Ainda não percebo porque me beijaste... Eu pensei que...
- ... que eu queria que as coisas corressem mais devagar? – interrompeu Inês - Era também o que eu pensava. Mas quando estava a entrar em casa olhei para ti e não resisti. Fiz algo que o meu coração me estava a pedir mas que a minha cabeça não me deixava.
- Não está arrependida do que fizeste? – disse Pedro, ao colocar as suas mãos por cima das mãos dela.
- Não. Por estranho que pareça, não. Eu não quero que ninguém saia magoado.
- Mas porque é que alguém haveria de magoar-se?

Inês hesitou um bocado antes de responder. Mas finalmente decidiu desabafar as suas inseguranças.

- Nós dois sabemos que as relações são difíceis e que exigem sempre muito trabalho para que as coisas corram bem. Existem sempre obstáculos que são difíceis de ultrapassar. E que certas pessoas quando sentem dificuldades, preferem afastar-se. E isso causa sempre muito sofrimento à outra pessoa.
- Eu prometo-te que isso nunca irá acontecer. Eu estarei sempre do teu lado. Eu sei que não sou um homem perfeito e que o meu passado não é nada famoso. Mas eu estou disposto a mudar. Acredita em mim...
- Eu acredito, mas lá no fundo tenho medo que um dia destes, um de nós decida abandonar o outro sem sequer dar uma explicação.
- Eu também tenho medo. Eu tenho medo de que um dia não estaremos juntos, porque isso me faria sofrer muito.
- Mas então se nós dois sabemos que poderemos sofrer, porque é que vale a pena começar uma relação?
- Porque se não tentarmos, nunca saberia o que poderia ter acontecido. E isso poderia ser algo que nos iria marcar para toda a vida.
- Mas e se...
- Mas e se nós fossemos perfeitos um para o outro? – interrompeu Pedro.

Inês ficou sem palavras. Por alguns momentos, ambos ficaram em silêncio, a olhar um para o outro. Inês apertou com força as mãos de Pedro e por fim decidiu-se a dizer o que tinha medo de dizer:

- Queres mesmo tentar? Apesar de só nos conhecermos há alguns dias?
- Por vezes, podemos conhecer uma pessoa há muitos anos, mas não conhecê-la mesmo. Sabes o que eu quero dizer?
- Sim – murmurou Inês.
- Mas noutras vezes, basta conhecer uma pessoa um segundo para sabermos que ela será a mulher da nossa vida.
- E foi o que te aconteceu.
- Não. Foi o que nos aconteceu. Por mais difícil que seja para ti admitir isso.

Inês sorriu e assentiu com um ligeiro acenar da cabeça.

Depois de pagaram a conta levantaram-se da mesa e saíram para fora do café. A noite continuava fria.
Pedro sem pergutar, pôs o seu casaco nas costas de Inês. Ela sorriu e ele foi atrás dela.
Ambos tinham medo do que poderia acontecer, mas sabiam que se não tentassem, talvez perderia a melhor oportunidade das suas vidas.
Pedro agarrou a mão de Inês. Ela agarrou com suavidade a maõ dele. Enquanto andavam lado a lado de mãos dadas, sentiam que hoje era mesmo o primeiro dia do resto das suas vidas.

De repente estavam ao pé da casa de Inês. Ambos pararam ao mesmo tempo a pensar no que se iria passar a seguir.

- Queres subir um bocado?
- É uma proposta tentadora. Mas tenho de ir dormir, pois estou muito cansado.

Inês pareceu desapontada com a reacção dele. Ela tinha dúvidas sobre o que queria que acontecese naquela noite. Por um lado ela gostava muito dele. Por outro, ainda só tinham saído juntos duas vezes. Mas ficou a pensar no que Pedro estaria a pensar.

- Também acho que foi uma noite comprida. Também me sinto algo cansada. Eu depois telefono-te...

Inês deu um beijo ligeiro nos lábios de Pedro. Este olhou para os olhos lindos de Inês e retribuiu o beijo. Passou com as mãos pelos cabelos longos dela e fechou os olhos. Nenhum deles queria deixar de beijar o outro. Ambos sentiam-se como se estivessem a beijar alguém pela primeira vez.
Era uma sensação indescritível.
Pedro sentiu que nunca tinha beijado ninguém a sério. Pela primeira vez. beijava alguém que amava.

Inês já estava a ficar sem fólego, mas também não quis parar. Ela sentiu que talvez pudesse ser realmente feliz com ele. A sua cabeça era um turbilhão de emoções que a fazia sentir-se confusa.

Quando ambos pararam, sorriram um para o outro. Pedro deu um ligeiro beijo na face da Inês e despediu-se.

Inês ficou a olhar para ele enquanto ele se ia embora. Quando ele desapareceu da sua vista, sorriu e entrou na sua casa.

