O fim-de-semana tinha finalmente chegado. Por isso, Inês tinha aproveitado para dormir até um pouco mais tarde. As últimas semanas tinham sido cansativas por causa do seu trabalho, e as suas horas de sono tinham sido muito reduzidas, pelo que lhe soube muito bem estar deitada na sua caminha. Era impossível recuperar as horas de sono perdidas nos últimos tempos, mas nesse dia apetecia-lhe ficar o dia inteiro a dormir e não fazer absolutamente mais nada. Mas tinha de levantar-se. Tinha uma série de tarefas a fazer. Uma das quais seria ir às compras, pois sabia que o seu frigorífico estava praticamente vazio e que a única coisa que teria em casa para comer seria provavelmente um iogurte líquido. E também não se podia esquecer de limpar a casa, pois o facto de não ter uma empregada que a ajudasse, notava-se perfeitamente na sua sala e na cozinha. E também teria de lavar a roupa suja que se tinha acumulado nos últimos tempos. Até porque queria levar um dos seus vestidos favoritos para o café com Pedro, marcado para o final da tarde.
O dia passou assim num instante, enquanto tratava dos seus afazeres. E quase sem dar por isso, estava a sair de casa para ir ter com o Pedro a um café em Telheiras. E nessa altura veio à cabeça a importância desta ocasião. Era a primeira vez que iria estar sozinha com Pedro desde que se tinham separado há uns meses atrás. E apesar de ainda gostar dele, queria que este fosse apenas um encontro entre amigos, pois no seu íntimo ainda se sentia algo magoada pelo que ele lhe tinha feito e ainda não confiava totalmente nele. Só esperava que Pedro tivesse as mesmas intenções, e que não estivesse à espera de algo mais. Ainda era cedo para isso. Era uma questão de ver o que a noite lhes iria reservar.
Quando chegou ao café, Pedro já la estava à porta à sua espera. Inês olhou para o seu relógio e viu que tinha chegado à hora marcada. O Pedro já devia ter chegado um pouco antes, o que poderia indiciar algum nervosismo e ansiedade por parte dele. Tudo o que ela queria era um encontro amigável, sem pressões de ambos os lados.
- Olá – Cumprimentou Inês, antes de dar dois beijinhos na face de Pedro.
- Olá.- Respondeu Pedro.
- Espero que não estejas à espera há muito tempo.
- Não… cheguei agora mesmo, um pouco antes de ti.
- Ainda bem que não tiveste de esperar. Vamos entrar?
Dirigiram-se os dois para uma mesa no canto do café, onde poderiam falar confortavelmente. O café não estava muito cheio, mas no sítio onde se sentaram não havia muita gente à volta, pelo que haveria menor ruído de fundo.
- Já há algum tempo que não nos víamos – disse Pedro, logo após terem pedido ambos um capucinno e um cheesecake de framboesa ao empregado de mesa.
- Tens razão… já lá vão várias semanas. Mas aí a culpa é toda minha. Estas últimas semanas lá na minha empresa foram algo complicadas. Já percebo os stresses que tinhas às vezes nalguns dias com os deadlines das tuas campanhas, quando… -Inês parou um instante pois estava prestes a dizer “quando ainda estávamos a namorar”, e percebeu que poderia causar algum embaraço. Mas emendou a tempo.
- … estavas sempre ocupado.
- Estás a ver? Não eram só desculpas. Há alturas em que praticamente não conseguiamos parar nem por um segundo. E não tínhamos tempo para mais nada… Já sabes o que passo.
- Sim, agora percebo perfeitamente.
- Mas o mais importante de tudo, é que tu estejas a gostar do que estás a fazer. Senão, é um sacrifício muito grande.
- Sabes, estou mesmo a gostar. Quando lá cheguei, estava sempre a pensar que seria sempre um emprego temporário, para me ajudar a pagar as contas, e que uns meses depois, estaria à procura novamente de algo na minha área….
Inês sentia que podia conversar à vontade com Pedro. Isso era algo que não tinha mudado. Ele sabia ouvi-la e notava-se que ele tinha um real interesse por se inteirar do que ela estava a sentir e do que ela estava a passar.