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Domingo, 28 de Junho de 2009

Capítulo 11 - O segundo encontro

Tinham passado três dias desde o primeiro encontro e Pedro estava extremamente ansioso por receber o telefonema de Inês. Já por duas vezes tinha conseguido controlar os seus impulsos e não lhe telefonou.

Nunca se tinha sentido tão bem na vida. Se soubesse que o amor era assim, já se teria apaixonado há mais tempo. Era uma sensação indescritível. Ele sentia que o seu coração batia mais depressa quando pensava nela. A mínima coisa fazia-lhe recordar-se dela. Ele sentia uma enorme emoção e um grande prazer apenas em pensar nela. E não era uma coisa sexual. Ele ficaria satisfeito apenas pela oportunidade de lhe tocar na mão ou de cheirar o seu perfume.

E todos no escritório repararam na mudança. Mas somente Carlos e Patrícia sabiam do motivo.

Pedro sabia que ela estava em alturas de exames, pelo que o tempo dela era escasso. Mas porque é que ela não esquecia a faculdade e ia ter com ele? Seria o que ele faria. Mas isso seria muito egoísta da parte dele. Deu-se por si a pensar que era a primeira vez que pensava nos interesses da pessoa com quem estava em detrimento do que ele queria. O que estaria a acontecer com ele? Será que o amor estava a transformá-lo? O pior de tudo, é que ele não se importava de mudar por ela.

De repente o seu telemóvel tocou. Pedro respirou fundo antes de atendê-lo, porque não queria parecer muito nervoso.

- Está sim?
- Olá! Sentiste a minha falta?
- Tu nem sabes quanto. Estive nestes últimos três dias a pensar em ti.
- Por acaso não foste o único homem em quem eu pensei.
- Não me digas? Estás a tentar fazer-me cíumes? Devo avisar-te de que não sou ciumento, pelo que estás a perder o teu tempo.
- Por enquanto. Mas só para descansar-te, eu estive a entreter-me com o Freud e com o Jung. São velhos amigos...
- Realmente são um bocadinho velhos para a tua idade. Mas também se pode dizer isso de mim.
- Tu não és assim “tão” velho.
- Obrigado pelo teu apoio. Estou numa crise de meia idade, pelo que estou agora a entreter-me com míudas mais novas, para dar a impressão que sou mais novo.
- E eu fui estúpida suficiente para cair nos teus braços.
- Pois foste. Mas és a minha estúpida. Mas falando mais a sério, quando é que eu poderei te ver outra vez?
- Estava a pensar hoje à noite. E desta vez sou eu que escolho o local.
- Por mim tudo bem. Apenas quero estar contigo, em qualquer sítio do mundo.
- Tu estás a sair-me um romântico.
- Eu sei. É uma faceta minha que teimou em aparecer.
- Eu conheço um cafézinho muito simpático. É perfeito para conversarmos mais um bocadinho. Eu gostei imenso do que se passou entre nós na outra noite.
- Eu também. Mas queria falar-te daquele beijo que me deste.
- Não gostaste? E eu que pensei que tivesse sido tão bom para ti como foi para mim?
- Não, eu também gostei. Mas queria saber porque é que fizeste aquilo?
- Não consigo explicar-te por telefone. Mas logo à noite eu digo-te o motivo. E se tiveres sorte, tens também direito a uma repetição.
- Não consigo esperar tanto tempo.
- Vais ter de fazer um esforço. Beijinhos.
- Beijinhos.

Quando desligou o telefone, Pedro teve novamente de respirar fundo. O seu coração não parava de saltitar pela emoção de a ver outra vez.
Mas ainda faltavam algumas horas, pelo que teve de voltar novamente ao trabalho.

No final do dia, Pedro preparava-se ansiosamente para sair do trabalho, quando sentiu uma palmada nas costas. Era Carlos, que também tinha terminado o seu dia de trabalho.

- Sabes que a minha mulher hoje foi a um seminário sobre o papel da mulher no século XXI? E os míudos estão com a minha querida sogra. Queres tomar um copo? Já há muito tempo que não fazemos isso...
- Desculpa lá, mas hoje é um péssimo dia. Já tenho planos marcados.
- Agora que és um homem comprometido, já não tens tempo para os teu amigos – brincou Carlos.
- Se fosse na semana passada, tinha aceitado a tua sugestão. Mas hoje tenho mesmo um compromisso a que não posso faltar.
- Estás mesmo a falar a sério. Nunca te tinha visto assim tão entusiasmado com alguém.
- Nunca estive mais sério na minha vida. Até amanhã.

Pedro despediu de Carlos e dirigiu-se para o café onde iria finalmente ver a mulher que tinha alterado para sempre a sua vida

publicado por Matt Xell às 00:06
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Quinta-feira, 11 de Junho de 2009

Capítulo 10 - O amor impossível...

Quando chegou a casa, já eram cerca de onze horas da noite. Atirou os sapatos para o meio da sala, para ficar mais confortável.

Decidiu tomar um duche. Despiu-se completamente e atirou as roupas todas que trazia para o chão. Como não vivia mais ninguém em casa, não se importava com o facto de ter a casa completamente desarrumada.
Foi para o quarto de banho e tomou um duche relaxante. Era um dos momentos que mais gostava no seu dia, pois tinha tempo para estar só e pensar a sério na sua vida.

Após o duche, lembrou-se que não tinha o jantar preparado. Detestava cozinhar. Mas lá descongelou uns bifes que preparou com algumas batatas fritas e um ovo. Sempre tinha que comer, apesar achar que tinha ganho alguns quilos nos últimos tempos.

Durante o jantar, recordou-se do dia passado na agência de publicidade. De repente ouviu o telefone a tocar.

- Está sim?
- Olá, tudo bem contigo? Não te estou a interromper, pois não? – ouviu-se uma voz feminina do outro lado da linha.
- Por acaso estava a jantar. Mas soube bem ouvir a tua voz. Estava mesmo a precisar de desabafar contigo.
- Diz-me lá o que te aconteceu que te fez ficar assim...

Foi uma conversa longa em que nenhum acontecimento dos últimos dias ficou por contar. Contou tudo o que estava dentro do seu coração pois já não conseguia aguentar dentro de si o que sentia.
A voz do outro lado da linha foi bastante compreensiva e soube ouvir o desabafo que saiu da sua boca, tendo feito os possíveis para transmitir um sinal de esperança no futuro.

Terminado o telefonema e o jantar, eram horas de se ir deitar. Mas antes teve de escrever no seu diario. Era algo que fazia todos os dias desde a adolescência.

“Querido Diário:

Hoje foi um dia de grandes revelações. Finalmente descobri que já não acredito no amor.
Já te falei várias vezes das inúmeras desilusões que já tive. Mas nunca nenhuma teve um impacto tão grande como a de hoje. Tu já sabes que amo alguém que nunca teve qualquer interesse por mim. Para ele, somos apenas bons amigos.
Mas eu sempre tive a esperança que ele um dia acordasse e reparasse em mim.
É legítimo acreditar nisso, não achas? Quantas vezes não se diz que às vezes não vale a pena procurar incessantemente o verdadeiro amor, porque ele está mesmo ao pé de nós. E mais cedo ou mais tarde, o destino nos irá juntar.
Bem, como estás a imaginar, não foi isso que aconteceu. Como é que foi possível ele não reparar nos inúmeros sinais que tenho enviado? Ele será cego? Ou serei assim tão repulsiva, que nenhum homem gosta de mim?
Não acho que seja esse o caso, pois já muitos homens se mostraram interessados em mim. Mas não aquele que eu quero desde o dia em que o conheci.

Eu lembro-me do primeiro dia em que o vi no escritório. Era um daqueles típicos machos portugueses, que não se inibia de se atirar às miúdas giras que não conhecia. Mas como já te contei isto, e não te quero maçar novamente, só te relembro que ele tinha qualquer coisa que me atraiu. Eu nunca me interessei por aquele tipo de homens que só têm uma coisa na cabeça. Mas senti que ele era diferente. Era apenas uma fachada, que se desmoronaria quando ele encontrasse a mulher certa que o obrigasse a mudar. E eu ingénua como era, sempre pensei que seria eu.

Mas já lá vão quase quatro anos e eu não consigo esquece-lo. Podem chamar-me patética e incurável, mas nunca deixei de gostar dele. Ele falava comigo sobre as suas conquistas e reparei que ele ainda não tinha encontrado alguém que realmente amasse. Por isso sempre mantive a esperança.
Claro que sempre que ele falava comigo ou flirtava um bocado, sempre tentei encontrar indícios de que ele gostava de mim. Coisas que para ele deviam ser perfeitamente normais, como um toque no ombro, um elogio ao meu penteado, um comentário menos próprio sobre o meu peito, ou uma confidência mais íntima, eram interpretados como sinais de que ele estava interessado por mim.
Às vezes, com o imenso stress que nós estamos, esquecemo-nos disso e acomodamo-nos com a nossa vida complicada. Mas é nos momentos mais calmos, que não consigo deixar de pensar nele. Ele não sai da minha cabeça. Por mais que eu tente pensar noutra coisa, não consigo.
Mas hoje, algo fez-me cair à terra. Soube por um amigo mútuo que ele finalmente encontrou alguém que ele realmente amava. Eu já tinha notado que ele andava diferente nos últimos dias. Ele andava mais distraído e parecia que estava sempre nervoso com qualquer coisa. Pelo que contou ao nosso amigo, era o amor.
Meu Deus, o que eu fiz para merecer isto? Foi um choque tão grande para mim. Senti como se uma parte de mim tivesse morrido. Todas as minhas esperanças desvaneceram-se num segundo. O que é que eu poderia agora fazer?
Nada. Absolutamente nada. Tive a minha oportunidade e não a aproveitei. Tive cinco anos em que o coração dele estava livre, mas sempre tive receio de que ele me rejeitasse. Tive medo de arriscar, pois preferi manter a nossa amizade. Sempre pensei que tinha tomado a decisão certa, pois um dia ele iria aperceber-se de que me amava.
Mas não foi isso que aconteceu. Se soubesse o que sei hoje, teria tomado uma decisão diferente há quatro anos. Estávamos os dois a falar, quando ele me disse que estava a ter problemas com a namorada nessa data, e que não sabia o que fazer. Ele sentia que ela não era a mulher certa para ele, mas que já estava farto de procurar. Perguntou porque é que ele não conseguia arranjar uma mulher como eu. Eu devia ter arriscado nessa altura e revelado os meus sentimentos. Porque é que eu não o fiz? Agora é fácil dizer, mas na altura eu era uma mulher um bocado tímida. Acabada de sair da faculdade, sempre tive um pequeno grupo de amigos a quem conseguia falar de tudo. Mas sempre tive um certo receio de me expor a outras pessoas com quem não tinha confiança. Como o decorrer dos anos e da minha necessidade de contacto permanente com desconhecidos na publicidade, perdi essa timidez. É uma situação perfeitamente normal. Só lamento não o ter feito mais cedo. Se naquela noite, eu tivesse maior confiança em mim, tudo hoje poderia ser diferente.
Poderia estar hoje a contar-te como é que o nosso filho estava a crescer ou o jantar romântico que eu lhe tinha preparado. Mas isso nunca irá acontecer.