- … mas estou a gostar dos amigos que fiz por lá e surpreendentemente, estou realmente interessada nas tarefas que me deram. Claro que preferia trabalhar menos horas… mas sinto que faço parte da equipa e que as pessoas confiam no meu trabalho.
- Isso é o mais importante. Eu também só faço as noitadas que faço porque também gosto do que faço… Bem, o ordenado também ajuda…
Pedro conseguiu arrancar um leve sorriso a Inês. O quanto ele sentia falta de ver aquele sorriso tímido, mas ao mesmo tempo muito contagiante.
- Mas felizmente, a parte complicada já terminou. Agora só daqui a três meses, é que o stress volta novamente. E aproveito para aprender entretanto mais algumas coisas sobre contabilidade… Acho que me fez alguma falta, nestas últimas semanas… Lá me valeu a ajudas dos meus colegas.
- Sabes, nunca pensei que acabasses por ficar num emprego como esse. Sempre pensei que estivesses a fazer algo onde estivesses a trabalhar com pessoas ou miúdos, ou algo mais criativo. É que contabilidade e números parecem-ne uma coisa muita séria… não era daquelas áreas que ligue muito com aquilo que tu és…
- Eu também nunca pensei isso… Mas as pessoas mudam… E acho que mudei alguma coisa nos últimos tempos… Sempre fui uma pessoa muito emocional e agia com base no que sentia… Mas isso já me causou alguns dissabores…
Pedro sentiu-se um pouco culpado ao ouvir estas últimas palavras. Tinha sido ele a última pessoa a magoá-la, quando lhe tinha prometido no início do namoro que ele nunca a iria magoar como outras pessoas o tinham feito. Mas, lá no fundo, ele sabia que ela agora não lhe estava a dar uma indirecta.
- … Mais do que eu desejava. Mas sempre fui assim, desde miúda. Decidia sempre com o coração e não pensava muito nas consequências. Sempre fui muito impulsiva, sabes? E chega uma certa altura, quando nos apercebemos de que temos de mudar… Não uma pequena mudança nos nossos hábitos… mas sim uma mudança na nossa forma de agir e viver a vida… às vezes as coisas más acontecem por uma razão… nem que seja para nos fazer ter um reality check, e repensar um pouco…- Inês parou por uns instantes, pois o seu lado emocional estava novamente a vir ao de cima.
- … pelo que decidi ser menos impulsiva… usar mais a razão do que a emoção… E por acaso acabei por arranjar um emprego mais sério… mas foi pura concidência… Talvezs um sinal de que tinha de mudar…
- Às vezes, temos mesmo de mudar… Só tenho pena de ter sido um dos causadores dessa mudança.
- Já falámos disto, Pedro. Há coisas más que vêem por bem. Mas o passado é o passado. O que interessa agora é a nossa amizade…
- Sim… mas sinto-me algo responsável.
- Não te sintas. Às vezes, precisamos mesmo de mudar a nossa vida e isso não acontece por uma única situação. Não foi só por causa de ti que repensei um pouco a minha vida. Disso podes estar descansado.
- Tens razão. È como tu dizes. Nem vale a pena falar mais no passado.
- Concordo. Mas voltando ao que te estava a dizer… o mais importante é que estou realmente a gostar de estar envolvida em algo mais concreto, mais terra a terra. Realmente, mudei um pouco.
Pedro ficou um pouco mais descansado. Ele não tinha planeado no dia de hoje tocar no que tinha acontecido antes entre os dois, e quando ele mencionou sem pensar em algo que os tinha afectado aos dois no passado, pensou que pudesse ter estragado o encontro amigável que ambos estavam a ter. Felizmente, isso não aconteceu.
Mas acima de tudo, estava feliz por ter mais uma oportunidade com Inês. Mesmo não sendo a mesma Inês de antes, continuava a sentir a mesma empatia com ela… e queria fazer todos os possíveis para um dia ela confiar nele novamente.
- Seja como for, tu ainda és a mesma Inês de sempre. Apenas um pouco mais madura…
- Sim. Desde que com isso não estejas a insinuar de que estou a ficar mais velha.