Disseram-me para ter esperança no futuro. Mas que futuro posso ter, se não estou junto do homem que eu sei que é a minha alma gémea? Fomos feitos um para o outro e eu compreendo o que ele sente e ele compreende-me a mim. É por isso que somos bons amigos.

Mas falando nisso, não consigo perceber porque é que ele não me contou sobre ela. Ele sempre me contou tudo sobre a vida íntima dele. Porquê?
Mas já tenho preocupações a mais para pensar ainda mais nisso.
Só me apetece dormir e esquecer que este dia alguma vez aconteceu.
Por isso, Querido Diário, boa noite para ti. Amanhã será outro dia e tu és sempre o meu primeiro confidente.

Patrícia “.


Patrícia fechou o seu diário e guardou-o na gaveta da sua mesa de cabeceira. Sentiu algumas lágrimas a cairem, que não conseguiu parar... Os seus olhos brilhavam como as estrelas numa noite de lua cheia. Sentia-se nos seus olhos uma tristeza muito grande...

publicado por Matt Xell às 14:20
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Domingo, 24 de Maio de 2009

Capítulo 9 - O dia seguinte

Parecia-lhe que tudo estava a correr bem. Estava a ter as melhores ideias desde há algum tempo. Todos os seus colegas o elogiavam pela campanha que ele estava a desenvolver.
Era tudo por causa da sua musa. Ela dava-lhe inspiração, e ele não conseguia esquecê-la.

No final do brainstorming, deixou-se ficar na sala de reuniões, enquanto todos os seus colegas tiraram uma pausa para o café.

Pedro estava absorto nos seus pensamentos, a pensar quando é que ela lhe iria telefonar, quando ouviu algo.

- Então, pá. Estás a dormir? Eu perguntei-te como é que tinha corrido a noite de ontem.
- O que é que te parece?- disse Pedro, respondendo a Carlos.
- Pela tua disposição durante a manhã, diria que muito bem.
- Foi melhor ainda. Não me farto de pensar que nunca sentido tão feliz com a vida.
- Não acredito. O velho Pedro, o Don Juan do escritório, está apaixonado por alguém. Vais desapontar muitas raparigas, que ainda não tiveram oportunidade de estar contigo.
- Não me interessa. Para mim, só existe uma mulher no mundo. Não vou pensar em mais ninguém para o resto da minha vida.
- Não é a primeira vez que dizes isso. Mas acabas sempre por voltar a ser o bom e velho Pedro. Mais cedo ou mais tarde.
- Desta vez é diferente. Eu sinto que é diferente. Não acreditas em mim?
- Eu acredito que tu acredites nisso. Mas não acho que tu possas mudar tão de repente. Uma pessoa não dá uma volta de 180 graus, desta forma...

De repente, sentiram que alguém tinha reentrado na sala.
Os dois amigos viraram-se e viram Patrícia, que tinha também decidido participar na conversa, pois parecia muito animada.