- Agora que falas nisso, estou a ver umas rugas novas na tua testa…
Inês já sentia falta das provocações mútuas entre ambos. Sentia-se feliz, por aos poucos, as coisas estaram a voltar ao normal antes da separação. Mas sabia que as coisas nunca mais iriam ser as mesmas. Ou que pelo, menos ainda faltaria muito para que isso acontecesse.
- Olha quem fala. Já vi que o trabalho te tem dado muitas preocupações ultimamente. Pelo menos pela quantidade de cabelos brancos novos que tens…
A conversa continuou durante cerca de uma hora. Mas acima de tudo, a conversa foi natural, sem silêncios embaraçosos. Os dois continuavam a dar-se muito bem e isso notou-se perfeitamente. Quem os visse sentados naquele café, nunca imaginaria que era a primeira vez em muito tempo que estavam juntos e muito provavelmente grande parte das pessoas pensariam que eles estariam juntos numa relação.
Mas durante a conversa um certo tema não foi focado por nenhum deles. Falaram animadamente sobre uma série de coisas, mas nenhum quis ser o primeiro a perguntar ao outro se estavam a sair com outra pessoa. As coisas estavam a correr bem, e nenhum queria introduzir um tema inconfortável para ambos naquela noite.
Mas Pedro, esteve a pensar nisso durante a noite toda. Mesmo que não o parecesse, ele queria saber se ela estava a sair com alguém ou estava em vias de sair com alguém. Ele já tinha percebido que pelo menos ela não estava em nenhuma relação séria. Mas isso não era suficiente. Ele queria saber que ainda existia hipóteses de um dia os dois voltarem a estar juntos.
Mas não conseguia encontrar nenhuma ocasião apropriada para introduzir este tema na conversa. Supostamente, eles agora eram amigos. E não seria normal um amigo perguntar a outro amigo se eles estavam a sair com alguém? Ele fazia isso com a Patrícia. Mas será que ela poderia interpretar mal a sua pergunta? Ele não queria arriscar.
Mas pressentindo que o encontro deles estava quase a terminar, ele soube que não era algo para lhe perguntar directamente. Tinha de satisfazer a sua curiosidade de uma forma mais discreta. Porém, sabia que tinha de ser naquele momento. Por isso, logo a seguir a ter olhado mais uma vez para o relógio, decidiu-se finalmente.
- Já está a ficar um pouco tarde. Estou a gostar imenso da nossa conversa, mas hoje não posso dormir muito tarde.
- Ai não?. Não me digas que ontem saíste à noite e só te deitaste de madrugada. – Inês aproveitou a deixa, para tentar também descobrir algo mais, mas sem dar a entender as suas intenções.
- Não… nos últimos dias não tenho dormido assim muito. E não, não é pelos motivos que possas estar a conjecturar na tua cabeça. Tenho estado a trabalhar numas campanhas quase em simultâneo e tenho feito umas noitadas muito prolongadas. Este é o primeiro fim-de-semana nos últimos tempos que tenho um tempo livre, mas as próximas semanas irão ser complicadas. Por isso, não sei se nos próximos tempos mais próximos, se as coisas irão ser calmas… Será mais complicado combinarmos alguma coisa… Se bem, que, como imagino que a tua vida social deva agora estar bastante preenchida, depois das últimas semanas. Aliás, deves ter as próximas noites ocupadas, durante os próximos tempos. – Pedro lançou o isco, e esperou que a resposta dela lhe desse alguma indicação para a questão que inquietava a sua mente..
Por seu turno, Inês não caiu no erro de responder logo a Pedro. Ela já o conhecia bem, e sabia que a insinuação dele não tinha sido casual. Mas ao mesmo tempo, não sabia exactamente o motivo dele. Não, ela não tinha muitas coisas marcadas nos próximos tempos. Mas será que ele queria marcar mais uma coisa com ela, tão pouco tempo depôs deste reencontro que estavam a ter nessa noite? Ou teria outro motivo escondido?
Mas ela sabia que tinha de ser sincera. Ambos estavam a tentar fazer o esforço de serem amigos e se ela queria ser amiga dele, tinha de começar a confiar nele aos poucos.
- Nem por isso. Tenho só uma saída marcada com umas amigas, mas de resto, nos próximos dias tenho muitas tarefas caseiras para pôr em dia.
Pedro sentiu-se aliviado ao ouvir estas palavras. Se ela tivesse encontrado alguém, a primeira coisa que faria após estas semanas terríveis em termos de horários, seria passar tempo com essa pessoa.
- Já vi que transformaste-te numa dona de casa exemplar. Desde que não sejas também desesperada…
- Piadinhas…
- Reconhece. Já sentias alguma falta das nossas conversas.
- Por mais que me custe a admitir, lá muito lá no fundo, sentia mesmo a falta. Pena que tenha agora memso de ir a um jantar com a família. – disse Inês, com um grande sorriso nos seus lábios.
- Então, temos de combinar qualquer coisa daqui a uns tempos – disse Pedro, tentando não parecer muito ansioso e tentando que ela não achasse que ele pudesse estar a pressionar.
- Seria óptimo.
Ao saírem do café, Inês despediu-se um um leve beijo na face de Pedro, com a promessa de não deixar que passasse muito tempo antes de se encontrarem novamente. Pedro viu-a a passar para o outro lado da estrada onde ela tinha deixado o carro, e não conseguiu deixar de pensar, enquanto via o cabelo loiro de Inês esvoaçar ligeiramente com uma leve brisa que passava naquele momento, que esta noite tinha sido o primeiro passo para que tudo voltasse a ser como dantes.
Inês olhou para o despertador e viu que já eram horas de se levantar. Mas desta vez, ao contrário das últimas semanas, fe-lo com um sorriso nos lábios... A noite anterior tinha mudado o seu estado de espírito, pois agora tinha uma grande esperança no futuro. Para além do novo emprego, tinha dado os primeiros passos para reatar a relação com Pedro. Por isso, não parava de relembrar o que tinha ocorrido na noite passada. Lembrava-se perfeitamente que tinha acabado de jantar e que estava indecisa sobre se deveria ligar ou não ao Pedro.
Inês, por mais que o não quisesse, sentia-se ainda algo renitente em ligar-lhe. Algum tempo já tinha passado desde a última vez que se tinham falado e nessa altura ela tinha-lhe dito que precisavam de passar algum tempo separados... e que um dia poderiam ser amigos... A insegurança voltou ao de cima, pois ela só pensava que ao contrário do que ele lhe tinha prometido, ele já a teria esquecido por ter ficado farto de esperar por ela. E não queria saber se isso teria acontecido ou não. Preferia pensar que ele ainda poderia estar à espera dela, em vez de ter a certeza de que ele já tinha continuado com a sua vida. E por isso, não lhe queria ligar. Tinha medo de admitir que tinha cometido um erro.
Foi quando ouviu o seu telemóvel a tocar. Inês olhou para o ecran e viu que era Pedro. Foi uma daquelas coincidências que parecia inacreditável. Respirou fundo e atendeu a chamada.
- Estou? – disse ainda um pouco receosa do que iria ouvir.
- Olá Inês, sou eu... Desculpa lá estar-te a ligar, mas senti que era altura de falarmos...
- A sério? Já não era sem tempo....
- Já sentia falta das tuas provocações.... Mas já passou algum tempo desde a última vez que nós falamos... E tínhamos combinado que iríamos tentar ser amigos... Por isso queria convidar-te a ir a um jantar que estou a organizar para os meus anos daqui a uma semana... Interessada?
Inês pensou um pouco antes de responder... Não queria que as suas emoções afectassem a sua decisão. Ela ainda estava um pouco indecisa sobre se já era tempo de reatar as relações com Pedro ou ainda era cedo demais.
- Para a semana? Deixa-me ver a minha agenda. Se não tiver nada marcado, terei todo prazer em ir.
- Gostava muito de contar com a tua presença. Os meus melhores amigos vão lá estar e queria que tu também passasses a fazer parte desse grupo.
- Vou tentar ir, está descansado. Avisa-me só depois do dia e da hora.
- Fica combinado... Foi bom ouvir a tua voz outra vez...
- Também gostei de te ouvir. Beijinhos...
- Beijinhos....