- Estávamos só a discutir o Benfica. Acho que este ano é que vai ser. Demos uma volta de 180 graus e nem mesmo a mudança de treinador irá fazer-nos parar. – disfarçou Pedro, que não queria que as novidades sobre a sua vida pessoal fossem do conhecimento de Patrícia.
- Os homens e o futebol. Eu também gosto de ver os jogos, mas não sou nenhuma fanática. Arranjem uma vida.
- Eu já tenho uma. – respondeu Carlos. Ou já te esqueceste que sou um homem de família.
- O mesmo já não posso dizer do Pedro. Do que é que estás à espera para assentar. Não achas que já é idade de cresceres e apareceres?
- Muito obrigado pela tua preocupação. Mas já sou crescidinho para tomar as minhas decisões - retorquiu Pedro, evitando reconhecer que Patrícia tinha toda a razão no que dizia.
- Desculpa se fui longe de mais. Mesmo sendo amigos há algum tempo, se calhar não te devia ter dito isto. Mas acho que nunca irás ser realmente feliz, se continuares a agir da mesma forma desde os teus tempos de faculdade.
- Patrícia... Já nos conhecemos há alguns anos e ainda não sabes quando estou a brincar. Eu não fiquei chateado com o que disseste, porque tens toda a razão. Mas a vida é minha e eu faço com ela o que eu quiser. Mas já que estamos a falar das nossas vidas amorosas, eu estou preocupado contigo, pois já não te ouço falar de um namorado há algum tempo.
- Tu sabes como é a nossa vida. Não consigo arranjar tempo suficiente para investir numa relação a sério. E eu não consigo envolver-me com alguém só com o intuito de me divertir como tu...
- Ah! Essa magoou-me – brincou Pedro, apontando para o seu coração.
- Mas estou a falar a sério. Tu sabes que eu sou uma pessoa um bocado tímida com as pessoas que não conheço, e... acho que se eu estiver destinada a alguém, mais cedo ou mais tarde, os nossos destinos irão cruzar-se.
- Mas que romântica que me saíste, Patrícia. Essa postura de mulher independente que não precisa de homens para ser feliz, afinal esconde uma sonhadora por baixo.

Carlos finalizou desta forma a conversa, que já estava a tornar-se um bocada embaraçosa para os três.
Eles sempre tinham sido bons amigos e divertiam-se sempre bastante no escritório. Mas sentiu que Pedro não queria que a conversa continuasse.

Pedro desculpou-se a dizer que tinha de fazer uns telefonemas e deixou os seus colegas na sala de reuniões.

- Não sei porque é que ele age desta forma, Carlos. Não concordas comigo?
- Oh, Patrícia, até parece que não o conheces. Ele faz sempre o que ele quer, independentemente do que eu diga, do que tu digas ou do que outra qualquer pessoa diga.
- Mas acho que ele está a desperdiçar uma boa oportunidade de ser feliz. Daqui a 5 anos, ele vai arrepender-se da vida que levou e nessa altura já poderá ser um bocado tarde.
- Tarde para quê?- perguntou Carlos.
- Tarde de mais para ele- disfarçou Patrícia, que compreendeu que já tinha falado de mais. – Se calhar ele já encontrou alguém que lhe podia fazer feliz, mas ainda não se apercebeu disso.
- Realmente, acho que ele já encontrou alguém. Não fui eu que te contei, mas acho que ele agora está realmente interessado em alguém.
- Não acredito- exclamou Patrícia, que ficou realmente surpresa com o que lhe foi dito.
- É melhor acreditares. Mas qual o teu interesse nisso?
- Nenhum em especial. Nós somos amigos, e preocupo-me com ele. E ele nunca mais me contou nada sobre a vida amorosa dele. Antes, ele contava-me tudo.
- Não sei porquê, mas algo me diz que não é só isso.
- Então, isto é um local de trabalho ou um bar? – gritou o chefe de ambos, quando os viu a conversar na sala.
- Já estamos andando- disse Carlos, ao levantar-se rapidamente da cadeira e acompanhando o chefe até à sala dele, pois tinha umas ideias que queria desenvolver.

Patrícia ainda se deixou ficar na cadeira mais um bocado. Ouviu-se um pequeno suspiro e ficou com uma expressão de resignação. Se estivesse alguém naquela sala, teria notada uma pequena lágrima a cair dos seus olhos.

publicado por Matt Xell às 18:24
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Sábado, 9 de Maio de 2009

Capítulo 8 - Mais vale tarde...

Tinha sido uma das melhores noites da sua vida. Pedro iria para sempre lembrar-se deste dia. Nunca se tinha sentido tão apaixonado por ninguém.
Afinal ele sempre era capaz de amar...