Assim que Pedro desligou a chamada, Inês sentia-se diferente. Sentia-se mais livre e mais aliviada. O primeiro contacto com Pedro tinha corrido bem. E acima de tudo, parecia que ele estava mesmo disposto a fazer o que ela tinha pedido para que ele conseguisse reconquistar novamente a sua confiança.
Como não poderia deixar de ser, ligou na altura imediatamente à Rita para desabafar e contar o que tinha acontecido, tendo ficado quase uma hora seguida a dizer o que sentia, antes de se ir deitar, porque o dia seguinte era dia de trabalho.
Tudo parecia estar a entrar nos eixos. Só esperava que tudo continuasse assim.
Mas depressa saiu do estado pensativo em que se encontrava. Agora era altura de ir para o trabalho. Ainda continuava no departamento de compras e queria demonstrar aos seus superiores hierárquicos que tinha capacidades para evoluir dentro da firma e ir para outra função...
O trabalho estava a correr bem e com o tempo foi adquirindo confiança em si e no que estava a fazer. E acima de tudo, que os colegas a viam não como uma cara bonita que só estava lá por esse motivo, mas como alguém motivada para o trabalho e com capacidade para aprender e evoluir. Mas já estava a ficar um pouco farta de fazer as mesmas coisas dia após dia e queria algo diferente para fazer com maior complexidade, pois sentia que estava preparada para lhe serem atribuídas maiores responsabilidades.
Mas ela ficou preocupada, quando a sua colega Sónia, no final do dia disse-lhe que o chefe queria falar com ela. Inês inicialmente ficou algo receosa, pois já tinha ouvido demasiadas histórias de colegas (ou ex-colegas) que tinham sido repreendidas pelo Dr. Rui e saído do seu gabinete a chorar. Tentou relembrar-se mentalmente se tinha feito alguma coisa nos últimos tempos que pudesse ter motivado a sua convocatória para junto do chefe, mas não conseguiu lembrar-se de nada. Mas isso não queria dizer nada e o seu chefe poderia ter embirrado com ela por uma coisa mínima. Começou então a ficar algo nervosa, mas só lhe restava ir ter com o seu chefe a aceitar o seu destino. Mas depois de ter saído do gabinete, estava completamente desorientada. Não só tinha sido elogiada pelo seu chefe, como também lhe foi proposta a transferência para o departamento de contabilidade, onde teria um cargo de maior responsabilidade, mas que também implicaria mais horas de trabalho e também um novo esforço em termos de formação para as novas tarefas que poderia ter de executar. Ela respondeu-lhe favoravelmente ao convite e soube que a transferência iria concretizar-se no prazo de duas semanas, logo após o final do mês.
Inês sentia que a sua vida estava a mudar para melhor... Tinha outra coisa em que pensar, sem ser na sua vida amorosa. Mas lá no seu íntimo, só esperava pelo jantar que Pedro estava a organizar na semana seguinte para ver em que situação estavam as coisas. Os dias pareciam avançar devagar e nunca mais chegava o dia do jantar. Foi por isso com grande satisfação e nervosismo que finalmente esse dia tinha chegado.
Por mais que ela não o quisesse admitir, ela queria ver Pedro novamente. E tinha-se preparado para isso, pois consciente ou inconscientemente, tinha ido ao cabelereiro e à manicure no dia anterior. E decidiu levar um vestido que lhe ficava particularmente bem e que chamava a atenção de qualquer homem com dois olhos na cara.
Quando chegou ao restaurante, viu que Pedro já lá estava com alguns amigos. Ela consciencializou-se naquele momento que não conhecia ninguém naquele jantar. Ela dirigiu-se a Pedro e cumprimentou-o com um leve beijo na face.
- Oi. Muitos parabéns – disse Inês, logo após tê-lo cumprimentado.
- Ainda bem que vieste. Agradeço imenso o facto de teres vindo.
- Não podia perder esta oportunidade para estarmos juntos e para por a conversa em dia- disse Inês, não conseguindo conter o sorriso por estar a falar novamente com ele.