- E agora? – Disse Inês interrompendo os pensamentos de Pedro. – O que é que estás a pensar fazer?
- Sinceramente?... Estava a pensar levar-te a casa.
- Já? A esta hora? Sempre pensei que tivesses mais jeito para conquistar as raparigas com quem tu sais.
- Eu tenho muito jeito para isso. Mas como tu já estás conquistada, não preciso de me esforçar tanto.
- Não me digas. Não tomes as coisas como garantidas. Pretendo fazer-te trabalhar muito para conseguires alcançar os teus objectivos.
- E que objectivos são esses?- questionou Pedro, sem conseguir esconder um sorriso malicioso.
- Tu sabes bem do que eu estou a falar... – respondeu Inês, sem evitar um esboçar de sorriso.
- Não sei, não. Diz-me lá...
- Tu sabes. É aquilo em que todos os homens pensam quando levam uma rapariga inocente para jantar.
- Estás a falar da sobremesa?
- Sim, se é assim que tu lhe chamas.
- Eu e toda a gente que eu conheço. Como é que tu lhe chamarias?
- Devo avisar que não tenho muita paciência para estes jogos. É uma das coisas que tens de aprender sobre mim.
- Se queres mesmo saber, eu não queria prolongar esta noite, pois tenho medo de fazer algo que a estragasse completamente. Está tudo a correr tão bem, que não quero correr riscos.
- Eu também gostei bastante desta noite – disse com a voz mais suave que Pedro tinha ouvido, ao mesmo tempo que agarrava na sua mão. Pedro sentiu um arrepio e um nervoso interior. Gostou do toque suave e da leve carícia na sua pele. Sentiu o perfume que tanto tinha gostado e que nunca iria esquecer. Sentiu o desejo de beijá-la e de dizer a Inês que a amava. Mas controlou os seus instintos naturais e apertou com ternura a mão dela, indicando que também que também tinha vontade de reforçar a relação.
- Vamos então acabar por hoje, antes que me arrependa.
- Queres que eu te leve a casa?
- Não deixa estar que eu tomo um taxi.
- A esta hora? Nem penses. Eu dou-te boleia.
- Não é preciso. Eu não sou uma donzela indefesa que não se consegue defender. Esta não é a primeira vez que saio à noite.
- Eu insisto. Não quereria que acontecesse algo à melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos.

Ele conseguiu finalmente convencê-la a ir com ele. Continuaram a conversar animadamente durante a viagem, sem darem pelos quilómetros a passar. Quando estavam perto da casa da Inês, ela pediu para ele parar o carro. A noite estava quase a chegar ao fim.

- Eu vivo já ali à frente. Eu sei que não parece grande coisa, mas é limpa e tem espaço suficiente para guardar todas as minhas coisas.
- Realmente, não parece grande coisa. – brincou Pedro. Não queres vir morar comigo?
- Não achas que é um bocado cedo? – disse Inês com uma cara séria. Ainda agora nos conhecemos...
- Estava só a brincar. Não te queria assustar. – tentou Pedro tranquilizar a sua companhia.
- Eu percebi. Não tens grande sentido de humor. Um ponto a menos.
- Um ponto a menos? O que queres dizer com isso?
- Eu tenho um jogo com as minhas amigas, em que classificamos os nossos encontros, atribuindo pontos positivos e pontos negativos.
- E qual foi o meu resultado?
- É melhor nem saberes. Tiveste a minha pior pontuação nos últimos três anos.
- Tu és mesmo mázinha...
- Eu bem te disse que não tinhas sentido de humor. Mas é um defeito teu que vou tentar aceitar nas próximas vezes que nos encontrarmos...
- Próximas vezes? Significa que queres voltar a sair comigo?
- O que é que achas? Foi uma das melhores noites da minha vida. Nunca tinha conversado tanto com um rapaz. Parece que encontrei finalmente alguém que está interessado em algo mais do que o meu corpo.
- Por acaso, é essa a impressão que estou a tentar passar. Na prática, só me interesso por ti, porque tens um corpo espectacular. Não estou interessado no resto.
- Retiro o que disse há bocado. Afinal, sempre tens um sentido de humor.
- Parece que sim.
- Não sei porquê, sinto que me esqueci de alguma coisa.
- Tens contigo a tua bolsa?
- Não, não é isso. Bem, se fosse importante eu lembrava-me. Mas uma coisa que eu sei é que gostaria imenso de te ver outra vez...
- Eu também. Que tal amanhã?
- Vai ser complicado, pois tenho de estudar para um exame. Eu telefono-te quando puder.
- De certeza que me telefonas? Vou ficar à espera...
- Eu não perdia a oportunidade de estar contigo novamente por nada deste mundo. – disse Inês antes de dar um beijo na face de Pedro.
- Gosto mesmo de ti. E tu sabes disso, não sabes?
- Sim, eu sei.

Pedro despediu-se de Inês e viu-a a entrar o edício onde se situava o apartamento dela. Sentiu-se frustrado por não a ter beijado. Era o clímax perfeito para aquela noite. Pedro, dirigiu-se lentamente para o carro, a lamentar a sua sorte, mas com a esperança que no próximo encontro o beijo seria ainda melhor, pois a intimidade entre eles seria ainda maior.

Quando ia a abrir a porta do carro, sentiu um toque no ombro. Quando se virou, não teve tempo de reagir ao beijo nos lábios que Inês lhe deu. Sentiu que estava no céu e que se morresse naquele instante, morria como a pessoa mais feliz do mundo. Ainda tentou beijá-la novamente, mas Inês afastou lentamente os seus lábios e disse calmamente antes de se deslocar novamente para a casa dela:

- Eu sabia que me havia esquecido de algo.