Estiveram a falar um pouco do que se tinha passado nos últimos tempos e nem parecia que tinham estado alguma vez separados. A conversa saía naturalmente, e sem aqueles inconvenientes e embaraços que podia decorrer da situção em que os dois se encontravam. Mas tiveram de interromper a conversa, pois mais alguns amigos de Pedro tinham chegado e ele também tinha de dedicar alguma atenção a eles.
Inês decidiu-se então a sentar... como não conhecia ninguém, decidiu ficar no lugar livre mais próximo de Pedro. Apesar de não conhecer ninguém no jantar, ela nunca tinha problemas neste tipo de situações, pois devido à sua personalidade, era uma pessoa muito cativante e que agarrava a atenção de quem estivesse a falar com ela, fosse qual fosse o tema.
Estava então a ter uma conversa com o desconhecido do lado sobre como há quanto tempo conheciam Pedro e a natureza da relação de cada um deles com o amigo, quando ouviu uma voz feminina a perguntar se a cadeira à frente de Inês ainda estava disponível. Instantaneamente, quase por reflexo, Inês disse que sim, sem ter olhado para quem tinha feito a pergunta. Mas depois desviou o olhar e viu que estava agora sentada à frente da amiga de Pedro que tinha sido o motivo principal para o fim da sua relação. Patrícia... era esse o nome que não tinha saído da sua cabeça nos últimos tempos. Ela sabia que Patrícia não tinha a culpa de nada e que tinha sido Pedro que lhe tinha mentido. Mas subconscientemente, ela era uma das culpadas pelo seu sofrimento nos últimos meses. E ainda por cima, ela naquela noite rivalizava com ela pelo título de rapariga mais atraente da sala... Patrícia tinha vindo com um lindo vestido rosa choque que realçava o seu corpo e o seu decote, e que muito provavelmente também atraíria a atenção de Pedro. Inês não gostava da amiga de Pedro, mas decidiu que não podia demonstar-lhe isso, pois ela não lhe tinha feito ainda nada. Um dos seus principais objectivos durante a noite passou a ser encontrar motivos reais para detestar a pessoa sentada à sua frente.
Mas à medida que a noite prosseguia, estava a ser-lhe complicado concretizar os seus objectivos. Duranta a conversa, Patrícia mostrou ser uma pessoa humilde, muito pacífica, muito simpática e atenciosa. E Inês não teve outro remédio do que ir mostrando um sorriso mais forçado durante a conversa e manter uma conversa cordial com ela. Findo o jantar, e antes de servirem a sobremesa, Inês pediu licença e foi ao quarto de banho. Quando estava prestes a voltar para a mesa depois de lavar as mãos, reparou que Patrícia também estava ao seu lado.
- O jantar está a correr bem... – disse Patrícia, para não parecer indelicada.
- Sim, também acho que sim. Nunca tinha vindo cá... mas gostei – respondeu Inês.
- Inês... – disse Patrícia, antes de fazer uma breve pausa... – Posso fazer-te uma pergunta? Pode parecer descabida, mas tenho mesmo de a fazer...
Inês hesitou um pouco, mas lá acabou por assentir com um ligeiro acenar da cabeça.
- Tens alguma coisa contra mim?
Inês foi apanhada desprevenida por aquela pergunta. O que iria responder? Respirou fundo e percebeu que só poderia responder a verdade... Ela percebeu que não tinha enganado Patrícia durante a noite e que ao contrário do que tinha pensado, não tinha conseguido esconder o que realmente sentia...
- Patrícia.. Vou ser sincera contigo... Tu nunca me fizeste nada, mas acho que nunca te vou deixar de considerar aquela rapariga que se meteu na minha relação contigo...
- Já tinha percebido isso... Sabes que o Pedro já me tinha falado muito de ti antes de vocês.... – fez uma breve pausa, pois soube que tinha falado de mais – e não foi a rapariga que esteve sentada à minha frente... Tu foste muito educada comigo e fomos tendo aquelas conversas circunstanciais... Mas percebi que não estavas a ser tu... Perguntei-me várias vezes durante a noite onde estaria a rapariga que tinha conquistado o Pedro... E cheguei à conclusão que não estavas confortável em falar comigo, embora o não quisesses demonstrar...