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publicado por Matt Xell às 12:52
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Sexta-feira, 1 de Maio de 2009

Capítulo 7 - O Jantar

Eram nove da noite. Pedro estava nervoso como nunca tinha estado na sua vida. Quando é que ela chegaria?Normalmente, ele nunca esperava por ninguém. Fazia sempre questão de chegar um bocado atrasado, para dar um ar de homem atarefado, que tinha conseguido tirar umas horas da sua vida ocupada para jantar. Mas hoje era diferente. Ele teve que vir mais cedo, pois não aguentava a expectativa. Ele estava à porta do restaurante que tinha escolhido. Era um local muito simpático onde já tinha estado várias vezes, e onde se comia bastante bem. Estava uma noite limpa, onde apenas se via o luar e as estrelas a brilhar no céu. De vez em quando soprava uma pequena brisa, que o fazia arrepiar-se... Olhou novamente para o relógio. Já eram nove e quinze. Ela estava atrasada.
Pedro pensou se ela viria mesmo. Começou a sentir um aperto no coração. Nunca tinha sentido o medo de ter levado uma banhada.

Será que ela não conseguiu encontrar o resturante? Ou decidiu que não se queria envolver comigo. Resistiu à tentação de ligar-lhe para o telemóvel. Apenas lhe daria um ar desesperado.

Mas de um momento para o outro, os seus medos desvaneceram-se. Inês tinha chegado de repente, usando um vestido preto, muito justo, e que relelava a sua óptima figura.

- Olá. Desculpa lá o atraso. Sabes como é que as mulheres são. Procuram estar sempre no seu melhor. E eu sou uma pessoa atrasada por natureza. Por isso, os meus amigos já combinam as coisas comigo para meia hora antes. – disse Inês, com um ar divertido.
- Eu também cheguei agora – mentiu Pedro, a tentar esconder o seu alivio por ela ter chegado. E já agora, estás linda.
- Obrigado. Eu fiz por isso- disse com uma grande autoconfiança, a que Pedro não estava habituado. Normalmente, as mulheres com quem ele estava agradeciam e trocavam cumprimentos.

Entraram no restaurante e foram ter à mesa que Pedro tinha reservado. Ele tinha tomado todas as precauções para que a noite fosse perfeita. Nada iria estragar o que ele tinha planeado.

- Este restaurante parece-me muito simpático- disse Inês a iniciar a conversa.
- É mesmo. Já vim cá várias vezes e nunca me arrependi.
- Ai foi? Já vi que trazes aqui todas as mulheres que conheces.

Naquele instante, Pedro arrrependeu-se do que tinha dito. Tentou manter-se calmo, mas Inês insistiu.

- Pois é. Aposto que estás a seguir o teu plano padrão. Primeiro o jantar. Depois alguns copos e de seguida...
- Achas mesmo? Eu não acho que serviria de muito, pois tu és uma mulher diferente de todas o que eu conheci. Nada do que eu faço normalmente resultaria contigo.
- Acredito. E qual é que é o teu plano para esta noite?
- Tudo a seu tempo. Mas tens razão. Começa com o jantar. Eu sugiro a lasanha. È muito deliciosa.
- Acho que não. Prefiro algo mais leve. Como tu disseste hoje à tarde, estou a precisar de uma dieta.

Pedro apercebeu-se imediatamente que ela não precisava de qualquer dieta. O seu corpo era muito bem proporcionado e tinha a leveza de uma gazela. E o vestido que ela usava era perfeito, mostrando todo o seu corpo, incluindo os seus fabulosos seios.

- Pedro? Eu estou aqui! - disse Inês apontado para a sua cara, a notar que os olhos de Pedro se tinha desviado mais para baixo
- Eu sei. Mas não consegui deixar de olhar para o teu colar. È lindo. Deve ser valioso.
- Foi a minha avó que me ofereceu. É uma velha herança de família. – respondeu Inês, fingindo acreditar na explicação. Ela sentiu que Pedro não conseguia tirar os olhos dela, e gostava dessa sensação. Mas lembrou- se do que tinha acontecido ao último homem que apenas estava interessado no seu corpo.
- Então, o que vais realmente pedir? Por mim, até podias escolher o bife na frigideira com molho de natas. Tu estás perfeita. Se calhar até ficavas melhor com mais alguns quilitos.
- Tantos elogios não te levam a lado nenhum. Mas sabe sempre bem ouvi-los.

O empregado aproximou-se da mesa deles e apontou os pedidos. Passado cinco minutos, voltou com uma garrafa de espumante, das mais caras que Pedro adorava.