Inês sentiu a sinceridade com que Patrícia tinha dito aquelas palavras e apeteceu-lhe pedir desculpa. Mas não era o momento para isso. Quem sabe um dia teria uma nova oportunidade. Mas era altura de pelo menos se justificar.
- Tens toda a razão. Senti-me um pouco constrangida por tu estares cá. Eu sei que a culpa não é tua. Mas se não fosses tu, se calhar estava neste momento ao lado do Pedro a segurar a mão dele enquanto os seus amigos lhe cantavam os parabéns.
- Inês... vou-te dizer uma coisa... Acho que tu nunca tiveste motivos para ficar assim. O Pedro nunca faria algo que te pudesse magoar. Pelo menos o novo Pedro... Tu não o conheceste antes... Ele mudou muito desde que começou a andar contigo e se o conhecesses antes perceberias a diferença. Perceberias que ele estaria disposto a fazer tudo por ti e que ele não tinha olhos para mais ninguém... mesmo que alguém estivesse interessada nele, ele não estaria interessado. Tu eras a única mulher da vida dele...
Inês ficou sem saber o que dizer... Será que se tinha precipitado em não aceitar logo as explicações de Pedro na altura? Será que ela também tinha alguma culpa pelo fim da relação?
- Sabes que nos últimos tempos ele não tem sido o mesmo. No escritório, nota-se que lhe falta algo na sua vida. Mas mesmo assim, ele não voltou a ser o Pedro de antes. Tu mudaste-o e ele está disposto a esperar por ti. Por isso, não tens que estar preocupada comigo ou com outra mulher. Tu és a única pessoa que ele quer na vida dele. E espero que saibas disso.
Uma lágrima começou a cair do olho de Inês que tinha ficado emocionada com as palavras de Patrícia. Ainda não estava preparada para reatar as coisas com Pedro, mas pelo menos agora já se sentia mais segura dos sentimentos de Pedro para com ela. Ela continuou incapaz de dizer algo, mas sentiu que Patrícia tinha percebido o que ela sentia. Ambas voltaram para a mesa, mesmo a tempo da sobremesa.
Enquanto provava o seu cheesecake, Patrícia sentia-se triste por praticamente ter empurrado Inês de volta para a vida de Pedro... mas o mais importante era que ele fosse feliz... mesmo que não fosse com ela. E ela sabia no seu íntimo que ele só seria feliz junto de Inês.
Entretanto, Inês achava que a noite tinha corrido bem. O primeiro passo já tinha sido dado e só esperava por novos desenvolvimentos na sua nova relação de amizade. Ela foi despedir-se de Pedro que estava junto da Patrícia que também ia andando para casa.
- Pedro, muito obrigado por me teres convidado. Foi bom termos voltado a falar.
- Eu é que te agradeço por teres vindo. Significou muito para mim.
- Então um dia, combinamos qualquer coisa para pormos a conversa em dia.
- Parece-me uma óptima ideia. Talvez para a semana? – disse Pedro ao dar dois beijinhos na face de Inês, que sentiu o seu coração a pulsar rapidamente e sem controlo nesse momento. Mas lá conseguiu recuperar o controlo.
- Também acho que seria uma óptima ideia- respondeu Inês, que reparou no piscar de olhos de Patrícia dirigido para ela, indicando a aprovação da atitude que Inês tinha tomado ao aceitar o convite de Pedro...
Ao chegar a casa, só pensava no que se tinha passado no jantar. Mas ao contrário do que imaginava quando tinha acordado nesse dia de manhã, não tinha sido o reencontro com Pedro que tinha alegrado o seu coração. Tinham sido as palavras de Patrícia que afinal não era tão má pessoa como ela pensava.
Uma história sobre um rapaz (Pedro) e uma rapariga (Inês) que o destino acaba por juntar e que origina uma relação com altos e baixos...
Pedro é um rapaz que nunca foi capaz de se comprometer e que encontra em Inês a primeira rapariga por quem verdadeiramente sente algo... Mas ele desconhece por completo o passado de Inês e que irá trazer grandes repercurssões na sua relação.
Nem tudo corre como eles gostariam nesta história de amor, e por maior que seja o amor que os une, o destino parece querer que a sua história não tenha um final feliz...
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