- Este espumante é óptimo. Tem um gosto suave e escorre facilmente pela garganta .
- Por acaso, nem sou muito adepta da bebida. Só nos bares, é que exagero um bocado. Não sou daquelas raparigas que conseguem aguentar a noite toda a beber.
- Por acaso, não foi essa a primeira impressão com que fiquei de ti.
- Tu sabes que a primeira impressão é a mais importante de todas na publicidade. – disse Inês. Mas nem sempre, dão a verdadeira imagem da pessoa. Só quando falamos com ela, é que conseguimos ver como é que ela é realmente.
- Tens razão. Mas digo-te que a primeira impressão que tive de ti marcou-me muito. Tu podes não acreditar, mas quando te vi pela primeira vez, senti que eras a minha alma gémea.
- Acreditas nisso? Eu não acho que exista alguém com quem estamos destinados a estar na vida. A vida é imprevisível, bem como o amor. Não acho que o nosso destino esteja traçado.
- Tens pouca fé no amor. Nunca sentiste algo por alguém te fizesse sentir a pessoa mais feliz do mundo? E que achasses que irias ficar com ela para sempre?
- Já. E é por isso que não acredito em almas gémeas.

Pedro não conseguiu encontrar palavras para desculpar-se pelo que tinha dito. Soube naquele instante que tinha tocado num ponto sensivel para Inês. E que ela ainda não estava preparada para lhe contar. Por isso, não insitiu na conversa e mudou rapidamente de assunto.

- Talvez tenhas razão. Mas se existissem, tu era de certeza a minha.

Ele conseguiu arrancar um sorriso sincero a ela. E ficou a gostar ainda mais dela, pois sentiu nela uma grande força interior e uma grande honestidade.

O empregado serviu o jantar. Conversaram bastante sobre as suas vidas. Pedro nunca tinha sentido tanta empatia com outra rapariga. Ficou a saber que ela ainda estava a estudar na faculdade. Estava no último ano de Psicologia e estava em altura de exames. Era filha única, pelo que foi mimada pelos pais. Mas isso não a impediu de ser uma rapariga humilde e que lutava para conseguir os seus objectivos. Tinha vindo de Cascais, quando entrou para a faculdade e vivia com duas colegas de quarto, na zona de Benfica. Trabalhava em part-time, pois não queria depender dos pais, mas sim ser independente. Era assistente numa pequena empresa de informática, que tinha sido criada há pouco tempo, com a explosão das dot. com. Pedro soube também que ela não andava com ninguém actualmente, mas ela não lhe disse nada sobre o seu passado amoroso.

Ele por sua vez, sentiu que lhe podia contar tudo. E foi o que fez. Disse não só o que fazia, onde vivia e do que gostava, mas também os motivos de ainda estar solteiro com aquela idade.

- Tu podes não acreditar, mas nunca me abri tanto com uma rapariga. Eu sinto que posso confiar em ti e que tu me compreendes.
- Sabes que quando disseste que nunca tinhas tido uma relação com mais de 5 meses, deixaste-me um pouco preocupada. Tu és daqueles homens que não consegue ligar-se a ninguém e que tem medo de expor o que realmente sente. E por isso tem medo de envolver –se mais profundamente com alguém.
- È essa a tua análise clínica? E tenho hipótese de cura, Sra. Doutora?
- Não sei bem. Recomendo uma sessão de terapia três vezes por semana, para ver se conseguimos resolver os teus problemas e identificar o que está dentro do teu subconsciente.
- Contigo, até aceitaria ir 7 dias por semana. Qualquer pessoa ficaria maluca, só para ter a oportunidade de passar umas horitas contigo.
- Tu não paras, pois não?
- Não, e vou continuar a insistir que és a mulher da minha vida sempre que estivermos juntos.
- O que não irá acontecer mais, se não parares com isso. É que eu até gosto de estar contigo, mas...
- Há sempre um mas...
- Por acaso, desta vez nem há. Eu estou a gostar imenso desta noita. Estás a superar as minhas expectativas...
- A sério? Eu bem fiz por isso?
- É certo que elas eram muito baixas, por isso não era difícil.
- Estou a ver um lado mazinho que te desconhecia...
- Foi o que já te disse. Nunca confies nas tuas primeiras impressões.

Foram interropidos pelo empregado. Eram os únicos que estavam no restaurante. A noite tinha corrido tão bem, que nem deram pelo tempo a passar. Era quase uma da manhã.... E Pedro surpreendeu-se consigo próprio, pois nunca tinha imaginado que falar com alguém o pudesse fazer tão feliz. Algo estava a mudar nele.
Pedro pagou a conta, e saíram ambos do restaurante...

publicado por Matt Xell às 23:51
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.sinopse

Uma história sobre um rapaz (Pedro) e uma rapariga (Inês) que o destino acaba por juntar e que origina uma relação com altos e baixos...

Pedro é um rapaz que nunca foi capaz de se comprometer e que encontra em Inês a primeira rapariga por quem verdadeiramente sente algo... Mas ele desconhece por completo o passado de Inês e que irá trazer grandes repercurssões na sua relação.

Nem tudo corre como eles gostariam nesta história de amor, e por maior que seja o amor que os une, o destino parece querer que a sua história não tenha um final feliz...

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